Todos conhecem o Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos e sabem que tais livros possuem propósitos didático e teológico. Mas qual seriam? Para Stronstad, não há dúvida que está ligado à atuação do Espírito Santo e aos seus carismas, isto é, aos seus dons espirituais. Um dos mais influentes trabalhos sobre a pneumatologia de Lucas da atualidade, esta obra, escrita na tradição do pentecostalismo e de grande valor acadêmico, foi um divisor de águas e contribuiu significativamente para o entendimento da Igreja sobre a teologia de Lucas.
Este livro, além da apresentação, está dividido em seis capítulos e segue uma metodologia admirável. Além dos capítulos possui com apêndices: notas, leituras recomendadas, índice de referências bíblicas e remissivo.
Este livro foi lançado em 1984 pela Editora Hendrickson e publicado uma nova edição em 2012 pela Baker Publishing House. No Brasil, foi lançado pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD).
Este texto trata-se de uma resenha descritiva, com algumas citações de rodapé. Iremos tratar como costumeiramente – capítulo a capítulo – e sim, veremos os principais temas tratado nesta excelente obra.
Capítulo 1 – O Espírito Santo em Lucas-Atos: Um desafio a metodologia.
Roger afirma que para interpretar corretamente o registro de Lucas sobre o Espírito Santo, se faz necessário resolver três problemas metodológicos fundamentais. Estes problemas metodológicos são as três divisões deste capítulo: (1) A homogeneidade literária e teológica de Lucas-Atos, (2) O caráter teológico da historiografia lucana e (3) a independência teológica lucana.
Roger considera que isso é um desafio descomunal, mas se faz necessário resolver o impasse teológico e metodológico na igreja contemporânea concernente ao significado do Espírito santo em Lucas-Atos. Por um lado, quando apropriado, todas as partes do debate devem abandonar os programas metodológicos predominantemente autossuficientes, que conspiram para silenciar ou manipular a distinta teologia de Lucas. Por outro lado, todas as partes devem desenvolver um consenso metodológico para interpretar o dom do Espírito em Lucas-Atos. No mínimo, o consenso tem de ter os seguintes princípios: (1) Lucas-Atos é teologicamente homogêneo, (2) Lucas é teólogo e historiador e (3) Lucas é teólogo independente por direito próprio.
Quando Lucas-Atos é interpretado à luz desse programa metodológico, a mensagem de Lucas revela-se radicalmente diferente de determinadas interpretações contemporâneas que lhe são dadas[1]. Por exemplo, comparada com certas interpretações populares, a frase característica de Lucas, “Cheio do Espírito Santo”, (1) é amoldada de acordo com o uso dado no Antigo Testamento (a septuaginta), (2) tem o mesmo significado no Evangelho como tem em Atos e (3) tem um significado diferente em Lucas-Atos do que na epístola de Paulo aos Efésios. Em termos gerais, para Lucas, o Espírito santo não diz respeito à salvação nem a santificação, como é comumente afirmado, mas exclusivamente a uma terceira dimensão da vida cristã – o serviço. Portanto, diz Roger, quando interpretado pelo programa metodológico aqui discutido, descobrimos que Lucas tem uma teologia carismática, e não soteriológica, do Espírito Santo. A teologia carismática do Espírito Santo não é menos válida para os discípulos no século XXI do que para os discípulos no século I.
Capítulo 2 – O Espírito Santo no Antigo Testamento: O Espírito carismático de Deus.
Capítulo 2 – O Espírito Santo no Antigo Testamento: O Espírito carismático de Deus.
O propósito deste capítulo é descrever a atividade carismática do Espírito de Deus nos tempos do Antigo Testamento. Roger divide este capítulo em duas partes.
Parte 1: O Espírito carismático nos Tempos do Antigo Testamento, que possui 4 pontos assim denominados - (1) A distribuição cronológica da atividade carismática do Espírito; (2) A terminologia da Septuaginta que descreve a atividade carismática; (3) Os temas característicos da atividade do Espírito e (4) As expectativas proféticas para a atividade carismática do Espírito na vindoura era da restauração. Parte 2: O Espírito carismático no Período intertestamentário, que possui dois pontos – (1) A cessação da Inspiração profética e (2) A restauração da Inspiração profética.
Ao dedicarmo-nos a interpretar o Espírito santo em Lucas-Atos, procedemos baseados no seguinte. Em termos gerais, o Antigo Testamento e a historiografia helenística judaica deram a Lucas o modelo para ele escrever sua história de dois volumes sobre a origem e propagação do cristianismo. Os temas carismáticos das Bíblias hebraica e grega, tais como a transferência, os sinais e a vocação, influenciam a teologia de Lucas pertinente ao Espírito Santo. Além da influência desses temas carismáticos, a Septuaginta fornece a Lucas a terminologia para descrever a atividade do Espírito Santo na vida de Jesus e seus discípulos. Lucas-Atos é diferente em comparação à crença intertestamentária da cessação da inspiração profética. Mais exatamente, ele relata a restauração da atividade profética depois de quatro séculos de silêncio. [p.55-56]
Capítulo 3 – O Espírito Santo no Evangelho de Lucas: O Cristo carismático.
Roger divide este capítulo em sete partes: (1) A Narrativa da Infância, Lc 1.5-2-52; (2) Jesus Ministra como o Ungido do Senhor, Lc 3.1-24-53; (3) Teofania: O Senhor Unge/Comissiona Jesus, Lc 3.1-4.30; (4) Jesus confirma sua Comissão Profética, Lc 4.31-9.50; (5) Teofania: Jesus conclui seu ministério na Galileia, Lc 9.28-50; (6) Jesus expande seu ministério profético para Jerusalém, Lc 9.51-24.29; (7) Jesus ascende ao céu, Lc 24.50-53; At 1.9-11.
Roger, diz: O ministério público de Jesus é, portanto, moldado por três teofanias: (1) Quando Jesus foi batizado por João no Jordão (Lc 3.21,22), (2) quando Jesus foi transfigurado no monte da transfiguração (Lc 9.28-36) e (3) quando Jesus ascendeu ao céu (At 1.9-11). A segunda teofania, ou seja, a transfiguração de Jesus, é uma teofania fundamental. Por um lado, agrupa o ministério de Jesus na Galileia, que começou quando ele foi ungido pelo Espírito no rio Jordão. Por outro, também introduz a narrativa da partida/viagem de Jesus, que conclui com a teofania da sua ascensão. Entretanto, ainda resta uma ponta solta depois da ascensão. Essa é para Jesus cumprir a profecia de João Batista que seu sucessor batizará o povo (penitente) de Deus no Espírito santo (Lc 3.16; At 1.4,5). Conforme Lucas relata, foi exatamente isso que Jesus fez no dia de Pentecostes pós-Páscoa: “De sorte que, exaltado pela destra de Deus e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito santo, [Jesus] derramou isto que vós agora vedes e ouvis” (At 2.33). [p.79]
Capítulo 4 – O Espírito Santo no Pentecostes: A Comunidade Carismática.
Este capítulo tem seis partes: (1) A promessa do Pentecostes, Lc 24.49; At 1.5,8; (2) O milagre do Pentecostes, At 2.1-4; (3) A interpretação de Pedro dada ao Pentecostes, At 2.14-21; (4) A aplicação de Pedro ao Pentecostes, At 2.37-41; (5) O Pentecostes e a Tradição Mosaica; (6) A Experiência religiosa do Pentecostes.
Neste capítulo sobre a narrativa do Pentecostes, Roger deixa claro que o dom do Espírito no dia de Pentecostes é um fenômeno complexo. Uma descrição quíntupla esclarece o significado do evento do Pentecostes. É, ao mesmo tempo, um revestimento, um batismo, uma capacitação, um enchimento e um derramamento do Espírito Santo. Nenhum termo por si só indica adequadamente o significado do dom Espírito, mas cada termo na descrição múltipla faz sua contribuição singular para o significado total do evento do Pentecostes.
Conforme Lucas conta a história do Pentecostes, o dom do Espírito Santo para os discípulos está em continuidade com a atividade carismática do Espírito nos tempos do Antigo Testamento e com o ministério de Jesus. Quatro dos cinco termos pelos quais Lucas descreve o dom do Espírito são termos típicos do Antigo Testamento (Septuaginta) para descrever a atividade do Espírito de Deus. Os três fenômenos espetaculares que acompanham o derramamento do Espírito (i.e., o vento, o fogo e o falar em línguas) dirigem-nos aos eventos da antiga história de Israel sob a responsabilidade de Moisés. A Atividade do Espírito nos ministérios de João Batista e de Jesus é paralela ao dom do Espírito para os discípulos. O dom do Espírito no dia de Pentecostes é um evento fundamental no transcurso da história da atividade carismática do Espírito entre o povo de Deus.
Para Roger, a investigação da narrativa do Pentecostes leva-nos a rejeitar as interpretações convencionais do Pentecostes, a saber, que o dom do Espírito no dia de Pentecostes significa a instituição ou nascimento da Igreja e a conversão-iniciação complementar dos discípulos na igreja. Essa interpretação é o resultado da ênfase na descontinuidade entre os períodos de Israel, Jesus e a igreja, ou da atribuição de um significado soteriológico e não carismático do dom do Espírito.
Roger demonstra que, na teologia carismática de Lucas, Jesus o Cristo carismático, lança, por meio do dom Espírito, a missão dos discípulos, e não a criação da igreja. Se interpretarmos corretamente a narrativa do Pentecostes de Lucas, então veremos que o dom do Espírito não é para a salvação, mas, sim, para o testemunho e serviço. Em outras palavras, com a transferência do Espírito para os discípulos no dia de Pentecostes, eles tornam-se uma comunidade carismática, herdeiros do ministério carismático de Jesus. [2] [p.99-100]
Capítulo 5 – O Espírito Santo em Atos dos Apóstolos: A Comunidade Carismática em Missão.
Este capítulo tem seis partes: (1) O batismo no Espírito desde Samaria até Éfeso, At 8-19; (2) Os crentes em Samaria recebem o Espírito Santo, At 8.14-19; (3) Uma casa-igreja em Cesaréia é batizada no Espírito Santo, At 10.1-11.18; (4) Alguns crentes Efésios são batizados no Espírito santo, At 19.1-7; (5) Os meios de receber o Espírito Santo; (6) O Espírito Santo e a Missão.
Neste capítulo, Roger defende que dos cincos principais relatos do dom do Espírito Santo em Atos, a narrativa do Pentecostes ocupa lugar de honra. Essa narrativa guia-nos na interpretação do dom do Espírito para os samaritanos, Saulo, Cornélio e os efésios. O dom do Espírito é vocacional tanto na narrativa do Pentecostes, como nas narrativas subsequentes. As narrativas demonstram que todos os que recebem o evangelho, quer simultânea ou posteriormente, também recebem o dom carismático do Espírito, Lucas, portanto oferece exemplos históricos da interpretação que Pedro deu ao Pentecostes por mio do dom do Espírito para os samaritanos, Saulo, Cornélio e os efésios, mostrando que o dom vocacional do Espírito é potencialmente universal.
Além das cincos narrativas, as referências ao Espírito Santo permeiam o registro de Atos. O uso característico de Lucas das expressões “cheio do Espírito Santo” e “receber o Espírito santo” descreve as funções complementares da iniciativa divina e da resposta humana à iniciativa. A variedade de termos que Lucas emprega descreve a atividade carismática do Espírito, e não a conversão iniciação. Semelhantemente a João Batista e Jesus antes deles, a comunidade carismática dos discípulos é capacitada e dirigida pelo Espírito para a tarefa missionária. [p.121]
Capítulo 6 – A Teologia Carismática de Lucas: Síntese e Desafio.
Este capítulo é uma espécie de resumo ou síntese de todo o livro. Roger reafirmar alguns pontos que defendeu durante todo a exposição e conclui com um desafio.
Reafirmação - Em comparação com a literatura variada do Novo Testamento, Lucas-Atos é inigualável. Permanece sozinho como o único livro de dois volumes no Novo Testamento. E mais importante ainda, é a única história de salvação no Novo Testamento. Como comentamos, Lucas é mais do que um historiador dos tempos do Novo Testamento. Ele é também teólogo por direito próprio. Em sua perspectiva histórico-teológica, os dois temas complementares da “salvação” e da “atividade carismática do Espírito santo” dominam Lucas-Atos. Além de ser uma história de salvação é a história do Cristo carismático e da comunidade dos discípulos em missão.
Desafio – A igreja contemporânea atualmente está em um impasse sobre a doutrina do Espírito Santo. Pouco diálogo construtivo ocorre entre os cristãos que postulam pontos de vista conflitantes. Pelo contrário, para descrédito de todas as partes, a suspeita, a hostilidade e a intolerância caracterizam a relação entre os postulantes de visões conflitantes a respeito da validade da experiência carismática para hoje. O caráter carismático da igreja torna imperativo que todas as tradições da igreja reavaliem sua doutrina e experiência do Espírito à luz da teologia carismática de Lucas. Por um lado, os antipentecostais e os anticarismáticos devem lembrar que o dom do Espírito não é apenas uma benção espiritual; é uma responsabilidade. Seu significado estende-se do quarto de oração e do culto de adoração para um mundo que precisa ouvir a voz profética em consonância com a demonstração do poder do Espírito. [3]
Para concluir, eu afirmo que todo aquele que deseja conhecer toda a fundamentação e argumentação pentecostal clássica, esse é o livro. Posso não concordar com algumas que aqui li, contudo não posso negar que o Roger Stronstad coloca neste livro um estudo convincente e provocador de Lucas como teólogo carismático, cujo entendimento do Espírito foi moldado pelo que ele entendia de Jesus e natureza da Igreja Primitiva. Roger situa a pneumatologia de Lucas no contexto histórico do judaísmo e vê Lucas como teólogo independente que faz contribuição para a pneumatologia do Novo Testamento.
RECOMENDO
Casa Publicadora das Assembleias de Deus
https://www.cpad.com.br/a-teologia-carismatica-de-lucas-329267/p
_______________________________
[1] As interpretações que Roger se refere aos ensinos de John Stott, Frank Farrel e Michael Green, que afirmam: Os poucos relatos históricos de línguas em Atos, em comparação com as outras Escrituras, fornecem um fundamento frágil sobre o qual formar uma doutrina da vida cristãs. Essas passagens não contêm nenhuma diretriz para a experiência cristã normativa (Farrel) e Para ser mais preciso, devemos procura-la nos ensinos de Jesus e nos sermões e escritos dos apóstolos, e não nas seções puramente narrativas de Atos (Stott)
[2] Sou contrário à posição do autor, todavia, em que pese este consenso não pequeno, permanecem diferenças de entendimento sobre diversos aspectos da obra do Espírito e o significado histórico-teológico de Pentecostes. Vamos encontrar homens de Deus, sérios, dedicados e usados por Deus em lados diferentes.
Quanto ao significado histórico de Pentecostes. Para muitos, o que aconteceu em Pentecostes é um paradigma, um modelo e um padrão para hoje. A descida do Espírito, o revestimento de poder e as línguas faladas pelos apóstolos estão hoje à disposição da Igreja exatamente como aconteceu naquele dia no cenáculo em Jerusalém. Os que assim acreditam se caracterizam pela busca constante desta experiência. Para eles, a Igreja ficou sem o Pentecostes por quase dois mil anos, e foi somente em 1906, no chamado avivamento da Rua Azusa 312, em Los Angeles, Estados Unidos, que ele retornou à Igreja, e tem se repetido constantemente entre os cristãos de todo o mundo.
Do outro lado há os que pensam diferente, como eu, por exemplo, mas que creem que podemos experimentar a plenitude e o poder do Espirito Santo hoje. Desejo isto e busco isto constantemente. Todavia, não creio que cada enchimento que eu ou outro irmão venhamos a ter é uma repetição de Pentecostes, mas sim uma apropriação pessoal daquele evento, que aconteceu de uma vez por todas e que não tem como se repetir. Pentecostes foi o cumprimento das promessas dos profetas do Antigo Testamento de que o Messias derramaria Seu Espírito sobre Seu povo. Foi assim que Pedro entendeu, ao dizer que a descida do Espírito era o cumprimento das palavras de Joel (Atos 2). Pentecostes é um evento da história da salvação e à semelhança da morte e da ressurreição de Cristo, ele não se repete. E da mesma forma que hoje continuamos a nos beneficiar da morte e da ressurreição do Senhor, continuamos a beber e a nos encher daquele Espírito que já veio de uma vez por todas ficar na Igreja. E eu creio que neste ponto podemos todos concordar.
Minha oração é que todos os que verdadeiramente creem no Senhor Jesus e o amam de todo o coração, apesar das diferenças, glorifiquem ao Pai e ao Filho por terem enviado o Espírito Santo para santificar, capacitar e usar a Sua Igreja neste mundo.
[3] Historicamente, a relação entre tradicionais, principalmente, os calvinistas e pentecostais não tem sido sempre amistosa. Em muitas obras publicadas o tom belicoso não foi evitado. Contudo, em tempos mais recentes e de forma crescente, pentecostais em busca de uma teologia mais robusta tem se aproximado do calvinismo, enquanto estes têm demonstrado maior abertura à liturgia pentecostal. Mesmo assim, essa crescente minoria tem sido vista com cautela, tanto por pentecostais como por calvinistas. E embora se admita que seja “muito possível que um crente individual, ou uma igreja, creiam firmemente nos cinco pontos do calvinismo e ao mesmo tempo creiam no batismo com o Espírito Santo como segunda experiência e na continuidade do dom de línguas”, tais crentes e igrejas são vistas como inconsistentes. A questão, pois, é se os dois sistemas são necessariamente auto excludentes ou existe compatibilidade entre as doutrinas distintivas de pentecostais e calvinistas. Vamos aguardar as futuras palavras de Roger Stronstad.
https://www.cpad.com.br/a-teologia-carismatica-de-lucas-329267/p
_______________________________
[1] As interpretações que Roger se refere aos ensinos de John Stott, Frank Farrel e Michael Green, que afirmam: Os poucos relatos históricos de línguas em Atos, em comparação com as outras Escrituras, fornecem um fundamento frágil sobre o qual formar uma doutrina da vida cristãs. Essas passagens não contêm nenhuma diretriz para a experiência cristã normativa (Farrel) e Para ser mais preciso, devemos procura-la nos ensinos de Jesus e nos sermões e escritos dos apóstolos, e não nas seções puramente narrativas de Atos (Stott)
[2] Sou contrário à posição do autor, todavia, em que pese este consenso não pequeno, permanecem diferenças de entendimento sobre diversos aspectos da obra do Espírito e o significado histórico-teológico de Pentecostes. Vamos encontrar homens de Deus, sérios, dedicados e usados por Deus em lados diferentes.
Quanto ao significado histórico de Pentecostes. Para muitos, o que aconteceu em Pentecostes é um paradigma, um modelo e um padrão para hoje. A descida do Espírito, o revestimento de poder e as línguas faladas pelos apóstolos estão hoje à disposição da Igreja exatamente como aconteceu naquele dia no cenáculo em Jerusalém. Os que assim acreditam se caracterizam pela busca constante desta experiência. Para eles, a Igreja ficou sem o Pentecostes por quase dois mil anos, e foi somente em 1906, no chamado avivamento da Rua Azusa 312, em Los Angeles, Estados Unidos, que ele retornou à Igreja, e tem se repetido constantemente entre os cristãos de todo o mundo.
Do outro lado há os que pensam diferente, como eu, por exemplo, mas que creem que podemos experimentar a plenitude e o poder do Espirito Santo hoje. Desejo isto e busco isto constantemente. Todavia, não creio que cada enchimento que eu ou outro irmão venhamos a ter é uma repetição de Pentecostes, mas sim uma apropriação pessoal daquele evento, que aconteceu de uma vez por todas e que não tem como se repetir. Pentecostes foi o cumprimento das promessas dos profetas do Antigo Testamento de que o Messias derramaria Seu Espírito sobre Seu povo. Foi assim que Pedro entendeu, ao dizer que a descida do Espírito era o cumprimento das palavras de Joel (Atos 2). Pentecostes é um evento da história da salvação e à semelhança da morte e da ressurreição de Cristo, ele não se repete. E da mesma forma que hoje continuamos a nos beneficiar da morte e da ressurreição do Senhor, continuamos a beber e a nos encher daquele Espírito que já veio de uma vez por todas ficar na Igreja. E eu creio que neste ponto podemos todos concordar.
Minha oração é que todos os que verdadeiramente creem no Senhor Jesus e o amam de todo o coração, apesar das diferenças, glorifiquem ao Pai e ao Filho por terem enviado o Espírito Santo para santificar, capacitar e usar a Sua Igreja neste mundo.
[3] Historicamente, a relação entre tradicionais, principalmente, os calvinistas e pentecostais não tem sido sempre amistosa. Em muitas obras publicadas o tom belicoso não foi evitado. Contudo, em tempos mais recentes e de forma crescente, pentecostais em busca de uma teologia mais robusta tem se aproximado do calvinismo, enquanto estes têm demonstrado maior abertura à liturgia pentecostal. Mesmo assim, essa crescente minoria tem sido vista com cautela, tanto por pentecostais como por calvinistas. E embora se admita que seja “muito possível que um crente individual, ou uma igreja, creiam firmemente nos cinco pontos do calvinismo e ao mesmo tempo creiam no batismo com o Espírito Santo como segunda experiência e na continuidade do dom de línguas”, tais crentes e igrejas são vistas como inconsistentes. A questão, pois, é se os dois sistemas são necessariamente auto excludentes ou existe compatibilidade entre as doutrinas distintivas de pentecostais e calvinistas. Vamos aguardar as futuras palavras de Roger Stronstad.
Nenhum comentário:
Postar um comentário