segunda-feira, 24 de setembro de 2018

HISTÓRIA DO CRISTIANISMO [Resenha]


SHELLEY, Bruce L. História do Cristianismo: Uma obra completa e atual sobre a trajetória da Igreja Cristã desde as origens até o Século XXI. Rio de Janeiro; Thomas Nelson Brasil, 2018. 560p.


O livro possui além do prefácio e prólogo, 48 capítulos divididos em 9 grandes épocas. Cada uma dessas épocas relata a história do Cristianismo até o século XXI. Em sua sinopse temos a informação que nos Estados Unidos, História do cristianismo tornou-se a principal escolha de leigos e líderes religiosos, inclusive sendo utilizado como texto-base em diversas salas de aula. De maneira clara e organizada, Dr. Bruce Shelley apresenta neste grande clássico a trajetória da igreja cristã para os leitores de hoje, usando como pano de fundo a vida de personagens importantes – suas motivações, as questões com as quais tiveram de lidar, as decisões que tomaram. O resultado é a História que se lê como uma história, quase tão dramática e emocionante como um romance. No entanto, não há ficção aqui, mas um trabalho minuciosamente pesquisado e cuidadosamente elaborado por Shelley com precisão histórica.

O autor Bruce L. Shelley, no prólogo, ele destaca três propósitos ao produzir este livro: 

(1) Um livro para leigos - O livro é destinado para leigos. Todos nós sabemos que a palavra é feita de cera, isto é, podemos torcê-la de modo a se encaixar em nossos próprios gostos. Após quatros décadas ensinando seminaristas do primeiro ano, o autor conclui que graduados no início do seu ministério e engenheiros ou vendedores que leem cinco livros por ano fazem parte do ensino público de leitores. Portanto, ambos são leigos.

(2) Citações simples – Ao preparar aulas, o professor digere centenas de livros e reúne milhares de citações. Neste volume panorâmico, Shelley diz que fez uso livre de ideias e descrições de outras pessoas enquanto trabalhava com um simples objetivo: manter a história em movimento. Procurou reunir todos esses recursos e listar os livros mais úteis ao final de cada capítulo e as principais citações ao final do livro.

(3) Clareza – Com base em anos de ensino, Bruce Shelley concluiu que clareza é a primeira lei do aprendizado, portanto, todas as divisões do tema em pauta estão presentes. Ele a chamou de “épocas” porque as condições da vida da igreja mudam. As grandes épocas não aparecem de repente como cometas desconhecidos no céu, pois em todas elas encontram-se resíduos do passado e sementes do futuro. Porém, caso o leitor queira conhecer o enredo da história, tudo o que precisa fazer é ler os parágrafos nas páginas que contêm o título das principais divisões.

As épocas são assim identificadas:
1) Época de Jesus e dos Apóstolos – 6 a.C. a 70 d.C.
2) Época do Cristianismo Católico – 70 a 312 d.C.
3) Época do Império Romano – 312 a 590 d.C.
4) Idade Média Cristã – 590 a 1517 d.C.
5) Época da Reforma – 1517 a 1648 d.C.
6) Época da Razão e dos Avivamentos – 1648 a 1789 d.C.
7) Época do Progresso – 1789 a 1914 d.C.
8) Época das Ideologias – 1914 a 1989 d.C.
9) Época de Expansão e Remanejamento Global – 1900 em diante.

Este livro atingiu um propósito nobre: levar leitores evangélicos a envolverem-se com sua própria história e a conhecerem o mundo cristão mais amplo. Esta será uma resenha descritiva e iremos trabalhar cada época aqui citada e faremos todas citações necessárias desta excelente obra.


1) ÉPOCA DE JESUS E DOS APÓSTOLOS – 6 A.C. A 70 D.C. – Esta primeira (época) é constituída de dois capítulos: (1) O movimento de Jesus e o (2) que irá tratar de como o Evangelho chega aos gentios. 

As raízes do cristianismo remontam à história judaica muito antes do nascimento de Jesus. Foi Jesus de Nazaré, entretanto, quem condenou as ideias do judaísmo estabelecido e trouxe um movimento de renovação à luz da história no início do primeiro século. Após sua crucificação sob o domínio de Pôncio Pilatos, um oficial romano, os ensinamentos de Jesus espalharam-se por toda a região mediterrânea. Um apóstolo chamado Paulo foi especialmente influente. Ele enfatizou o dom divino de salvação para todos os homens e, assim, conduziu o cristianismo, cujo surgimento se deu em meio ao judaísmo palestino, a uma posição universal [p.15].

O termo “Movimento de Jesus” é um termo usado por Flávio Josefo. A proclamação e as ações relacionadas ao Movimento de Jesus são testemunhadas quase que exclusivamente nos evangelhos. Nas cartas paulinas, são exíguas as referências diretas a palavras ou a ações jesuânicas. A mesma situação se repete nos demais livros do Novo Testamento. Na obra do historiador judeu Flávio Josefo há observações sobre Jesus. Algumas podem ser acréscimos posteriores, mas é possível que alguma referência básica provenha do autor. Embora raras, também se encontram alusões em documentos romanos do início do segundo século (Tácito, Suetônio e Plínio, o Jovem). Em todo caso, a existência histórica de Jesus de Nazaré pode ser atestada a partir de escritos bíblicos e de fontes não cristãs.


2) ÉPOCA DO CRISTIANISMO CATÓLICO – 70 A 312 D.C. - A segunda parte (época) é constituída de seis capítulos, ou seja, do capítulo 3 ao 8. (3) Cristianismo Católico; (4) Cristãos perseguidos; (5) Surgimento da ortodoxia; (6) Formação da Bíblia; (7) Poder dos bispos e (8) Os alexandrinos.

Neste período, o cristianismo difundiu-se por todo o império Romano e provavelmente pelo leste até a Índia. Os cristãos perceberam que eram parte de um movimento em rápida expansão e o chamaram de católico, termo que sugere que o cristianismo desse período é um movimento universal – a despeito do escárnio pagão e da perseguição romana – e também a fé verdadeira – em oposição a todas as distorções dos ensinamentos de Jesus. A fim de enfrentar os desafios da época, os cristãos voltaram-se, cada vez mais, para os bispos em busca de liderança espiritual. O cristianismo católico, portanto, foi marcado por visão universal, crenças ortodoxas e governo eclesiástico episcopal [p.41].

Contudo, o feito mais importante desta época, com certeza foi a formação das Escrituras tal qual temos hoje em nossas mãos. Ao manter o Antigo Testamento, a Igreja pontuou dois fatos importantes. Primeiro, ela insistiu que a fé para o cristão identificaria a identificaria a ideia de Deus Criador com a ideia do Deus Remidor, e a mensagem de Marcião era simples demais, pois ele não apenas havia descaracterizado o Antigo Testamento, como também quebrou a unidade vista em toda a Escritura cristã: o mesmo Deus que fez o mundo também escolheu Israel, e esse Deus procurou recuperar sua criação por meio de Jesus, que cumpre o destino de Israel. Segundo, ao conservar o Antigo Testamento, a igreja enfatizou a importância da história para a fé cristã, pois o cristianismo é uma religião histórica não apenas no sentido de que vem do passado ou que está associado a um personagem histórico chamado Jesus, mas por decorrer da crença de que, dentro da própria história, em determinado lugar e em determinado momento, o próprio Deus envolveu-se nos assuntos humanos, e isso significa viver pela fé, para o cristão, inclui enfrentar os quebra-cabeças da existência humana – todos os “por que, Senhor?” que a vida apresenta – e continuar crendo que os planos de Deus são bons. No ano 190, as igrejas claramente aceitaram a ideia de colocar as Escrituras Cristãs ao lado das Escrituras judaicas – um cumprindo o que a outra promete.


3) ÉPOCA DO IMPÉRIO ROMANO – 312 A 590 D.C. – A terceira parte (época) é constituída de oito capítulos, ou seja, do capítulo 9 ao 16. (9) A Conversão do Império; (10) A Doutrina da Trindade; (11) Cristo nos Credos; (12) Primórdios do Monasticismo; (13) Agostinho; (14) Primórdios do Papado; (15) Ortodoxia oriental e (16) Missão aos Bárbaros.

O imperador Constantino é uma das principais figuras da história cristã. Após sua conversão, o cristianismo logo passou o isolamento das catacumbas ao prestígio dos palácios. No início do quarto século, o movimento era uma minoria perseguida; contudo, no apogeu desse século, ocupava a posição de religião estabelecida do império. Assim, a igreja cristã foi agregada ao poder do Estado e assumiu uma responsabilidade moral para toda a sociedade. Inicialmente sob a orientação de Constantino, a igreja refinou sua doutrina e desenvolveu sua estrutura, e algumas pessoas, como o historiador Eusébio enxergaram a adoção do cristianismo por Constantino como a vitória dessa religião sobre o império; outros, como os monges, acreditavam que a cultura estava capturando o cristianismo. A história que segue é a “cristianização” do grande mundo e mentalidade helenistas. Quando o império sucumbiu aos invasores bárbaros (conhecidos como europeus hoje), os monges ironicamente obtiveram o apoio dos conquistadores por demonstrarem a dignidade de uma vida ordenada, em comunidade e raízes profundas na fé cristã. [p.109]

Aqui desejo enfatizar o conteúdo do capítulo 11 – Cristo nos Credos. Independentemente do ponto de vista dos homens, a Igreja, ao longo dos séculos, sempre confessou juntamente com Pedro que Jesus Cristo é o Messias, o Filho do Deus Vivo. Ele é mais do que um tema de estudo para os cristãos: é o objeto da devoção cristã. Os teólogos chamam este mistério de encarnação, a corporificação de Deus, e os compositores enaltecem os méritos do “Emanuel”, que significa “Deus conosco”.

Durante a época imperial da Igreja, quando os imperadores pressionavam os pastores a formular declarações que expressassem a fé cristã com precisão, a Igreja passou a falar sobre o Deus-homem. No ano 451, um concílio Geral da calcedônia, não muito longe de Constantinopla, afirmou que Jesus era “completo na divindade e completo na humanidade, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem [...] em duas naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão ou sem separação [...] em uma só pessoa”.

Assim, em oposição a Ário, a igreja afirmava que Jesus era verdadeiramente Deus e, em oposição a Apolinário, que ele era verdadeiramente homem. Em oposição a Êutiques, ela confessava que a divindade e a humanidade de Jesus não eram transformadas em outra coisa, e, em oposição a Nestório, que Jesus não era dividido, mas uma única pessoa.

Dessa data em diante, a maioria dos cristãos católicos, protestantes e ortodoxos passaram a encontrar, em Calcedônia, a base da doutrina da salvação: um único Deus-homem, Jesus Cristo.


4) IDADE MÉDIA CRISTÃ – 590 A 1517 D.C. - A quarta parte (época) é constituída de sete capítulos, ou seja, do capítulo 17 ao 23. (17) Gregório Magno (18) Carlos Magno e a cristandade; (19) O Papado e o Cruzado; (20) Escolástica; (21) O estilo de vida apostólico; (22) O declínio do papado e (23) Wyclif e Huss.

A Europa deve mais a fé cristã do que a maioria das pessoas imagina, pois quando os bárbaros destruíram o império romano no Ocidente, foi a igreja cristã que formou uma nova ordem chamada Europa. A igreja assumiu a posição de liderança por três vias: a lei, a busca do conhecimento e as expressões de cultura. O que unia o império e a igreja era o conceito de cristandade. Esse processo começo sob o governo de Carlos Magno no oitavo século, mas os papas foram, aos poucos, assumindo cada vez mais poder até que Inocêncio III (1198-1216) ensinou a Europa a considera-los governantes mundiais. Nos séculos posteriores, entretanto, papas foram corrompidos pelo poder, e reformadores militantes entraram em cena clamando por mudanças. [p.185]

Na quarta parte, faço destaque ao capitulo 23, que faz referências duas almas corajosa – João Wycliffe, um inglês e João Huss, um tcheco – ousaram sugerir de que a Igreja cristã era algo diferente de uma organização visível na terra liderada pelo papa. Eles pagaram caro pela mera menção da possibilidade, mas viam claramente que havia chegado o momento do juízo sobre a casa de Deus. Mas quem eram eles e como apontaram o caminho para o futuro?

John Wycliffe sofre influência das concepções de Tomás Bradwardini. Foi forte opositor ao acúmulo de riquezas da Igreja e à venda indulgências. Também defendia a autoridade soberana das Escrituras.

Ele foi ordenado sacerdote, e mudou-se para Oxford, onde suas opiniões teológicas lhe tornaram a figura mais controversa da Universidade, e suas conexões com a família real o tornaram influente. Por quase toda a vida de Wycliffe os papas residiram em Avignon e, assim, ele cresceu em uma atmosfera em que a autoridade religiosa era questionada de forma constante. [...] Começou a identificar publicamente a Bíblia, e não o papa, como a suprema fonte de autoridade espiritual. O papado, ele argumentava, era apenas uma invenção humana, enquanto a Bíblia, detentora de autoridade, determinava a validade de todas as crenças e práticas religiosas. Com base nisso, ele rejeitava e doutrina extremamente filosófica da transubstanciação.

Em poucos anos, esse discurso deixou Oxford – e todo o país – fervilhando. Wycliffe foi obrigado a aposentar-se. [...] No entanto, não ficou ocioso nesse período: escreveu tratados populares explicando seus pontos de vista, comissionou pregadores e organizou uma tradução da vulgata (versão latina da Bíblia) para o inglês. Felizmente para Wycliffe, ele morreu em 1384, antes de o Concílio de Constança condená-lo por heresia (depois disso seus restos mortais foram exumados, queimados e espalhados). Ainda assim, seu legado foi grande. Com a Bíblia em inglês em suas mãos, seus seguidores na Inglaterra dedicaram-se à prática ilegal de ler a Bíblia em grupo e em segredo. Foi provavelmente por isso que eles ficaram conhecidos como “lollardos”, um termo que provavelmente significava “aquele que sussurra”, em referência ao hábito de ler a Bíblia em segredo. Eles consistiriam uma audiência muito receptiva para a Reforma que chegaria um século depois.

João Huss não era mero imitador de Wycliffe, como alguns estudiosos têm sugerido. Nem, como outros têm indicado, ele antecipou o protestantismo em todos os aspectos. Contra ambos, Wycliffe e os reformadores, ele defendeu a doutrina da transubstanciação, embora negasse que os sacerdotes por si mesmos têm o poder de realizar a transformação do pão no corpo de Cristo. Contra a doutrina protestante de sola fide, ele cria que a caridade desempenha um papel instrumental na justificação dos pecadores.

Contudo, Huss antecipou uma série de convicções-chave do protestantismo. Ele criticou a veneração idólatra dos seus contemporâneos de Maria e dos santos. Ele também criticou a prática medieval de reter o cálice do povo comum (por temor, ostensivamente, para que não lidassem de modo indevido com o sangue de Cristo) e oferecer-lhes apenas o pão na eucaristia. A insistência de Huss de que os leigos recebessem pão e vinho veio a marcar os seus seguidores de modo que, quando forçados a se defenderem militarmente após a morte de Huss, incorporaram um cálice no brasão.

Ele também antecipou os reformadores — e revelou a extensão de sua dívida com Wycliffe — em sua doutrina da igreja. Huss identificou a verdadeira igreja com aquele corpo invisível de crentes no passado, presente e futuro que foram eternamente eleitos por Deus para a salvação e incorporados em Cristo como a sua cabeça. Nem todos os membros da igreja visível, argumentou ele, pertencem à igreja invisível, e quando o clero em particular prova ser reprovado por suas ações, sua autoridade é suspeita. Essa doutrina baseou as severas críticas de Huss a sacerdotes e papas como “anticristo” e sua disposição em desconsiderar as bulas papais quando claramente contradiziam as Escrituras.

Intimamente relacionada com sua doutrina da igreja, estava a doutrina de Huss sobre as Escrituras. Huss rejeitou qualquer alegação de que a igreja visível, que em qualquer momento poderia ser mais povoada pelos réprobos do que pelos eleitos, exercia a infalibilidade em suas decisões ou interpretações da Escritura. Ele mantinha as vozes tradicionais na igreja, especialmente os pais da igreja, em alta consideração; na verdade, ele privilegiava a interpretação das Escrituras por parte dos pais da igreja sobre a interpretação de qualquer indivíduo, incluindo a sua própria. Mas Huss admitiu que até os pais poderiam errar. Assim, ele reconheceu a Sagrada Escritura como a única regra infalível da fé e prática cristã, uma visão que os reformadores expressariam com o slogan sola Scriptura.


5) ÉPOCA DA REFORMA – 1517 A 1648 D.C. - A quinta parte (época) é constituída de oito capítulos, ou seja, do capítulo 24 ao 31. (24) Martinho Lutero e o protestantismo; (25) Os anabatistas; (26) João Calvino; (27) A Igreja da Inglaterra; (28) A Reforma Católica; (29) América e a Ásia; (30) Puritanismo e (31) Denominações.

O espírito de reforma irrompeu com surpreendente intensidade no século XVI, dando origem ao protestantismo e destruindo a liderança papal da cristandade ocidental. Quatro importantes tradições marcaram o protestantismo inicial: a luterana, a reformada, a anabatista e a anglicana. Após uma geração, a igreja de Roma, liderada pelos jesuítas, recuperou seu fervor moral. Batalhas sangrentas entre católicos e protestantes vieram em seguida, e a Europa foi devastada pela guerra antes de se tornar evidente que a cristandade ocidental estava permanentemente dividida e de alguns pioneiros apontarem um novo caminho: o conceito denominacional de igreja. [p.257]

Nesta quinta divisão deste livro, enfatizo o assunto do capítulo 26 – João Calvino. João Calvino não pertenceu à primeira geração de Reformadores. Quando Lutero pregou as suas noventa e cinco teses na porta da igreja do castelo em Wittenberg, Calvino era uma criança de oito anos. Quando iniciou sua obra como Reformador, a primeira grande batalha da Reforma já havia sido combatida. Ulrico Zwínglio já havia morrido há cinco anos. Martinho Lutero, embora tivesse apenas cinquenta e dois anos, já era um homem velho, de saúde debilitada e de espírito deprimido. Filipe Melânchton já estava mostrando sinais de vacilar nos primeiros princípios da Reforma. Martin Bucer, no auge de sua capacidade, estava trabalhando frutiferamente em Estrasburgo, lutando contra grandes contingentes para unir as forças da Reforma em um movimento comum em prol do evangelho. Calvino considerava Lutero com a mais profunda reverência, e alegremente chamava a si mesmo de seu discípulo. Ele o chamou de “aquele ilustre apóstolo de Cristo, por cujo trabalho a pureza do evangelho foi restaurada a esta era”. 

Calvino foi, de modo eminente, um reformador prático. Ele foi o maior exegeta do tempo da Reforma: ele foi o maior teólogo da Reforma. E ele foi o gênio prático da Reforma. Não dizemos que ele foi o gênio prático da Reforma, apesar de seus comentários eruditos e de sua teologia profunda e profundamente fundamentada. É melhor dizer que ele o foi em grande parte por causa destes. Calvino provavelmente nunca fez algo mais prático do que expor as Escrituras a cada dia com compreensão penetrante e honestidade clara e cuidadosa dos comentários nos quais ele é insuperável. E ele certamente nunca fez algo mais prático do que escrever os Institutas da Religião Cristã. A publicação desse livro foi como arvorar o estandarte do Rei na Europa Medieval, para que todos os seus súditos pudessem se reunir em torno dele. Essa obra estava elevando a bandeira no alto a fim de que todos os homens pudessem vê-la e se aproximar. Ela forneceu, por fim, uma plataforma para os Protestantes que em todos os lugares eram atacados, e muito facilmente confundidos com os radicais daquele tempo — os radicais que minaram os próprios fundamentos da fé cristã, derrubaram todo o tecido da ordem social e ultrajaram os ditames mais comuns da decência ordinária. Sua publicação encontrou uma crise e criou uma época; deu uma nova estabilidade ao Protestantismo e o expressou ao mundo como um sistema coerente de verdade fundamentada pela qual os homens possam viver e pela qual possam morrer com alegria.


6) ÉPOCA DA RAZÃO E DOS AVIVAMENTOS – 1648 A 1789 D.C. - A sexta parte (época) é constituída de quatro capítulos, ou seja, do capítulo 32 ao 35. (32) O culto à razão; (33) Pascal e os pietistas; (34) Wesley e o Metodismo e (35) O Grande Despertar.

A época da reforma foi marcada pelo debate cristão sobre o caminho da salvação; já a época da razão destacou-se pela negação de toda religião sobrenatural, e o apreço pela ciência e pela razão humana substituiu a fé cristã como fundamento da cultura ocidental. Muitos protestantes enfrentaram essa crise de fé não com argumentos, mas com a experiência de conversão sobrenatural, uma vez que a fé se baseava menos em dogmas e mais em experiência. Esse cristianismo evangélico difundiu-se rapidamente apenas pelo poder da pregação, e muitos cristãos perceberam que o apoio do Estado não era mais essencial para sobrevivência do cristianismo; sendo assim, os cristãos modernos poderiam aceitar a liberdade religiosa. [p.333]

Na sexta parte, destaco agora o capítulo 33, que fala de Blaise Pascal, mas, que enfatiza mais o movimento petista dentro da igreja protestante. O pietismo não deve ser confundido com o quietismo‚ nem muito menos com o puritanismo. Esse último é um movimento de reforma que sur­giu e evoluiu nos séc. XVI-XVII na Igreja da In­glaterra e que se transportou às colônias da Amé­rica do Norte, onde criou o “modelo de vida puri­tana” que todos conhecem. O quietismo é um pro­duto da Igreja Católica. Nasceu na Espanha (*Molinos; *Fénelon) e teve ramificações na Itá­lia e na França. O pietismo nasceu na Alemanha protestante do século XVII. Acentua a fé pessoal em protesto contra a secularização da Igreja. Sur­giu como reação da guerra dos “trinta anos” na Alemanha e estendeu-se um pouco por toda a Europa sempre que a religião se divorciava da experiência pessoal. Foram vários os motivos imediatos desse movimento, entre eles o endure­cimento escolástico do luteranismo diante dos seus adversários, e a influência vinda do exterior, das obras dos puritanos ingleses, como Richard Baxter, John *Bunyan e outros exilados na Holanda, como William Ames.

Embora, mais tarde, derivasse para uma lite­ratura devocional, baseada em parte na tradição mística alemã, o próprio dos pietistas foi uma “teologia do coração”, alimentada pelos escri­tos de Johann Arndt (1555-1621). Encontraram seu refúgio na Palavra pela leitura e meditação da Bíblia, reforçada pela força dos hinos da liturgia luterana. O principal representante des­se movimento pietista na Alemanha foi F. Jacob Spener (1635-1705). Em seu ministério em Frankfurt, ficou impressionado com a vida de­cadente da cidade e organizou os primeiros collegia pietatis, nos quais os leigos cristãos reu­niam-se regularmente para trocar suas experiên­cias e fazer a leitura espiritual. Essas práticas transformaram-se em características dos colegia pietatis, recebendo seus frequentadores o nome de pietistas.

Em sua obra mais famosa, Pia desideria (1675), Spener expôs as debilidades da ortodoxia e adiantou uma reforma cujos pontos principais são: a) maior uso privado e público das Escrituraras; b) maior dedicação por parte dos leigos de suas responsabilidades sacerdotais como crentes; c) a necessidade de que a fé viva dê frutos práticos; d) que a formação para o ministério ressalte mais a piedade e o conhecimento do que a disputa; e) que a prédica dirija-se mais à edificação. Para isso, os collegia pietatis foram um instru­mento muito eficaz, assim como foram entre os católicos os Oratórios (*Filipe Néri; *Bérulle).

O sucessor de Spener foi Auguste H. Francke (1663-1727), da Universidade de Halle. Baseado no princípio de que “um grão de fé verdadeira vale mais do que um quintal de erudição histórica, e uma gota de caridade mais do que um oceano de ciência”, lançou-se a uma campanha intensa de alfabetização e de criação de escolas e de um seminário para mestres, nos quais se busca, fundamentalmente, “a piedade do coração”. Francke é considerado um dos grandes pedagogos da fé e da piedade cristãs, assim como das letras humanas. Exemplo disso é seu livro Doutrina mais breve e simples para dirigir as crianças à verdadeira piedade e ao espírito cristão (1702), que constitui um verdadeiro plano de ensino. 

Francke teve muitos outros seguidores, entre eles o fundador dos Irmãos morávios, um dos quais foi *Comenius, o autor da Didática magna (*Educadores cristãos). Desta forma, o pietismo não só se abriu às novas formas de educação cristã, mas também a uma nova pastoral, à ação missionária e litúrgica. O movimento pietista ca­lou fundo no seio do protestantismo alemão e de regiões de sua influência. Desde o século XVIII, estimulou direta ou indiretamente todos os movimentos “revivalistas” dos séc. XIX e XX.


7) ÉPOCA DO PROGRESSO – 1789 A 1914 D.C. – A sétima parte (época) é constituída de seis capítulos, ou seja, do capítulo 36 ao 41. (36) O catolicismo na época do progresso; (37) A Inglaterra do século XIX; (38) As Missões protestantes; (39) América Cristã; (40) O liberalismo protestante e (41) Crise Social.

Os cristãos enfrentaram uma nova inquietação social somada aos desafios intelectuais provenientes do surgimento da ciência moderna. A revolução Francesa desencadeou novas esperanças e expectativas para os homens comuns. O poder agora parecia estar ao alcance das massas. Sendo assim, de que maneira poderiam os cristãos satisfazer as necessidades das massas urbanas? Seria um homem simples produto de forças evolutivas? Os cristãos estavam seriamente divididos quanto à maneira de encarar esses problemas e, sem o apoio tradicional do Estado, muitos protestantes se uniram em sociedades voluntárias para assistir os pobres e os oprimidos, bem como para levar a mensagem do evangelho a terras estrangeiras. [p.379]

Quero trabalhar um pouco do capítulo 40 – O liberalismo protestante. O liberalismo é, de muitas maneiras, um fruto do Iluminismo, movimento surgido no início do século 18 que tinha em seu âmago uma revolta contra o poder da religião institucionalizada e contra a religião em geral. 

As pressuposições filosóficas do movimento eram, em primeiro lugar, o Racionalismo de Descartes, Spinoza e Leibniz, e o Empirismo de Locke, Berkeley e Hume. Os efeitos combinados dessas duas filosofias — que, mesmo sendo teoricamente contrárias entre si, concordavam que Deus tem de ficar de fora do conhecimento humano — produziu profundo impacto na teologia cristã. 

Como resultado da invasão do Racionalismo na teologia, chegou-se à conclusão de que o “sobrenatural não invade a história”. A história passou a ser vista como simplesmente uma relação natural de causas e efeitos. O conceito de que Deus se revela ao homem e de que intervém e atua na história humana foram logo excluídos. A fé cristã histórica sempre acreditou que os milagres bíblicos realmente ocorreram como narrados. Milagres como o nascimento virginal de Cristo, os milagres que o próprio Cristo realizou, sua ressurreição física dentre os mortos, os milagres do Antigo e Novo Testamentos, de maneira geral, são todos considerados fatos. 

O teólogo liberal, por sua vez, e os neo-ortodoxos fazem distinção entre historie (história, fatos brutos) e heilsgeschichte (história santa, ou história salvífica), criando dois mundos distintos e não conectados: o mundo da história bruta, real, factível e o mundo da fé, da história da salvação. Temas como criação, Adão, queda, milagres, ressurreição, entre outros, pertencem à história salvífica e não à história real e bruta. Para os liberais e os neo-ortodoxos, não interessa o que realmente aconteceu no túmulo de Jesus no primeiro dia da semana, mas, sim, a declaração dos discípulos de Jesus que diz que Jesus ressuscitou. Assim, o que eles querem afirmar com isso é bastante diferente daquilo que a fé cristã histórica acredita. Na verdade, eles consideram que os relatos bíblicos dos milagres são invenções piedosas do povo judeu e dos primeiros cristãos, mitos e lendas oriundos de uma época pré-científica, quando ainda não havia explicação racional e lógica para o sobrenatural.


8) ÉPOCA DAS IDEOLOGIAS – 1914 A 1989 D.C. – A oitava parte (época) é constituída de quatro capítulos, ou seja, do capítulo 42 ao 45. (42) As ideologias do século XX; (43) Os Evangélicos americanos; (44) O Movimento Ecumênico e (45) Catolicismo Romano: Vaticano II.

No século XX, aconteceram as colossais lutas de gigantes políticos e militares: comunismo, nazismo e americanismo. Um novo paganismo apareceu em apelo às leis da economia, às paixões da raça e aos direitos invioláveis dos indivíduos, e os cristãos foram forçados a sofrer, a pensar e a se unir de maneiras novas. Os protestantes se aproximaram dos movimentos de unidade, e os católicos romanos lutaram para atualizar sua igreja. A queda do Muro de Berlim sinaliza um declínio do poder das ideologias, e o “novo” cristianismo do Terceiro Mundo – e além – emerge e se expande de modo assombroso. Esse novo cristianismo ofusca vozes muçulmanas inflamadas, nas quais discerne ambos o perigo e o chamado à missão. [p.445]

A oitava parte deste livro, ressalto os frutos de uma tentativa inútil que foi a participação protestante no Concílio Vaticano II. Ao se manifestarem depois do Concílio Vaticano II, os teólogos católicos podem ser muito pacíficos e conciliadores na comunicação com os protestantes, ao contrário do que muitos haviam sido anteriormente. Mas, conforme disse o cardeal jesuíta Avery Dulles, um dos principais elaboradores do documento Evangelicals and Catholics Together [Evangélicos e católicos juntos]: “Tivemos o cuidado de seguir os ensinamentos do Concílio Vaticano II […] não somos teólogos católicos diferentes dos outros” (Christianity Today, 27 Apr. 1998, p. 21).

Em décadas recentes, muitos teólogos católicos (especialmente estudiosos do Novo Testamento) fizeram muito para fomentar o entendimento entre as duas tradições e, em muitos casos, defenderam realmente a interpretação evangélica das passagens mais relevantes. Contudo, a abertura iniciada pelo Concílio Vaticano II não abordou as condenações do Concílio de Trento. Pronunciamentos recentes revogaram a excomunhão dos reformadores, mas não a de seus ensinos. 

Desde o Concílio Vaticano II, surgiram (e deveriam ter sido aproveitadas) muitas oportunidades para o diálogo. Todavia, a doutrina evangélica da justificação não é simplesmente uma formulação que trata de como alguém pode se tornar aceito diante de Deus; ela é a proclamação acerca de como uma pessoa é aceita diante de Deus. É verdade que diferentes igrejas cristãs — tendo em vista as mais variadas considerações de ordem nacional, geográfica, cultural e linguística — chegarão a formulações distintas da mesma verdade. Mas, quando deparamos com a questão fundamental a respeito de como somos salvos, não há espaço para confusão nem para concessões em nome da harmonia.

Roma responde que somos salvos pela graça mais obras. Igrejas genuinamente apostólicas respondem conforme Paulo: “Mas, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não seria graça” (Rm 11.6).

Sejam protestantes históricos os envolvidos com o acordo de 1998 entre a Federação Luterana Mundial e o Vaticano, sejam os evangélicos que sustentam um entendimento comum do evangelho que deixe suspensa a questão de como alguém é justificado, a ordem bíblica para buscar unidade visível da igreja implica unidade no evangelho. E, se o evangelho ainda é a mensagem de que Deus justifica o ímpio, não se pode abrir mão dessa boa notícia para construir a unidade da igreja sobre qualquer outro fundamento.


9) ÉPOCA DE EXPANSÃO E REMANEJAMENTO GLOBAL – 1900 EM DIANTE. - A nona e última parte (época) é constituída de três capítulos, ou seja, do capítulo 46 ao 48. (46) Declínio e reconstrução; (47) O que é o “novo cristianismo”? E (48) Lugares e pessoas de fé.

Mais pessoas se tornaram nos últimos cem anos do que em qualquer outra época. Ao focarmos no aspecto evangelístico da fé, podemos argumentar que mais coisas aconteceram nos últimos cem anos do que em toda história anterior da Igreja. O grande impulso missionário do final dos anos 1800 e início dos anos 1900 contribuiu para esse crescimento explosivo, em grande parte ao sul da linha do Equador. No entanto, o novo crescimento parece ter seu próprio caráter e sua própria iniciativa produzida pelo Espírito. Ironicamente, antigas fortalezas da missão cristã na Europa e na América do Norte estão passando por inatividade e declínio, e a história dirá se os novos centros do cristianismo no Sul global e além conseguem manter um caráter cristão fiel e testemunhar a obra sem precedentes do Espírito. O tempo também indicará se os sinais de agitação espiritual reavivarão um testemunho fiel no Ocidente. Sem a ação do Espírito, o rótulo “pós-cristão” se tornará mais adequado com o passar do tempo. [p.491]

Nesta última parte deste livro, quero trabalhar o capítulo 47 - O que é o “novo cristianismo”? A revista Época publicou em 07 de agosto de 2010, uma matéria intitulada “Os Novos Evangélicos”. O texto de chamada dizia assim: “A nova Reforma Protestante”, onde trata de cristãos que buscam o retorno ao Evangelho puro e simples de Cristo, na contramão de boa parte da igreja evangélica brasileira, fascinada com movimentos heréticos como a teologia da prosperidade.

A matéria reflete, de forma bastante clara, os porquês do descontentamento por parte das principais lideranças com o andamento do contexto neopentecostal, principalmente. É preciso ver que a matéria tem como alvo o público leigo. Em momento algum, tem um discurso aprofundado, principalmente nas bases e na essência do que realmente é o pentecostalismo e o neopentecostalismo. Isso se dá pelo fato de não termos uma teologia pentecostal. É preciso dizer que teologia da prosperidade não reflete uma teologia pentecostal. A teologia da prosperidade é uma forma “vulgar”, superficial, de um contexto não apropriado para a realidade brasileira e também sul-americana.

O objetivo da matéria é trazer luz, mesmo que de forma simples, descrevendo que o movimento neopentecostal necessita de limites éticos.

Outro ponto a ser destacado é trazer distinção entre o que é e quais são os protestantes históricos, pentecostais históricos e neopentecostais. Há uma grande distinção entre um grupo e outro. Diferenças bastante essenciais para entendermos a realidade da igreja brasileira. E é entendendo essas diferenças que se pode pensar em uma nova Reforma Protestante (termo esse já utilizado por mim há bastante tempo).

Uma nova Reforma Protestante se faz necessária para sairmos de antigos vínculos formados pelos teólogos da teologia liberal, como também da teologia da prosperidade. Ambas teologias têm seus pontos nocivos à Igreja. A teologia liberal, formada por pensadores que insistem em se distanciar da vivência espiritual, que insistem em ter uma orientação mais burguesa, confirmando isso com suas ligações com a Maçonaria, isso ocorrendo desde sua chegada ao Brasil.

A nova Reforma nasce a partir do momento em que uma nova consciência de igreja une passado, presente e futuro, ou seja, uma teologia que fuja de padrões teóricos e que seja cotidiana, produtora de vida, que interaja com ricos e pobres, que seja livre dos vícios antigos, mas que também tenha um espírito profético, capaz, de forma abundante, de trazer direções para um mundo moderno.

Tudo isso dentro da simplicidade e da pureza de um Evangelho livre de segundas intenções e da busca de glórias humanas. A nova Reforma nasce a partir do momento em que homens e mulheres abrirem vossos corações para que Deus faça algo novo a cada dia.


PARA CONCLUIR – Certamente, um dos aspectos mais notáveis do cristianismo hoje é quão poucos dentre os cristãos professor já estudaram a história de sua religião com seriedade. Em uma época anterior, adeptos de uma fé raramente encontravam adeptos de outra fé, ou seja, poucos eram obrigados a defender sua religião contra s críticas de uma fé rival. Em nossos dias, porém, quando a comunicação em massa traz o mundo para perto de nós, é difícil justificar a ignorância dos cristãos. Portanto, este é o livro essencial.


RECOMENDO
História do Cristianismo – Uma obra completa e atual sobre a trajetória da Igreja Cristã desde as origens até o Século XXI.
Editora Thomas Nelson Brasil
http://www.thomasnelson.com.br/livro/historia-do-cristianismo/

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

PONTO DE IMPACTO [Resenha]


BROWN, Dan. Ponto de Impacto. São Paulo: Editora Arqueiro, 2005. 


O AUTOR E O SEU LIVRO 


Dan Brown é o autor de suspense mais popular da atualidade, com mais de 150 milhões de livros vendidos. Seu mega-seller O Código Da Vinci já vendeu mais de 80 milhões de exemplares em todo o mundo. Ele também escreveu Anjos e Demônios, O Símbolo Perdido, Inferno, Fortaleza Digital e Ponto de Impacto. Dan é casado com a pintora e historiadora da arte Blythe, que colabora nas pesquisas de seus livros. Ele mora na Nova Inglaterra, nos Estados Unidos. 

Ponto de Impacto foi lançado em 2001, e com diálogos inteligentes, dinâmicos e engraçados, a obra traz personagens marcantes e brilhantes. Com fascinantes informações sobre a NASA, a comunidade de inteligência e os bastidores da política americana, sem falar na polêmica discussão sobre a possibilidade de vida extraterrestre, Ponto de Impacto revela o amadurecimento de Dan Brown como escritor, escreve com fluência de alguém que, não só sabe sobre o que versa, como também gosta muito, reunindo todas as qualidades que o transformariam em um fenômeno mundial com o livro que seria publicado logo em seguida: O Código da Vinci. Aqui, ele envolve ficção com realidade com certa primazia e os enredos são trabalhados com esmero no que trata de informações. O livro todo se passa em basicamente três dias! Para quem está acostumado a ler os livros de Dan Brown e participar da Saga Robert Langdon, é importante lembrar que este não faz parte da coleção do famoso professor de Simbologia. 


CENÁRIO E BASTIDORES 

O cenário é o Polo Ártico, berço da Geleira Milne, no Hemisfério Norte, é exatamente neste local, que um novo satélite da NASA encontra um estranho objeto escondido nas profundezas do Ártico, de aproximadamente 190 milhões de anos que comprova a existência de vida no espaço, a agência espacial aproveita o impacto da sua descoberta para contornar uma grave crise financeira e de credibilidade. 

Para dar credibilidade a descoberta sem margens de refutação, o presidente convoca cinco civis para estudarem o meteorito e comprovarem sua legitimidade: três cientistas, altamente credenciados cada um na sua especialidade, Mike Tolland, um oceanógrafo apresentador de programa científico, documentário semanal de alto índice de audiência e Raquel Sexton, uma depuradora do NRO (responsável por elaborar relatórios para a Casa Branca de todos os assuntos que qualificar como importantes) que estrategicamente foi chamada por ser filha do senador Sexton, rival do presidente. 


A DISPUTA POLÍTICA E A NASA 

Sedgewick Sexton - Senador e candidato à presidência, um homem perigoso, ambicioso e sem escrúpulos que quer de todas as formas, chegar à Casa Branca. O candidato Sexton, tem como principal tema de campanha, a desmoralização da NASA, a divulgação das vultuosas quantias que são gastas com suas experiências e o baixo índice de sucesso que ela obtém. 

Zachary Henry - O presidente dos Estados Unidos, está sofrendo ataques constantes do seu adversário, acredita na NASA e no poder que ela confere ao país com suas pesquisas, além de controlar tudo que se refere ao espaço, mais do que isso quer protegê-la dos investidores que gostariam de poder dividir o espaço em pedaços e vendê-los como lotes, inclusive espaços para mídia como outdoor nos lotes e merchandising em foguetes. 


RACHEL SEXTON – NOSSA HEROÍNA 

Mas, falando mais especificamente de Rachel Sexton, pois ela é a nossa heroína. Ela é uma importante analista do “NRO” (Escritório Nacional De Reconhecimento) dos E.U.A., que é convocada pelo próprio Presidente para dar aval e credibilidade ao descobrimento que pode justificar quaisquer gastos adicionais que a agência “NASA” (Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço) tenha empregado em seus anos de atividade. Rachel é filha do Senador Sedgewick Sexton, principal, e forte, opositor do Presidente e da própria NASA. Depois da exposição esclarecedora que a própria Rachel participa, vamos percebendo que o que tinha ares simples de uma eventual jogada política, se mostra algo muito mais complexo e impactante. 

Os demais membros da equipe são compostos por: Corky Marlinson, um astrofísico muito engraçado que dá um up para a história, Wailee Ming, paleontólogo e o famoso "sabe tudo" da história, Dra. Norah Mangor, a glaciologista "dona" da plataforma Milne e de um humor péssimo, e Michael Tolland, um oceanógrafo, produtor de documentários, famoso mundialmente e o galã da trama, além de Rachel Sexton a nossa querida protagonista, dona de uma inteligência invejável e de um corpo exuberante (como sempre nas histórias de Brown). 

Lembrando que, enquanto, em Washington, as equipes do presidente e do senador, respectivamente Tench e Gabrielle travam batalhas políticas na base da informação, Rachel está junta aos outros civis, escolhidos para corroborar na confirmação e divulgação do achado, no Ártico, há milhares de quilômetros de distância da civilização. Tudo estava indo muito bem até que indícios de fatores que colocam em dúvida todo o trabalho da NASA vão aparecendo. Elementos sem uma prévia explicação linear ou funcional começam a surgir e levantar a suspeita de uma possível fraude. 

O grupo vai tentando entender o que está ocorrendo e quanto mais vão suspeitando e comprovando que algo está errado, vão reunindo provas de que o meteorito é falso. Diante disso, surge o grande vilão da história que é nada mais e nada menos que alguém inserido no panteon do governo dos Estados Unidos, conhecido até então como o controlador, líder de uma força assassina, a Força Delta, composta por três assassinos treinados que tem por finalidade única a eliminação de qualquer um que ameace o segredo em torno da mais nova descoberta da NASA. Portanto, um a um dos cientistas vão sendo eliminado por um inimigo altamente perigoso e importante. Os protagonistas lutam contra assassinos profissionais e o tempo para impedir que o Presidente dos Estados Unidos faça uma declaração errônea a respeito da grande descoberta da NASA. Contudo, eles não conseguem imaginar que quem está por traz da armação é o diretor do NRO, chefe da depuradora e que nem o presidente dos Estados Unidos e nem a NASA tem conhecimento do fato. 


PALAVRA FINAL 

Um livro que irá te prender até a última página e que guarda segredo que nem o próprio Presidente fazia ideia. Brown possui um ritmo já bem característico e muito enraizado nos seus livros. A forma como ele mistura fatos reais com fictícios sempre me desperta a curiosidade e algumas vezes eu faço pesquisa sobre cada um dos temas de cada um dos livros dele. Nesse livro encontramos informações sobre toda a comunidade de inteligência dos Estados Unidos, sobre a NASA e, acima de tudo, sobre a polêmica discussão sobre a existência de vida extraterrestre. 

Um fator muito legal é de que a narrativa instiga e a vontade de saber o próximo acontecimento, a próxima ação, faz com que a leitura, não só seja agradável, como também dê desejo de ler página por página com aquele apetite por respostas. Em todos os livros acontecem isso e quando tudo parece resolvido, Brown pode, ou não, reverter a história ou acrescentar mais intriga no contexto. Deixo vocês com um gostinho do que espera vocês dentro das páginas desse livro! 


RECOMENDO 
Livro Disponível pela Editora Arqueiro no link
http://www.editoraarqueiro.com.br/livros/ponto-de-impacto/

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

NOVA LIDERANÇA: PARADIGMAS DE LIDERANÇA EM TEMPO DE CRISE [Resenha]


Nova Liderança: paradigmas de liderança em tempo de crise. Curitiba, PR: Editora Esperança, 2017. Editores Valdir Steuernagel e Ricardo Barbosa. 


Os Editores deste livro, assim escreveram: QUAIS SÃO, HOJE, OS MODELOS QUE INSPIRAM as novas lideranças cristãs? Quais são as fontes que nutrem o espírito daqueles que, de uma maneira ou outra, conduzem, dirigem e alimentam a Igreja de Jesus Cristo? Temos conseguido compreender a complexidade do mundo e das pessoas a quem servimos? Qual a força do mercado e das estruturas seculares na formação dos líderes cristãos, em suas diferentes expressões, hoje? São estas algumas das perguntas que nos levaram a organizar este livro e a republicá-lo, atualizado e com conteúdo ampliado. [...] Este livro é uma proposta de agenda de discussão para refletirmos sobre os novos paradigmas da liderança no tempo em que vivemos. Isso implica conhecer o tempo e suas crises, bem como conhecer a natureza da igreja e do líder para essa igreja. Queremos olhar para ambos. Não espere encontrar neste livro fórmulas ou receitas. Não é este o seu propósito. Talvez ele vá levantar mais perguntas do que respostas. Se levarmos a sério as perguntas, os caminhos surgirão como expressão da graça divina [p.7,12].

O livro se constituem de uma série de 9 artigos sobre a importância da liderança cristã em meio a uma complexidade cultural que requer dos cristãos não só a compreensão, mas também respostas honestas aos dilemas que o ser humano enfrenta. Ser "simplesmente cristão" não pode ser uma resposta simplista ao desafio de ser cristão hoje. O secularismo, o ceticismo e o narcisismo idolátrico de nossas sociedades, espera da Igreja e dos seus líderes, uma fé que seja pessoal e capaz de articular, em uma linguagem adequada, o testemunho de Cristo. Mais do que bons programas e o bom uso de recursos tecnológicos, os líderes cristãos, hoje, precisam viver de maneira coerente e consistente o Evangelho que pregam. Pastores vêm construindo uma identidade cada vez mais funcional. A comunidade não é o que mais importa, o que importa são os projetos, as metas, o potencial de cada um. A profundidade foi substituída pela superficialidade, a pessoalidade se perde no meio da grande massa. Às vezes parece que somos mais vaqueiros do que pastores: estamos mais de olho no número de cabeças do que no cuidado de um rebanho. As consequências dessas profundas mudanças são trágicas e já começam a ser percebidas. Famílias desestruturadas, caráter corrompido, integridade pessoal ameaçada, superficialidade nos relacionamentos e no conhecimento, impessoalidade, imaturidade, frieza afetiva e narcisismo. Estas são apenas algumas das consequências que temos observado e que são apresentadas neste livro. 

Nesta resenha descritiva iremos trabalhar de forma sucinta cada um dos 9 artigos aqui publicados para apresentar o leitor a importância de se ler esta obra. 


A liderança segundo o modelo de Jesus: Valdir R. Steuernagel – Jesus é o modelo na prática da liderança e nunca nos cansamos de aprender dele, desde que tenhamos clara a nossa decisão de segui-lo. Simples assim: siga Jesus e torne-se uma pessoa que lidera de maneira acolhedora, íntegra e contagiante em todos os níveis de seus relacionamentos. Assim como Jesus fazia. 

O exercício da liderança, no entanto, é também complicado. Na exata medida em que aumenta a complexidade da nossa sociedade, isso se torna inevitável. O dessaranjo de nosso tecido social passa a ser um fato corriqueiro; as respostas para a convivência humana se multiplicam inquietadoramente; as expressões da maldade humana assumem formas inimagináveis e penetram em todas as ramificações visíveis e invisíveis da vida; tornando o desafio da liderança um dos grandes desafios do nosso tempo. Não há, de fato, como fugir dessa realidade à qual todos estamos umbilicalmente vinculados por nosso própria humanidade. Devemos, pelo contrário, mergulhar nela e a ela responder a partir da perspectiva da nossa fé cristã. 


Diante do quadro da vida como ele é, o encontro com o Evangelho de Jesus Cristo e a sua própria pessoa, como refletida nos evangelhos, nos apresenta um caminho que é fundamental, alvissareiro e consistente. Com Jesus aprendemos que a resposta aos desafios da cotidianidade da vida não é mágica, mas carece de uma simplicidade, consistência e integridade que são profundamente ansiadas. Portanto, diante dos desafios de nossa realidade, carecemos muito mais da simplicidade, beleza, integridade e relacionalidade do Evangelho de Jesus Cristo do que poderíamos imaginar. É isso que esta reflexão anseia vislumbrar. 


A formação de um líder é uma questão de vida: Ricardo Agreste da Silva – Pensando na formação de líderes em categorias seculares, não tenho a menor dúvida de que é possível desenvolvê-los em laboratório. Eles estão por toda parte, fazendo faculdades, mestrados, doutorados, cursos que ensinam a falar em público, lendo livros sobre inteligência emocional, fazendo workshops sobre como tirar o melhor das pessoas e sendo enviados para lugares onde podem tomar conhecimento das últimas técnicas de negociação. Nesses moldes, a formação depende exclusivamente da capacidade de retenção das informações recebidas e da esperteza em aplicá-las nas mais variadas situações de trabalho. Além disso, a formação se restringe à habilidade de lidar com técnicas em que o ponto fundamental é aprender a tirar vantagem de circunstâncias e de pessoas com o objetivo de alcançar os resultados esperados o mais rápido possível. 

No entanto, observando a história de homens e mulheres usados por Deus na liderança de seu povo, encontramos um modelo bem diferente de formação. Ao olharmos suas vidas, constatamos que, mais do que o mero treinamento formal, suas variadas experiências, as diversas circunstancias vividas e os relacionamentos desenvolvidos se apresentam como fatores determinantes de sua formação. Mesmo para aqueles que receberam tal treinamento, a vida acaba se revelando a grande escola, na qual experiências boas ou ruins, circunstancias favoráveis e desfavoráveis, relacionamentos confortáveis e conflituosos vão sendo gradualmente incorporados por Deus em suas vidas. A eles cabe aprender e perceber o mover de Deus em suas vidas e a exercitar a confiança no caráter divino ao longo dos momentos nebulosos dessa jornada. 

Portanto, creio que pensarmos na formação de um líder como um processo de vida é um convite à submissão. Submissão à ação de Deus em nossas vidas. Rendição nas suas mãos soberanas e graciosas que nos conduzem a pastos verdejantes e águas tranquilas. Somente quando percebemos Deus em nossas vidas e confiamos em seu caráter é que podemos, de fato, nos submeter integralmente a ele, à sua vontade e à sua missão. Diante disso, liderar torna-se a arte de usar as capacidades dadas por Deus para influenciar um grupo específico de pessoas na direção dos propósitos de Deus para suas vidas. 


Peneirando líderes, formando pastores: Ricardo Barbosa de Sousa – As igrejas estão mais organizadas. Professores de escola dominical são mais bem preparados e contam com material didático de última geração. Os líderes leigos trazem em sua bagagem um sofisticado preparo profissional que colocam a serviço da igreja. Pastores com cursos de comunicação se apresentam impecáveis, com seus ternos bem talhados, voz empostada e movimentos ensaiados. Televisão, rádio, websites, marketing, tudo isso e muito mais está sendo usado pela nova liderança. Mas ainda falta alguma coisa. 

O que falta não me parece ser alguma nova técnica que ainda não foi incorporada ou algum curso que ainda se deva fazer. O grito das ovelhas é por pastores. A liderança que temos hoje, ou melhor, o modelo de líderes que temos buscado não está satisfazendo os anseios das almas das ovelhas de Jesus Cristo. Temos boa tecnologia, bons administradores, bons professores, excelentes gerentes que tocam a igreja... Mas não temos pastores. 

Pretendo aqui buscar um resgate da figura do pastor, daquilo que entendo seja a vocação pastoral. Reconheço que os pastores são líderes; apenas quero protestar contra um modelo de liderança que considero nocivo, talvez até letal para a igreja. Mesmo que a palavra “líder” não seja mais adequada para a definição da vocação pastoral, ela já foi incorporada em nosso vocabulário. Vou usá-la e, ao mesmo tempo, criticá-la. Vou empregá-la para referir-me a um modelo bíblico de liderança, mas vou usá-la também para criticar os modelos que corrompem nossas heranças mais antigas. Algumas vezes vou usar a palavra “líder” como oposição ao “pastor”. Isso não significa que pretendo abolir seu uso, apenas dar a ela um significado mais claro no contexto da igreja e da vocação pastoral. 


Diaconia da liderança: Carlos Queiroz – Conheço mais servos que são líderes do que líderes servos. Pouca literatura é dedicada aos servos. Estou escrevendo aos servos. Meu propósito é animar as pessoas comuns a assumirem a naturalidade e potencialidade de liderança que possuem. 

Compreendo a liderança como a arte de inspirar e apoiar pessoas tendo como fundamento a conquista da confiança dos outros, assumo, com deslumbramento, ainda que sem nenhuma conotação religiosa, o exemplo de serviço de Jesus Cristo de Nazaré. Ele identifica-se como servo – “eu vim para servir e não para ser servido” (cf. Mt 20.28; Mc 10.45). A liderança era mais uma das formas de serviço que ele oferecia aos seus seguidores. Ele não era um líder servidor. Ele era um servo que fazia da liderança uma de suas maneiras de servir. Há pessoas com sérias suspeitas e reservas com o cristianismo e sobre a incoerência das instituições cristãs; mas, nem mesmo os opositores do cristianismo conseguem construir suspeitas confiáveis sobre os extraordinários serviços de Jesus Cristo de Nazaré prestados à humanidade. 

Imitar Cristo continua sendo a opção de todo cristão comprometido: andar como ele andou, imitá-lo em tudo. Como ele mesmo disse: “... aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração...” (Mt 11.29). E ainda: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20.21). Sua encarnação foi mais do que um milagre teológico, foi uma opção antropológica. E junto com o seu jeito de ser gente, Jesus protagonizou um novo estilo de vida, um modelo estratégico de liderança. Jesus exerceu sua missão, amando todos. Escandalizou muita gente por conviver com publicanos e pecadores (Lc 15.1s), esteve entre os marginalizados e desprezados pela sociedade. 


Seguir o modelo de Jesus na liderança transcultural: Antonia Leonora van der Meer – Jesus Cristo é o nosso modelo missionário. Ele nos envia assim como o Pai o enviou (Jo 20.21; 17.18); isto é: com as mesmas atitudes, qualidades, disposição à renúncia e à identificação com aqueles a quem somos enviados. Parece que hoje o sucesso, também no contexto evangélico, é avaliado em termos de números, não só é primeiramente convertidos, ou “adeptos”, mas da conta bancária, do dinheiro investido, do estilo de vida digno de homens e mulheres “bem-sucedidos” aos do mundo. Já não se pensa que é desejável humilhar-se, adotar um estilo de vida simples para identificar-se a manipular o nosso destino. Somos, antes, desafiados a aprender, pela fé, a manipular o nosso destino, inclusive Deus, e assim também tornar-nos pessoas “de grife”. 

Qualidades essenciais que marcaram a vida de Jesus e, por isso devem caracterizar seus enviados são a mansidão e a benignidade de Cristo (2 Co 10.1). Em outras palavras: a humilde sensibilidade do amor de Cristo. O que tem marcado nossa vida como missionários? Precisamos dessa mesma sensibilidade humilde para poder ouvir com amor, para poder compreender melhor a cultura do povo ao qual fomos enviados. Achar que nós temos todas as respostas e que nosso único papel é o de ensinar é uma ignorância arrogante. Devemos respeitar as pessoas e sua cultura e não assumir um papel de superioridade. Essa sensibilidade humilde também significa levar a sério os temores e frustrações deles, seus sofrimentos e preocupações, sua fome, pobreza, falta de esperança e opressão, aprendendo a chorar com os que choram. 

Também devemos reconhecer humildemente que, apesar de todo o nosso treinamento, há muitas coisas que os cristãos nacionais podem fazer melhor do que nós: evangelizar, plantar igrejas, traduzir as Escrituras, aconselhar. Por isso nosso papel será sempre o de “andaimes”, permitindo que o edifício da igreja cresça naquele contexto, enquanto nosso papel é importante, mas passageiro. Os missionários são necessários até que o edifício seja formado. 


A liderança cristã e a tendência narcisista: James Houston – Foi no principio do século 20 que o conceito de “personalidade” começou a circular no novo meio cinematográfico. Imaginava-se que a “personalidade” era constituída das qualidades que caracterizavam as pessoas famosas nesse novo ramo do entretenimento. Esses eram os “astros” que se destacavam na multidão: narcisistas, obcecados por chamar atenção para si, descaradamente centrados apenas neles mesmos. Ainda que não o fossem em sua vida particular, a indústria cinematográfica assim os projetava. Esses astros era escolhidos por sua boa aparência, seu carisma e charme, sua sensualidade, e outras formas de magnetismo que lhes permitiam atrair a atenção para si. 

A última manobra do ego talvez seja o cultivo do narcisismo espiritual, que pode ser definido como o uso inconsciente da prática, bem como da experiência e do discernimento espiritual, para aumentar ao invés de reduzir sua própria importância. Trata-se de uma distorção sutil em que o ego associa a autoimagem como o “tentar ser santo” ou, ainda pior, com o “ter se tornado santo”. Nessas circunstâncias, a busca espiritual passar a ser um processo de autoengrandecimento, em vez de uma “jornada de aprofundamento da humildade”. Em lugar de se viver sob “os benefícios de Cristo”, como Calvino o descreveu, a vida religiosa se transforma em autopromoção. Na prática, narcisismo espiritual significa assumir a responsabilidade pessoal de ser seu próprio Salvador, de ser a força que move e molda a própria espiritualidade. Pode significar também que a pessoa acredita que Deus a escolheu especialmente para ter habilidades excepcionais e fazer coisas especiais para Deus. 

O narcisismo, portanto, constitui um sintoma de uma cultura moribunda, na qual o ascetismo tradicional é substituído por uma cultura terapêutica indulgente e o tipo de personalidade que passa a dominar é o do homem autoindulgente, exibicionista, sensual e movido pelas aparências externas. 


Dores e sofrimentos de homens e mulheres de Deus: Marisa Drews – O meu caminhar dos últimos anos, o rachar dos muros, o desmoronamento e a reconstrução têm me ajudado a refletir sobre o quanto algumas patologias podem intensificar dores e sofrimentos de homens e mulheres de Deus, principalmente se estiverem camufladas com ensinamentos bíblicos, podendo tornar-se padrões neuróticos de comportamentos disfarçados de espiritualidade. Como líderes, corremos o risco de justificar neuroses por meio da Bíblia, legitimando padrões comportamentais nocivos para a vida pessoal, familiar e da igreja. Exigências, cobranças e estereótipos às vezes vão muito além do que o próprio Deus requer em sua Palavra. Neuroses e, em alguns casos, até mesmo psicoses e transtornos de personalidade, são disfarçados em ensinamentos bíblicos e adotados como padrões de espiritualidade. 

Cada vez mais vemos pastores e líderes dedicados quase exclusivamente ao público, orientando e dirigindo grandes massas, mas não conseguindo orientar suas próprias vidas e famílias, que acabam despedaçadas, e muitas vezes responsabilizam a igreja ou os membros por suas angústias e dores. Muitos precisam culpar a igreja, a sociedade, seus pais ou, até mesmo, Deus por seus problemas e dificuldades, como forma de fugir de sua própria responsabilidade. 

Homens e mulheres de Deus não se dão conta da brevidade da vida, não celebram, arrastam-se com fardos pesados em seus corpos, sua alma e seu espírito. Movem-se com amarras em seus pescoços, que os aprisionam, sufocam e atormentam. A vida torna-se uma batalha, não se dão conta de que seus maiores inimigos podem estar dentro de si mesmos quando racionalizam tudo e todos, como se pudessem ser amigos apenas daqueles que comungam dos mesmo ideais. Muitos parecem meninos mimados que não cresceram por Dentro. Não desistem das coisas próprias de meninos. Sofrem muito porque não conseguem conviver com o diferente, parecem lutar contra moinhos de vento, tal qual Dom Quixote, sem se darem conta do que acontece dentro de si. 


A busca por um estilo de liderança (Avaliando a própria história): Lyndon de Araújo Santos – Um dos desafios do pastoreio, hoje, é o de integrar a cidadania à vocação. Para isso, entre outras coisas, precisa conciliar rigor com versatilidade. O rigor, com a piedade, o estudo, a ética e o tempo, deve juntar-se à criatividade, à objetividade e à simplicidade de vida. As estratégias ficam por conta da criatividade acima referida e, sobretudo, da assistência e da capacitação de Deus (Lc 12.11). A criatividade latina e brasileira dispensa a avidez pela importação de modelos. 

A lucidez paulina acerca das esferas demarcadas por Deus para a sua atuação ministerial (2 Co 10.13-18) deve inspirar cada um de nós chamados para pastorear gente. Junto com esta definição ministerial, a compaixão pelas multidões nunca deve curvar-se ante o pragmatismo de resultados estatísticos, essa idolatria moderna que penetrou na mentalidade dos evangélicos e nos leva a um espírito de concorrência que não faz parte do Reino de Deus. 

Em uma avaliação final e pessoal, ser um pastor-cidadão aponta para a direção e a prática de um ministério relevante e profético. Irmãos e irmãs que são profissionais poderão também viver sua presença na sociedade com a mesma visão. Um ministério que, tal como tantos outros, terá desdobramentos que o tempo e a soberania de Deus determinarão. 


E a família do líder, como fica? Carlos Catito – Quando pensamos nas várias faces que envolvem um modelo de liderança cristã, não podemos deixar de refletir sobre o contexto relacional mais próximo na vida do líder, que é a sua família, imediatamente nos lembramos do texto bíblico que instrui que o líder: ... governe bem a própria casa, criando os filhos sob a disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?) (1 Tm 3.4s). 

A família é, então, o espaço prioritário no qual a liderança é desenvolvida e aprimorada. Se nos mostrarmos falhos e incompetentes, à luz do próprio Evangelho, no pequeno núcleo familiar, com certeza falharemos em proporções muito maiores diante de um rebanho maior e causaremos vergonha ao Reino. Por isso é tão importante governar bem a própria casa! 

Chegamos ao final deste livro dentro daquela perspectiva que os editores escreveram, de que este livro é uma proposta de agenda de discussão para refletirmos sobre os novos paradigmas da liderança na época em que vivemos. 


______________________
RECOMENDO!
Este livro poderá ser adquirido na Editora Esperança no link
https://www.editoraesperanca.com.br/loja/nova-lideranca?search=nova%20lideran%C3%A7a

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

TEOLOGIA DO ACONSELHAMENTO CRISTÃO [Resenha]



ADAMS, Jay E. Teologia do Aconselhamento Bíblico – Mais que Redenção. Eusébio, CE. Editora Peregrino, 2016. 


O livro possui além do prefácio, introdução e conclusão, 23 capítulos divididos em 7 partes. Cada uma dessas parte fala sobre uma doutrina especifica dentro da Teologia Sistemática com o propósito de mostrar o relacionamento entre aconselhamento e teologia e o que o aconselhamento não pode ser feito sem compromissos teológicos. Jay Adams escreve: “Todo ato, toda palavra (ou a falta destes) implica em compromissos teológicos. O Estudo teológico leva a implicações no aconselhamento. A tentativa de separar os dois não deve ser feita; teologia e aconselhamento não podem ser separados sem grande prejuízo para ambos. A separação é tão antinatural (e perigosa) quanto a separação entre o espírito e o corpo. Parafraseando Tiago, podemos dizer que o aconselhamento sem teologia é morto” [p.32]. 

As doutrinas especificas são: 
1) Doutrina das Escrituras: Revelação Especial. 
2) A Doutrina de Deus – O nome de Deus, Oração e Trindade. 
3) A Doutrina do Homem – Vida, pecados, hábitos e pensamentos. 
4) A Doutrina da Salvação – Perdão e Redenção. 
5) A Doutrina da santificação – Novidade de Vida, Fruto do Espírito, amputação radical, Perseverança e sofrimento. 
6) A Doutrina da Igreja – Novos convertidos, Disciplina e obras de misericórdia. 
7) A Doutrina das coisas futuras – Morte e julgamento. 

A Bíblia é a base para o aconselhamento cristão por causa de tudo que representa, ou do que está envolvido no aconselhamento (mudança de vida a partir da mudança de valores, crenças, relacionamentos, atitudes, comportamentos). A própria Bíblia nos oferece princípios para o entendimento e engajamento no aconselhamento noutético e orienta os ministros cristãos a tornarem esse tipo de aconselhamento uma parte da vida de seu chamado para o ministério da Palavra (embora outros cristãos devem igualmente aconselhar, sempre que Deus lhes conceder oportunidade). 

Esta será uma resenha descritiva e iremos trabalhar cada parte aqui citada e faremos todas citações necessárias desta excelente obra. 

O Capítulo 1 tem como tema A necessidade de Teologia no Aconselhamento. Jay Adams faz uma afirmação interessante. “Desde o início da criação, o gênero humano dependeu de aconselhamento. O homem foi criado como ser cuja própria existência deriva e depende de um Criador, a quem deve reconhecer como tal e de quem deve obter sabedoria e conhecimento por meio de revelação. O propósito e significado da vida humana, bem como de sua existência, é derivado e dependente. Nada poderá ele encontrar deste significado em si mesmo. O homem não é autônomo” [p.15]. 

O ser humano foi criado moral e fisicamente bom. “Mas algo aconteceu, resultando na miséria da raça humana: O homem deu as costas ao conselho de Deus e abraçou o conselho de satanás. Fazendo isto, Adão tentou tornar-se independente de Deus, afirmando sua própria autonomia. Contudo, a rebelião adâmica apenas apontou a futilidade de qualquer tentativa de autonomia humana. Confusão e angústia foi o resultado, a humanidade tornou-se sujeita ao medo, a ignorância e morte. Ao seguir o conselho de satanás, ele perdeu sua liberdade, a capacidade de fazer o bem e de seguir o bom conselho de Deus. Tornou-se escravo do pecado e de Satanás” [p.19]. 

Esta verdade teológica é uma refutação contra o existencialismo e o relativismo fundamentado nos falsos ensinos de Freud (que afirma que o homem não é responsável pelo seu pecado), de Carl Rogers (de que o homem é essencialmente bom e não necessita de ajuda externa), ou até mesmo de Skinner (o homem não passa de um animal, sem valor intrínseco, sem liberdade ou dignidade). Tais ensinos estão repletos de erros, falsidades e ensinos anticristãos com o objetivo de levar as pessoas a acreditarem que seus problemas podem ser solucionados sem Cristo. 

Jay Adams afirma que para apresentar uma solução a crise de angustia em que ser o humano está submetido, o conselheiro cristão deve ser radicalmente fervoroso no estudo das Escrituras e conclui: “Somente a teologia – uma dose verdadeiramente abrangente de teologia sistemática, bíblica, exegética – pode mudar esta situação” [p.26] 

O Capítulo 2 Jay Adams trabalha os conceitos de Teologia e Aconselhamento. Para o autor “em sua forma mais simples, teologia não é nada mais, nada menos, do que um entendimento sistemático do que ensinam as Escrituras sobre vários assuntos. Teologia é a tentativa de examinar uma determinada doutrina (ou ensino) à luz de tudo que diz sobre aquela doutrina” [p.27]. 

Para o conselheiro é de fundamental importância entender tudo que dizem as Escrituras sobre determinado tópico, a fim de oferecer direcionamento completamente bíblico aos seus consulentes, uma vez que seu conselho depende dos princípios bíblicos. Portanto, todo aconselhamento, por natureza (por tentar explicar e direcionar os seres humanos em seu viver diante de Deus e diante de seus semelhantes num mundo caído) implica compromissos teológicos por parte do conselheiro. Este, simplesmente não pode envolver-se na tarefa de mudar crenças, valores, atitudes, relacionamentos e comportamentos, sem que mergulhe fundo nas águas da teologia. 

Jay Adams, conclui esse capítulo afirmando: “O relacionamento entre aconselhamento e teologia é orgânico; o aconselhamento não pode ser feito sem compromissos teológicos. Por outro lado, o estudo teológico leva a implicações no aconselhamento. A tentativa de separar os dois não deve ser feita; teologia e aconselhamento não podem ser separados sem grande prejuízo para ambos” [p.32]. 

O Capítulo 3 é o único que constitui a primeira parte deste livro como título A Doutrina das Escrituras e trabalha o Aconselhamento e a Revelação Especial e é apresentado o relacionamento entre determinados aspectos da doutrina das Escrituras para o ministério de aconselhamento. Jesus é o perfeito Conselheiro, como descrevem as Escrituras, sem uso da psicologia e psiquiatria clínicas, dos quais afirmam os descrentes (e muitos crentes que os seguem) são essenciais ao aconselhamento eficaz. As Escrituras é tratada como “conselheiro”. Não é de admirar, portanto, que Davi (Sl 119.24) se refira à palavra de Deus como seu “conselheiro”. Além disso, ao contrastar o que aprendera com a sabedoria humana, ele declara que o conselho das Escrituras p fizera mais sábio do que todos os seus mestres (Sl 119.99). Jay Adams escreve: “O fundamentado num livro como a Bíblia, confere uma nota de autoridade ao aconselhamento. Quando confrontado com propostas descaradas de pecado (“posso deixar minha esposa por outra mulher?”), quando questionado sobre comportamento (“Devo pagar impostos injustos?”), etc., o conselheiro cristão pode dar uma resposta inequívoca, porque não se fundamenta em sua própria opinião a partir das probabilidades das consequências, a partir da conveniência ou de qualquer outro padrão relativo, mas no mandamento do Deus vivo, que tem falado” [p.37]. O Deus “Único,” o “Conselheiro” (Is 9.6) é simplesmente isto: “único” (este é o significado real da palavra “maravilhoso” no texto de Isaías). Diluir a alternativa cristã com adições de Freud, Rogers, Maslow, Harris, mesmo as visões especulativas de quaisquer outros pensadores não-bíblico da área, portanto, é enfraquecer o poder de testemunho da igreja de Cristo. O testemunho de Cristo deve ser mantido único, como o foi nos dias quando ele andou entre os homens (nenhum traço de ecletismo pode ser encontrado em suas palavras e obras) [p.43]. 

Jay Adams conclui esse capítulo, dizendo que: A escritura tem o poder de transformar, tanto nosso status diante de Deus (justificação), quanto nosso estado (santificação). Não de se admirar, portanto, que Satanás dedique tanto esforço e empenho para destruir e desacreditar as Escrituras. Ele direciona seus ataques à fonte de toda piedade. Na medida em que for biblicamente fundamentado, o aconselhamento tem o poder de produzir piedade; na medida em que a Escritura é ignorada (ou diluída em mistura eclética) ele perde seu poder. É por isso que o aconselhamento cristão pode (naturalmente) ser chamado de aconselhamento bíblico [p.61]. 


A segunda parte deste livro intitulado A Doutrina de Deus é constituído por 4 capítulos (4, 5, 6, e 7). Nestes 4 capítulos, os assuntos abordados são: a existência de Deus, a justiça de Deus, o nome de Deus, Trindade e oração. 

(1) A existência de Deus – Deus existe; portanto, o aconselhamento piedoso deve existir. Este aconselhamento põe Deus no centro; ele não desviará de Deus, do início ao fim. Deus é o seu objetivo. Seu propósito é honrá-lo e levar os consulentes a um relacionamento mais profundo com ele. O aconselhamento bíblico reconhecerá Deus como autor de seus princípios. Será, portanto, um sistema orientado por Deus, derivado de sua revelação a respeito do mundo, do homem, de si mesmo [p.89]. 

Diante, da situação do homem. Deus é o único que possui todas as respostas, pode comunicar-nos todas elas e nos capacitar a entendê-las e viver segundo cada uma delas. 

No aconselhamento, além de se fundamentar na existência de Deus, também há um outro fator (2) A justiça de Deus – Diferente do que os consulentes gostariam de ouvir, a justiça de Deus nem sempre se manifesta imediatamente. A injustiça parece prevalecer por algum tempo. É verdade que os pecadores semeiam as sementes de sua própria destruição, mas, como diz o salmista, por um tempo eles florescem e vicejam “qual árvore frondosa. Durante esse tempo de prosperidade dos ímpios, o desequilíbrio das escalas não é nada fácil de suportar por parte dos justos. 

Jay Adams escreve: Todo povo de Deus precisa prender esta verdade. Consulentes não conseguem esperar pela justiça. O desejo de tornar isento de problemas pode ser o erro de alguns. Portanto, os conselheiros devem estar prontos a usarem as exortações dos Salmos (37 e 73) no aconselhamento. Quando um consulente nos diz: “Isto não é justo!” Ele deve ser conscientizado da seriedade de sua acusação; ele está desafiando a justiça de Deus e a fidelidade de sua Palavra. Ademais, está exibindo uma clara falta de fé [p.83]. 

Em seguida temos a questão da (3) Trindade que parece ser área da doutrina a despertar mais especulação entre os consulentes. Eles geralmente se confundem com os vários aspectos dessa doutrina. 

Jay Adams escreve: Portanto, toda especulação a respeito de fatos não-revelados deve ser desmerecida e explicada como proibida (Deus não revelou, por exemplo, como ele pode ser três e um, como as duas naturezas, humana e terrena, de Cristo, interagem, etc.). Mas, ao contrário, Deus revelou fatos a respeito da Trindade, com suas aplicações práticas, que devem ser enfatizados. É importante substituir a especulação pela aplicação prática [p.83]. 

Em seguida, ainda falando sobre Deus, a ênfase recai sobre (4) os nomes de Deus. O próprio Deus não somente revelou algo a respeito de sua natureza e caráter através de seus nomes, como também pelo seu Espírito levou seus servos a relatarem os nomes que eles usaram a respeito de Deus para expressarem sua gratidão pelo que ele havia feito por eles.

Jay Adams se pronuncia: Isto é também de grande importância para os consulentes, especialmente por que eles se desenvolvem através das circunstâncias nas quais o povo de Deus experimenta a fidelidade de Deus. É extremamente importante compreender que estes nomes também são uma revelação de Deus – dada mediata, não imediatamente – mas, no entanto, nomes que Deus destina a serem reveladores de si mesmo. Foi ele, pelo Espírito, que supervisionou o relato desses nomes para o nosso encorajamento [p.90]. 

O último aspecto teológico deste capítulo é a (5) oração. A oração ocupa um lugar central no aconselhamento cristão, tanto para o conselheiro quanto para o consulente. Qualquer aconselhamento que não seja baseado no entendimento de que é somente o poder de Deus que transforma o consulente, se constitui essencialmente não cristão. Portanto, a oração deve ter o lugar de proeminência, pois tanto conselheiro como consulente devem buscar o auxílio divino, ambos dependendo de Deus para recebe-lo. 

Depois de mostrar a importância da oração no aconselhamento, Jay Adams desenvolve uma teologia da oração e faz a seguinte afirmação: Quero desenvolver uma doutrina que tem sido omitida no estudo da teologia sistemática (a despeito de sua importância e de nossa incompetência para busca-la), a doutrina da qual estou falando é a oração [p.95-96]. 

Esta teologia da oração, que ele mesmo denomina-o de Doutrina Cristã da Oração é desenvolvida nas páginas 103 a 127 e conclui: esta é a razão pela qual a oração, o crescimento no estudo bíblico, são tão cruciais para nossas vidas e também porque a discussão destas áreas se faz tão importante para o aconselhamento. Adão andava e falava com Deus na viração do dia. O pecado destruiu aquela comunhão. Em Cristo aquele relacionamento é restaurado, para os que nele confiam (1 Jo 1). A oração agora se constitui uma parte significante da maneira pela qual o cristão desenvolve um contato íntimo com seu ambiente. Fora das Escrituras (nas quais Deus fala ao homem) e da oração (pela qual o homem fala com Deus), o homem perde o contato com a realidade [p.127-128]. 


A terceira parte deste livro intitulado A Doutrina do Homem é constituído por 4 capítulos (8, 9, 10, e 11). Nestes 4 capítulos, os assuntos abordados são: 

(1) Humanismo – Jay Adams já começa dizendo que talvez a área mais significativa para o conselheiro, seja o estudo dos seres humanos, pois vivemos numa atmosfera completamente humanista. Contudo, o aconselhamento cristão tem falhado no que diz respeito à antropologia por duas razões primárias: primeiro, a ascensão do humanismo no pensamento modero e segundo, por que tal aconselhamento tende a focar nos seres humanos, oferecendo auxilio na tentativa de operar neles mudanças. O que o conselheiro cristão precisa levar em conta que o humanismo é um problema sério porque coloca os seres humanos num lugar devido somente a Deus. O homem se torna a medida de todas as coisas. É aqui que se faz necessário estudos teológicos, praticamente orientados para o aconselhamento. Estes estudos não devem só martelar as verdades do ensino bíblico a respeito da vida humana, mas também expor todas as implicações de cada uma delas para o aconselhamento. O conselheiro cristão a considerar a personalidade humana, ele sabe o lodaçal na qual foi mergulhada pelo pecado e do que Deus tem feito por ela em Cristo. 

O segundo assunto desta terceira parte mostra o porquê que o aconselhamento preventivo existe, o (2) Pecado humano. A consideração do pecado e de seus efeitos sobre o ser humano, bem como as implicações disto no aconselhamento trata-se de um enorme desafio. Os DESAFIOS existem quando começa-se com (a) corrupção. Jay Adams escreve: A Bíblia ensina que pelo pecado de Adão a raça humana tornou-se culpada e corrupta. Esta corrupção (ou depravação, como a chamam os teólogos) é total. Mas quando falamos de total depravação devemos esclarecer que não estamos afirmando que todas as pessoas são tão más quanto o podem ser. Antes, a ideia subjacente à palavra total é a de que em todas as partes e aspectos de sua vida o homem é depravado – nenhuma área da vida humana escapa aos efeitos contaminadores do pecado [p.197]. 

Mas também é verdade que o homem nasce culpado. Como a (b) Culpa é a base para o sentimento de culpa (ou de sentimentos negativos como reação de uma consciência culpada – que é a real dinâmica envolvida) os cristãos devem reconhecer, que – escreve Jay Adams – a culpado pecado original (culpa que nasce representativamente do ato de transgressão de Adão) pode ser removida somente pelo perdão judicial, representativo em Cristo. A culpa do pecado real do cristão também deve ser tratada pelo perdão parental que Deus estende a todos os seus filhos em Cristo. Naturalmente, culpa (e sentimento de culpa) procedem de ambos [p.202].  

A (c) Miséria humana é o resultado do julgamento de Deus sobre o pecado do homem. Não havia miséria no jardim do Éden antes da queda, e toda dor, lamento, etc., serão eliminados no estado eterno (Ap21.4). Dor e tristeza e outras formas de miséria humana são resultados da maldição que veio sobre a humanidade após a queda. 

Falando sobre estes desafios, Jay Adams escreve: Conselheiros, portanto, devem estar teologicamente conscientes do problema do mal, prontos a lidarem com ele como Deus o faz e devem ajudar os consulentes a fazerem o mesmo. Quando a teologia do conselheiro é deficiente, ele caminhará com muita dificuldade. Ele comunicará suas próprias perplexidades e confusão ao consulente, que não precisa de mais confusão ou de encorajamento em sua rebeldia pecaminosa. É vital, portanto, que o conselheiro esteja totalmente compromissado com um entendimento bíblico do pecado. O maior auxílio que o conselheiro pode dar ao consulente é convencê-lo do fato de que por trás de todo sofrimento há um Deus bondoso que – para seus propósitos justos – permite tal sofrimento. Feito isto, p conselheiro pode mostrar ao consulente caminhos para entrar nas bênçãos do sofrimento, como fez Paulo [221-222]. 

O penúltimo assunto dentro da Doutrina do homem é a questão do (3) Hábitos. Este é um outro assunto, que na opinião de Jay Adams, livros de teologia sistemática raramente tratam desse assunto. Os hábitos ocupam boa parte do nosso cotidiano, e que a Escritura fala frequentemente acerca desses hábitos, são fatos que uma cuidadosa análise desses escritos confirma. Os efeitos do pecado sobre a capacidade humana de fazer as coisas por hábito é, portanto, uma questão importante para os conselheiros cristãos. Jay Adams conclui: Hábito – a capacidade de aprender a reagir inconscientemente, automaticamente e confortavelmente – é uma grande benção de Deus que tem sido mal utilizada por pecadores [p.224]. Portanto, o entendimento do ensino bíblico acerca do hábito é essencial para todo conselheiro cristão. 

O último tema da terceira parte deste livro é sobre como o pecado afeta o (4) Pensamento. A total depravação não significa que a pessoa seja tão má quanto possa ser (a graça comum de Deus restringe os pecadores de uma total manifestação de sua pecaminosidade potencial), mas, antes que todos os aspectos da pessoa foram afetados pelo pecado. Isso significa (naturalmente) que, dentre outras coisas, seus processos de pensamento, desarranjos podem ocorrer – e de fato ocorrem. Por conta do pecado de Adão – e do seu próprio pecado – seres humanos não pensam corretamente! Isto é um fato de total importância para o conselheiro considerar. Constantemente nas Escrituras, somos confrontados com o fato de que o pensamento humano pecaminoso é o reverso do pensamento de Deus. A forma pecaminosa de pensar do homem perverteu os valores bíblicos de tal forma que um sistema inteiro de inversão de valores pode ser desenvolvido e acolhido como opção por muitos. Nietzche, de fato, pensou assim explicitamente. Mas a ganância, a autoafirmação, a busca por ser o número um. 

Jay Adams escreveu: o aconselhamento bíblico leva a sério os efeitos do pecado no pensamento e nos processos de tomada de decisões. Pensamento e obediência são realmente inseparáveis. Conhecer a verdade não se trata de um processo neutro, “intelectual” (como muitos pensam), mas um fato moral que demanda decisões e compromissos com relação à vida. João 8.32 segue João 8.31: Conhecer a liberdade que a verdade traz é o resultado de conhecer e obedecer a palavra Daquele que é, Ele mesmo, a verdade [p.239]. 


A quarta parte deste livro intitulado A Doutrina da Salvação é constituído por 2 capítulos (12 e 13). Nestes 2 capítulos, os assuntos abordados são: 

(1) Redenção – Desde a eternidade deus planejou a salvação humana, escolhendo seu povo em Cristo “antes da fundação do mundo” (Ef 1.4). Jesus Cristo, o cordeiro de Deus para o sacrifício, morreu “por aqueles cujos nomes foram escritos” em seu “livro da vida antes da fundação do mundo” (Ap 13.8; 17.8). Pedro diz que “Ele foi conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo” para ser o Salvador, cujo “precioso sangue” seria derramado “como de cordeiro sem defeito e sem mácula” (1 Pe 1.19,20). E foi para o bem destas pessoas que Deus preparou bênçãos eternas por intermédio de Seu Filho “antes da fundação do mundo” (Mt 25.24). 

Jay Adams escreve: Portanto, a salvação foi planejada desde o princípio. Em todo tempo deus pretendeu demonstrar seu amor por meio de enviar Cristo. Seja como for que o conselheiro enxergue a salvação, é importante que ele a reconheça como parte do propósito eterno de Deus, que determinou que seu Filho deveria morrer. Esta determinação não foi feita depois do pecado ter entrado no mundo, mas antes da fundação do mundo – antes que houvesse o homem para pecar ou o mundo no qual ele pecaria [p.243-244]. Acrescenta ainda: O conselheiro cristão, portanto enxerga toda a história profética de Genesis 15 em diante – todo o sistema sacrificial no qual milhares de animais eram esfolados todos os tipos e figuras do período do Antigo Testamento, etc. – não como uma espécie de hesitação humana da parte de Israel em relação ao verdadeiro Deus e ao modo correto de adorá-lo, mas (antes) como uma parte essencial do desígnio de Deus de “conduzir muitos filhos à glória” (Hb 2.10. Aquele que foi o “autor da salvação deles” realizou tudo que o programa de Deus requereu para assegurar essa salvação [p.245]. 

Portanto, é importante reafirmar o fato de que é a salvação que torna o aconselhamento cristão possível; ela o fundamento para todo aconselhamento.  Jay Adams diz: Quando se faz o verdadeiro aconselhamento, quando se trabalha com pessoas salvas, capacitando-as a realizar mudanças, ao nível de profundidade que agrada a deus – é possível resolver qualquer problema real de aconselhamento. Tal segurança fundamenta-se no fato de que todos os recursos necessários para a mudança encontram-se disponíveis na Palavra e por intermédio do Espírito santo [p.247]. 

O próprio Deus é o Conselheiro que guia e direciona através de sua Palavra. O conselheiro cristão não está só; para sabedoria, princípios etc., ele depende, não de sua própria força, mas da vontade revelada, escrita, de Deus. O aconselhamento que não traz a convicção de ser bíblico é deficiente; o consulente deve ser convencido se suas decisões e ações estão realmente agradando a Deus. Não é bom que ele os veja meramente como expediente. 

O segundo assunto da quarta parte deste livro é o (2) Perdão. A maior necessidade do homem é de perdão. É muito fácil para o cristão esquecer o que significou pra ele vir a Cristo e ser perdoado. Mas, um senso vívido de ter sido perdoado é essencial para a devoção cristã; sem isto o cristão facilmente abandona o se “primeiro amor” (ap 2.4). Sem esta percepção, ele tende a perder a atitude de perdão em relação a outrem, que também é essencial ao viver cristão adequado, e ao tratamento de muitas dificuldades no aconselhamento. 

Jay Adams diz: É importante, portanto, aos conselheiros, aprenderem tudo que for possível a respeito do perdão; também devem dedicar tempo lembrando-se de como foram perdoados e relembrando aos consulentes o tremedal de lama do qual foram tirados. Conselheiros cristãos precisam aprender o que dizem as Escrituras sobre o perdão, devem conhecer o assunto com propriedade, dominando todo o campo com maestria, até estarem completamente familiarizados com ele. Devem também conhecer os aspectos exegéticos, teológicos e práticos desse assunto [p.255-256]. 

Em seguida, Jay Adams escreve sobre a linguagem e o significado e a base do perdão, o lugar e o propósito da culpa, arrependimento e confissão, conclui: Quando um consulente é perdoado por deus e pelos outros, mas reconhece que isto “não é o bastante”, ele está certo. O perdão não é apenas um fim; é também um novo começo. O perdão pode fechar as portas de certos relacionamentos, mas também faz nascer a possibilidade de novos. O perdão é um divisor de águas. Há verdadeiramente a necessidade de algo novo – mas não se trata de mais perdão (lembre-se, o perdão dá início a um novo relacionamento) [p.314-315]. 


A quinta parte deste livro intitulado A Doutrina da Santificação é constituído por 5 capítulos (14 e 18). Nestes 5 capítulos, os assuntos abordados são: 

(1) Novidade de Vida – O verdadeiro aconselhamento é feito num nível profundo; é um trabalho do Espírito santo, que envolve mudança interior. Esta mudança acontece no coração do ser humano regenerado como resposta favorável ao ministério da palavra em virtude de suas tendências de nova vida. 

Jay Adams escreveu: Santificação é a doutrina que descreve uma obra realizada não somente por deus diretamente, mas indiretamente, usando a agência do homem. Na conversão, pela sabedoria e poder do Espírito Santo, o homem se arrepende e crê (Deus o capacita para assim o fazer, pois sem ele efetivamente não o faria); na santificação, o homem crê e obedece (mas uma vez, Deus o capacita a assim fazer, pois sem isso ele não o faria) [p.320]. Portanto, um entendimento do processo de santificação com o aconselhamento é muito importante, pois mudança é levar o consulente a viver uma “novidade de vida” 

(2) Fruto do Espírito – A busca do fruto do Espírito no aconselhamento é uma prioridade. As características listadas – “amor, alegria, paz,” etc. – são todas qualidades que ambos, consulentes e a maioria dos conselheiros os consideraria desejáveis. Portanto, eles se tornam alvos a serem buscados pelos conselheiros cristãos em seu aconselhamento. Sendo eles vitais – e alvos são tão vitais – é essencial que todo conselheiro cristão entenda o significado básico de cada termo e saiba também como ele deve ser buscado. Conselheiros devem tentar preencher essas lacunas em seus consulentes, identificando fraquezas e forças, descrevendo cada qualidade em profundidade. Em poucas palavras, devem entender o fruto do Espírito em sua totalidade. 

Jay Adams escreve: A tarefa do conselheiro é orientar o consulente por meio de um estudo bíblico apropriado de cada uma das suas qualidades, mostrando a falta de outras rotas frequentemente tomadas por consulentes que falharam encorajando-o a perseverar na busca da piedade. Consulentes, via de regra buscam paz (ou amor, ou alegria, etc.) “imediatamente”. Eles querem usar truques e atalhos para atingirem seu objetivo. Conselheiros devem advertir contra estas tendências e ajudar no desenvolvimento (de modo claro e prático) das passagens bíblicas que apontam para método correto da busca, ao fim da qual, encontrar-se-á a qualidade desejada [p.344].  Durante todo este capítulo 15, é apresentado um quadro da vida e personalidade cristã. A busca destas qualidades pode mudar dramaticamente a vida do cristão. 

(3) Amputação radical – A santificação é um processo que tem a ver com o despojar de velhos hábitos de vida e com a aquisição de novos. Santificação é mudança de vida. Essa nova forma de pensar e de agir foi trazida ao crente na conversão. A pessoa verdadeiramente regenerada está mudando externamente (despojando-se de velhos padrões e adquirindo novos) por causa da mudança interior pela qual está passando. O termo santificação significa “separar” oi “por à parte”. Negativamente, é a separação do pecado, positivamente, para Deus. O regenerado é separado dos demais, único; especial para Deus. 

Santificação, Jay Adams considera que isso é uma amputação radical, definitiva e preventiva que pode tomar várias formas – romper relacionamentos com más influências (1Co 15.33) – observe a primeira expressão: “Não vos enganeis...”; consulentes constantemente enganam a si mesmos no pensamento de que não precisariam fazer isso), livra-se de material pornográfico, mudar de trabalho, etc. Mas, seja já o que for preciso fazer, uma ação radical e efetiva deve ser tomada, o que é essencial para a santificação [p.361]. 

(4) Perseverança – O nome da doutrina é Perseverança dos Santos; não “segurança eterna”, ou “uma vez salvos, salvos para sempre”. E por uma boa razão. As duas últimas alternativas são bastante verdadeiras, mas, perigosamente, elas enfatizam somente um lado da verdade. A frase “perseverança dos Santos”, enfatiza de modo pleno que é através de esforços envolvidos na santificação (santo é alguém que foi separado) que a pessoa permanece segura – não sem esforços. Porém, todas as pessoas verdadeiramente salvas, perseverarão. 

Jay Adams explica: é interessante notar que Deus continuamente admoesta os crentes à perseverarem (Mt 10.22; 24.13; Rm 2.7-8). Esta é uma nota que deve estar sempre nos lábios dos conselheiros. Ademais, muitos consulentes chegam ao consultório como pessoas derrotadas, esmagados sob o peso dos problemas. Os conselheiros devem afirmar com segurança que se essas pessoas são verdadeiramente filhos de Deus (propriedade de Deus), esse Deus se preocupa com seus problemas; Ele cuida, e os santos perseverarão; mais cedo ou mais tarde eles entenderão isto, de modo que poderão enfrentar seus problemas agora e sair de sua zona de autocomiseração (ou seja o que for) e começar a agir como santos. [p.366]. 

(5) Sofrimento – Conselheiros devem ter uma visão bíblica do sofrimento para instruir e ajudar seus consulentes. O problema tem sido muito difundido; todas as pessoas (uma hora ou outra) sofre, Consulentes, particularmente, reclamam do sofrimento pelo qual estão passando. De fato, de uma forma ou outra, é algum tipo de sofrimento que leva os consulentes ao lugar onde podem encontrar aconselhamento. O sofrimento pode ser o problema primário do aconselhamento – como lidar com isso; pode ser a complicação de um problema, ou pode ser simplesmente um sintoma. O sofrimento é universal porque a queda e seus efeitos são universais. Todo sofrimento deve ser associado ao pecado de Adão. Se ele, como nosso representante, não tivesse pecado, não haveria sofrimento algum. O sofrimento é resultado da maldição de Deus sobre Adão e sua posteridade. Mas, isto não significa que um sofrimento individual seja necessariamente resultado do pecado pessoal de cada indivíduo. 

Jay Adams diz: Um grande propósito (e uso) do sofrimento é o crescimento através das provações (1Pe 4.1). Aqueles que podem lidar com isso, que passam nos testes e, assim, crescem em conhecimento e força, são os que esperam tais coisas: “Queridos amigos, não se surpreendam como fogo ardente que está vindo em cima de vocês para testá-los, como se algo estranho estivesse acontecendo com você”. Alertar consulentes da possibilidade de testes futuros por meio de provações é muito importante. Um bom aconselhamento olha para frente e prepara os outros para o que possam encontrar no futuro. Só é possível olhar adiante para o futuro imediato quando primeiro se olha para o futuro último. 


A sexta parte deste livro intitulado A Doutrina da Igreja é constituído por 4 capítulos (19 e 22). Nestes 4 capítulos, os assuntos abordados são: 

(1) Igreja – Aconselhamento é obra da igreja. Quando a igreja realmente desenvolve uma forma bíblica de aconselhamento dentro de seu campo de interesse, não apenas muitos dos problemas encontrados nas sessões de aconselhamento diminuirão, como também um novo dia de aconselhamento preventivo. 

Jay Adams escreveu: “Deus tem dado (1) o ensino ordenado e os oficiais governantes (2) a tarefa de mudar as vidas das pessoas (3) através do ministério de autoridade da Palavra (2 Tm 3.15-17). Quando esta autoridade é exercida com propriedade (ou seja, biblicamente), Cristo promete estar “no meio” dando encorajamento, capacitando-nos com sabedoria e fornecendo o poder necessário (cf Mt 18.15-20). O aconselhamento, como pregação, é um ministério da Palavra, e portanto, uma parte integral do ministério do pastor [p.378-379]. 

(2) Novos Convertidos – Sempre houve problemas a respeito de como assimilar novos convertidos na igreja e de como ajuda-los em seu crescimento espiritual. Muitos convertidos em um ano ou dois anos param de crescer, e desenvolvem letargia e se tornam como a maioria dos membros veteranos da igreja – sem qualquer empolgação com sua fé. Por que? Muitas coisas podem contribuir para estes sintomas. Mas seguramente uma delas é a falha no aconselhamento adequado imediatamente após a conversão. 

Jay Adams escreve: A maior necessidade de um novo convertido é reconhecer que sua vida como um todo deve mudar. Cristo quer que ele seja diferente em todo seu viver. Devemos dizê-lo o que fazer, demonstrar com exemplos como tal mudança em cada área de sua vida deve ser feita, e estar preparados para ajudá-lo a fazer. Isto significa que toda congregação deve ter um plano e programa prático para realizar isto [p.382] 

(3) Disciplina - Jay Adams começa este capitulo (21) dizendo que é muito importante para o aconselhamento que eu aborde mais uma vez um assunto que (embora não pareça) é novo (ou possivelmente desconhecido) para muitas igrejas; estou falando da disciplina na igreja. Infelizmente, a falha e, disciplinar os membros da igreja soma-se a retirar ao prejuízo de retirar deles o privilégio de serem confrontados pelos outros crentes e pela igreja, quando erram na doutrina ou na vida. Este direito lhes foi dado por Cristo; não podemos privá-los disto [p.387]. 

Disciplina não é um processo no qual Deus se livra de pessoas problemáticas na igreja, como muitas pessoas pensam, embora isso possa acontecer eventualmente. Mas este não é o propósito da disciplina na igreja é trazer as pessoas de volta ao Senhor e promover condições de reconciliação entre irmãos. 

(4) Obras de Misericórdia – Jay Adams escreve: A obra de misericórdia na igreja de Cristo é a continuação da “boa obra” do Senhor. Mas, infelizmente, esta mesma obra tem sido negligenciada por muitas igrejas praticantes das Escrituras e raramente reconhecida pelas demais. Em termos de seguro social, seguro de vida, seguro médico. Etc., a tendência é dizer, “Isto é trabalho do governo”. Entretanto, o governo e as instituições pagãs não podem realizar a obra que Deus confiou à igreja para fazer. Pensar que quaisquer agências podem de fato substituir a igreja na realização desta tarefa é um grande equívoco. O gesto de oferecer um copo d’agua em nome de Cristo (o que significa ser acompanhado pelo ministério da palavra) jamais pode ser substituído por um copo d’agua oferecido em nome do governo! Viúvas e órfãos devem receber cuidados (“visitar” significa “cuidar”). É nossa obrigação “fazer o bem a todos (incluindo os descrentes), mas especialmente aos da família da fé (crentes)”, diz o apóstolo Paulo em Gálatas 6.10 [p.397]. 


A sétima e última parte deste livro tem como título A Doutrina das Últimas Coisas é constituído apenas de 2 capítulos (23 e 24). Nestes 2 capítulos, os assuntos abordados são: 

(1) Morte – “E assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez...” todos os seres humanos, com exceção dos crentes vivos ao tempo da segunda vida de Cristo, morrerão. Esta é a razão principal do grande interesse das pessoas no assunto da morte. Não é de admirar, portanto, que o movimento pseudocientífico de tanatologia, associados à Elizabeth Kubler Ross, Reymond Moody e Robert Monroe tenha atraído tanta atenção. O Conselheiro cristão deve analisar este movimento na perspectiva de (1) responder as perguntas dos consulentes, (2) advertir as pessoas que estão sendo influenciadas por esse movimento e (3) desenvolver sua própria abordagem bíblica desses assuntos [p.403]. 

(2) Julgamento – A Bíblia ensina que haverá um julgamento para todos, após a morte. A palavra “krino” (julgar) possui o conceito de separar uma coisa de outra. A palavra mais importante do Antigo Testamento para conceitua julgamento é shaphat (julgar), tem em sua raiz o significado da noção de retificar algo. Desse modo, o termo vem a significar uma correta avaliação. Isto parece ser o que está implícito na pergunta, “Não fará justiça o juiz de toda a terra?” Combinados todos estes significados, podemos afirmar com segurança, que inerente ao conceito de julgamento, está a ideia de justa avaliação, que leva a uma separação de elementos diferentes. 

O conselheiro cristão precisa ter noção exata das implicações do julgamento final. Jay Adams escreve: O valor do julgamento, portanto, encontra-se em distinguir, ou separa as coisas de maneira justa. É o que vemos. As ovelhas são separadas dos bodes. Varios graus de recompensa ou punição são alocados a cada um, respectivamente. Erros são corrigidos, mesas são viradas, o nome de Deus, seu Filho e seu povo são vindicados, a justiça de Deus é proclamada. [...] É o tempo de colheita, quando o trigo é separado do joio, quando os hipócritas são separados dos crentes sinceros, as boas obras separadas das obras mortas. Este é o julgamento. E as punições e recompensas são atribuídas com justiça por aquele que é onisciente, que julga todas as coisas de acordo com seu padrão publicamente declarado, a Bíblia [p.410]. 

Para concluir e transcrevo uma parte da introdução deste livro, que começa afirmando que a base do cristão para o aconselhamento e a base do aconselhamento cristão nada mais é, senão as Escrituras do Antigo e Novo Testamentos. A Bíblia é o livro texto de aconselhamento da igreja cristã. Por quê? Você pode perguntar, “Afinal de contas, os cristãos não se utilizam da Bíblia como base para outras atividades nas quais se engajam – como engenharia, arquitetura, música – por que, então, deveriam insistir em usar as Escrituras como base para o aconselhamento?” 

A resposta a essa pergunta é, ao mesmo tempo, simples e profunda (pois sua simplicidade não compromete a profundidade de suas implicações). A Bíblia se constitui a base para o aconselhamento cristão porque trata das mesmas questões abordadas no aconselhamento. Ela foi dada para ajudar a trazer os homens à fé salvadora em cristo e assim transformar os crentes à imagem do Filho de Deus (2 Tm 3.15-17). O Espírito Santo usa a Bíblia como um instrumento “adequado” que ele declara ter o “poder” de operar tal transformação. Em suma, é isto que estes versículos afirmam. 

Mas é preciso observar, também, que nestes versículos Deus se refere a esta vida transformada pela Palavra como “homem de Deus” (uma frase emprestada da designação do Antigo testamento para o profeta, usada nas epístolas pastorais para se dirigir ao ministro cristão). E, seja-me permitido repetir, o Espírito Santo declara enfaticamente que a Bíblia subsidia completamente o ministro para a realização desta obra. 

Portanto, sendo o aconselhamento – o processo de auxiliar outros a amarem a Deus e ao próximo – uma parte do ministério da palavra (assim como a pregação) é inconcebível usar qualquer texto (do mesmo modo que seria impensável usar outros textos na pregação) que não seja a Palavra de Deus. O ministro da Palavra deixa de o ser, quando se fundamenta em outro texto não seja a Palavra [p.13-14]