sábado, 22 de dezembro de 2018

DICIONÁRIO DE CRISTIANISMO E CIÊNCIA [Resenha]


Dicionário de Cristianismo e Ciência. Organização Paul Copan [et al].Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2018.


“A fé bíblica e a ciência têm sido aliadas e inimigas em toda a história do Ocidente. Do modelo heliocêntrico de Copérnico às meditações de Blaise Pascal sobre os mistérios de Deus, desde o agnosticismo de Darwin até as disputas no âmbito escolar sobre o design inteligente, o diálogo entre ambas foi repleto de emoção e bastante fecundo para investigação.” É assim que os editores desta magnifica obra começam a introdução.

Contudo, um princípio central do ateísmo – em todas as épocas - é dizer que o cristianismo e a razão são incompatíveis e que, ao longo da história, os cristãos impediram o progresso da ciência. Atualmente, o historiador ateu, Richard Carrier, é o responsável por promover visões semelhantes em suas contribuições para as coleções de ensaios, como The Christian Delusion e Christianity Is Not Great. Ele sugere que, antes da ascensão do cristianismo, os antigos gregos teriam desfrutado de uma revolução científica mais importante do que a que aconteceu na chamada “Idade das Trevas”. No entanto, a verdade é muito diferente. 

Um fato importante descobre-se quando fazemos uma análise da história, pois, percebe-se que as grandes civilizações como os gregos, os hindus, os árabes e os chineses desenvolveram conhecimentos e técnicas consideráveis mais ou menos ao mesmo tempo. Dominavam a astronomia, as navegações, construíam edifícios, catapultas, armas, etc. No entanto, nenhum desses povos foi capaz de desenvolver a ciência como um movimento progressivo, como aconteceu na Europa Cristã no final da Idade Média. O conhecimento do mundo e as técnicas em posse de outras culturas não eram suficientes em si para manter em andamento a ciência como a conhecemos. O que faltava a esses povos era a estrutura certa que pudesse propiciar a confiança e a motivação necessárias para que o estudo científico florescesse. Certamente, quando os cristãos vieram desenvolver sua própria ciência na Idade Média, eles também não eram objetivos. Para eles, a ciência era o estudo da criação de Deus. Mas os pressupostos metafísicos do cristianismo, ao contrário dos gregos ou mesmo dos muçulmanos, revelaram-se extremamente propícios a descobrir o verdadeiro conhecimento sobre a natureza. Eles não eram cientistas no mais estrito do termo, mas eram cristãos que lançaram as bases para a ciência moderna.

Uma falsa argumentação para o conflito entre ciência e cristianismo, está quando se descobre, por exemplo, a igreja nunca tentou proibir a dissecação humana como tem sido frequentemente alegado. Embora a igreja medieval tenha utilizado a prática desprezível de queimar hereges, ninguém foi executado por causa de crenças científicas. Mesmo o notório julgamento de Galileu Galilei (1564-1642) revela que a questão toda tinha a ver mais com o ego papal do que com astronomia. Também foram rejeitados muitos mitos (antes aceitos como verdadeiros por grande parte das pessoas) promulgados por White e Draper — por exemplo, a alegação falsa de que João Calvino citou o Salmo 93 contra Nicolau Copérnico. Finalmente, a afirmação completamente sem fundamento de que a maioria dos cristãos antes de Cristóvão Colombo acreditava em uma terra plana. Ninguém na Idade Média pensou que a terra era quadrada ou plana: Cristóvão Colombo certamente não precisava provar que a terra era uma esfera. A maioria dos escritores cristãos até a Renascença via tanto a razão quanto as Escrituras como fontes de conhecimento válidas; mas, em geral, eles não consideravam que as duas tinham a mesma autoridade. A filosofia (incluindo o que é chamado de “ciência” agora) era considerada uma “empregada da teologia” e não um empreendimento autônomo com suas próprias credenciais; ainda assim, a filosofia era uma importante área de estudo que recebia uma quantidade significativa de recursos das universidades. A Teologia era a “rainha das ciências” ou “a rainha de todo o conhecimento”. Esses estudiosos pensavam que um dos papéis do conhecimento científico era ajuda a explicar as passagens bíblicas que falavam da natureza. O autor de um comentário do livro de Gênesis, por exemplo, poderia utilizar a cosmologia e a física de Aristóteles relacionando-as com as referências aos céus na história da criação. No entanto, eles não pensavam que era apropriado questionar a interpretação tradicional de um texto bíblico com base em uma teoria científica. A autoridade conferida ao livro da natureza (nome que era frequentemente dado à filosofia) não chegava nem perto da autoridade do livro das Escrituras.

Hoje, várias teorias e descobertas científicas continuam a suscitar questões para as perspectivas cristãs da cosmologia, antropologia e filosofia, e para o estudo da Bíblia e o testemunho público. Possivelmente mais do que em qualquer outro momento da história, as opiniões sobre a relação entre ciência e cristianismo na cultura ocidental são tanto polarizadoras como confusas. Assim, é essencial um diálogo razoável sobre a interseção dessas duas áreas e o esclarecimento de seus respectivos conceitos e implicações.

E com o propósito, de mostrar a interação entre fé cristã e ciência é que foi editado o Dicionário de cristianismo e ciência que trata-se de uma investigação contemporânea e que não pretende ser exaustivo, mas que é abrangente e acessível. Praticamente todos os colaboradores são cristãos evangélicos especialistas em seus respectivos campos de estudo. Todas os temas foram cuidadosamente revisadas pelos organizadores. E a esperança dos mesmos é que os leitores do Dicionário sejam informados e desafiados a todo instante por resumos precisos e análises imparciais.

Se existe um conflito entre ciência e cristianismo, nota-se que até no cristianismo evangélico não existe unanimidade em relação à ciência. Grupos bem estabelecidos, muitas vezes com suas próprias publicações, organizações e eventos, discordam quanto a questões fundamentais. Embora nenhum livro possa reclamar para si objetividade perfeita, o propósito deste volume é representar vários grupos evangélicos e pontos de vista da maneira mais justa possível em seus próprios termos. Essa abordagem não agradará a todos. Os leitores que preferem conclusões categóricas podem ficar desapontados. No entanto, o objetivo deste dicionário é traçar os contornos do pensamento evangélico sobre a ciência e sugerir um quadro para discussões futuras, e não esgotar essas discussões.

Os editores são:

Paul Copan (PhD, Marquette University) é teólogo cristão, filósofo analítico, apologista e escritor; é professor da cátedra Família Pladger de Filosofia e Ética na Palm Beach Atlantic University, em West Palm Beach, Flórida.

Tremper Longman III (PhD, Universidade de Yale) é professor da cátedra Robert H. Gundry de Estudos Bíblicos na Westmont College em Santa Bárbara, Califórnia.

Christopher L. Reese (Mestre em Teologia pela Talbot School of Theology) é escritor, editor e estudioso independente; é cofundador da Christian Apologetics Alliance (christianapologeticsalliance.com).

Michael G. Strauss (PhD, Universidade da Califórnia, Los Angeles) é professor da cátedra David Ross Boyd de Física na Universidade de Oklahoma, em Norman, Oklahoma.”

Este dicionário contém três tipos de entradas, a saber:

1. Introduções. São mais de 450 termos-chave, trechos mais curtos que descrevem, em forma de resumo, os fetos centrais sobre um tópico. Onde há questões interpretativas, são apresentadas explicações simples das hipóteses mais viáveis, com igual tratamento dado a cada hipótese. O objetivo das Introduções é fornecer uma visão geral rápida e fácil de entender.

2. Ensaios. São mais de 140 ensaios dos principais estudiosas internacionais. Essas entradas mais longas começam com a mesma informação que as entradas Introduções, mas incluem uma maior exploração das implicações e do significado do tema em discussão. As referências a personagens importantes ou a trabalhos relacionados ao tópico são frequentemente incluídas, assim como informações relevantes de apoio. O objetivo dos Ensaios é uma sinopse introdutória completa de um assunto relacionado.

3. Discussões com múltiplas hipóteses. Ao contrário de outras entradas no Dicionário, as Discussões com múltiplas hipóteses não pretendem ser imparciais. Em vez disso, em temas-chave que têm estimulado o desentendimento contínuo e que possuem maior relação entre o pensamento cristão e o pensamento científico, os expoentes de importantes perspectivas escreveram artigos que apresentam seus pontos de vista, o que foi feito de forma veemente, mas com amor. Contra-argumentação e antecipação de críticas de pontos de vistas opostos são incluídas. Deve-se observar que os autores de determinada perspectiva não leram os verbetes um do outro antes da publicação. Esses trechos de ponto de vista dependem da pesquisa atual e tentam apresentar outras visões com precisão, mas o enfoque de cada texto é persuadir, em vez de apenas informar. O objetivo das Discussões com múltiplas hipóteses é um debate que delineie os diferentes pontos de vista e equipe melhor os leitores a chegar a suas próprias conclusões de maneira mais bem informada. Consequentemente, os organizadores não concordam com todas as opiniões expressas nestes artigos. Em vez disso, eles tentaram promover a precisão, mas permitiram um diálogo baseado em bons princípios, mesmo quando controverso. Ás vezes há uma linha tênue entre precisão e opinião.

As entradas de todos os tipos incluem um título final nomeado “Referências e leituras recomendas”, listando as principais fontes mencionadas em cada trecho e/ou leitura adicional sugerida.

Esta é uma que não pode faltar na biblioteca de nenhum cristão. Portanto, RECOMENDO. Para adquirir este livro é só clicar na imagem acima.

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