sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

O LIVRO DE ENOCH: O Livro das Origens da Cabala [Comentários]



O LIVRO DE ENOQUE CITADO POR JUDAS [1] 


Judas cita o Livro de Enoque, dizendo: "Quanto a estes foi que também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades". (v. 14). Entretanto, Enoque não o é um livro inspirado, mas é considerado apócrifo (falso) pela igreja cristã. 

Primeiro, não é certo que Judas de fato esteja citando o Livro de Enoque. Ele pode simplesmente estar mencionando um acontecimento que é encontrado também nesse livro não-inspirado. “Vale dizer que Judas não afirma ter Enoque escrito essa afirmação, apenas registra que Enoque disse" (v. 14). Ele pode ter usado uma tradição oral válida, e não o Livro de Enoque. 

Além disso, mesmo que Judas tivesse tomado essa afirmação do Livro de Enoque, ainda assim ela é verdadeira. Muitas afirmações verdadeiras podem ser encontradas fora das Escrituras; o simples fato de Judas citar algo de uma fonte não-canônica (extrabíblica) não significa que o que ele diz seja necessariamente incorreto. Nem tudo no Livro de Enoque está correto, mas isso não nos permite concluir que tudo esteja errado. 

O apóstolo Paulo cita verdades de poetas pagãos (At 17:28; 1 Co 15:33; Tt 1:12), o que não implica que esses livros sejam inspirados. Na verdade, até mesmo a jumenta de Balaão proferiu uma verdade (Nm 22:28). A inspiração do livro de Judas não garante tudo o mais que é dito numa fonte não inspirada, só por ela ter sido citada. Garante apenas a verdade que foi citada. 

Finalmente, a evidência externa a respeito do livro de Judas é muito grande, o tempo de Irineu (cerca de 170 a.D.) para frente. Ele está no papiro Bodmer (P72) de 250 a.D., e trechos dele acham-se muito antes em Didakê (2:7), que provavelmente data do segundo século. Assim, há evidência para a autenticidade do livro de Judas, que não é diminuída por essa alusão ao que Enoque disse. A existência de Enoque e a sua comunicação com Deus é um fato estabelecido em outras partes da Bíblia, tanto no AT (Gn 5:24) como no NT (Hb 11:5). 


O LIVRO DE ENOQUE E OS ESOTÉRICOS [2] 

Para os esotéricos, o Livro de Enoque é considerado uma obra especial para a compreensão dos mistérios da Criação Divina e sua ordenação. Para eles, em termos de Cabala hebraica, este trabalho é fundamental pela apresentação dos nomes dos Anjos Fiéis, Anjos Caídos e Demônios, e permitir assim uma leitura cifrada e altamente determinativa das origens dos homens. 

Os especialistas afirmam que este livro e um tratado indispensável para todo estudioso do oculto, ou do simples aficionado do maravilhoso e fantástico que quer compreender a estrutura de nosso universo, sob um ponto de vista espiritual. De acordo com a epístola de São Judas, Enoch, ou Enoque, é o sétimo patriarca depois de Adão. 

Eles afirmam que é provável ainda que, sob o nome de Enoque, abrigue-se o nome de um membro da seita dos essênios, o que ocorria com freqüência em tais ordens monásticas. Nomes como Hermes Trimegistro, Zoroastro passaram a ser um título distintivo entre iniciados nos Mistérios. 


O LIVRO DE ENOQUE E SEU CONTEÚDO 

Um dos livros apócrifos mais fascinantes é sem dúvida o livro de I Enoque (ou Enoque etíope), geralmente datado para o século II a.C. Este livro foi redigido originalmente em aramaico, mas a única versão disponível hoje está em etíope. Escrito em linguagem apocalíptica, entre 170 e 64 a.C., o livro carrega algumas semelhanças com o Apocalipse de João, cuja composição se deu mais de dois séculos depois. Abaixo um trecho do livro que descreve o nascimento de Noé: 

Depois de alguns dias, meu filho Matusalém escolheu uma mulher para seu filho Lamech; ela engravidou e deu à luz um menino. O seu corpo era branco como a neve e vermelho como uma rosa, os cabelos da sua cabeça eram como a lã e os seus olhos como os raios do sol. Quando abriu os olhos encheu a casa de luz como o sol, e toda ela ficou muito iluminada (I En 106,1). 

Outra parte bastante interessante do livro são os capítulos 6 a 16, que narram a queda dos anjos após desobedecerem a Deus acasalando-se com as mulheres humanas. Tudo começa com Semjaza, um anjo disposto a pagar o preço por sua desobediência. Ele relata seu desejo aos demais anjos, que decidem segui-lo no plano. Semjasa é acompanhado por mais dezoito anjos, que por sua vez chefiam, cada um, outros dez. Após levarem a cabo o plano, problemas inusitados começam a surgir: 

Elas [as mulheres humanas] engravidaram e deram à luz a gigantes de 3.000 côvados de altura. Estes consumiram todas as provisões de alimentos dos demais homens. E quando as pessoas nada mais tinham para dar-lhes os gigantes voltaram-se contra elas e começaram a devorá-las (I En 6,2). 

Mas os problemas não param por aí. Os anjos rebeldes transmitem seus conhecimentos aos homens, tais como a astrologia, a metalurgia, a ciência da confecção de cosméticos, as fases da lua, a feitiçaria, etc. Tais conhecimentos causam muitas guerras e o homem chega perto da aniquilação. 

Após ouvirem o clamor dos homens e virem todas as desgraças causadas pelos anjos rebeldes, Miguel, Uriel, Rafael e Gabriel relatam o problema ao “Senhor dos mundos”, que decide purificar a terra com um dilúvio e punir os anjos perversos lançando-os num abismo de fogo. 

O livro é fruto de uma tentativa de preencher uma lacuna existente no capítulo seis do livro do Gênesis: 

“viram os filhos de Deus (hb. bney haelohim) que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram” (Gn 6,2). 

No relato do livro de Enoque os bney haelohim (filhos de Deus) são os anjos e a decisão de Deus de destruir a terra (Gn 6,7) é provocada por esse episódio.

______________________________
[1] GEISLER, Norman Geisler; HOWE, Thomas. MANUAL POPULAR de Dúvidas, Enigmas e "Contradições" da Bíblia. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1992, p. 353. 

[2] MECLER, Lan. O Poder de Realização da Cabala. São Paulo: Editora Viva Livros, 2016, p. 49

Nenhum comentário: