sábado, 19 de janeiro de 2019

A QUEDA DE GONDOLIN [Resenha]


TOLKIEN, J. R. R. A Queda de Gondolin. Rio de Janeiro, RJ: HarperCollins, 2018 288p. 


O LIVRO: SUA PUBLICAÇÃO E ENREDO 

A versão brasileira é um projeto de expansão dos escritos de J.R.R Tolkien em língua portuguesa, onde já foram publicados J.R.R Tolkien – Uma Biografia (de Humphrey Carpenter) e também o livro O Dom da Amizade (uma espécie de biografia da amizade entre Tolkien e C.S Lewis). [1]

O projeto da HarperCollins para as obras de J.R.R. Tolkien no Brasil finalmente tem início com a publicação de A Queda de Gondolin. Originalmente editado – como praticamente todo o resto da obra do Professor – pelo seu filho e herdeiro Christopher Tolkien, A Queda resgata um momento determinante na construção do legendarium tolkieniano. Na verdade, o primeiro deles, já que a primeira versão deste texto é apontada como a pedra fundamental no desenvolvimento da sua mitologia. 

“A queda de Gondolin” tem capa dura e possui uma textura dourada no título. A lombada segue o mesmo padrão das ilustrações assinadas por Alan Lee e possui o símbolo élfico no topo, tão característico, dando uniformidade para as obras do autor de “O hobbit” e “O Senhor dos anéis”. 

A folha de guarda possui tons amarelados e símbolos que remetem ao universo criado por Tolkien. Além de gravuras ilustradas por Alan Lee. As folhas são amareladas e de um material rico, sempre com ilustrações no topo de cada conto, além da diagramação que possui um excelente espaçamento para leitura e ilustrações em todo o livro. O livro ainda possui alguns adicionais como lista de nomes, notas adicionais, glossários e informações sobre os Príncipes de Nodor e a Casa de Bëor. 

Além disso, é importante citar que o responsável pela edição do livro é do filho do autor, Christopher Tolkien, sendo o seu último trabalhado realizado, que atualmente possui 93 anos. 

Antes de adentrar propriamente no texto, ou enredo, é importante lembrar que não é um livro para leitor iniciantes nas obras de Tolkien. Ler esse livro sem ter antes, no mínimo ter lido “O Silmarillion” ou “Contos Inacabados” faz com que o leitor se sinta lendo um texto isolado, e não vai conseguir capturar bem o desenrolar do texto, sem conhecimento do contexto geral. Essas mesmas recomendações seguem para quem vai ler “Os Filhos de Húrin e Beren e Lúthien. Portanto, ler “O Silmarillion” vai melhor situa-lo e entender toda a obra, mesmo porque este é o terceiro grande conto da Terra-Média. Os outros são “Os filhos de Húrin” e “Beren e Lúthien”.[2]

Portanto, sendo este terceiro grande conto da Terra-Média, narra a jornada de Tuor rumo à cidade secreta de Gondolin, refúgio élfico do povo do Rei Turgon. Contra a bela cidade, levanta-se Morgoth, o Inimigo Sombrio, com seu exército de seres malévolos. A história da Queda de Gondolin começou a ser escrita em 1916 e agora ganha vida graças ao trabalho editorial de Christopher Tolkien, filho e executor legal das obras de Tolkien. Dessa forma cumprem-se duas sinas: a dos Elfos noldorin na Primeira Era do mundo e a do autor, ao conseguir publicar individualmente os três Grandes Contos dos Dias Antigos Fechando a mitologia da Terra-média, a Queda de Gondolin, assim como Beren e Lúthien e Os Filhos de Húrin, foi ricamente ilustrada pelo renomado artista britânico Alan Lee, que retrata a fantasia de Tolkien há mais de 30 anos. 

Como em obras anteriores, Christopher, com base em manuscritos do pai, faz um estudo aprofundado buscando tornar público um texto coeso e inédito, traçando sempre um paralelo com o contexto onde foi escrito e quais eram os objetivos dentro da história maior que J.R.R contava. 

A obra reúne o conto original escrito por Tolkien, alguns pequenos esboços, visões mais ou menos aprofundadas, e uma narrativa chamada de última versão. Basicamente são duas versões da mesma história, com enfoques diferentes. A primeira, mais simples na sua primeira parte de como Tuor chega a Gondolin, foca mais na queda e destruição da cidade. J. R. R. se preocupou mais em detalhar a Gondolin e a invasão das tropas de Morgoth, com Balrogs e Dragões. Sim, houve alterações em relação a como Tuor chega à cidade e o papel de Ulmo, tornando menos épica sua jornada, mas a compensação é mostrada por meio da destruição da Cidade Oculta e como Tuor consegue salvar parte da população, levando-os em uma fuga desesperada, sendo açoitados por Orcs e Balrogs no caminho. E aqui há sim o sacrifício para o bem de todos, lutas épicas e um certo deja-vu, especialmente com um Balrog. 

A segunda, muda e enriquece as passagens que levaram o herói para chegar na Cidade Oculta e não chega a entrar na Queda. O que se percebe o livro segue uma linha de pegar diversos textos associados ao assunto e faz uma análise, seja complementando informações, seja fazendo um estudo das diferenças. Nesta parte, a depender do interesse do leitor pela obra do Professor, o texto pode perder sentido, pois cai em uma linha quase didática e parcimoniosa, mais próximo de um ensaio sobre esta parte da Obra do que propriamente uma narrativa. Para quem leu os Contos Inacabados, sabem do que estou escrevendo. 

A linguagem de Tolkien que vocês vão encontrar em A Queda de Gondolin tem um estilo que se assemelha ao que vemos nas narrativas bíblicas. Em certo aspecto, podemos nos permitir, a título de situar leitores não familiarizados com a obra, afirmar que as histórias que trazem os eventos da Primeira Era estão para o mundo tolkieniano como o Velho Testamento está para a Bíblia. E aqui podemos conhecer as diversas formas que a história d’A Queda foi sendo gestada na cabeça do autor. Embora a base narrativa seja a mesma, existem diferentes desdobramentos ou detalhamentos em cada novo texto que lemos. Por fim, o editor traz aos leitores um compilado com a evolução da história de Gondolin, reunindo as diversas passagens de cada versão com explicações e notas complementares. 


A CIDADE DE GONDOLIN 

No conto, ficamos sabendo como Ulmo, o senhor das águas e um dos Valar de maior poder em Arda, revelou a Turgon a localização do vale de Tumladen, um local secreto e geograficamente fortificado, onde os elfos e aqueles que estes achassem dignos poderiam viver longe dos olhos e da corrupção de Morgoth, o primeiro e mais poderoso Senhor do Escuro. Sob este desígnio divino, Turgon encontrou o cisma dentro das Echoriath, as Montanhas Circundantes, e ali fundou sua cidade, cujo desenho era baseado na cidade de Tirion, em Valinor, que os Noldor tiveram que abandonar para sempre após o Fratricídio de Alqualondë. 

É interessante dizer que Gondolin, chamada em Quenya de Ondolindë, nome que quer dizer A Rocha da Música d'Água, em Sindarin foi chamada de Gondolin, A Rocha Oculta. A história da Queda de Gondolin foi uma das histórias-base para as histórias de Tolkien sobre a Terra-média. Foi essa a história sobre a Terra-média primeiramente lida em público, em 1918 no Exeter College Essay Club. 

A cidade cresceu em poder e prosperidade, e resistiu durante muito tempo às investidas de Morgoth. A cidade era protegida por sete portões, cada um feito de um material específico – desde madeira, até aço: o primeiro, de Madeira; o segundo, de Pedra; o terceiro, de Bronze; o quarto, de Ferro; o quinto, de Prata; o sexto, de Ouro e o sétimo, de Aço. Os de Prata e Ouro tinham duas famosas representações das Duas Árvores de Valinor, chamadas Glingal e Belthil. – e era considerada inexpugnável, até que a traição de Maeglin, sobrinho de Turgon, levou as criaturas de Morgoth aos portões da cidade no momento mais propício possível. Gondolin termina completamente destruída, e sua tragédia torna-se uma das memórias mais dolorosas na mente dos noldorin na Terra-Média. 


TRADUÇÃO 

Há um aspecto que muito vem sendo discutido que é a questão da tradução. Este assunto eu não domino quase nada, mas, transcrevo aqui um texto com os seus devidos créditos. 

“(...) precisamos falar sobre o elefante na sala: a nova tradução, assinada por Reinaldo José Lopes (que participou do nosso podcast sobre Tolkien). O trabalho de dividido opiniões, principalmente em relação aos termos clássicos “orc” e “goblin”, que foram traduzidos como “orque” e “gobelin”. A justificativa é que o corpo de tradutores optou por obedecer de forma preciosista as orientações do próprio Tolkien para traduções, que incluem não apenas versões diretas dos vernáculos, mas também seu desenvolvimento social e histórico dentro da filologia de Arda. Devemos dizer que apoiamos tal decisão. 


É salutar observar que, mesmo no contexto interno d’A Queda, Tolkien observa que, porque Gondolin permaneceu durante muito tempo isolada e com uma população mista de noldorin e sindarin, desenvolveu-se ali um dialeto distinto dos seus idiomas originais; a própria palavra “Gondolin” é uma corruptela oriunda das versões de Quenya, o idioma Noldor, que a chamava de Ondolindë, e do sindarin de Beleriand, que deveria chamá-la de Goenlin ou Goenglin. 

Ou seja, a opção feita pelos tradutores é apenas orientada – apropriadamente – pela noção de que todo idioma é algo orgânico, que se adapta e se transforma às sociedades e contextos históricos que apresentam ou, no caso de Tolkien, representam; ergo, seria naturalmente um desenvolvimento outro de tais nomes e termos que não simplesmente sua alocação direta do inglês para o português. É preciso, principalmente para os fãs mais novos ou oriundos de outras mídias, desapegar-se da ideia de que o cânone tolkieniano obedece uma prima regra fixa e imutável. Se assim o fosse, o próprio autor não teria se dado ao trabalho de orientar traduções de nomes e termos. 

A única nota realmente lamentável é que Christopher já deixou claro que A Queda de Gondolin provavelmente será a última publicação dos trabalhos restantes de seu pai. O que significa que, 45 anos após sua morte, estaremos definitivamente órfãos do Professor. Certamente, uma tragédia pior do que qualquer uma que os elfos já enfrentaram…” [3]


CURIOSIDADES

1. O título original da obra é “The fall of Gondolin” e foi publicado no Brasil no mesmo dia que a versão inglesa. 

2. A Queda de Gondolin ocorre milênios antes dos eventos dos Anéis, e foi escrita em 1917, assim é o que presume a Sociedade Tolkien. Tolkien considerou A Queda de Gondolin “a primeira história real deste mundo imaginário”. 

3. Para quem é versado na mitologia grega, vai perceber que A Queda de Gondolin, nos remete claramente ao relato homérico do saque da cidade fortificada de Tróia, da traição de Efialtes aos espartanos nas Termópilas e às descrições da mítica cidade de Ecbátana.

Portanto, para adquirir o livro, é só clicar na imagem acima.

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[1] Confiram as resenhas destes dois livros publicados no blog, nos links:
J. R. R. Tolkien – Uma Biografia: http://professorpadua.blogspot.com/2018/11/j-r-r-tolkien-uma-biografia-resenha.html. O Dom da Amizade: http://professorpadua.blogspot.com/2018/12/o-dom-da-amizade-resenha.html.
[2] Beren e Luthién está disponível no link: http://www.harpercollins.com.br/livro/beren-e-luthien/
[3] A Queda de Gondolin – Porque Tolkien nunca é demais! Disponível em https://formigaeletrica.com.br/livros/a-queda-de-gondolin/ Acesso em 19 jan. 2019

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