quinta-feira, 24 de novembro de 2016

TEOLOGIA CONCISA - UM GUIA DE ESTUDOS DAS DOUTRINAS CRISTÃS HISTÓRICAS


PACKER, J. I. Teologia Concisa: Um guia de estudo das Doutrinas Cristãs Históricas. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2014.


Teologia Concisa é um pequeno volume de 224 páginas, e as primeira e segunda edições datam de 1999 e 2004 respectivamente. Eu tenho em mãos a terceira edição, traduzida por Rubens Castilho, e publicada em 2014 pela Editora Cultura Cristã.

O prefácio do livro é escrito pelo próprio autor. Ele nos informa, desde logo, que o “livro expõe em breves compassos” o que lhe parece ser “a essência do Cristianismo”, visto tanto como um sistema de crenças quanto uma forma de vida.

“Este livro expõe em breves compassos o que me parece ser a essência permanente do Cristianismo, visto tanto como um sistema de crenças quanto uma forma de vida. Outros têm ideias distintas de como deve ser o perfil do Cristianismo, porém esta é a minha. E Reformada e evangélica e, como tal, segundo creio, a corrente fundamental histórica e clássica. Estas porções resumidas, que foram inicialmente planejadas para um estudo bíblico e surgem agora revisadas, têm um molde intencionalmente escriturístico e, como outros escritos meus, são temperadas com textos para consulta. Sustento que assim deve ser, porquanto é básico para o Cristianismo o ensino bíblico como instrução do próprio Deus, emanando, como afirma Calvino, dos lábios santos do Altíssimo e chegando a nós por mediação humana. Se a Escritura é, na verdade, o próprio Deus pregando e ensinando, como o grande corpo da igreja tem sempre afirmou, segue-se então que a primeira marca da boa teologia é procurar ecoar a Palavra divina tão fielmente quanto possível.”

Packer sustenta que “é básico para o Cristianismo o ensino bíblico como instrução do próprio Deus, emanando, como afirma Calvino, dos lábios santos do Altíssimo e chegando a nós por mediação divina”. Em sua exposição sintética da Teologia Sistemática, ele diz que, “recordando que o Senhor Jesus Cristo chamou aqueles que designou como ovelhas apascentadas, em vez de girafas, objetivei manter as coisas tão simples quanto possível”. “Esses breves estudos de grandes assuntos”, acrescenta, “se parecem, agora que já escrevi, com os rápidos passeios turísticos da Inglaterra, que companhias de ônibus operam para os visitantes… Cada capítulo é uma nota esboçada”.

Não raramente o autor, a despeito de ser anglicano, cita a Confissão de Fé de Westminster. E justifica: “Minhas frequentes citações da Confissão de Westminster podem levantar algumas sobrancelhas, uma vez que sou anglicano e não presbiteriano. Entretanto, como a Confissão pretendeu ampliar os Trinta e Nove Artigos, e a maior parte de seus autores era do clero anglicano, e como ela é uma espécie de obra-prima, “o fruto mais maduro da elaboração do credo Reformado”, como B. B. Warfield a chamou, sinto-me autorizado a reputá-la como parte de minha herança anglicana Reformada, usando-a como principal recurso.

São noventa e quatro capítulos brevíssimos, constando de uma a duas páginas, em média, cada um. Os capítulos estão distribuídos em quatro grandes seções, a saber:


1. Deus revelado como Criador – 29 temas
Nada é mais importante do que conhecer a Deus como ele verdadeiramente é. Por essa razão, a igreja tem confessado muitas verdades sobre o nosso Deus através da história. Deus é a eterna Trindade, o Criador todo-poderoso, o sábio Sustentador, o Redentor eficaz e o Juiz que está vindo. Uma verdade não muito claramente enunciada em nossos credos é que Deus é o Revelador fidedigno. Para conhecer a Deus como ele é, ele precisa se revelar para nós.


2. Deus revelado como Redentor – 23 temas
Para ser o Salvador do mundo era necessário que Cristo fosse Deus, e também é verdade que a justiça de Deus exigia que o pecado fosse punido na mesma natureza na qual ele foi cometido. Portanto, aquele que morreu tinha que ser um homem. Foi o homem que transgrediu a lei de Deus e era um homem que deveria morrer. Assim como Deus falou por meio do profeta Ezequiel: “A alma que pecar, essa morrerá.” Para que tal alma fosse livre da justa sentença de Deus, era necessário que outra alma da mesma natureza morresse no lugar dela. O autor de Hebreus apoia essa verdade com a opinião de que é impossível que o sangue de bois e cabras remova os pecados da humanidade, que é superior a eles. Somente um homem que foi verdadeiramente um com a raça de Adão poderia tomar o lugar do culpado e fazer expiação pelos pecados deles. A Escritura ensina que Jesus de Nazaré foi esse homem. O autor de Hebreus nos diz que visto que ele veio para “dar ajuda” aos descendentes de Abraão, foi necessário que ele se tornasse como seus irmãos em todas as coisas, e visto que as crianças partilham de carne e sangue, ele próprio, igualmente, partilhou do mesmo. Foi por essa razão que quando o apóstolo Paulo escreveu de Cristo como o único mediador entre Deus e o homem, ele se referia a ele como “o Homem” Cristo Jesus. Para ser o Salvador do povo de Deus, era necessário que o Verbo se tornasse carne e vivesse entre nós, e que, “subsistindo em forma de Deus”, ele se fez em semelhança de homens. A declaração famosa de Pilatos “Ecce Homo” (“Eis o Homem”) é somente mais um lembrete de que Jesus Cristo foi aquele homem!


3. Deus revelado como o Senhor da graça – 34 temas
A graça de Deus nos aperfeiçoa, ou seja, vai nos tornar maduros para a vida cristã semelhante á de Jesus Cristo. A graça de Deus promete firmar-nos, ou seja, Deus nos fará seguros na luta contra o inimigo. É pela graça que o crente nunca apostatará da fé, mas permanecerá firme na doutrina do seu Senhor. Não desprezará a boa consciência firmada na palavra e nem irá naufragar na fé (1Tm 1.19). A graça de Deus nos fortifica. Em tempos de conflitos teológicos e espirituais, precisamos não apenas de firmeza, mas de constante fortalecimento. Constantemente perdemos nossas energias contra os ataques desgastantes do inimigo. Por isso, em Hebreus, os santos do passado “da fraqueza tiraram força” (Hb 11.34). Paulo já afirmou que “o poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co 12.9,10). A graça de Deus promete fundamentar-nos. Toda obra de santificação está firmada na obra de Cristo que nos é transmitida através de sua Palavra. É o fundamento sobre o qual toda a igreja deve estar firmada.


4. Deus revelado como o Senhor do destino – 8 temas  
A Escritura tipicamente nos mostra o conhecimento de Deus sobre o futuro através do fenômeno da profecia. Um aspecto da profecia é a predição de eventos futuros. Além disso, uma evidência que revela um verdadeiro profeta é que suas predições sobre eventos futuros deve ser verdadeira (Dt 18.22). Em Isaías, Deus desafia os deuses das outras nações a predizerem o futuro, sabendo que somente ele é capaz de fazer isso (Is 41.21-23; 42.9; 43.9-12; 44.7; 46.10; 48:3-7).

Na terceira seção o autor inclui os temas ligados a Eclesiologia. De um modo geral, o docente batista não terá muitos problemas com essa parte, embora com certeza no capítulo em que se trata do batismo deva ser oferecida uma exposição à parte. Os docentes (batistas ou não) que utilizarem este livro poderão encontrar algum outro ponto em que sintam a necessidade de manifestar alguma discordância com o autor. Entretanto, a obra de Dr. Packer serve imensamente para um estudo propedêutico da Doutrina Cristã, e recomendo-a com grato privilégio. Ao final, a segunda edição oferece-nos o recurso de um breve índice de assuntos.


É importante ainda descobrir o pensamento de J. I. Packer sobre Teologia. Ele escreve: Teologia é, primeiramente, a atividade de pensar e falar a respeito de Deus (teologização), e, em segundo lugar, o produto dessa atividade (a teologia de Lutero, ou Wesley, ou Finney, ou Wimber, ou Packer, ou quem quer que seja). Como atividade, a teologia é como um prisma que decompõe a luz em distintas disciplinas, embora inter-relacionadas: elucidação de textos (exegese), síntese do que eles dizem sobre coisas com que tratam (teologia bíblica), visão da fé expressa no passado (teologia histórica), sua formulação para a atualidade (teologia sistemática), busca de suas implicações para a conduta (ética), recomendação e defesa de sua verdade e sabedoria (apologética), definição da tarefa cristã no mundo (missões), absorção de recursos para a vida em Cristo (espiritualidade), adoração em grupo (liturgia) e ministério perquiridor (teologia prática). Os capítulos seguintes, em forma de esboço, exploram todas essas áreas.

Recordando que o Senhor Jesus Cristo chamou aqueles que designou como ovelhas apascentadas, em vez de girafas, objetivei manter as coisas tão simples quanto possível. Alguém disse certa ocasião ao arcebispo William Temple que ele havia tomado muito simples um assunto complexo; ele sentiu enorme satisfação e disse prontamente: “Senhor, que me fizeste simples, faze-me ainda mais simples.” Meus sentimentos acompanham os de Temple, e tentei manter minha cabeça ao mesmo nível da dele.

Como digo freqüentemente a meus alunos, a teologia é doxologia e devoção, isto é, louvor a Deus e prática da piedade. Ela deve, pois, ser apresentada de forma que desperte a consciência da presença divina. A teologia alcança o auge da sua perfeição quando está conscientemente sob o olhar de Deus, de quem ela fala, e quando está cantando ao seu louvor. Tenho também procurado ter isso em mente.

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James Ian Packer (n. Gloucester, 22 de julho de 1926) foi considerado pela revista norte-americana Times um dos vinte e cinco evangélicos mais influentes nos Estados Unidos. Ele é autor do best seller teológico O Conhecimento de Deus. Estudou na Universidade de Oxford, onde formou-se em Teologia em 1952 e doutorou-se em Filosofia em 1954. Em 1952, foi ordenado ministro anglicano. De 1961 a 1970, foi diretor do Latimer House, um centro anglicano de estudos evangélicos em Oxford. Assumiu posteriormente a reitoria de importantes escolas teológicas. Docente, escritor e conferencista amplamente reconhecido, tornou-se mais bem conhecido como o editor-executivo da revista Christianity Today, e como editor-chefe da versão English Standard da Bíblia, publicada em 2001.

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