terça-feira, 1 de agosto de 2017

BONHOEFFER: PASTOR, MÁRTIR, PROFETA, ESPIÃO [Comentários]


PARTE 1 - DICA DE LEITURA
Texto Original in: https://goo.gl/SU7Pkv

As boas biografias são maravilhosas porque reúnem em um só gênero, doutrina, história, psicologia e drama. Da mesma maneira que uma frase pode ter seu sentido distorcido fora do contexto também é difícil entender o que alguém escreve sem conhecer sua conjuntura pessoal. Para se ter uma ideia disso em um equívoco monumental, os contemporâneos de Bonhoeffer entenderam o cristianismo sem religião que ele defendia como cristianismo que não crê em Deus, que só se preocupa com a ética. A leitura Bonhoeffer: pastor, mártir, profeta, espião, que a editora Mundo Cristão lançou no ano passado desfaz todas as dúvidas.

Conheci Bonhoeffer nas aulas de seminário com o professor Heinrich Finger. Ele trouxe alguns textos do livro póstumo Ética que trata além de religião  questões como amor, pecado e coragem. Logo após fomos levados a ler Resistência de Submissão um livro de cartas escritas da prisão. Nelas Bonhoeffer falava contra a religiosidade oficial  deixando uma pulga atrás da nossa orelha sobre o que ele estaria tentando comunicar. Mais tarde já pastor de igreja li Discipulado, Tentação e aquele que seria dos seus livros o mais impactante na minha vida: Vida em comunhão.

Bonhoeffer foi um visionário. Ele antecipou debates que hoje fazem parte do nosso dia a dia. O relacionamento da fé com o mundo emancipado, como viver em comunidade de fé,  relação entre igreja e estado e diferença entre religião e cristianismo. Mas nenhuma história é mais cativante do que a que Bonhoeffer escreveu com sangue em um tempo de grande omissão da igreja oficial na Alemanha que aceitou tacitamente a doutrina nazista e seu messianismo monstruoso.

Bonhoeffer foi um profeta. É fácil dizer eu já sabia, quando antes não se ouviu nenhuma voz. Não foi assim com ele. Ele anteviu as ações do nacional socialismo e os perigos que ele representava para a nação alemã.  Quando toda a nação celebrava a chegada de Hitler ao poder como a salvação da Alemanha, ele dizia: “O perigo assustador do mundo atual é que, acima do clamor por autoridade… nós esquecemos que o homem se encontra sozinho perante a autoridade suprema, e que todo aquele que impõe mãos violenta sobre o homem está violando leis eternas e concedendo a si mesmo uma autoridade sobrenatural que acabará por destruí-lo.”

Bonhoeffer foi um grande pastor. Fundou um seminário que ensinava a orar e a ler as Escrituras e a confissão de pecados, coisas difíceis de serem vistas no mundo teológico daquela época e na de hoje mais ainda. Como pastor não se furtou ele mesmo ao hábito de ser discipulado pelo seu cunhado Eberhardt Bethge. Um homem que reuniu profundidade teológica, coragem pessoal e dedicação pastoral a uma comunidade de discípulos merece meu respeito. É esse tipo de homem que eu mesmo quero me tornar.

Creio que a leitura dessa biografia mexerá muito com sua vida além de emocionar com o desprendimento desse homem de Deus. Confesso que chorei ao ler os relatos da morte tão extemporânea de um homem que sob um ponto de vista carnal tinha tanto a dar ao mundo. Ao ser chamado para a execução por enforcamento ele diz ao companheiro de cela: “Esse é o fim, mas para mim o começo da vida”


PARTE 2 – APRESENTAÇÃO
Texto Original in: https://goo.gl/YUoBpq

Dietrich Bonhoeffer é, certamente, uma das personalidades mais interessantes do século XX. Filho de uma família alemã abastada, Bonhoeffer tinha tudo para viver uma vida longa e confortável. No entanto, inspirado pelo evangelho escolheu encarar os poderes de seu tempo sombrio.

Bonhoeffer enfrentou o status quo acadêmico teológico do final do século XIX e início do século XX, o liberalismo. Orientado por Adolf Harnack, a grande estrela do liberalismo teológico e do método histórico-crítico de interpretação das Escrituras, o teólogo da igreja confessante teve a coragem de rejeitar os dogmas liberais e reafirmar importantes aspectos da ortodoxia.

A sua paixão por fazer a vontade de Deus o levou, finalmente, a enfrentar o pior dos males que se abateu sobre sua terra natal, o nazismo, à custa de sua própria vida. Quando Hitler tentou cooptar a Igreja Alemã, Bonhoeffer foi um dos líderes da resistência, fundando a Igreja Confessante, que acabou por ser tornada clandestina pelo regime. Ele também ajudou ativamente na fuga de famílias de judeus para a Suiça e militou junto as demais igrejas europeias no sentido de conscientizá-las a respeito da situação da Igreja Alemã.

Porém,  o momento mais dramático dessa luta foi participação de Bonhoeffer num plano para assassinar Adolf Hitler. Várias questões interessantes surgem dessa situação. É moral participar de um regicídio? Existe alguma situação em que é permitido conspirar para assassinar o chefe de Estado? O tema da permissibilidade do regicídio é um tema antigo, foi discutido por Marsílio de Pádua, e volta à tona na situação concreta por que Bonhoeffer passou.

Eric Metaxas conta essas e outras histórias no livro Bonhoeffer: mártir, pastor, profeta, espião, publicado em português pela editora Mundo Cristão. Trata-se de um livro de leitura fácil, bem documentado, em que, sempre que possível, o autor deixa o biografado “falar por si mesmo” por meio de uma série de citações contextualizadas. Como foi direcionado primariamente para o público norte-americano, Metaxas se debruça longamente sobre o período em que Bonhoeffer viveu em Nova Iorque como pesquisador convidado do Union Theological Seminary e sobre as percepções do teólogo alemão do cristianismo praticado nos Estados Unidos à época.
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Bonhoeffer:  Pastor, Mártir, Profeta, Espião. Eric Metaxas. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2011. 615p.

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