PACKER,
J. I. Teologia Concisa: Um guia de estudo das Doutrinas Cristãs Históricas. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2014.
Teologia
Concisa é um pequeno volume de 224 páginas, e as primeira e segunda
edições datam de 1999 e 2004 respectivamente. Eu tenho em mãos a terceira
edição, traduzida por Rubens Castilho, e publicada em 2014 pela Editora
Cultura Cristã.
O
prefácio do livro é escrito pelo próprio autor. Ele nos informa, desde logo,
que o “livro expõe em breves compassos” o que lhe parece ser “a essência do
Cristianismo”, visto tanto como um sistema de crenças quanto uma forma de vida.
“Este
livro expõe em breves compassos o que me parece ser a essência permanente do
Cristianismo, visto tanto como um sistema de crenças quanto uma forma de vida.
Outros têm ideias distintas de como deve ser o perfil do Cristianismo, porém
esta é a minha. E Reformada e evangélica e, como tal, segundo creio, a corrente
fundamental histórica e clássica. Estas porções resumidas, que foram
inicialmente planejadas para um estudo bíblico e surgem agora revisadas, têm um
molde intencionalmente escriturístico e, como outros escritos meus, são
temperadas com textos para consulta. Sustento que assim deve ser, porquanto é
básico para o Cristianismo o ensino bíblico como instrução do próprio Deus,
emanando, como afirma Calvino, dos lábios santos do Altíssimo e chegando a nós
por mediação humana. Se a Escritura é, na verdade, o próprio Deus pregando e
ensinando, como o grande corpo da igreja tem sempre afirmou, segue-se então que
a primeira marca da boa teologia é procurar ecoar a Palavra divina tão
fielmente quanto possível.”
Packer
sustenta que “é básico para o Cristianismo o ensino bíblico como instrução do
próprio Deus, emanando, como afirma Calvino, dos lábios santos do Altíssimo e
chegando a nós por mediação divina”. Em sua exposição sintética da Teologia
Sistemática, ele diz que, “recordando que o Senhor Jesus Cristo chamou aqueles
que designou como ovelhas apascentadas, em vez de girafas, objetivei
manter as coisas tão simples quanto possível”. “Esses breves estudos de grandes
assuntos”, acrescenta, “se parecem, agora que já escrevi, com os rápidos
passeios turísticos da Inglaterra, que companhias de ônibus operam para os
visitantes… Cada capítulo é uma nota esboçada”.
Não
raramente o autor, a despeito de ser anglicano, cita a Confissão de Fé de
Westminster. E justifica: “Minhas frequentes citações da Confissão de
Westminster podem levantar algumas sobrancelhas, uma vez que sou anglicano e
não presbiteriano. Entretanto, como a Confissão pretendeu ampliar os Trinta e
Nove Artigos, e a maior parte de seus autores era do clero anglicano, e como
ela é uma espécie de obra-prima, “o fruto mais maduro da elaboração do credo
Reformado”, como B. B. Warfield a chamou, sinto-me autorizado a reputá-la como
parte de minha herança anglicana Reformada, usando-a como principal recurso.
São
noventa e quatro capítulos brevíssimos, constando de uma a duas páginas, em
média, cada um. Os capítulos estão distribuídos em quatro grandes seções, a
saber:
1. Deus revelado como Criador – 29 temas
Nada é
mais importante do que conhecer a Deus como ele verdadeiramente é. Por essa
razão, a igreja tem confessado muitas verdades sobre o nosso Deus através da
história. Deus é a eterna Trindade, o Criador todo-poderoso, o sábio
Sustentador, o Redentor eficaz e o Juiz que está vindo. Uma verdade não muito
claramente enunciada em nossos credos é que Deus é o Revelador fidedigno. Para
conhecer a Deus como ele é, ele precisa se revelar para nós.
2. Deus revelado como Redentor – 23 temas
Para
ser o Salvador do mundo era necessário que Cristo fosse Deus, e também é
verdade que a justiça de Deus exigia que o pecado fosse punido na mesma natureza
na qual ele foi cometido. Portanto, aquele que morreu tinha que ser um homem.
Foi o homem que transgrediu a lei de Deus e era um homem que deveria morrer.
Assim como Deus falou por meio do profeta Ezequiel: “A alma que pecar, essa
morrerá.” Para que tal alma fosse livre da justa sentença de Deus, era
necessário que outra alma da mesma natureza morresse no lugar dela. O autor de
Hebreus apoia essa verdade com a opinião de que é impossível que o sangue de
bois e cabras remova os pecados da humanidade, que é superior a eles. Somente
um homem que foi verdadeiramente um com a raça de Adão poderia tomar o lugar do
culpado e fazer expiação pelos pecados deles. A Escritura ensina que Jesus de
Nazaré foi esse homem. O autor de Hebreus nos diz que visto que ele veio para
“dar ajuda” aos descendentes de Abraão, foi necessário que ele se tornasse como
seus irmãos em todas as coisas, e visto que as crianças partilham de carne e
sangue, ele próprio, igualmente, partilhou do mesmo. Foi por essa razão que
quando o apóstolo Paulo escreveu de Cristo como o único mediador entre Deus e o
homem, ele se referia a ele como “o Homem” Cristo Jesus. Para ser o Salvador do
povo de Deus, era necessário que o Verbo se tornasse carne e vivesse entre nós,
e que, “subsistindo em forma de Deus”, ele se fez em semelhança de homens. A
declaração famosa de Pilatos “Ecce Homo” (“Eis o Homem”) é somente mais um
lembrete de que Jesus Cristo foi aquele homem!
3. Deus revelado como o Senhor da graça – 34
temas
A graça
de Deus nos aperfeiçoa, ou seja, vai nos tornar maduros para a vida cristã
semelhante á de Jesus Cristo. A graça de Deus promete firmar-nos, ou seja, Deus
nos fará seguros na luta contra o inimigo. É pela graça que o crente nunca
apostatará da fé, mas permanecerá firme na doutrina do seu Senhor. Não
desprezará a boa consciência firmada na palavra e nem irá naufragar na fé (1Tm
1.19). A graça de Deus nos fortifica. Em tempos de conflitos teológicos e
espirituais, precisamos não apenas de firmeza, mas de constante fortalecimento.
Constantemente perdemos nossas energias contra os ataques desgastantes do inimigo.
Por isso, em Hebreus, os santos do passado “da fraqueza tiraram força” (Hb
11.34). Paulo já afirmou que “o poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co
12.9,10). A graça de Deus promete fundamentar-nos. Toda obra de santificação
está firmada na obra de Cristo que nos é transmitida através de sua Palavra. É
o fundamento sobre o qual toda a igreja deve estar firmada.
4. Deus revelado como o Senhor do
destino – 8 temas
A
Escritura tipicamente nos mostra o conhecimento de Deus sobre o futuro através
do fenômeno da profecia. Um aspecto da profecia é a predição de eventos
futuros. Além disso, uma evidência que revela um verdadeiro profeta é que suas
predições sobre eventos futuros deve ser verdadeira (Dt 18.22). Em Isaías, Deus
desafia os deuses das outras nações a predizerem o futuro, sabendo que somente
ele é capaz de fazer isso (Is 41.21-23; 42.9; 43.9-12; 44.7; 46.10; 48:3-7).
Na
terceira seção o autor inclui os temas ligados a Eclesiologia. De um modo
geral, o docente batista não terá muitos problemas com essa parte, embora com
certeza no capítulo em que se trata do batismo deva ser oferecida uma exposição
à parte. Os docentes (batistas ou não) que utilizarem este livro poderão encontrar
algum outro ponto em que sintam
a necessidade de manifestar alguma discordância com o autor. Entretanto, a obra
de Dr. Packer serve imensamente para um estudo propedêutico da Doutrina Cristã,
e recomendo-a com grato privilégio. Ao final, a segunda edição oferece-nos o
recurso de um breve índice de assuntos.
É
importante ainda descobrir o pensamento de J. I. Packer sobre Teologia. Ele
escreve: Teologia é, primeiramente, a atividade de pensar e falar a respeito de
Deus (teologização), e, em segundo lugar, o produto dessa atividade (a teologia
de Lutero, ou Wesley, ou Finney, ou Wimber, ou Packer, ou quem quer que seja).
Como atividade, a teologia é como um prisma que decompõe a luz em distintas
disciplinas, embora inter-relacionadas: elucidação de textos (exegese), síntese
do que eles dizem sobre coisas com que tratam (teologia bíblica), visão da fé
expressa no passado (teologia histórica), sua formulação para a atualidade
(teologia sistemática), busca de suas implicações para a conduta (ética),
recomendação e defesa de sua verdade e sabedoria (apologética), definição da
tarefa cristã no mundo (missões), absorção de recursos para a vida em Cristo
(espiritualidade), adoração em grupo (liturgia) e ministério perquiridor
(teologia prática). Os capítulos seguintes, em forma de esboço, exploram todas
essas áreas.
Recordando
que o Senhor Jesus Cristo chamou aqueles que designou como ovelhas
apascentadas, em vez de girafas, objetivei manter as coisas tão simples quanto
possível. Alguém disse certa ocasião ao arcebispo William Temple que ele havia
tomado muito simples um assunto complexo; ele sentiu enorme satisfação e disse
prontamente: “Senhor, que me fizeste simples, faze-me ainda mais simples.” Meus
sentimentos acompanham os de Temple, e tentei manter minha cabeça ao mesmo
nível da dele.
Como
digo freqüentemente a meus alunos, a teologia é doxologia e devoção, isto é,
louvor a Deus e prática da piedade. Ela deve, pois, ser apresentada de forma
que desperte a consciência da presença divina. A teologia alcança o auge da sua
perfeição quando está conscientemente sob o olhar de Deus, de quem ela fala, e
quando está cantando ao seu louvor. Tenho também procurado ter isso em mente.
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James
Ian Packer (n. Gloucester, 22 de julho de 1926) foi considerado pela
revista norte-americana Times um dos vinte e cinco evangélicos mais
influentes nos Estados Unidos. Ele é autor do best seller teológico O
Conhecimento de Deus. Estudou na Universidade de Oxford, onde formou-se em
Teologia em 1952 e doutorou-se em Filosofia em 1954. Em 1952, foi ordenado ministro
anglicano. De 1961 a 1970, foi diretor do Latimer House, um centro
anglicano de estudos evangélicos em Oxford. Assumiu posteriormente a reitoria
de importantes escolas teológicas. Docente, escritor e conferencista amplamente
reconhecido, tornou-se mais bem conhecido como o editor-executivo da
revista Christianity Today, e como editor-chefe da versão English
Standard da Bíblia, publicada em 2001.
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