O LIVRO E O SEU AUTOR
Este livro pretende ser um exame exegético, doutrinário e histórico deste do sábado como instituição cristã. Além disso, convencido de sua beleza e utilidade pública, o autor oferece quatro capítulos a respeito do uso proveitoso desse dia.
O autor escreve o livro com uma apresentação popular do Sábado Cristão (domingo). Embora no corpo do livro esteja interagindo com os vários argumentos e objeções que existem contra a ideia do Sábado Cristão, o autor faz uso das notas de rodapé para apresentar informações mais detalhadas sobre as várias posições e autores, para os leitores que desejam fazer um estudo mais crítico.
Joseph Pipa é mestre em teologia pelo Seminário Teológico Reformado, doutor em teologia pelo Seminário Teológico de Westminster, ex-coordenador do curso de doutorado em ministério no Seminário Teológico de Westminster, e presidente do Seminário Teológico Presbiteriano de Greenville. Conheci pessoalmente o Rev. Joseph Pipa na Igreja Presbiteriana do Alto Branco em Campina Grande por ocasião da 3ª Conferencia Reformada Os Puritanos.
Confesso que esse foi um dos livros mais desafiadores para mim, não no quesito linguagem - pois sua linguagem é de fácil entendimento - mas pelo tema que aborda. O autor trata da importância dos cristãos resgatarem a essência do Dia do Senhor - isto é, o domingo. Pipa descorre sobre a mudança que houve do sábado judaico para o domingo cristão e para isso fornece abundantes provas bíblicas e históricas de que esse sempre foi o padrão bíblico das igrejas. Para fazer seus leitores entenderem melhor o que era e o que se tornou - nos dias de hoje - o dia do Senhor (o domingo), ele usa a analogia de um parque criado por um rei e feito para que o povo pudesse usufruir, porém o rei ausentou-se e ninguém mais cuidou do parque. Em seguida, outros nobres vieram e restauraram o parque, mas não permitiram o povo usufruísse dele, cercando-o. O autor então nos leva a "reabrirmos" o parque e fazê-lo ter seu propósito original - que é descansar e aproveitar o dia do Senhor.
O DIA DE FEIRA DA ALMA[1] (Êxodo 20.9-11)
Temos olhado o sábado[2] usando a metáfora de um parque no qual nos encontramos com Deus. Uma outra imagem para o sábado, uma figura comum entre os puritanos, era “o dia de feira da alma”.
Na Inglaterra puritana o dia de feira era o principal dia de negócios e atividade social. Fazendeiros, artesãos, mercadores e donas de casa vinham dos vilarejos e arredores para comprar e vender. Na crença de que Deus destinou o dia do Senhor para transações especialmente importantes com Deus, os puritanos chamaram o sábado de “o dia de feira da alma”.[3]
Até agora procuramos demonstrar que a observância do sábado, longe de ser um cativeiro legalista, é um glorioso privilégio que traz em si maravilhosas promessas. Além disso, vimos no capítulo anterior que Deus planejou o sábado como uma perpétua obrigação moral para todos os homens e mulheres em todo os recantos.
LEMBRANDO O SÁBADO.
Tendo isso em mente, precisamos investigar qual o papel do Quarto Mandamento ao regular a observância do sábado.[4] O Quarto Mandamento, alicerçado sobre a ordem da criação do sábado, regula como deve ser estruturado tal dia, da mesma forma que o Sétimo Mandamento estrutura a ordenança da criação do casamento e o Oitavo estrutura a ordenação da criação do trabalho.
Ao se referirem ao sábado como “o dia de feira da alma”, os puritanos nos lembram que Deus nos deu esse dia acima de todos os outros para conduzirmos os negócios espirituais. O propósito do Quarto Mandamento é nos libertar de nossos negócios diários, de forma que possamos fazer negócio com Ele no “dia de feira da alma”.
O Quarto Mandamento define o propósito do sábado ao dizer “Lembra-te do dia de sábado para o santificar”. A palavra “lembrar” tem um duplo sentido. Em primeiro lugar, Deus está dizendo: “não esqueça nem negligencie o sábado”. Frequentemente os escritores do Velho Testamento usam esta palavra dessa forma. Por exemplo, em Êxodo 13:3 Moisés alerta o povo para que não esqueçam o ato histórico da redenção deles, o Êxodo: “Lembrai-vos deste mesmo dia, em que saístes do Egito, da casa da servidão; pois com mão forte o Senhor vos tirou de lá; portanto não comereis pão levedado”. Cristo, da mesma forma, usa um termo semelhante a “lembrar”, na instituição da Ceia do Senhor: “fazei isto em memória de mim” (Lucas 22:19).
A convocação para lembrar do sábado ensina que o sábado como uma instituição já havia sido estabelecido. Deus o santificou na criação, e no Quarto Mandamento Ele nos exorta a não esquecermos aquele fato.
Na Bíblia, entretanto, o termo “lembrar” significa mais do que não esquecer. Ele também significa observar e celebrar. Quando alguém pergunta: “lembrou-se de seu aniversário?”, não está apenas perguntando se você se lembrou da data, mas se você fez alguma coisa especial para comemorar a ocasião. Nós nos “lembramos” de ocasiões especiais presenteando, saindo para jantar ou dando uma festa. Quando Deus nos ordena “lembra-te do dia de sábado”, Ele nos está ordenando a observá-lo de uma forma especial; a comemorá-lo.
Tal conceito de “lembrar” está ilustrado em Êxodo 12:14: “Este dia [referindo-se à Páscoa] vos será por memorial”. O substantivo “memorial” vem da mesma raiz do verbo “lembrar”. Como seria este memorial? “E o celebrareis como solenidade ao SENHOR; nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo”. Não era para que lembrassem apenas da ocasião histórica, era também para celebrarem ao comemorarem a Páscoa (cf. Ex. 13:3).
O sábado é “lembrado” ao ser observado conforme o preceito de Deus. É por isso que Moisés, ao repetir os Dez Mandamentos quarenta anos depois, usa a palavra “guarda” em vez de “lembra-te”. “Guarda o dia de sábado para o santificar... pelo que o SENHOR, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado” (Dt. 5: 12-15).
Quando se compreende corretamente o significado de “lembrar”, reconhece-se que este dia nunca foi um mero dia de descanso ocioso. Alguns sugerem que o único propósito do Quarto Mandamento era proporcionar descanso físico para Israel. Assim como o descanso de Deus nunca foi, sem dúvida, um descanso de inatividade, assim também o descanso ordenado pelo Quarto Mandamento não é um descanso de inatividade, mas de santa comemoração. De acordo com Levítico 23:2 e 3, o descanso do sábado está associado à adoração corporativa: “Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: As festas fixas do SENHOR, que proclamareis, serão santas convocações; são estas as minhas festas. Seis dias trabalhareis, mas o sétimo dia será o sábado do descanso solene, santa convocação; nenhuma obra fareis; é sábado do SENHOR em todas as vossas moradas”.
Uma santa convocação era um tempo para a adoração corporativa. Por isso, parte do propósito do descanso do sábado era observar o dia participando na adoração pública. Assim, portanto, o termo “lembrar” ensina que o sábado é um dia para santas negociações, um “dia de feira para a alma”. Lembramo-nos do dia de sábado santificando-o.
UM DIA ESPECIAL PARA DEUS.
Deus alicerça esta exortação sobre a reivindicação especial que faz desse dia: “seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus”. Deus reclama Sua especial propriedade do sábado. Ele é o dono do dia e marca-o como Seu dizendo-nos como devemos usá-lo.
Conforme foi observado no capítulo anterior, isto não significa que estejamos desobrigados de viver toda a nossa vida diante de Deus. Tudo pertence a Deus e tudo o que fazemos deve honrá-Lo, mas, não obstante, Deus marca este dia como especial e reivindica-o para Si mesmo.
A sua casa, assim como a minha, pertence a Deus, e como cristãos estamos obrigados a usá-las para a glória de Deus. Entretanto, as nossas casas não pertencem a Deus da mesma maneira que os edifícios da igreja pertencem a Deus. Eles foram construídos pelos dízimos de Deus e serão usados apenas para aqueles propósitos estabelecidos pelos oficiais da Igreja. Eu não posso pegar a minha família e me mudar lá para dentro. Eles são santos no sentido de que foram separados para os usos especiais relativos à adoração.
Por este dia pertencer a Deus de modo especial, devemos nos lembrar disso santificando-o. Usado da forma apropriada, o Shabbat (sábado) nos faz lembrar de Deus e da Sua obra de salvação. Devemos tratar tal dia como santo, consagrando-o conforme nos ensina o Breve Catecismo:
“Deve-se santificar o sábado (=domingo) com um santo repouso por todo aquele dia, mesmo das ocupações e recreações temporais que são permitidas nos outros dias; empregando todo o tempo em exercícios públicos e particulares de adoração a Deus, exceto o tempo suficiente para as obras de pura necessidade e misericórdia”.[5]
SANTIFICANDO O DIA
Quais são, portanto, as transações pelas quais santificamos o dia de sábado (shabbat)? Em primeiro lugar, santificamo-lo ao descansarmos ativamente em Cristo (“santo repouso”). A adequada santificação desse dia, assim como a observância apropriada de todos os mandamentos de Deus, começa no coração, encontrando o nosso descanso em Jesus Cristo. O Catecismo de Heidelberg diz: “que eu cesse a prática de minhas obras más todos os dias de minha vida, permita que o Senhor opere em mim pelo Seu Espírito Santo, e assim, comece nesta vida o descanso eterno”.[6]
O Shabbat nos lembra que precisamos abandonar as nossas próprias obras, que não fazemos jus ao favor de Deus, que não podemos abrir caminho para o céu, e que não merecemos justiça. Não, o sábado é o nosso testemunho e confissão solenes de que descansamos a nossa salvação somente em Jesus Cristo e de que nEle nos gloriamos. Neste dia declaramos que Ele é o nosso deleite; que somente Ele é o nosso refúgio e proteção.
Além do mais, santificamos o sábado quando o usamos para a comunhão com Deus. À medida em que descansamos em Cristo, contemplamos a beleza dos atributos de Deus e a grandeza da Sua obra. Usamos, portanto, esse dia para negociarmos com o nosso Dono. Somos os seus arrendatários que vêm ao Seu encontro no dia da feira. Ele preside e dá-nos a paga do nosso labor. Ele nos abençoa com refrigérios e nós celebramos à Sua mesa.
A guarda do Shabbat não deve ser uma atitude fria, ritualística, realizada por nós. Algumas vezes pensamos: “Ó, é sábado, não posso fazer isso”, ou, “Puxa, quando vai chegar amanhã?”. Se você começar a entender o privilégio que é o sábado como o dia de feira da alma, ele tornar-se-á o seu dia favorito, mais esperado que a sexta-feira (no Antigo Testamento), mais feliz que o dia em que você nasceu, mais repousante que as férias. É o dia do Senhor, e o seu primeiro pensamento consciente deve ser: “Este é o dia que o SENHOR fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele” (Sl. 118:24).
Ainda mais, só quando entendemos o sábado desse modo deixamos de cair no legalismo. Algumas vezes encaramos o dia do Senhor com uma lista de “pode” e “não- pode”, sem entender que podemos deixar de lado nosso trabalho e recreação, fazer todas as coisas certas e ainda continuar a ser violadores do sábado. É somente quando confiamos em Cristo para o perdão dos nossos pecados e pela graça de obedecer que começamos a santificar o sábado. É somente quando nos voltamos para este dia motivados pelo amor a Deus e pela comunhão com Ele que nos encontramos com Deus nas transações desse dia.
Mais ainda, santificamos o dia ao nos devotarmos às transações particulares que o Senhor tem determinado. O mais importante dessas coisas é encontrarmo-nos com Ele no culto corporativo. Nós as suplementamos com as devoções em família e em particular — leitura, oração e meditação. Tiramos vantagem do dia gastando-o na companhia de nossos amigos cristãos, tanto quanto nas obras ministeriais e de misericórdia. Realizando estas coisas fazemos o melhor uso e tiramos o maior proveito desse dia.
LIDANDO COM AS PROIBIÇÕES
Quando compreendemos o grande propósito do dia do Senhor estamos em melhor condição de tratar com as proibições do mandamento. Conforme observado no capítulo 1, estas proibições não têm o propósito de roubar nosso prazer, mas de nos tornar livres para o grande gozo desse dia. Em nossa cidade há uma feira de fazendeiros todas as terças-feiras depois do meio-dia. Duas quadras do centro da cidade são fechadas ao tráfego para que os comerciantes possam montar as suas barracas na rua. De modo semelhante, a praça o Shabbat é fechado ao tráfego regular para possibilitar o dia de feira da alma.
A proibição do Quarto Mandamento nos ensina como organizar o dia de modo a tirar maior proveito dele (versículos 9, 10). Deus nos mostra como devemos organizar as nossas vidas individualmente, domesticamente e socialmente.
Pessoalmente, somos liberados do nosso trabalho ordinário: “o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho...”. O termo “trabalho” inclui todo tipo de trabalho. O versículo 9 usa a palavra “obra” que se refere ao trabalho manual, de agricultura e outras formas de trabalho efetuado com as mãos. O termo “trabalho”, entretanto, é mais compreensível abrangendo não apenas os trabalhos descritos por “obra”, mas também todas as atividades, negócios e comércios, e tarefas domésticas. Ao usar ambos os termos, Deus deixa claro que proíbe todo o nosso trabalho regular e atividade.
Observe, entretanto, que tal proibição é contraposta ao fato dEle nos dar seis dias para fazer todo tipo de trabalho: “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra”. Freqüentemente enfocamos as restrições dos mandamentos de Deus e fracassamos em perceber suas maravilhosas bênçãos. Deus enfoca um duplo privilégio: seis dias inteiros para atender a todo nosso labor e negócios e um dia inteiro para nos dedicarmos a Ele e a Seus negócios. Deus nos dá mais de 85 por cento da semana para nosso trabalho e recreação. Embora alguns tomem a frase “Seis dias trabalharás” como um mandamento para trabalharmos na nossa vocação seis dias na semana, prefiro tomar essa frase como uma concessão. Deus lhe concede o uso de seis dias para trabalho de todos os tipos. Ele também lhe dá um dia inteiro para devotar- se ao gozo dEle. Ele está dizendo: “Eu lhe concedi seis dias; exijo que me você dê um dia”.
Domesticamente, Deus não somente estrutura as ocupações de nossa vida para o dia da feira, mas também nos ordena a estruturar a nossa vida familiar. Falando-nos como pais e guardiões, Ele diz: “nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha”.
Devemos, como pais de filhos da aliança, estruturar as suas vidas liberando-os de seus trabalhos para poderem dedicar-se às transações especiais do dia. Somos responsáveis em proporcionar a nossos filhos uma estrutura positiva e apropriada à guarda do sábado.
Isto significa em definir para eles um exemplo de como guardar o Shabbat. Além do que, devemos ensinar o que eles devem fazer, ajudando-os a ordenar suas vidas e trabalhos escolares, além de lhes dar apenas as tarefas domésticas necessárias. Usamos o dia também para lhes ensinar que na vida há coisas mais jubilosas do que brincar, e, acima disso, devemos criar para eles um dia em que tenham prazer, um dia pelo qual anseiem, não um dia que paire sobre a semana como uma agourenta e escura nuvem.
A estruturação do sábado tem também uma responsabilidade social. Devemos estruturar este dia para as outras pessoas por quem somos socialmente responsáveis. Em primeiro lugar somos responsáveis para como os nossos serviçais. Poucos de nós têm serviçais em casa, mas se os temos, devemos liberá-los e preservá-los do trabalho desnecessário, da mesma forma que fazemos com nós mesmos e com nossos filhos.
Alguns de nós, entretanto, são empregadores, e economicamente nossos empregados são nossos servos. Como empregador você tem a responsabilidade de não fazer seus empregados quebrarem o sábado exigindo-lhes trabalho desnecessário.
Num outro aspecto, somos todos indiretamente responsáveis por alguns empregados, especialmente por pessoas que trabalham na indústria de serviços e negócios. Em termos econômicos tais pessoas trabalham como servos dos consumidores. Sustentei- me ao longo da faculdade e seminário vendendo sapatos. Meu gerente estava sempre enfatizando que eu era um servo do cliente. Do mesmo modo aqueles que nos servem no setor público são nossos servos. Devemos proteger o sábado deles tanto quanto o nosso. Portanto devemos evitar fazer compras, jantar fora desnecessariamente,[7] e atividades recreativas que façam os outros trabalhar no dia do Senhor (isso inclui aqueles eventos mediados pela televisão que necessitam do trabalho de centenas de empregados). É uma desculpa furada dizer: “Eles vão estar lá de qualquer forma, portanto, não importa realmente o que eu fizer”. Lhe foi ordenado não dar aos outros trabalhos desnecessários. Se você usa os serviços de uma pessoa, você é parcialmente responsável por ele estar trabalhando no dia do Senhor.
Além disso, como parte da nossa responsabilidade social, Deus nos ordena a dar descanso aos nossos animais porque eles necessitam dele tanto quanto as pessoas. Israel era uma sociedade agrária e boa parte do seu trabalho era realizado com a ajuda de animais. Até mesmo a terra tinha de descansar (vide Levítico 25). A necessidade de descansar a terra ilustra-se na importância do rodízio da safra que separa uma porção de terra para pousio.
Certamente que é uma justa inferência aplicar este princípio à qualquer coisa que possa se desgastar. Assim como os empregados substituíram os servos, as máquinas substituíram os animais. E semelhantes às criaturas vivas a que substituíram, as máquinas desgastam-se na proporção do uso. Tome por exemplo o seu automóvel: quanto menor a quilometragem, melhor seu preço de revenda. Se você estivesse procurando comprar um carro usado e encontrasse dois deles do mesmo modelo e ano, mas um tivesse trinta mil quilômetros e o outro setenta mil, qual deles compraria? No capítulo 5 abordaremos a necessidade de certos tipos de indústria operarem sete dias na semana. Entretanto, uma boa parte das atividades industriais poderiam parar no dia do Senhor. Qual seriam os benefícios ambientais e econômicos se elas fizessem assim?[8] Pense na ampliação da vida útil do maquinário caro, poucos consertos, e menos poluição do ar e da água.
Finalmente, assim como Deus nos ensina a estruturar socialmente o Seu dia, Ele inclui aqueles que não pertencem à Sua igreja. Ele conclui dizendo: “nem o forasteiro das tuas portas para dentro”. Em Israel o forasteiro ou estrangeiro era o gentio que vivia entre o povo de Deus. Eram várias as razões pelas quais os gentios escolhiam viver na terra prometida. Deus ordena que não apenas o Seu povo cesse o trabalho, mas também aqueles que não pertencem à aliança que estão no meio deles. É interessante que, embora não pudesse participar das celebrações ou da adoração no templo, o estrangeiro tinha que cessar o seu trabalho no sábado.
Embora não tenhamos uma legislação para as pessoas irem à igreja, não poderíamos ter uma para que negócios e lojas fossem fechados no dia do Senhor? Tais leis, que vigoraram nos Estados Unidos e Grã-Bretanha, criavam um ambiente que não era apenas espiritualmente saudável, mas era também mental e fisicamente benéficos.[9]
Vimos que o sábado (Shabbat) é “o dia de feira da alma”. Deus determinou este dia para as transações especiais com Ele. Quando estruturarmos o dia em conformidade com isso, iremos gozar dos benefícios prometidos em Isaías 58:13,14. “Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do SENHOR, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no SENHOR. Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai, porque a boca do SENHOR o disse”. Para nos liberar para gozarmos dos prazeres desse dia, Deus nos permite pôr de lado nossos afazeres diários normais para que possamos nos devotar à santificação do Seu dia. Nisso somos lembrados que, como todas as leis de Deus, o Quarto Mandamento não é um estorvo, mas o caminho para a verdadeira alegria e gozo equilibrados. Enganamos a nós mesmos e a Deus quando usamos tal dia para nosso próprio trabalho e recreação.
CONCLUSÃO [10]
Depois de lido o livro, coloco 11 fatos que nos faz compreender a importância de se observar o DIA DO SENHOR.
1. Quando a Bíblia usa o termo “sabbath”, ele não significa “sábado”. “Sabbath” não é o nome de um dia da semana. A palavra é usada para descrever um tipo de dia, um dia de descanso do trabalho. Em todo o Antigo Testamento, os anos tinham 365 dias, e todo ano começava em um dia de “sabbath” (Lv 23.4-16). Outras datas fixas nunca podiam ser “sabbath” (Êx 12.1-28; Lv 23.15). Para fazer com que isso acontecesse, o calendário tinha de ser ajustado regularmente. A História nos ensina que isso era feito por acrescentar ao ano “sabbaths” extras que ocorriam consecutivamente. Identificar “sabbath” com o dia de sábado é um erro. Foi apenas depois do ajuste definitivo do calendário judaico, em 359 D.C, que os “sabbaths” dos judeus passaram a cair sempre no dia que agora chamamos de “sábado”.
2. O “sabbath” [descanso] não é uma instituição judaica. Deus o instituiu na criação (Gn 2.1-3). É um dom de Deus para a humanidade (Mc 2.27).
3. Em certo aspecto, os Dez Mandamentos são diferentes de todas as outras leis encontradas nas Escrituras. Deus os escreveu com o seu próprio dedo. O Quarto Mandamento dEle é positivo, o mais comprido e o mais detalhado dentre os dez, fazendo uma ligação entre os aspectos divino e humano, moral e cerimonial da Lei (Êx 20.8-11; 31.18).
4. O “sabbath” era importante para nosso Senhor Jesus Cristo. A Bíblia não nos fala muito sobre os hábitos de Jesus, mas diz que Ele tinha o costume de ir à sinagoga no “sabbath” (Lc 4.16). Jesus anunciou que era Senhor do dia de “sabbath” (Mc 2.28). Dizer que o “sabbath” não existe mais é uma negação do senhorio de Cristo.
5. O Senhor do “sabbath” transferiu este dia para o primeiro dia da semana. Este foi o dia em que Ele ressuscitou dos mortos (Jo 20.1-18), apareceu aos discípulos (Jo 20.19, 26) e derramou o seu Espírito (At 2.1).
6. Os apóstolos e a igreja primitiva guardavam com distinção o primeiro dia da semana (At 20.7; 1 Co 16.2). Para evitar confusão, o Novo Testamento Grego chama o sábado judaico de “sabbath” e o primeiro dia da semana de “o primeiro dos sabbaths” (na tradução em português “o primeiro dia da semana” – Mt 28.1; Mc 16 2, 9; Lc 24.1; Jo 20.1,19; At 20.7; 1 Co 16.2). Algumas pessoas crêem que isto é apenas uma expressão idiomática grega significando apenas “o primeiro dia do ciclo da semana”. Contudo, não existe quase nenhuma evidência para isto. Temos de encarar os fatos: o primeiro dia da semana é um “sabbath”. Também conhecido como “o dia do Senhor” (Ap 1.10).
7. Durante toda a história da igreja, o domingo tem sido observado como o “sabbath” dos cristãos. A evidência documental é unânime e retrocede a 74 D. C. Durante as piores perseguições, perguntava-se aos suspeitos de serem cristãos: “Dominicum Servasti?” (Você guarda o dia do Senhor?) Os verdadeiros crentes respondiam: “Eu sou um cristão, não posso deixar de fazer isso!” O que os crentes responderiam hoje?
8. É realmente imoral não guardar o Dia do Senhor. O Quarto Mandamento, que nos recorda isso, está em um código que proíbe a idolatria, o assassinato, o furtar, o mentir e o cobiçar. O Quarto Mandamento nunca foi anulado, e nunca o será (Mt 5.18). Quebrar um mandamento da Lei significa tornar-se culpado de todos os demais (Tg 2.10). A violação do dia de descanso traz o juízo de Deus (Ne 13. 15-22).
9. O domingo, o dia do Senhor, é um dia de regozijo e satisfação (Sl 118.24; 112.1). A Palavra de Deus chama-o de deleite (Is 58.13). Deus nos deu esse dia como uma bênção para todos nós (Mc 2.27-28). Falando sobre a época evangélica, Isaías diz: “Bem-aventurado o homem que… se guarda de profanar o sábado” (Is 56.2).
10. As bênçãos do Dia do Senhor são visíveis a todos: recorda aos homens e mulheres caídos que existe um Deus a quem eles devem adorar; dá aos crentes a oportunidade de se reunirem ao redor da Palavra e, assim, mantém a vida espiritual deles; fornece oportunidades para a pregação do evangelho; fortalece os laços familiares; permite que toda a nação descanse; promove a saúde, e a lista poderia continuar.
11. No Antigo Testamento, homens piedosos, como Moisés, Amós, Oséias, Isaías, Jeremias, Ezequiel e Neemias, contenderam com as pessoas por causa do dia de descanso. A história da igreja está repleta de outros que fizeram o mesmo. O que nos impede de seguir o exemplo deles?
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[1] Reprodução do Cap. 3 na íntegra.
[2] Quando o autor se refere ao sábado, ele está se referindo ao “dia de descanso” (Shabbat, no hebraico) instituído por Deus, o qual, após a ressurreição de Cristo, passou a ser guardado no domingo.
[3] James T. Dennison, Jr., The Market Day of The Soul: The Puritan Doctrine of the Sabbath in England 1532- 1700 (New York: University Press of America, 1983) é um excelente estudo sobre o sábado Puritano.
[4] No capítulo seguinte deste livro fala sobre qual é o único papel do sábado no Pacto de Deus com Israel.
[5] O Breve Catecismo, resposta à pergunta 60.
[6] Catecismo de Heidelberg, resposta à pergunta 103.
[7] Reconheço que aqueles que estão em viagem precisam comer em locais públicos no dia do Senhor, mesmo quando precisam ficar num hotel. É interessante que os Puritanos também reconheciam esta necessidade. O Parlamento controlado pelos Puritanos em 1644, numa lei que regulava o sábado, acrescentou: “Contanto que, e seja isso declarado, nada nesta ordenança se aplica à proibição do preparo da alimentação familiar, ou no preparo e venda moderada de alimentos em estalagens e empórios, para o uso daqueles que de outra forma não podem ser supridos. Citado em Dennison, 94.
[8] Alguns, como Jewett, sugerem que não devemos promover o descanso do sábado tendo como base os benefícios pragmáticos ou humanitários (The Lord’s Day, pág. 148). Posso concordar que essa não deva ser a base da nossa argumentação, mas Deus exige que pensemos em nossos animais. Porém, do mesmo modo que as leis concernentes ao casamento, trabalho e propriedade trazem benefícios sociais, é importante reconhecer que o sábado também os traz.
[9] Alguns levantam a questão: “E aqueles cuja religião exige que guardem um dia diferente?” Reconheço a tensão aqui e não tenho uma resposta final. Mas se cremos que Deus estrutura o dia tanto para o inconverso quanto para o cristão, precisamos lutar por isso. Talvez aos negócios de Judeus e Muçulmanos fosse permitido funcionar no domingo, mas sem que os empregados cristãos fossem obrigados a trabalhar, da mesma forma que o empregador cristão deveria respeitar a consciência da pessoa cujas crenças religiosas exijam que cultue noutro dia. A dificuldade para os aderentes de outras religiões não é apenas com as leis que fecham o domingo. As leis de nosso país exigem o casamento monogâmico, ao passo que Muçulmanos e certos Mórmons crêem na poligamia. Eles estão obrigados a se conformarem à lei da terra na qual vivem.
[10] Esta conclusão faz parte do artigo O Uso correto do Dia do Senhor de Stuart Olyott. Publicado in https://reformados21.com.br/2017/08/13/o-uso-correto-do-dia-do-senhor/ Acesso em 19 abr. 2019
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