segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

O DOM DA AMIZADE [Resenha]



DURIEZ, Colin. J. R. R. Tolkien e C. S. Lewis: O Dom da Amizade. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2018. 304p. 


O AUTOR E O LIVRO 

O jornalista e professor britânico Colin Duriez conta a história fascinante, de dois escritores britânicos, ambos pesquisadores acadêmicos e amantes da literatura fantástica, além de escritores de talento, só conseguiram produzir suas próprias obras seminais de fantasia graças à inspiração que deram um ao outro. O autor deste livro - “O Dom da Amizade – Tolkien e C.S. Lewis” afirma que a história da amizade destes dois britânicos foi extremamente forte e persistente, a despeito dos atritos e dos pontos baixos que talvez se deva esperar que ocorram ao longo de quase quarenta anos. Até onde sei, este é o primeiro livro que focaliza principalmente sua notável associação, literária e também pessoal. 

J.R.R. Tolkien, é claro, é um nome bem conhecido no mundo todo, por causa da fenomenal popularidade de seu livro O Senhor dos Anéis, especialmente desde a trilogia de filmes de Peter Jackson. Menos conhecida é a importante e complexa amizade de Tolkien com C.S. Lewis, seu colega acadêmico em Oxford. Tolkien reconheceu que, sem o persistente encorajamento de seu amigo, ele jamais teria terminado O Senhor dos Anéis. Essa grande história, juntamente com os temas conexos de O Silmarillion, teria permanecido apenas como um passatempo pessoal. 

C.S. Lewis também desfruta de grande popularidade em todo o mundo, em particular pela sua série de livros infanto-juvenis As crônicas de Nárnia. Como enfatiza o título da série, o foco dessas histórias é um outro mundo imaginário. Ao criar esse mundo para as crianças, ele estava imerso no desenrolar dos eventos da Terra-média, que Tolkien lia para ele à medida que os capítulos de O Senhor dos Anéis estavam sendo escritos. Sua primeira história de Nárnia, O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, se tomou um importante filme dirigido por Andrew Adamson, cujas obras anteriores incluem Shrek. 

O livro possui além do prefácio e dois apêndices, 12 capítulos com escrito em ordem cronológica de conformidade com os acontecimentos na vida de ambos. O objetivo de traçar de mostrar o poder da amizade entre Tolkien e C.S. Lewis. Esse livro tem a sua importância pelo fato de que muito já se conhecem sobre a vida de ambos, mas, nunca uma obra que procurar relacionar suas vidas e obras e dar uma visão ampla sobre a influência que ambos exerceram um sobre o outro. 


PREFÁCIO 

1. Os anos de formação (1892-1925)
2. Encontros de mentes e imaginações: “Tolkien e eu falávamos de dragões…” (1926- 1929).
3. Um mundo em forma de História: “Mythopoeia” (1929-1931)
4. Os anos 1930: O contexto da ortodoxia imaginativa
5. Surgem os Inklings: amizade compartilhada? (1933-1939)
6. Duas viagens para lá e de volta outra vez: O regresso do peregrino e O hobbit (1930- 1937)
7. Espaço, tempo e o “novo hobbit” (1936-1939)
8. A 2ª Guerra Mundial e depois: Charles Williams chega a Oxford (1939-1949)
9. O guarda-roupa de um professor e anéis mágicos (1949-1954)
10. Surpreendido por Cambridge e desapontado pela alegria (1954-1963)
11. Adeus à Terra das Sombras (1963-1973)
12. O dom da amizade: “Quem pode merecer isso?”
Apêndice A: Uma breve cronologia de J.R.R. Tolkien e C.S. Lewis
Apêndice B: A duradoura popularidade de J.R.R. Tolkien e C.S. Lewis.

Colocamos aqui neste texto, parte do Capítulo 12 e dos dois apêndices, resumindo para que o leitor possa ter uma ideia. Contudo, as informações mais importantes estão escritas nos capítulos 1 ao 11. 


A INFLUÊNCIA DA FÉ 

A amizade entre Lewis E Tolkien remontava à época em que Tolkien se mudou para a Universidade de Oxford, vindo de seu cargo de professor em Leeds, em 1925. Ela terminou, se é que amizades terminam desse modo, com a morte de Lewis em novembro de 1963. Essa amizade de quase quarenta anos teve seus pontos altos e baixos, talvez inevitavelmente, em especial aos temperamentos tão diversos. Houve um nítido esfriamento da amizade, tempo em que ela existiu em termos muito menos íntimos, depois que Lewis conheceu Joy Davidman no começo da década de 1950. Além disso, sempre restou um lado de Lewis ao qual Tolkien não conseguia se acostumar: Lewis como popularizador da fé cristã. A censura de Tolkien obviamente nada tinha a ver com a fé propriamente dita — ele mesmo era um cristão devoto. 

É de importância fundamental a influência da fé de Tolkien. Lewis era originalmente ateu, e Tolkien o ajudou a encontrar Deus. Exerceu sobre o amigo todo o seu poder de persuasão, focalizando as narrativas dos Evangelhos como algo que demanda uma reação ao mesmo tempo imaginativa e intelectual. Lewis reagiu de ambas as formas e, ao longo do tempo, desenvolveu e dominou as habilidades de comunicador cristão, tanto na narração de histórias quanto na retórica. Com o passar dos anos, aumentou a fluéncia de Lewis nos escritos imaginativos e discursivos. Tolkien, no entanto, não conseguiu persuadir Lewis a ingressar naquilo que acreditava, na formidável tradição do cardeal Newman, ser a única Igreja válida — a católica romana. 

Outra importante característica do impacto de Tolkien sobre Lewis, também relacionada, é sua distintiva doutrina da subcriação — sua crença de que a mais alta função da arte é a criação de mundos secundários ou outros, internamente consistentes e coerentes, que, por causa dessa precisão imaginativa, são capazes de capturar parte das profundidades e do esplendor do mundo primário. Um conto de fadas, para Tolkien, não era uma história que simplesmente trata de seres encantados. Eles são, em certo sentido, do outro mundo, tendo uma geografia e uma História ao seu redor. O conceito de subcriação de Tolkien era, na verdade, a característica mais distintiva da sua visão da arte. Apesar de enxergá-la em termos de fantasia inventiva, sua visão aplica-se de modo mais amplo. Os mundos secundários podem assumir muitas formas na arte, particularmente na ficção, A qualidade metafórica de um mundo inventado, seja ambientado neste ou em outro mundo, aprofunda ou de fato modifica nossa própria percepção da realidade e pode vivificar nosso espírito imortal. 

Já que Tolkien teve um impacto tão grande sobre o amigo, qual foi a importância de Lewis para Tolkien? O próprio Tolkien respondeu a esta pergunta numa carta escrita quase dois anos após a morte do amigo: “A dívida impagável que devo a ele não foi 'influência' como se compreende normalmente, mas sim puro encorajamento. Por muito tempo, ele foi minha única plateia. Foi só por ele que cheguei a ter a ideia de que minhas 'coisas* poderiam ser mais do que um passatempo pessoal. Não fossem seu interesse e avidez incessante por mais, eu jamais teria levado O Senhor dos Anéis a uma conclusão[...].” 


A NATUREZA DA AMIZADE 

Lewis lançou luz sobre a natureza de sua amizade com Tolkien quando escreveu Os quatro amores (1960). Eles são: afeto, amizade, eros e caridade (agape, ou amor divino). Acreditava ser vital não perder de vista as reais diferenças que dão a cada amor seu caráter válido, mesmo quando um amor se funde com outro (como acontece quando a amizade entre um homem e uma mulher se torna erótica, ou quando se é chamado a cuidar de um membro da família dependente e o afeto natural se aprofunda em amor autossacrificante). A amizade, como a dele com Tolkien, envolvia o fator "O qué, você também!" — o reconhecimento de uma visão compartilhada. 

A amizade, para Lewis, era, portanto, o menos instintivo, biológico e necessário de nossos amores. Hoje em dia, mal é considerado amor, e Lewis buscou reabilitá-lo. Em seu livro, destacou que os antigos davam o maior valor a este amor, como na amizade entre Davi e Jônatas. O clima ideal para a amizade é quando algumas poucas pessoas estão envolvidas em um interesse comum. Os amantes, argumentou Lewis, normalmente são imaginados face a face; os amigos são mais bem imaginados lado a lado, com os olhos focalizados em seu interesse comum. A amizade, sendo o menos biológico dos amores, refuta explicações heterossexuais ou homossexuais para sua existência. A amizade, avaliava Lewis, toma as pessoas boas melhores e as más, piores. Tolkien concordava amplamente com a visão da amizade de Lewis, especialmente porque era reforçada pelo caráter masculino da sociedade de Oxford nos seus dias, mas não era tão generoso quanto Lewis na amplitude de suas amizades. Era também um homem de família, enquanto Lewis foi solteiro durante grande parte da vida, apesar de participar voluntariamente no matriarcado da sra. Moore em The Kilns. Isso dava a Tolkien uma maior amplitude de relacionamentos — com Edith e especialmente com seus filhos. Um ingrediente importante na manutenção da amizade deles, porém, foi sua fé cristã compartilhada, com seu distinto aspecto imaginativo, apesar de a amizade ter-se estabelecido com firmeza enquanto Lewis ainda era materialista. 

Lewis via a amizade como algo pertencente "àquele mundo luminoso, tranquilo, racional dos relacionamentos escolhidos livremente." Tanto para ele quanto para Tolkien, a amizade dos dois era livremente uma escolha. A amizade, para Lewis, não era, como o afeto e o amor erótico, “ligada aos nossos nervos”; era, isso sim, o "menos biológico" de nossos amores naturais. Era um amor intensamente humano, não "compartilhado com os animais." A amizade, como o conto de fantasia, dá as pessoas um ponto de observação para ver o mundo de um modo novo. A amizade com Tolkien, ele descobriu, sacudiu-o para despertá-lo totalmente, para tirá-lo do frio sonho do materialismo. Apesar de ter outros amigos chegados, Lewis não teria sido o escritor e pensador que foi sem sua amizade com o sensível e visionário autor de “O Senhor dos Anéis”. Quanto a Tolkien, ele encontrou em Lewis um amigo que combinava com suas lembranças dos amigos de escola da T.C.B.S. que jaziam inertes nos Pântanos Mortos da 1ª Guerra Mundial. Fiava-se no estímulo de Lewis e, sem ele, não teria completado a minuciosa criação de seu épico para a Inglaterra, como imaginava sua história de mil páginas. Sobre a amizade, Lewis louvou: "Este apenas, de todos os amores, parece elevar-nos quase ao nível de deuses ou anjos." Pensando na companhia de amigos após um dia de caminhada, ele certamente incluía Tolkien ao escrever: 

“Essas são as melhores reuniões [...] Quando colocamos nossos chinelos, nossos pés esticados em direção ao fogo da lareira e nossos drinques ao alcance de nossas mãos; quando o mundo inteiro, e algo além do mundo, se abre para nossas mentes à medida que falamos. E ninguém reivindica ou tem qualquer responsabilidade com o outro, mas todos são pessoas livres e iguais, como se tivessem se encontrado há uma hora, ao mesmo tempo que uma afeição enternecida pelos anos nos envolve. A vida — vida natural — não possui dádiva melhor que essa para dar. Quem poderia merecer isso?” 


O DOM DA ALEGRIA 

Lewis e Tolkien claramente compartilhavam o desejo de incorporar em suas obras uma qualidade de alegria. A Sehnsucht, vista como desejo ou anseio que aponta para a alegria, era para Lewis uma característica que definia a fantasia. A alegria também é forte característica em Tolkien e valorizada por ele, como esclarece seu ensaio "Sobre Contos de Fadas". A alegria é um ponto-chave dos contos de fadas, ele acreditava, relacionada com o final feliz, ou eucatástrofe, parte do consolo que esses transmitem. A alegria, na história, indica a presença da graça que vem do mundo exterior à história, e até além de nosso mundo. 

Num epílogo do ensaio, Tolkien levou adiante sua consideração da qualidade da alegria, ligando-a às narrativas dos Evangelhos, que na sua opinião possuem todas as qualidades de um conto de fadas do outro mundo, sendo ao mesmo tempo História real do mundo. Essa referência dupla — ao mundo da história e ao mundo do primeiro século — intensifica a qualidade da alegria, identificando, acreditava ele, sua fonte objetiva. 

Lewis explorou a qualidade do anseio, tanto em sua busca pessoal, que levou à sua conversão cristã, quanto em seus escritos. Tal anseio, pensava Lewis, era a chave da experiência humana da alegria e inspirou o autor a criar fantasia. Para Lewis, a alegria era uma antecipação da realidade suprema, do próprio céu ou, em outras palavras, de nosso mundo como deveria ter sido, não estragado pela queda do gênero humano, e destinado a ser refeito algum dia. "A alegria", escreveu Lewis, "é a ocupação séria dos Céus." Tentando imaginar o céu, Lewis descobriu que a alegria é "a assinatura secreta de cada alma." Especulou que o desejo do céu faz parte de nossa humanidade essencial (e insatisfeita). 

Em Tolkien, a qualidade da alegria está ligada à virada repentina da história, ao senso de eucatástrofe, ou reversão da desgraça. Também está conexa ao anseio inconsolável, ou doce desejo, no sentido de Lewis. Domina todos os contos da Terra-média de Tolkien um anseio por atingir as Terras Imortais do extremo Oeste. O anseio é muitas vezes pintado como um anseio pelo mar, que ficava a oeste da Terra-média, e em cuja outra margem estava Valinor. Em O Senhor dos Anéis, Legolas, um elfo do Reino da Floresta, começou a ansiar pelo mar e pelas terras além dele. Seu desejo foi despertado pela primeira visão do mar no sul de Gondor. 


O PAGANISMO PRÉ-CRISTÃO 

Ambos os amigos também tinham uma profunda afinidade por se ocuparem do paganismo pré-cristão — com Balder e Psiquê, Kullervo e Eneias, Eurídice e Sigurd. A maior parte da ficção de Tolkien está ambientada num mundo pré-cristão, como fora seu grande modelo, Beowulf. De forma semelhante, Lewis explorou um mundo pagão em seu clássico romance “Até que tenhamos rostos”. 

Outra qualidade compartilhada por Lewis e Tolkien era sua rara habilidade para retratar o bem nos lugares e nas pessoas. Como todos os autores de ficção sabem, é mais fácil criar personagens maus convincentes do que bons. Também eram capazes de retratar lugares bons, às vezes paradisíacos — como Perelandra, o País de Aslam, as orlas do Céu, o Chalé de Tom Bombadil, o Condado, Valinor ou Lórien. 


AS DIFERENÇAS ENTRE TOLKIEN E LEWIS 

Havia, é claro, importantes diferenças entre Tolkien e Lewis, mas não eram grandes o bastante para ofuscar suas afinidades, mesmo quando, às vezes, perturbavam a amizade. Lewis era muito mais mundano e menos delicado que Tolkien em sua visão da arte, exatamente como era mais enfático na força de sua personalidade. Lewis, na verdade, estava mais próximo do puritanismo radical de John Bunyan, a tradição que explorou tão perceptivamente em seu English Literature in the Sixteenth Century. Um tal puritanismo não tinha as conotações ascéticas e severas que tem hoje em dia. Lewis, na verdade, rastreou até Calvino a origem da associação entre puritanismo e severidade moral, e destacou que mesmo essa severidade não negava a vida. Longe disso: Calvino recusava-se a separar o secular do sagrado, a fé pública do particular: "Essa severidade", escreveu Lewis, não significava que a teologia [de Calvino] fosse, em última análise, mais ascética que a de Roma. Ela nascia de sua recusa em admitir a distinção romana entre a vida da "religião" e a vida do mundo, entre os Conselhos e os Mandamentos. A visão que Calvino tinha da plena vida cristã era menos hostil ao prazer e ao corpo que a de Fisher [John Fisher, bispo católico romano); mas Calvino exigia que cada homem vivesse a plena vida cristã. Lewis, ele mesmo nesse antigo modo puritano, recusava de forma semelhante uma distinção entre "a vida da “religião' e a vida do mundo" e promovia o "mero cristianismo" (um termo criado pelo puritano Richard Baxter). 


A MANIFESTAÇÃO DA CONVICÇÃO RELIGIOSA 

Tolkien era atraído por uma visão espiritual da arte, mais que pela abordagem impetuosa de Lewis. Considerava parte da obra de Lewis, em especial “As crônicas de Nárnia, demasiado alegórica, isto é, demasiado carregada conceituai e explicitamente com crenças cristãs. Tolkien lutava para incorporar significados cristãos na sua obra de modo mais natural e harmônico, conferindo-lhe radiância interna. 

Em geral, Lewis retratou Deus como muito mais acessível do que Tolkien jamais o fez. Em O Senhor dos Anéis, o nome de Deus nem mesmo aparece, apesar de haver um senso nítido e constante de que existe uma providência moldando os eventos, uma providência à qual se deve adoração. Em “O Silmarillion”, no entanto. Deus é explicitamente chamado de llúvatar, o Pai de Todos. O motivo para tal abordagem do divino pode muito bem ser o fato de que Tolkien colocou seus contos num ambiente pré-cristão. Seu mundo certamente está vivo com a presença de Deus. A ficção de Lewis, por outro lado, é muito mais literalmente centrada em Cristo. (A única exceção real é seu romance “Até que tenhamos rostos” com seu ambiente pré-cristão ao norte da Grécia.) Em Nárnia, o leão-criador Aslam é um mediador. Em Perelandra, a reformulação do Paraíso Perdido, de Milton, por Lewis, a morte de Maleldil (Cristo) em nosso Planeta Silencioso significa que a queda do gênero humano não pode simplesmente se repetir. O sobrenome de Elwin Ransom refere-se à sua resistência sacrificial ao mal, quando sofre um ferimento debilitante no calcanhar (uma alusão direta ao sofrimento de Cristo em seu combate derradeiro contra Satanás, conforme profetizado em Gênesis 3:15). 

Para Tolkien, a essência da arte como força espiritual estava ligada com sua concepção dos elfos. Eles estavam, para ele, no centro do conto de fadas, entre as mais altas realizações da arte. Acreditava que tal arte espiritual fora verificada pela maior história de todas: o Evangelho. Tolkien argumentou: "Deus é o Senhor, dos anjos, do homem... e dos elfos. A lenda e a História encontraram-se e se fundiram." 

No coração das crenças compartilhadas pelos amigos existia, portanto, uma visão profundamente religiosa da fantasia e da literatura do "romance" — para eles, uma literatura que evocava ou capturava de algum modo outros mundos do espírito. Em particular, ambos partilhavam uma teologia do romantismo que enfatizava a imaginação poética. 





A DURADOURA POPULARIDADE DE J. R. R. TOLKIEN 

Qual é o segredo do grande encanto que Tolkien lançou em volta do mundo? Além da espiritualidade de seu “O Senhor dos Anéis”, atraente em nossa era pós-moderna, ele apresenta uma poderosa crítica ao que via como a forma modernista de magia: a dominação da máquina. Ao contrário das ideias do modernismo, essa dominação social e mecânica é mais tenaz, e assim, talvez, a exploração de Tolkien toca um sentimento profundo nos leitores e espectadores de filmes contemporâneos. 

A popularidade de Tolkien pode ser explicada por quatro motivos principais: 

Em primeiro lugar, ele é um grande contador de histórias. O Senhor dos Anéis é uma história construída de modo poderoso, enraizada nos elementos centrais do que ele chamava de conto de fadas, ou história dos elfos. A narração de histórias é universal, e histórias do mito, da lenda e dos contos folclóricos populares contém arquétipos ou elementos universais, como os temas da busca e da jornada. Tolkien parece ter visto os elementos de uma boa história mormente articulados nas narrativas dos Evangelhos. Apesar de enraizado em muitos motivos e temas bíblicos (como a providência, o problema do mal, o sacrifício e a redenção), Tolkien estabelece com maestria os eventos de um mundo pré-cristão, supostamente, com um gigantesco anacronismo imaginativo, de localização geográfica europeia setentrional. Assim, seus elementos cristãos são transfigurados em uma forma atraente, sem erguer barreiras para aqueles que não compartilham suas crenças cristãs.

Segundo, a história de Tolkien ganha dimensão pela sua extensa criação de outro mundo, um mundo secundário. A Terra-média está repleta de seus próprios idiomas, sua geografia e História. A vivacidade e as profundezas desse mundo "subcriado" sem dúvida reforçam o apelo de O Senhor dos Anéis. Assim como a vastidão do cosmo, o ricamente inventado mundo de Tolkien abre possibilidades, esperanças e sonhos. Ele ajuda os leitores a formularem um senso de desencantamento com nossa cultura secular. As pessoas de hoje têm um inquieto sentimento de que existem dimensões da vida que nossa cultura materialista não utiliza, e que a maioria de nós sente falta dessas dimensões. Talvez os arquétipos subjacentes de Tolkien (como a busca e a jornada) focalizem o anseio de pessoas em todo o mundo, baseados nas aspirações de nossa humanidade comum. 

Em terceiro lugar, Tolkien pretendia que O Senhor dos Anéis fizesse soar um alerta sobre as consequências de se abandonar os "Antigos Valores Ocidentais", mesmo evitando fazê-lo alegoricamente, pois sentia que na alegoria o autor tentava dominar o leitor. A história é assinalada por um retrato realista do mal. A obra de Tolkien pode, talvez, ser mais relevante para a compreensão dos medos e terrores de nossas vidas do que boa parte da chamada ficção realista, que não está tão bem equipada para explorar as grandes questões da humanidade. Esta é uma profunda ironia, dado que alguns críticos rejeitam a ficção de Tolkien como escapista, e por ter uma simplicidade adequada apenas a leitores adolescentes — não é, dizem eles, para adultos como eles mesmos. 

Em quarto lugar, a popularidade de Tolkien pode residir no fato de que ele apresenta uma atraente espiritualidade que apela a um amplo público leitor que busca novo significado e satisfação espiritual num mundo grandemente secularizado. A espiritualidade de Tolkien foi de grande importância na sua criação da Terra-média. A criação dos elfos é central em sua ficção. Eles são representantes da espiritualidade e cultura humana, e a própria espiritualidade humana tem uma qualidade élfica. Exatamente como Lewis, Tolkien foi profundamente inspirado por uma ampla gama de imagens espirituais, como árvores, anjos, a queda do gênero humano, o poder da cura, a personificação da sabedoria, luz e trevas, natureza e graça e o retrato bíblico do heroísmo e do mal. 





A DURADOURA POPULARIDADE DE C. S. LEWIS 

A maior parte dos fatores que tomaram Tolkien tão enormemente popular também se aplica a Lewis. Ele, porém, nada produziu de tão detalhado e mentalmente habitável como a Terra-média. Em termos de literatura infantil, no entanto. As crônicas de Nárnia há muito se estabeleceu como clássicos da cultura popular. 

Além dos fatores que ele compartilhava com Tolkien, há outras razões para a popularidade duradoura de Lewis. Por um lado, ele tinha uma imaginação altamente eclética. Screwtape; Brejeiro, o Paulama; Elwin Ransom, o don de Cambridge; Aslam, o leão falante e criador de Náimia; Sarah Smith, de Golder's Green; o sr. Sensible; Redival, da antiga Glome; Jane e Mark Studdock, das Midlands inglesas — estas são apenas algumas das criações de Lewis. Da sua mente e imaginação fervilhantes nasceram histórias e uma poderosa retórica que visava persuadir as pessoas da verdade da fé cristã. Ateu durante muitos anos, Lewis só se tomou cristão a mais de meio caminho da sua vida, o que significa que ele compreendia internamente o aspecto, o sabor e o cheiro do universo materialista. 

A segunda razão é óbvia: assim como o amigo, fez uma contribuição duradoura à literatura infantil, no seu caso com As crônicas de Nárnia, que certamente sobrepujam as vendas dos seus demais escritos.

Razões adicionais também são capazes de explicar o apelo amplo e duradouro de Lewis.  Foi um importante erudito literário, com obras como Alegoria do amor, English Literature in the Sixteenth Century e Um experimento na crítica literária, todas ainda sendo publicadas a despeito do fato de que inevitavelmente existem pontos de controvérsia, como seu tratamento do humanismo e da Renascença, e sua tese de que o divisor de águas da civilização ocidental ocorreu no início do século XIX, não no século XVI. 

Foi um destacado apologista ou defensor da fé cristã, chegando à capa da revista Time já em 1947. Relutantemente, foi um dos primeiros e melhores evangelistas da mídia. Somente seu Cristianismo puro e simples foi citado no testemunho de muitos como a mais importante influência em suas conversões ao cristianismo. Seu controverso “Milagres” continua desafiando indivíduos que não veem motivo para o envolvimento divino na experiência humana, mais de cinquenta anos depois de ter sido escrito. 

Também foi teólogo popular, capaz de transmitir temas bíblicos de modo convincente, com espírito, imaginação e clareza. Sua teologia está embutida nas suas obras de ficção, como O Regresso do Peregrino. Cartas de um diabo a seu aprendiz. As crônicas de Nárnia e a trilogia de ficção científica. Também se encontra em Cristianismo puro e simples, Milagres, Lendo os salmos. Oração: cartas a Malcolm e O problema do sofrimento. 

Foi, discutivelmente, um autor de ficção científica de primeira linha, conquistando o respeito de líderes do gênero, como Arthur C. Clarke e Brian Aldiss. Os dois primeiros volumes de sua trilogia sobre Ransom são especialmente celebrados. 

Foi um romancista cujo futuro promissor foi interrompido pela doença e por sua morte relativamente precoce. Até que tenhamos rostos é um dos seus maiores livros, uma narrativa ambientada vários séculos antes de Cristo num país imaginário, porém realista, em algum lugar ao norte da Grécia. Tem afinidades com a obra de seu amigo Tolkien, foi profundamente influenciado por seu amigo — muito diferente — Charles Williams, e provavelmente teve o diálogo moldado com Joy Davidman. 

Foi um pensador que, no começo da carreira acadêmica, fez parte de um grupo de discussão com jovens filósofos de Oxford que também incluía Gilbert Ryle. Ensinou filosofia por um ano antes de ingressar na carreira docente como donde inglês. Seus livros O problema do sofrimento. Milagres e A abolição do homem são textos filosóficos sérios, apesar de dirigidos ao leitor comum. 

Essas variadas facetas de Lewis constantemente se inter-relacionavam de modo orgânico, fazendo com que o todo de sua personalidade fosse maior que a soma de todas as partes. Poderia estar contemplando o fim da sua vida quando observou em 1940: 

A felicidade acomodada e a segurança que todos desejamos nos sãos negados por Deus devido à própria natureza do mundo: mas a alegria, o prazer e a jovialidade Ele espalhou amplamente. Nunca estamos seguros, mas temos bastante diversão e algum êxtase. Não é difícil ver por quê. A segurança pela qual ansiamos nos ensinaria a repousar os corações neste mundo e oporiam um obstáculo ao nosso retomo para Deus: alguns momentos de amor feliz, uma paisagem, uma sinfonia, um encontro alegre com os amigos, um banho ou um Jogo de futebol, não têm uma tal tendência. Nosso Pai nos revigora na jornada com algumas estalagens agradáveis, mas não nos estimulará a crer erradamente que são nosso lar.


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