sábado, 7 de novembro de 2020

CRIME E CASTIGO [Resenha 160/20]


“Crime e Castigo”, romance escrito entre 1865 e 1866, traz, além de outras marcas, duas características essenciais. A primeira tem a ver com o contexto russo e europeu no qual o romance se inscreve (muito bem descrito pelo tradutor na apresentação da edição); a segunda tem a ver com a espiritualidade russa que permeia a obra do autor e que se aprofunda à medida que ele caminha em direção ao seu último grande romance “Os Irmãos Karamázov”.

O contexto russo e europeu da época é marcado pela agitação política de ideias. Dostoiévski, sempre envolvido nos debates à sua volta, enfrenta o que na época vai ser chamado na Rússia de niilismo (o romance “Os Demônios”, sua fenomenologia do mal, será dedicado inteiramente ao niilismo).

O niilismo, nesse contexto, é uma visão de mundo segundo a qual todos os valores são criados pelo próprio homem, e, portanto, carecem de fundamentação absoluta ou transcendente, e, por consequência, podem ser mudados ao sabor de quem tiver coragem, poder e gosto pela violência.

Na Rússia, esse movimento filosófico transcende um tanto o tom melancólico da origem alemã, para assumir uma fúria política que desaguará na Revolução Russa de 1917.

O jovem Raskólnikov, personagem principal, mata uma agiota, justificando seu ato filosoficamente como sendo o ato de um homem extraordinário, termo do próprio personagem. Homens extraordinários, na verdade um outro termo para um niilista livre da moral, criam a história e os valores que os ordinários (o resto da humanidade) seguem.

Esses ordinários vivem segundo o meio em que habitam, acreditando nas ficções morais criadas pelos extraordinários. A “teoria do meio”, de origem utilitarista, ética criada pelos ingleses Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873), que impactou o pensamento russo de então, entendia que a moral era produto do meio social e histórico, e, portanto, podia ser “ajustada” para um bem maior. Raskólnikov, como todo personagem de Dostoiévski que transita pelo niilismo da época, leva ao paroxismo as ideias revolucionárias de então: um homem extraordinário mata e vai ao cinema depois, porque não sente culpa, uma vez que sobre ele as ficções morais não têm validade psicológica. Qualquer relativista gourmet contemporâneo faria xixi nas calças diante de um niilista russo do século 19.

A dimensão espiritual do romance está ligada à descoberta que o herói faz ao longo da trama, acompanhado por Sônia, a prostituta santa, que carrega a luz do espírito santo sobre si: apenas a confissão do crime, e o castigo merecido, podem trazê-lo de volta a vida. Como um Lázaro, Raskólnikov, pelas mãos da culpa assumida, descobre que não há homens extraordinários, mas apenas um nada por detrás da tentativa de romper com Deus e com a moral. Dostoiévski é a prova cabal de que a fé não nos torna incapazes para o pensamento.
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DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Crime e Castigo. São Paulo, SP: Editora Martin Claret, 2013. 591p


Créditos
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/05/crime-e-castigo-prova-que-a-fe-nao-nos-deixa-incapazes-de-pensar.shtml

LÁGRIMAS DE ESPERANÇA [Resenha 159/20]


A vida é marcada pelo sofrimento. Ele está presente quando uma mulher dá à luz, quando lutamos para suprir necessidades e superar as frustrações ao longo da vida e, no fim de tudo, quando nos despedimos deste mundo e daqueles que tanto amamos. Por mais que seja difícil admitir, boa parte do nosso sofrimento é inevitável e inexplicável. Inevitável por vivermos em um mundo caído e corrompido. Inexplicável por nem sempre sermos capazes de discernir os mistérios da providência divina.

Todavia, existe uma parcela significativa de sofrimento que é tanto explicável quanto evitável, pois resulta do pecado e da responsabilidade humana. Essa foi a razão da queda de Jerusalém e do Templo cerca de 600 anos antes de Cristo, fato que levou o profeta Jeremias a escrever o livro de Lamentações, no qual pondera sobre o sofrimento e suas razões.

Abordando um dos livros mais dramáticos do Antigo Testamento, Lamentações de Jeremias, que registra a captura de Jerusalém pelos babilônios, o autor traz para a nossa geração uma mensagem de fé e esperança no Deus que tem o controle da história. O livro de Lamentações é uma contundente exortação quanto à vileza do pecado e suas terríveis consequências. O profeta lamenta o sofrimento da nação rebelde, mas também confia em Deus, cuja misericórdia é a fonte da verdadeira esperança.

Em Lágrimas de esperança — mais um volume da série A Mensagem da Bíblia para a Igreja de Hoje —, John McAlister expõe, versículo a versículo, o relato de Jeremias acerca de um dos períodos mais tristes da história do povo de Deus e mostra como as palavras do profeta ainda ecoam até os dias de hoje. Ao longo deste livro, somos levados a entender que a esperança, e não o desespero, é a mensagem central de Lamentações. E essa esperança está naquele que passou por todo tipo de sofrimento na cruz para transformar nosso sofrimento em louvor. “Bom é ter esperança e aguardar tranquilo a salvação do Senhor” (Lm 3.26).

Além dos agradecimentos, prefácio e considerações finais, lo livro possui quatro capítulos, onde o autor é rigorosamente evangélico em sua exegese e relevante da perspectiva cultural. Portanto, é cristocêntrico em sua interpretação e aplicação de Lamentações.

O livro é recomendável por três razões fundamentais: o autor conseguiu apreender a mensagem central de Lamentações e transmiti-la com fidelidade e clareza. Ele presta um importante serviço à igreja, uma vez que resgata o significado de palavras chave como “pecado” e “ira”, “angústia” e “sofrimento”, “misericórdia” e “esperança”. O livro também cumpre uma função pastoral, fazendo preciosas aplicações que serão úteis para o crescimento espiritual dos leitores. Seja Deus glorificado e sua igreja edificada por meio desse livro.
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MCALISTER, John. Lágrimas de esperança: A mensagem de lamentações para a igreja de hoje. São Paulo, SP: Vida Nova, 2020. 96p.

O CÃO DOS BASKERVILLES [Resenha 158/20]


O Cão dos Baskervilles é uma das mais conhecidas histórias do famosíssimo detetive criado por Sir Arthur Conan Doyle (1859 – 1930), publicado entre 1901 e 1902, originalmente na revista Strand Magazine, que foi a responsável por popularizar o detetive Holmes. “Holmes surgiu pela primeira vez no romance Um Estudo em Vermelho, que Conan Doyle publicou em periódicos no ano de 1887 e que, ao longo dos anos, consagrou sua criação como um dos personagens detetivescos mais populares da literatura policial ao redor do mundo”.[1]

Este é um dos quatro romances narrados pelo o Doutor Watson sobre as aventuras do primeiro e único detetive consultor do mundo, Sherlock Holmes. A história começa de forma típica: Holmes e seu melhor amigo, dr. Watson, estão em sua casa quando recebem a visita de um novo cliente: o médico de um vilarejo do interior que deseja a opinião do detetive sobre a estranha morte de seu vizinho, Sir Charles Baskerville.

Uma terrível maldição pesa sobre os Baskerville na velha mansão de seus ancestrais, no meio de um pântano selvagem no interior da Inglaterra: quando um cão enorme e demoníaco, uma fera gigantesca e faiscante aparece, é morte certa para um membro da família. As circunstâncias dramáticas da morte repentina de Sir Charles Baskerville e os uivos aterrorizantes que vêm do pântano parecem confirmar essa maldição. Seria essa morte causada por um ser sobrenatural? Ou seria ela um macabro homicídio?

Henry Baskerville, o herdeiro de Sir Charles, volta do Canadá para tomar posse de seu título e de seus domínios. Ainda em Londres, recebe um bilhete anônimo: “Se você dá valor à sua vida ou à sua sanidade mental, deve se manter longe do pântano.” Apesar da ameaça e sem noção do terror que os espera, Sir Henry decide ir para a Mansão Baskerville, acompanhado por Watson, amigo e assistente de Sherlock Holmes encarregado pelo detetive de proteger o rapaz. Enquanto isso, Sherlock se empenha em resolver o enigma sem o conhecimento dos outro.

A narrativa apresenta diversos mistérios que se conectam no final de uma forma espetacular. Arthur impressiona a todos mais uma vez com sua história, é impossível não se encantar com o livro e ficar surpreso no meio de tantas revelações.
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DOYLE, Conan. As aventuras de Sherlock Holmes: O cão dos Baskervilles. São Paulo, SP: Editora Círculo do Livro, 1985.

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[1] https://garimpoliterario.wordpress.com/2016/03/18/resenha-o-cao-dos-baskerville-arthur-conan-doyle/

SOBRE OMBROS DE GIGANTES [Resenha 157/20]


A teologia histórica versa sobre o que os estudiosos, individual ou coletivamente, pensam a respeito dos ensinos da Bíblia, conforme os pronunciamentos dos concílios realizados pela Igreja do passado. Com tal, apresenta um depósito de sabedoria, um legado maravilhoso transmitido dos primeiros teólogos à igreja de hoje. Mostra como a Igreja estabeleceu tanto o que é verdadeiro quanto o que é errado e serve para guiar a teologia em seu próprio entendimento e declarações doutrinárias. Um estudante é capaz de chegar, de maneira mais eficiente, a suas próprias conclusões a respeito da verdade quando conhece as contribuições e os erros da história da Igreja.

Este volume fascinante trata da influência substantiva de grandes pensadores, apologistas e mártires, como Inácio, “alimento das feras”; o valente, suposto assassino e “anão negro” Atanásio; e o gigante amigo Aquino. Reeves sopra vida sobre homens mortos, com uma escrita histórica tão boa quanto possível – cheia de interesse, ardentemente relevante e inteiramente brilhante. O autor convida-nos a ouvir nossa história cristã e a aprender com ela, contando-a com vigor e humor. Ele nos apresenta grandes pensadores que enfrentaram questões e problemas impressionantes parecidos com os nossos e que encontraram nas Escrituras respostas sobre as quais nos faria bem refletir.

O livro possui além dos agradecimentos, sete capítulos. Cada capítulo é dedicado a um teólogo, começando por Martinho Lutero, João Calvino, John Owen, Jonathan Edwards, Friedrich Schleiermacher, Karl Barth e J. I. Packer. Cada capítulo começa com uma breve biografia e um pouco do pano de fundo, depois examina as principais obras de cada um dos teólogos, oferece uma cronologia do contexto histórico e termina com indicações de leituras complementares.
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REEVES, Michael. Sobre ombros de gigantes: Introdução aos grandes teólogos de Lutero a Packer. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2019. 244p. 

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

OS TRÊS MOSQUETEIROS [Resenha 156/20]


“Os Três Mosqueteiros” é o primeiro livro da série “capa-e-espada” e aventura que confere a Alexandre Dumas, escritor francês, fama internacional. Sua trama engenhosamente tecida, com muita ação, comicidade e erotismo, fizeram desta obra um sucesso instantâneo e secular. Consagrada como a obra mais importante de Alexandre Dumas originalmente publicada em 1844 em formato de folhetim, Os Três Mosqueteiros tem participação especial na composição da literatura mundial. Em um romance de capa e espada em que mistura de forma ritmada aventura, romance, ação e um toque de humor, é vivido em um século XVII conturbado e conflituoso entre França e Inglaterra com suas questões religiosas e culturais.

Essa romance conta as aventuras de quatro grandes heróis: Athos, Aramis, Porthos e D’artaghan – este último, aspirante a mosqueteiro – ambientado na França do século XVII, onde florescia o esplendor da corte, o sensacionalismo das intrigas políticas e o poderio econômico e cultural de uma época brilhante.

Através de um estilo de plena vitalidade, Dumas conseguiu suprir nesse romance as lacunas do conhecimento histórico que sua personalidade inquieta nunca lhe permitiu aprofundar. Para isso, inseriu alguns pormenores que faziam parte de seu cotidiano entre atrizes e conspirações, construindo assim uma “pintura fantasiosa” do cenário da França do século XVII.

De acordo com alguns historiadores, Dumas pretendia fazer de d’Artaghan um personagem secundário, cuja função seria introduzir os três mosqueteiros na história. Mas o personagem foi se desenvolvendo, tornando se uma figura atraente, a ponto de Dumas resolver “promove-lo” aos poucos, até ele atingir o posto tão sonhado de mosqueteiro. Contudo, o título original da narrativa não se alterou.

Os quatro são bem diferentes uns dos outros, mas são inseparáveis. Athos é ao mesmo tempo um homem sério e romântico, e constantemente está bebendo para esquecer a desilusão que teve no passado com Milady, a pérfida espiã a serviço do cardeal Richelieu. Porthos é alto, gordo e bondoso, facilmente maleável e não muito inteligente. Um mosqueteiro que vive dando em cima de mulheres comprometidas. Aramis é um homem que abandonou os estudos para ser padre tornando-se um mosqueteiro temporário. É astuto e generoso, que vê a vida como um jogo divertido, composto de amor, ação e preces. Ele se envolve apenas em assuntos que dizem respeito a sua espada, episódios sentimentais e à Igreja. Os quatro amigos acabam enfrentando diversos desafios e embarcam em algumas aventuras para defender o Rei e a Rainha da França das garras do perigoso Cardeal Richelieu e de sua espiã, a Milady ou Condessa de Winter.

Um outro personagem cativante é a Milady. No livro temos diversas mulheres com características que as tornam fortes e poderosas, sem precisarem ser objetivadas, ou mesmo empunhar uma espada e partir para o duelo, mas Milady pode ser considerada um marco nesse quesito. Munida de sua influência e beleza, ela é uma personagem única, pois é astuta e perspicaz como poucos e capaz das mais diversas manipulações para cumprir seus objetivos e salvar-se dos problemas. Ela é uma antagonista que rouba a cena sempre que aparece, a ponto de ter sua atenção quase todo o arco final da história.

As aventuras dos três mosqueteiros se estendem a outros dois livros do mesmo autor: “Vinte anos depois” (1845) e “O Visconde de Bagelonne”(1848). Os três mosqueteiros foram várias vezes adaptados para o cinema. Sua mais recente versão data de 1993 e conta com a direção de Stephen Herek, no elenco Chris O’Donnel no papel de D’Artagnan, Kiefer Sutherland como Athos, Charlie Sheen como Aramis e Oliver Platt como Porthos.
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DUMAS, Alexandre. Os Três Mosqueteiros. São Paulo, Circulo do Livro, 1995. 467p.

Créditos
https://www.infoescola.com/livros/os-tres-mosqueteiros-alexandre-dumas/
https://www.sagaliteraria.com.br/2018/03/resenha-438-os-tres-mosqueteiros.html
https://www.mundodoslivros.com/2016/02/resenha-especial-os-tres-mosqueteiros.html 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

O PAI NOSSO [Resenha 155/20]


“Ensina-nos a orar”, pediu um dos discípulos a Jesus. Este foi, talvez, o mais sábio de todo os pedidos jamais feito por qualquer dos seguidores de Cristo. Propiciou-nos uma resposta que, desde então, tem ensejado a reflexão dos cristãos em todos os tempos e levando muitos a preencher páginas de preciosos escritos sobre o que está implicado nela.

Pais da igreja, reformadores, puritanos, ortodoxos, neo-evangélicos e liberais tem se detido, ao longo do tempo, no estudo deste pequeno modelo de oração que encerra, com poucas palavras, a profundidade do conhecimento essencial àqueles que querem orar de modo adequado, segundo a vontade de Deus.

A presente obra mostra familiaridade com o que de melhor já se escreveu sobre o assunto. Rica em citações bibliográficas, perquiridora e profunda, apresentam com propriedades as opiniões mais importantes dessa variedade de autores. Mas faz muito mais. Oferece ao leitor um verdadeiro compêndio de doutrinas bíblicas. Afeito a longos anos de cátedra da Teologia Sistemática, o autor usa a oração do “Pai Nosso” como método para desenvolver seu estudo de alguns dos principais temas teológicos sobre Deus, o diabo, o homem, o pecado, o perdão, a obra redentora de Cristo, a santificação, as Escrituras e os sacramentos, dentre outros. Sua análise é cuidadosa, comprometida com a exegese bíblica e rica em citações das Escrituras e dos nossos credos, como convém à boa prática reformada.

Mas não pense o leitor ter em mãos apenas uma obra acadêmica. Este é também um livro prático e devocional, escrito por um pastor ao seu rebanho. Com próprio autor explica: “Este livro é resultado de uma série de pregações que fiz em minha antiga Igreja, Presbiteriana de Vila Guarani, São Paulo, Capital, nos cultos dominicais, no período de 17/11/91 a 19/09/93, com alguns pouco recessos de férias e viagens. O meu plano era expor o assunto no máximo em oito semanas, mas acabei por me envolver com o tema, considerando oportuno o seu estudo de modo um pouco mais detalhado para toda a Igreja”.

Portanto, a preocupação dominante é ensinar o crente a relacionar-se corretamente com Deus e, assim, a orar corretamente. Aplicações decorrentes da doutrina, advertências, apelos cristãos e até pequenas súplicas dão o tom pastoral do autor que, além do magistério teológico, exerce também o ministério da Palavra e do cuidado de almas.

O livro, além do prefácio e introdução, está dividido em três partes. Cada uma tem sua própria introdução e capítulos, tudo isto exposto em 319 páginas. Esta obra que muito contribuirá para um melhor conhecimento de Deus e do que ele requer de nós. Orar corretamente o “Pai Nosso” implica em conhecer a Deus, a nós mesmos e o nosso adversário, o diabo. Este livro certamente o levará a compreender estas implicações e o desafiará a encarar com mais seriedade seu relacionamento com Deus.
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COSTA, Herminsten Maria Pereira da. O Pai Nosso: temas teológicos analisados a partir da oração ensinada por Jesus. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2001. 319p.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

O ADVOGADO DO DIABO [Resenha 154/20]


Publicado originalmente em 1959, O advogado do diabo consagrou o australiano Morris West como um dos melhores escritores de sua geração. Cuida dos personagens. Introduz nuances psicológicas, problemas sociais, e, além disso, é um excelente observador da natureza humana, de suas frustrações e insatisfações. Conhece e retrata os valores de cada personagem com abundância de detalhes e economia de palavras que fazem um texto enxuto, preciso e ponderado. Encantador.

O cenário do romance é um vilarejo miserável do sul da Itália nos primeiros anos após a Segunda Guerra Mundial. Este vilarejo tem por nome Calábria, onde surge um culto à memória de um homem chamado Giacomo Nerone, que fora assassinado por comunistas e é visto como santo pelos habitantes locais logo após sua morte e a quem são atribuídos milagres. A devoção popular chama a atenção do Vaticano, que avalia a possibilidade de abrir um processo de canonização. Para confirmar a santidade, o sacerdote inglês Blaise Meredith é enviado com a missão de descobrir e denunciar fatos que possam impedir a santificação de Nerone.

Blaisse Meredith, “um homem que traz em seu coração a poeira das bibliotecas" é designado pelo Bispo de Valenta para exercer as funções de advogado do diabo: cuja obrigação é encontrar e denunciar todos os fatos que possam depor contra a honra do candidato a santidade. Na ocasião em que precisa decidir se aceita ou não a missão descobre após uma consulta médica que tem um carcinoma em estágio adiantado e que uma cirurgia pode lhe dá algum alivio e mais algum tempo de vida. Ele reflete sobre toda a sua vida e percebe o quanto ela foi inútil. Seguiu a carreira que sua vocação indicou cheio de esperanças e ideais, os anos passaram-se e os ideais foram esquecidos era apenas mais um padre entre tantos outros. Vivendo do lado de dentro dos muros do Vaticano pouco vira do mundo e pouco fizera por outras pessoas, não amara e não fora amado, ninguém jamais sentiria falta dele. No entanto ainda poderia mudar alguma coisa, sabia dos riscos dessa viagem com relação a sua saúde, pois teria de renunciar a cirurgia que poderia vir a lhe trazer algum alivío e também mais algum tempo de vida.

Dentre os personagens, podemos conhecer Ana de Sanctis, a condessa da região que se apaixonou por Nerone em vão. Nina Sanduzzi, que deu origem à Paolo Sanduzzi, jovem que despertava desejos homossexuais no pintor Nicholas Black. E Aldo Meyer, principal testemunha que depôs a verdadeira história de Giacomo.

No decorrer de sua investigação entremeado pelas crises terríveis causadas por sua doença em estágio cada vez mais avançado com o passar dos dias, vê-se envolvido em uma rede de intrigas e dissimulações movida pelas pessoas que conhecera o beato, inclusive sua amante que teve um filho dele, um médico judeu e uma rica e bela condessa.

É um livro com uma mensagem forte e um final surpreendente e comovente.
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WEST, Morris. O Advogado do diabo. São Paulo, SP. Editora Círculo do Livro, 1986.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

A LEI DA PERFEITA LIBERDADE [Resenha 153/2020]


A primeira coisa a se dizer sobre os Dez mandamentos é que eles existem e que sua condição é o de comando divino. Eles não são ideias brilhantes de Moisés, mas exigências categóricas de Deus. A Escritura Afirma que as duas tábuas da lei foram escritas diretamente por Deus (Ex 31.8). Assim, Deus disse ao mundo que tipo de comportamento o agrada: ele deixou isso bem claro por meio das suas dez proibições quanto a qualquer tipo de vida. Embora proclamado como parte do pacto de Deus com Israel, o Decálogo mostra a vontade de Deus para todas as criaturas humanas e é, por essa razão, o ponto onde precisa ser iniciada a educação moral e espiritual de toda a humanidade. Isso foi verdade nos dias de Moisés e ainda é verdade em nossos dias.

A segunda coisa a se dizer sobre os mandamentos é que os temos perdido grandemente e que essa é a nossa estupidez. Ate bem recente, eles eram básicos para o treinamento religioso que os ocidentais davam aos jovens. Antes de dez anos de idade, as crianças memorizava-os. O preconceito contra a memorização como uma disciplina educacional contra o Antigo testamento, contra a lei na Igreja e contra a religião nas escolas levou à uma situação em que poucos nas igrejas, e ainda menos fora dela, podem repetir os Dez mandamentos, isso sem falar em explicá-los. Os Reformadores e Puritanos, que escreveram literalmente dúzias de catecismos para a educação cristã baseados nas três fórmulas clássicas, Os Mandamentos, o Credo e a oração do Senhor, iriam chorar sobre nós se soubessem o quanto temos nos afastado dos padrões que estabeleceram. Em uma era imoral e infiel como a nossa, a ignorância quanto aos mandamentos é uma fraqueza espiritual tão grande quanto se possa imaginar. Mas, ai de nós, essa ignorância é comum e, assim, em questões morais nos atrapalhamos.

A terceira coisa a ser dita sobre os Mandamentos é que eles são, de fato, a base para a moral cristã, como já foi indicado. Os princípios positivos implícitos na sua forma negativa, quando localizados no contexto da realidade cristã do reino de Cristo e na vida no Espírito, sustenta o código de família para os filhos redimidos de Deus, em todos os lugares. Apelos para a ética de Cristo e dos apóstolos que falham em encontrar suas raízes nos mandamentos (raízes deixadas muito claras no Novo Testamento, diga-se de passagem), caem em todos os tipos de concepções erradas. A unidade da ética bíblica, a começar pelo Decálogo, precisa ser redescoberta hoje.

O livro além do prefácio e agradecimentos possui doze capítulos. No final encontramos dois apêndices, um sobre o Catecismo de Heidelberg e Breve Catecismos de Westminster. Neste livro, temos a exploração de Michael Horton sobre o que os Mandamentos significam para o povo cristão hoje é um excelente ponto de partida para qualquer pessoa que deseja apropriar-se novamente da sua mensagem. Há muita sabedoria aqui. Apodere-se dela. É de sabedoria que precisamos.
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HORTON, Michael. A Lei da perfeita liberdade: a ética bíblica a partir dos Dez Mandamentos. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2000.

500 ANOS DE O PRÍNCIPE [Resenha 152/20]


A pouco mais de cinco séculos, no ano de 1513, Nicolau Maquiavel, político e pensador florentino, escreveu uma carta a um embaixador de sua cidade noticiando que escrevera “um livreto”, que designa como De principatibus e tornou-se conhecido como O Príncipe. Os termos da carta exalam modéstia e engenho simples: trata-se de investigar o que é o principado – “de que espécie são, como se conquistam, como se mantêm, por que se perdem”. Tal concisão não impediu que o “pequeno livro” se tornasse uma das principais obras da cultura moderna, e não apenas do pensamento político moderno.

O pequeno livro foi dedicado ao “Magnífico Lorenzo de Medici”, governante florentino e membro da família mais poderosa da cidade. A dedicatória pode sugerir a olhos precipitados um vínculo temático e estilístico do “pequeno volume” – como o designava Maquiavel – com o estilo literário e político conhecido como “espelho de príncipes”. O estilo tinha como traço central a enumeração, com frequência por parte de um autor protegido ou patrocinado para tal fim, das qualidades necessárias para o governo de um príncipe virtuoso. Quando não tendia para a bajulação aberta, procurava fixar uma coleção de bons preceitos diante dos quais o governante deveria se espelhar.

Já na dedicatória, Maquiavel indica a natureza distinta de seu empreendimento. Embora dedicado a um príncipe, a obra parte de uma curiosa e inovadora premissa. Como que se desculpando pela ousadia de dirigir-se a um príncipe como Lorenzo, Maquiavel – que se apresenta como “homem de baixa e ínfima condição” – sustenta que “para conhecer a natureza dos príncipes é preciso ser povo”, assim como “para bem conhecer a natureza dos povos, é preciso ser príncipe”. A natureza do governo, portanto, aparece não como fundada na consulta principesca de um catálogo de preceitos morais e religiosos, mas emerge da interação sempre complexa e um tanto imprevisível entre os 'grandes' e os 'pequenos'.

Na sinopse do livro lemos: O Príncipe de Maquiavel, mesmo que você nunca tenha ouvido falar em Nicolau Maquiavel, deve conhecer o termo maquiavélico, dizemos que uma pessoa e maquiavélica quando faz qualquer coisa para atingir um objetivo. Os fins justiçam os meios esta e a síntese do pensamento maquiavélico que conhecemos hoje. Porem, ao contrario do que muita gente pensa, essa frase não esta em nenhum livro de Nicolau Maquiavel. Trata-se de uma interpretação do pensamento contido nas paginas de o príncipe, livro escrito ha mais de 500 anos e publicado pela primeira vez em 1532.
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MAQUIAVEL. 500 anos de O Príncipe. Cotia, SP: Editora Pé da letra, 2017. 130p. 

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

TEOLOGIA DA REFORMA [Resenha 151/20]


No ano em que a Reforma Protestante completou 500 anos, o Brasil ganhou grandes obras em português. Entre elas uma, que consideramos indispensável para quem que procura estudar mais sobre a fé cristã. Há 500 anos, a Igreja foi agitada por alguns personagens que propunham mudanças cruciais no cristianismo: os reformadores. Defendendo doutrinas como a justificação pela fé, a autoridade das Escrituras e a graça de Deus na salvação, eles enfrentaram as práticas religiosas vigentes e desafiaram dogmas estabelecidos há séculos no que ficou conhecido como Reforma Protestante.

No livro “Teologia da Reforma”, Matthew Barrett reuniu um time de teólogos e historiadores para falar sobre as doutrinas ensinadas e defendidas pelos reformadores. Michael Horton, Gerald Bay, Michael Reeves, Carl Trueman e muitos outros organizam um documento valioso para os cristãos, convocando-os a aprender com os líderes da Reforma e se apoiar em doutrinas baseadas na Bíblia que têm sido passadas de geração em geração.

Além disso, Teologia da Reforma fornece um resumo sistemático do pensamento reformado. Embora nem todos os assuntos possam ter sido tratados nesta obra, nem todos os reformadores em grande profundidade, este livro abrange o maior loci de teologia reformada. Em suam este livro serve como uma introdução à teologia dos reformadores.

“O distintivo da Reforma, porém, é que sua profunda preocupação teológica foi o próprio Evangelho. Em outras palavras, a Reforma foi uma ênfase renovada na doutrina correta, e a doutrina que estava no centro das atenções era uma boa compreensão da graça de Deus no evangelho de seu Filho, Jesus Cristo. Em parte, isso é o que distingue Lutero dos precursores da Reforma”, diz um trecho da obra.

Matthew Barrett, PhD em teologia, é tutor de teologia sistemática e história da Igreja na Oak Hill Theological College em Londres, além de editor da revista Creed Magazine. É autor e editor de diversos livros cristãos.
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BARRET, Matthew. Teologia da Reforma. Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson Brasil, 2017. 704p.

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS [Resenha 150/20]


Machado de Assis é considerado um dos mais importantes escritores da literatura nacional. Primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, foi também um dos fundadores. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado apresenta um estilo novo, rompendo com a tradicional narração linear e dando início ao realismo brasileiro. Os críticos da época perceberam que a narrativa apresentou elementos modernistas e de realismo mágico. Na obra, o narrador suspende seu relato para desenvolver reflexões paralelas a ele. Outras obras importantes do escritor são: “Dom Casmurro” e “Quincas Borbas”.

Memórias póstumas de Brás Cubas se enquadra no gênero literário conhecido como sátira menipéia, no qual um morto se dirige aos vivos para criticar a sociedade humana. É exatamente o que faz o narrador, ao contar a história de sua vida após o próprio falecimento. A leitura do romance deve levar em conta a dupla condição do protagonista: há o Brás vivo e o Brás morto.

O Brás vivo é personagem da narrativa e vive uma existência marcada pelas futilidades sociais, pela volubilidade sentimental e pelo desprezo que manifesta pelos outros. O Brás morto é o narrador, que é capaz de expor sem nenhum pudor os próprios defeitos. Em primeiro lugar, porque já está morto e não pode mais ser atingido pela ira de seus contemporâneos. Em segundo, porque a condição em que está lhe dá a sabedoria necessária para perceber que seu modo de agir é semelhante ao de todos os seres humanos.

A sociedade é caracterizada como o espaço do jogo entre aparência e essência, onde as pessoas interpretam papéis e fingem ser o que realmente não são. A impossibilidade de conhecer as profundezas da alma não impede o narrador de reconhecer a miséria moral da humanidade.

Essa descoberta é sustentada sem problemas pelo Brás vivo, embasado na filosofia do humanitismo, que afirma que toda atitude humana, boa ou má, é justificável como um ato de preservação da espécie. O Brás morto, de sua parte, é capaz de olhar com ceticismo a própria teoria, chegando a uma conclusão que nada tem de otimista: por ele, a espécie humana termina ali, já que não deixa herdeiros da “nossa miséria”.
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ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Jandira, SP: Ciranda Cultural, 2019. 192p.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

BOX HEROIS DA IGREJA [Resenha 149/20]


Ao longo da História, diversos nomes significativos revolucionaram seu tempo e impactaram a sociedade a qual estavam inseridos. A coleção Heróis da Igreja percorre dois milênios de uma história vibrante e comovente, protagonizada por homens e mulheres que deixaram sua marca como testemunhas de Cristo em momentos dramáticos e cruciais para o povo de Deus.

O Box Heróis da Igreja foi compilado pelo professor norte-americano de Filosofia da Religião e Ética Cristã, Al Truesdale, no Nazarene Theological Seminary. Com um caráter inspirativo e de maneira didática e inovadora, a coleção apresenta a vida daqueles que a tradição cristã decidiu nomear como heróis. A obra está dividida em a coleção está dividida em cinco volumes, representando cinco eras.

O primeiro volume, A Era Primitiva, aborda como os escritos de apóstolos se tornaram referências atemporais para estudos bíblicos e sociais. Entre os nomes presentes, estão Hipólito de Roma, Clemente de Alexandria e Cipriano de Cartago. Já a segunda parte, A Era Medieval, apresenta 23 personagens como Francisco de Assis, Juliana de Norwich e Catarina de Sena, refletindo o período conturbado da Idade Média.

A Era da Reforma é o terceiro livro da coleção e retrata as sérias de divisões dentro da Igreja Católica, que perduram até os dias atuais. Neste momento, o autor cita Catarina de Gênova, Martinho Lutero, João Calvino e raridades da Igreja Ortodoxa do Oriente, como o teólogo Metrofánes Critopoulos de Alexandria.

Um pouco mais próximo dos dias atuais, A Era Moderna é a quarta obra do box que aborda os desafios e oportunidades deixadas pela modernidade. Além disso, apresenta teoria da evolução humana a partir dos preceitos bíblicos. Este volume inclui nomes como Jonathan Edwards, John Wesley, Søren Kierkegaard, Charles Spurgeon e Teresa de Lisieux.

Por fim, o quinto e último livro, Era Contemporânea, mostra como o Cristianismo cresceu nos últimos séculos, mesmo sendo um período regrado pelas influências marxistas e freudianas. Madre Teresa, C. S. Lewis, João Paulo II e Martin Luther King Jr. são alguns dos nomes que apresentam testemunhos.

Além de ser um recurso para a leitura devocional, percorrer as páginas de “Heróis da Igreja” traz uma oportunidade singular de rememorar grandes momentos da história cristã e colocar-se em contato com pensamentos, dilemas, anseios e ideais de personalidades que influenciaram de maneira significativa a sociedade de sua época, sem medo de professar a fé em Jesus Cristo.

Conhecer o contexto em que viveram nossos heróis e heroínas revela por que essas pessoas inspiram os cristãos de hoje como fizeram no passado. Revisitá-los proporcionará ao leitor edificantes momentos de estudo, ao passo que lhe dará uma forte base para sua jornada de fé.
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TRUESDALE, Al (org.) Heróis da igreja: grandes nomes da historia do cristianismo, 5 volumes. São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2020.

PARAÍSO PERDIDO [Resenha 148/2020]


John Milton nasceu em Londres em 9 de dezembro de 1608. Seu pai, que também se chamava John, desempenhava a função de um scrivener, um ofício que reunia o trabalho hoje atribuído a vários profissionais diferentes: notário, banqueiro, consultor legal, contador. Era também músico, tendo colaborado com artistas de renome. Isso quer dizer que o futuro poeta não nasceu em família pobre. Desde criança, foi educado na fé puritana, à qual se manteve fiel a vida inteira, e seu pai procurou desde sempre primar pela educação de seus filhos, a começar pelo mais velho. O pequeno John teve uma ótima formação musical e literária. Aprendeu, ainda criança, o latim, o grego e o hebraico, estudando por conta própria depois o francês e o italiano.

Originalmente Paraíso Perdido foi publicado em 1667 com dez cantos, na edição chamados de "livros", porém em uma segunda edição, publicada em 1674 a edição ganhou mais dois cantos, totalizando doze livros com revisões de John Milton. Na divisão em três partes, temos o seguinte: nos livros I-IV, Satã é o grande protagonista. Vemo-lo caído no Inferno, e de lá sair para descobrir o mundo novo criado por Deus; nos livros V-VIII, temos a estadia do anjo Rafael junto de Adão, na qual o emissário divino relata ao homem a grande batalha no Céu e a criação do mundo; Adão, por sua vez, narra ao anjo suas primeiras impressões de homem e a criação da mulher. Nos livros IX-XII, temos o relato da Queda e do destino final da humanidade.

Uma das características mais marcantes de Paraíso Perdido, a par de sua feição clássica, é a onipresença da Bíblia. E este é outro traço marcante que distingue o poema de Milton de outras epopeias. Milton faz mais: transforma em epopeia toda a teologia da História contida nas Escrituras, tendo como eixo o pecado original. Assim, todo o poema é entretecido de referências bíblicas, do início ao fim, e isso até em detalhes que, a princípio, poderiam parecer simplórios. Desde o primeiro versículo de Gênesis até o fim do Apocalipse – tudo está presente em Paraíso Perdido.

Milton não se propõe a nos dar uma resposta. Apesar disso, consegue ele “justificar os caminhos de Deus aos homens?” Deixamos ao leitor que chegue à sua própria conclusão. Afinal, fazer parte dessa grande conversação com os homens do passado também é isto: indagar dos clássicos acerca de grandes questionamentos e, às vezes, discordar deles, ou se deixar surpreender com aquilo que talvez nunca seríamos capazes de pensar por nós mesmos. Aos leitores menos inquisitivos, contudo, resta sempre o deleite de conviver com um grande monumento de beleza que é Paraíso Perdido.

Este é o quarto volume da coleção Clube de Literatura Clássica, uma edição bilíngüe e que veio acompanhado de um Livro com as ilustrações de Medina, Doré e Blake e Marca-páginas na temática da obra.
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MILTON, John. Paraíso Perdido. Novo Hamburgo, RS: Clube de Literatura Clássica, 2020. 832p

UM EVANGELHO DE ESPERANÇA [Resenha 147/20]


Repleto de insights importantes sobre espiritualidade e cultura, Walter Brueggemann propõe reflexões sobre a relevância da fé cristã em meio aos desafios da sociedade contemporânea.

A sociedade parece mergulhar cada vez mais num estado de inquietação e ansiedade, causado pela busca incessante de poder e prazer. Sentimentos como ingratidão e insuficiência têm afetado muitas vidas. Por isso, muitos estão sofrendo de depressão e sentem um profundo vazio. Essa é a tônica do livro “Um evangelho de esperança”, do renomado teólogo Walter Brueggemann.

Resgatando a sabedoria contida nas Escrituras, Brueggemann nos estimula a assumir uma audaciosa postura de enfrentamento contra nossa tendência de agarrar-nos ao que é "seguro e rotineiro". Afinal, sem audácia e espírito criativo, seremos irrelevantes para a sociedade contemporânea.

A cada capítulo, o leitor é conduzido por uma série de reflexões que o ajudarão a avaliar e a lidar com os diversos desafios da sociedade contemporânea. Num verdadeiro tour de force, Brueggemann presenteia o público com descobertas penetrantes sobre espiritualidade e cultura. E explora tópicos que variam de ansiedade e abundância a partidarismo e o papel da fé na vida pública.

Por meio de seu texto instigante e provocativo, o autor ainda destaca que a sociedade vive numa “situação de emergência”, na qual o Evangelho pode ter importância decisiva - “A esperança requer uma Fonte e um Agente de novidade que, de maneiras inescrutáveis, seja gerador, que não seja cativo de velhos hábitos ou de compromissos com o presente. Essa é, sem dúvida, uma declaração teológica acerca do caráter de Deus […] A esperança requer uma comunidade de fé e ação aberta para a novidade que será concedida como dádiva. A esperança é, verdadeiramente, uma atividade comunitária, pois ninguém pode ter plena esperança sozinho”.

Além do prefácio, o livro contém doze capítulos concebidos como um compilado de textos breves, mas profundos, Um evangelho de esperança é uma excelente opção para a leitura devocional, para o estudo individual ou em grupo e como um recurso inspirativo na elaboração de sermões e debates.
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BRUEGGEMANN, Walter. Um Evangelho de esperança. São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2020. 176p.

O MUNDO DO SENHOR DOS ANÉIS [Resenha 146/20]


Este livro é um texto sui generis, relacionado aos estudos sobre a obra do autor inglês J. R. R. Tolkien. Esta obra desperta paixão nos leitores desde as décadas de 30 e 50, quando do lançamento, respectivamente, de O Hobbit e de O Senhor dos Anéis. Com esses livros, aquele humilde professor de linguística em Oxford tornou-se o patriarca de toda uma linhagem de escritores dedicados ao subgênero hoje designado como literatura fantástica ou de fantasia.

O autor nos mostra, com este volume, que, apesar de sua formação e produção literária estarem primordialmente direcionadas ao âmbito do Direito e da Filosofia, o mundo fantástico dos hobbits, elfos e anões não é apreciado apenas por jovens leitores fascinados pela fantasia, mas também por estudioso maduros e pertencentes aos mais variados campos da atividade intelectual.

Demonstrando grande paciência e detalhismo, o autor mergulha nas quatros obras que Tolkien dedicou à Terra Média e nos proporciona uma sinopse de todas, relacionando-as, colocando os fatos em ordem cronológica, e ainda destacando as classes de personagens através de um código de cores que nos permite pesquisar fatos e enredos como facilidade. Fornece ainda uma curta biografia de J. R. R. Tolkien e um estudo inicial de personagens e seus paralelos com a mitologia grega, nórdica e o cristianismo, influências inegavelmente presentes nas histórias.

O texto não se propõe a analisar profundamente o conteúdo dos livros, mas, para o estudioso da obra, para os contadores de histórias, para ensaístas e ficcionistas que se baseiam em Tolkien, e que muitas vezes não conseguem localizar determinando episódio nas centenas de páginas de O Hobbit, O Senhor dos Anéis, O Silmarillion e s Contos Inacabados, este livro é de grande utilidade, tornando-se uma indispensável obra de referência e consulta.

A obra está ilustrada com os belíssimos quadros de Ted Nasmith e dos irmãos Hildebrandt, notáveis artistas que plasmaram em pinturas a fértil imaginação tolkiana. Outro destaque para obra é seu acabamento e diagramação leve e bem planejada. O livro é totalmente colorido e ilustrado, e os personagens são divididos por cores para identificar sua árvore genealógica, de forma a auxiliar o leitor no pronto entendimento do número imenso de seres que aparecem nas histórias de Tolkien.
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MARTINS FILHO, Ives Gandra. O mundo do Senhor dos Anéis: vida e obra de J. R. R. Tolkien. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2006.

O RITUAL [Resenha 145/20]


Suspense, organizações secretas, o mal tentando dominar o mundo e muita aventura! Esses são alguns dos elementos principais que aparecem no livro O ritual, novo título da série Aventuras de Daniel, que tem conquistado leitores de todas as idades no Brasil. Escrito pelo jornalista Maurício Zágari e publicado pela Editora Mundo Cristão, o livro promete trazer valiosos ensinamentos bíblicos para os jovens.

Com uma escrita surpreendente, em O ritual, o protagonista Daniel é encurralado por elementos do mal que querem destruir sua vida e a de todas as pessoas a quem ama. Assim, é desafiado a tomar importantes decisões em um contexto em que todos estão em perigo e no qual parece que tudo conspira contra ele. Daniel se vê diante da maior ameaça que já enfrentou: uma organização secreta que não medirá esforços para afastá-lo de Deus. A cada página, o leitor é convidado a mergulhar num enredo de tirar o fôlego e a refletir sobre assuntos importantes da vida cristã.

“Na mesma hora, veio à sua mente tudo o que havia acontecido em sua viagem a Cruz das Almas. Lembrou-se de como tinha conhecido Catarina e seu aprendiz, e de como eles tentaram abalar sua fé em Deus, a fim de cooptá-lo para sua organização secreta. E o pior: naquele momento de aflição pelo qual passava, os argumentos lhe pareceram tão convincentes que Daniel chegou a questionar o Senhor, sentindo-se abandonado.” (P.20)

Marca registrada de todos os livros da série, nesse quarto volume, Zágari levanta debates sobre questões que demandam determinação, integridade e coragem. Com excelente repercussão, Aventuras de Daniel oferece bom entretenimento, mas sem negociar os valores bíblicos. Uma opção singular para o leitor que busca ficção de qualidade, biblicamente saudável, mas que também o divirta enquanto trata com seriedade teológica dos desafios do dia a dia.

SINOPSE - O que fazer quando a sua vida e a das pessoas que você mais ama correm sério risco? Como preservar a fé quando o mundo inteiro parece conspirar contra você?
No quarto volume da série Aventuras de Daniel, o jovem protagonista que conquistou leitores de todas as idades se vê diante da maior ameaça que já enfrentou: uma organização secreta que não medirá esforços para afastá-lo de Deus. A cada página, o leitor é convidado a mergulhar numa investigação empolgante, com discussões acerca de assuntos importantes da vida cristã.
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ZÁGARI, Mauricio. O Ritual. São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2020.

Crédito
https://kriocomics.com.br/site/o-ritual-ficcao-que-aborda-principios-milenares-da-biblia-em-um-enredo-de-tirar-o-folego/ 

A VIDA INTELECTUAL [Resenha 144/20]


O livro do padre Sertillanges surpreende por sua abrangência. Quais virtudes são necessárias à vida intelectual? É necessário disciplinar o corpo? Como ordenar o tempo de estudo? Qual a relação entre alimentação e inteligência? Como lidar com a necessidade de solidão e de participar de uma comunidade? Tudo isso e muito mais você encontra neste livro inspirador.

Com a pretensão de apontar um caminho seguro para aqueles cristãos que desejam ter uma personalidade intelectual e sentem-se vocacionados a esse trabalho, Antonin Dalmace Sertillanges escreveu uma verdadeira teoria da vida intelectual, como ele mesmo classifica o livro.

As orientações que Sertillanges nos dá, ainda nas primeiras páginas, são um tesouro: não precisa ser um gênio para realizar grandes obras, basta uma superioridade do espírito, disciplina e confiança na Providência; o intelectual não deve se isolar do mundo nem dos homens de seu tempo; não é necessário ter todo o tempo do mundo, mas utilizar bem o tempo que tem; o mesmo com os meios: não é necessário fazer os melhores cursos, ter as melhores bibliotecas nem estar com os melhores professores, pois, “mais vale a solidão apaixonada, em que toda semente produz cem por um, e todo raio de Sol um dourado outonal.”

Sertillanges diz que o trabalho intelectual é uma vocação; é o que perpassa toda a vida do homem que decide atender a esse chamado; entende o intelectual como um consagrado. Isso fica claro no primeiro capítulo, “A vocação intelectual”.

Alguns pontos importantes: (1) A vida intelectual se define pelo trabalho voltado aos estudos. Não apenas o fato de estudar, mas de organizar a própria a vida, de ter como meta existencial ser um estudante, ser um contemplador das ciências. (2) A vocação não se tratar de apenas ler livros espaçadamente de forma superficial, mas de penetração, continuidade, método. (3) Você dispõe de duas horas por dia? Comprometa-se a resguardá-la com todo o egoísmo possível, a empregá-las com todo o ardor possível, e, em seguida, tomar o cálice amargo da leitura das páginas. Se você está disposto a isto, se está mais do que confiante a isso, você está em bons caminhos.

Como padre, ele afirma que no exercício intelectual o espírito de oração é fundamental. “A inteligência desempenha plenamente seu papel exercendo uma função religiosa, quer dizer, prestando um culto à verdade suprema através da verdade reduzida e dispersa.”; “A Verdade em si mesma é uma, e a Verdade é Deus.” 

O livro, além do de dois prefácios e uma introdução possui nove capítulos: (1) A vocação intelectual. (2) As virtudes de um intelectual cristão. (3) A organização da vida. (4) O tempo do trabalho. (5) O campo do trabalho. (6) O Espírito do trabalho. (7) A preparação do trabalho: leitura, memória, anotações. (8) O trabalho criador e (9) O trabalhador e o homem.
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SERTILLANGES, A. D. A vida intelectual: seu espírito, suas condições, seus métodos. São Paulo: É Realizações, 2010.

Créditos
https://medium.com/@ivison.alves99/resenha-a-vida-intelectual-de-a-d-sertillanges-ed-kirion-8b679c4021e4

https://institutovaloreverdade.org/notas-de-a-vida-intelectual-de-a-d-sertillanges-6c7ea9227052

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

BÍBLIA DE ESTUDO SWINDOLL [Resenha 143/20]


O autor das notas de estudos desta Bíblia escreveu: “As notas espalhadas por toda esta Bíblia são resultado de literalmente milhares de horas de estudo pessoal no decorrer de mais de cinquenta anos de ministério. Esta Bíblia de estudo foi planejada tendo você em mente. Ao ler as escrituras, imagine que estou sentado ao seu lado compartilhando histórias, idéias importantes e lições aprendidas à duras penas que vão encorajá-lo a caminhar mais perto de Jesus Cristo. Você descobrirá o quem, o quê, o quando, o por quê e o como da Bíblia. Quem escreveu isso e quando? O que é isso significa e onde ocorreram esses eventos? Por que devo confiar nisso? E, mais importante, como posso aplicar isso hoje?”

Cada página da Bíblia de Estudo Swindoll está repleta de conteúdo planejado para ajudar você a chegar mais perto de Jesus em seu envolvimento com a Palavra de Deus. Tudo começa com uma versão bíblica clara e precisa, a Nova Versão Transformadora, que comunica a mensagem das Escrituras em uma linguagem poderosa e contemporânea. O texto das Escrituras em si deve sempre ser a característica principal de qualquer edição da Bíblia. Na Bíblia de Estudo Swindoll você também encontrará várias maneiras diferentes pelas quais Chuck Swindoll se colocará ao seu lado para ajudá-lo a entender e aplicar a mensagem da Bíblia.

Com duas opções de capas, “Petra” e “Aqua”, o livro conta com texto da Nova Versão Transformadora (NVT), a escrita é de fácil entendimento e fiel aos originais, a Bíblia de Estudo Swindoll contém mais de 4 mil notas adicionais de rodapé, mapas que levam o leitor à Terra Santa, tabelas de curiosidades, fotos dos lugares citados, perfis de personagens, sugestões de temas para oração, além de comentários e artigos com aplicações práticas para a vida.

O autor Charles R. Swindoll escreveu mais de 90 livros, vários deles campeões de vendas, entre os quais os títulos da premiadíssima série “Heróis da Fé”, publicada em língua portuguesa pela Editora Mundo Cristão. Charles Swindoll tem dedicado mais de 40 anos de sua vida a duas grandes paixões: um compromisso sério com a comunicação prática da Palavra de Deus, e uma incansável devoção ao privilégio de ver vidas transformadas pela graça de Deus.
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SWINDOLL, Charles R. Bíblia de Estudo Swindoll. São Paulo, SP: Editora Mundo Cristão, 2020. 2032p.

OBRAS ESCOLHIDAS - LIMA BARRETO [Resenha 142/20]


Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Brasil Império, sua obra foi a de um príncipe da prosa nacional e sem sombra de dúvida, um dos maiores nomes da nossa literatura. Uma de suas grandes frustrações foi não ter sido aceito entre os fardados da Academia Brasileira de letras para seu chá com biscoito. Por outro lado, Lima Barreto era conhecido como o repórter letrado e revoltado contra o parnasianismo acadêmico, um homem que tomava cachaça e insistia em contar histórias sobre o Brasil que ele via: seu povo, suas pragas, seus políticos.

Sua obra segue mais atual do que nunca e é considerada fundamental para a compreensão do cenário político e social brasileiro porque, como provou o tempo, Lima Barreto foi um escritor visionário que entendeu o Brasil como ninguém. Foi precursor do modernismo brasileiro, e não houve autores equivalentes em sua época. Essa circunstância fez dele um escritor de estilo único. Lima Barreto não fez da literatura apenas um acessório, nem queria fazer dela uma simples aparência. A literatura não era simples requinte, não era verniz, não era enfeite para o fazer parecer culto. Encarava-a, porém, como vocação. Ele deu a própria vida por suas obras. Como disse no “Cemitério dos Vivos”: “A literatura ou me mata ou me dá o que eu peço dela.” Lima Barreto faleceu em 1º de novembro de 1922, aos 41 anos, deixando um patrimônio literário ímpar, do qual nós todos somos os herdeiros.

Neste terceiro volume da coleção “Clube de Literatura Clássica, tenho em mãos a Trilogia de Lima Barreto, que compõe um monumento literário, não apenas nacional, mas universal, de um autor que foi traduzido para dezenas de línguas. Retrata a evolução espiritual dos seus heróis. Junto com o livro recebemos Um marca-páginas dedicado à obra e a obra “Os Bruzundangas” - do mesmo autor. Estes personagens conseguem desligar-se do ressentimento coletivo e elevar-se sobre ele para encontrar o sentido de suas vidas no perdão.

As três obras são e o livro brinde são:

(1) Recordações do Escrivão Isaías Caminha – “Isaías Caminha é um escrivão de interior que se põe a registrar em suas “Recordações” o tempo em que descobriu a vida: o tempo em que partiu da roça rumo à Capital Federal e se deu conta de que substância nosso país é feito”.

(2) Triste Fim de Policarpo Quaresma – “Quaresma é um visionário às avessas, vítima daquele “grão de sandice” tão bem descrito por Brás Cubas. Contudo, em sua trajetória quixotesca, não deixou de justificar o significado de seu nome: Policarpo, o de muitos frutos”.

(3) Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá – “Homem de talento, de espírito agudo, Gonzaga de Sá, descendente dos fundadores do Rio, é um personagem que se deixou apagar pela vida regular do funcionalismo público, e que, por isso, não floresceu nem pôde deixar qualquer legado reconhecido”.

(4) Os Bruzundangas - “O ideal de todo e qualquer natural da Bruzundanga é viver fora do país. Pode-se dizer que todos anseiam por isso; e, como Robinson [Crusoé], vivem nas praias e nos morros, à espera do navio que os venha buscar.”

O Clube de Literatura Clássica tem como objetivo entregar, todos os meses, em nossa casa, os maiores clássicos da literatura, de modo que possamos juntos, compor uma biblioteca que ficará de herança para a posteridade. Venha fazer parte.
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BARRETO, Lima. Recordações do Escrivão Isaías Caminha; Triste Fim de Policarpo Quaresma; Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá. Novo Hamburgo, RS: Clube Literatura Clássica, 2020. 684p

@clubdedeliteraturaclassica
https://literaturaclassica.com.br/

sábado, 3 de outubro de 2020

O DEUS QUE NOS GUIA E GUARDA [Resenha 141/20]


O bom Pastor promete guiar você. Com essa premissa, os autores deste livro – J. I. Packer e Carolyn Nystrom trazem direcionamento divino para as decisões da vida. Todos os dias têm de enfrentar decisões: algumas grandes outras pequenas. Como cristãos, procuramos submeter às escolhas que fazemos à vontade Deus. Infelizmente, para muitos, o processo de discernir a vontade de Deus passou a ser algo marcado por medo e confusão, levantando perguntas como: “Deus nos guia? Se guia, como o faz? Como vou saber quando Ele está me guiando? E se eu cometer algum erro?

Por causa dessas dúvidas e medos, muitos crentes caminham com Deus como se andassem por terreno desconhecido, como se não soubessem onde estão pisando, mas precisamos nos lembrar que a verdade de Deus, e, portanto sua direção é luz para nossos pés! Porém, é preciso curar corações de experiências ruins e erradas em tentar buscar e seguir a direção de Deus, gerando frustração e feridas que atrapalham ainda mais a entender e seguir os direcionamentos do Senhor. Este livro traz ajuda nesse aspecto.

Neste livro, você encontrará sólidos fundamentos para entender como e por que Deus guia seu povo. Aprenda qual é o papel das Escrituras, do discernimento, da sabedoria, do conselho e do Espírito Santo em nos ajudar a descobrir a vontade de Deus. J. I. Packer e Carolyn Nystrom faz uma análise do Salmo 23. Eles mostram que Deus, no papel que ocupa na aliança como nosso Bom Pastor, prometeu guiar e guardar a nós, suas ovelhas. Não precisamos ter dúvida de que ele amorosamente concederá a orientação de que precisamos quando o buscamos. E podemos nos sentir encorajados pelo fato de que, do mesmo modo que um pastor sai em busca de suas ovelhas perdidas e as traz de volta ao caminho, o Bom Pastor fará o mesmo por nós.

O livro possui além prólogo, epílogo e apêndice, possui dez capítulos onde os autores confrontam toda a ansiedade que possamos sentir sobre a direção divina com toda a confiança e segurança de que precisamos nesse caso, pois a bondade de Deus é tamanha que o fluir de sua dádiva graciosa nunca cessa para os convidados de seu banquete, que são ao mesmo tempo sua família e seu rebanho.

“Como vimos, direção é uma palavra que para muitos cristãos inspira fascinação e medo. A fascinação é sentida porque os cristãos de fato querem ser divinamente guiados e sabem que há muitas passagens na Bíblia em que a direção divina é prometida aos que creem. O medo surge por suspeitarem que é difícil entender corretamente essa direção e por anteverem desastres ao interpretá-la de forma errada. [...] O fascínio e o medo são alimentados por uma inquietante sensação de incerteza quanto às maneiras pelas quais Deus orienta [...]” (Os Autores)
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PACKER, J. I. O Deus que nos guia e guarda: Direcionamento divino para as decisões da vida. São Paulo, SP: Edições Vida Nova, 2014. 352p.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

O HOBBIT: UMA JORNADA INESPERADA - UM GUIA ILUSTRADO [Resenha 140/20]


Lançado antes do lançamento do filme e com base na versão cinematográfica do livro de Tolkien, esta bela edição inteiramente ilustrada e em cores traz uma apresentação detalhada dos personagens e dos lugares que compõem o fabuloso universo de O Hobbit.

Trata-se de um guia oficial e autorizado que busca apresentar os povos e lugares da Terra-média. O leitor pode acompanhar o hobbit Bilbo Bolseiro, o mago Gandalf e a Companhia dos anões em sua Demanda para recuperar o tesouro roubado pelo Dragão Smaug, o Terrível.

O guia busca oferecer informações e conhecimentos exclusivos sobre o mundo de Bilbo e seus amigos, como: (a) quais as relações de parentesco entre os membros da Companhia de Thorin Escudo de Carvalho e quem deles tem maior razão para odiar os orcs; (b) se os elfos de Valfenda e seu senhor, Elrond, oferecerão refúgio seguro aos anões em momento de necessidade; (c) por que os trasgos das Montanhas Sombrias tornaram-se pavorosamente deformados e quem é o Rei monstruoso que os governa; (d) quem é o excêntrico mago Radagast e qual perigo medonho ele descobriu na Floresta das trevas?

Este guia também tem um excelente mapa mostrando a viagem da Companhia desde o Condado até as Terras Ermas. Ricamente ilustrado com mais de 100 fotos em cores do filme, O Hobbit: uma jornada inesperada -- Guia ilustrado começa a Demanda para a Montanha Solitária em estilo espetacular.

A autora Jude Fisher nasceu na Cornualha e hoje mora parte do ano no Marrocos. É autora dos The Lord of the Rings Visual Companions [guias ilustrados ao Senhor dos Anéis] e dos romances épicos Sorcery Rising, Wild Magic e Rose of the World. Publicou quatro romances sob o pseudônimo Gabriel King. Atualmente escreve obras de ficção para adultos e crianças sob o nome Jane Johnson.
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FISHER, Jude. O Hobbit - uma jornada inesperada: guia ilustrado. São Paulo, SP: Editora WMF Martins Fontes, 2012.

SURPREENDIDO PELA ALEGRIA [Resenha 139/20]


Logo de inicio, Lewis escreve: “Este livro foi escrito em parte como resposta a pedidos de que eu contasse como passei do ateísmo ao cristianismo, e em parte para corrigir uma ou duas ideias falsas que parecem circular por aí. Até que ponto o relato importa a qualquer outra pessoa além de mim depende do grau em que os outros experimentaram aquilo que chamo de "alegria". Mesmo sendo pouco comum o tema, talvez tenha alguma utilidade um tratamento mais detalhado do que (creio eu) já se tentou antes.”

Surpreendido pela Alegria não é somente uma autobiografia do autor, no qual ele conta sobre a sua infância e família, sua educação básica no internato, seus traumas e prazeres pela literatura, a relação com o pai e irmão, o efeito da primeira guerra mundial em sua vida, sua entrada na Oxford e suas principais amizades. Também não é uma confissão. No entanto, é certamente um dos mais belos e inteligentes relatos da caminhada de uma pessoa em direção a fé cristã.

Escrito em 1955, “Surpreendido pela Alegria, C. S. Lewis nos leva de sua infância em Belfast, passando pela perda de sua mãe, pelo ateísmo juvenil na Inglaterra e posteriormente para o agnosticismo, pelas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, até Oxford, onde estudou, leu e, por fim, traçou racionalmente seu caminho de volta para Deus. Descreve de maneira fascinante sua jornada espiritual, inclusive o processo racional e sobrenatural que o levou de volta para o caminho da Salvação, com o foco na sua crise de fé, que determinaria o caráter de toda a sua vida e carreira.

O leitor de Surpreendido pela alegria, pode se decepcionar ao saber que a obra mostra apenas momentos simples da vida de nosso querido Jack. Acompanhamos a vida do autor, passando pela infância, idade escolar, juventude, serviço militar, formação acadêmica e exercício da profissão. Lewis nos revela seus gostos, vontades e segredos, em períodos tranquilos e turbulentos. Cada fase de sua vida é marcada por diversas obras literárias e autores e chegamos a conclusão de que Lewis era apaixonado pela fantasia e no bom sentido, um legítimo nerd.

O que mais predomina no livro, é a transformação da mentalidade e da imaginação do autor, desde a infância até a vida adulta. Ele conta em ordem cronológica, os fatos e eventos que o fizeram mudar seus conceitos, em vários pontos da vida e também espiritualmente. Durante a história, é incrível pra quem é fã das histórias de Lewis, saber a origem de tanta imaginação! O processo criativo do autor, está contido nos próprios devaneios e também na descrição das suas literaturas preferidas, que é basicamente o ponto alto do livro. Tem tanta referência aos clássicos épicos, a mitologia e a literatura da época, que às vezes a gente se sente perdido.

Surpreendido pela Alegria é uma obra biográfica ímpar, a vantagem de ser escrito pelo próprio autor, e entender a mente do C.S. Lewis, um dos grandes nomes da literatura cristã e mundial.
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LEWIS, C. S. Surpreendido pela alegria. Viçosa, MG: Ultimato, 2015.

sábado, 26 de setembro de 2020

O PRÍNCIPE CASPIAN [Resenha 138/20]


O Príncipe Caspian é o segundo livro dos sete escritos por C. S. Lewis que compõem a série infanto-juvenil “As Crônicas de Nárnia”. Publicado em 1951, é sugerido como o quarto na ordem cronológica de leitura das histórias. Se em “O Cavalo e seu Menino” Nárnia foi descrito como um lugar maravilhoso, onde a liberdade prevalecia, os animais e a natureza conviviam em harmonia e tudo era pacifico aqui em “Príncipe Caspian” a trama muda de contexto e torna-se uma antítese ao livro anterior.

Mais de mil anos se passam em Nárnia após as aventuras de Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia narrados em “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”, mas para as crianças na Inglaterra se passou apenas um ano. Nárnia, onde os animais falam, onde as arvores caminham, onde uma grande batalha está prestes a começar. Um príncipe, cujo legitimo direito ao trono foi usurpado, reúne um exercito na tentativa desesperada de expulsar de seu reino um falso rei. O príncipe Caspian, decide trazer de volta o glorioso passado de Nárnia. Soprando sua trompa mágica, ele convoca Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia para ajudá-lo em sua difícil tarefa. No fim, porém, é uma luta de honra entre dois homens que decidirá o destino de todo um mundo.

É maravilhoso aqui encontrar os quatro irmãos novamente como o centro da história, apesar do conflito girar em torno da luta do Príncipe Caspian, ainda conseguimos ver Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia caminhando juntos em um novo desafio, retomando todo o carisma desse quarteto que nos fisgou no segundo livro da coleção.

Apesar de todo o conflito, os temas cristãos abordados por C. S. Lewis voltam à tona nesta aventura: Assim como em “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”, a questão da fé em Deus, naquele que não nos é visível aparece quando Lúcia vê Aslam e os outros não acreditam nela inicialmente. A invocação por um auxílio inesperado feita por Caspian lembra muito a oração. A referência a criaturas mitológicas, como Baco e Pã, sujeitando-se à Aslam deixa a sensação de que o cristianismo é superior ao paganismo. A transformação de Caspian - telmarino de nascença - em um defensor de Nárnia divulga que a conversão cristã é o melhor caminho, apesar de grandes lutas e obstáculos.

Há também uma alusão invertida à Alegoria da Caverna, de Platão, quando os piratas entram na caverna e descobrem o mundo fantástico de Nárnia. Seria exatamente o caminho oposto ao que o filósofo propôs, isto é, abandonar a fantasia e buscar a realidade.

Outra dicotomia entre fantasia e a realidade aparece quando Pedro e Susana são avisados por Aslam de que nunca mais retornarão a Nárnia, pois já passaram da idade para isto, assinalando assim que a fantasia seria essencial durante a infância, mas a realidade é o que mais importa para a vida adulta.

A existência de uma raça superior e racismo, questões prementes durante a 2ª Guerra Mundial, portanto, bem próximas à publicação do livro, são atacadas quando os anões narnianos não aceitam o anão mestiço Dr. Cornelius, mentor de Caspian.

É interessante a abordagem da diferença na contagem do tempo entre os mundos através da Teoria da Relatividade, de Albert Einstein, a qual nos dá a idéia de que o tempo passa de modo diferente em lugares diferentes.

As mudanças na geografia de Nárnia durante o tempo em que as crianças estiveram fora assinala que não somente as pessoas se transformam, mas também o lugar em que vivem, com ou sem a interferência humana.

Um detalhe que chama a atenção é que as crianças desta vez são transportadas da Inglaterra para Nárnia quando estão em uma estação de trem, assim como ocorre em Harry Potter. 
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LEWIS, C. S. As Crônicas de Nárnia: O Príncipe Caspian. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2008. (Série Nárnia).

Créditos:

[Resenha] As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian
https://www.cinemundo.net.br/resenha-cronicas-de-narnia-principe-caspian/

O Príncipe Caspian (C. S. Lewis)
http://resumos.netsaber.com.br/resumo-45566/o-principe-caspian

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

EVIDÊNCIA INICIAL [Resenha 137/20]


Historicamente, como tem sido assumida a doutrina do batismo no Espírito Santo nas mais variadas tradições cristãs? Como as igrejas do Oriente e Ocidente se posicionaram teologicamente a respeito? Qual teria sido a influência de Charles Parham e William Seymour na formulação da doutrina que determina o ethos de milhões de Pentecostais mundo afora?

É importante a citação desses dois líderes, pois muitas são as controvérsias que envolvem a teologia da evidência inicial. Charles Parham defendeu-a como o ponto central do pentecostalismo, que funcionaria como uma bênção do Senhor visando celeridade na evangelização das nações, com a derrubada de barreiras idiomáticas que separam os homens centenas de línguas e dialetos. William Seymour, outro importante líder pioneiro do movimento pentecostal, em sua teologicamente madura e em razão de muitos conflitos com outros líderes, afirmou que a evidência do batismo no Espírito era o dom do amor.

Gary McGee, que foi professor de História da Igreja no Seminário Teológico das Assembleias de Deus em Springfield, Missouri, edita a obra “Evidência Inicial: Perspectivas históricas e bíblicas sobre a doutrina Pentecostal do batismo no Espírito”, traz a resposta para inúmeras perguntas cruciais sobre o tema. O que o Pentecostalismo brasileiro precisa aprender de suas tradições? É o que você saberá com Evidência Inicial.

O livro com 288 páginas está dividido em duas partes. (1) A evidência inicial na perspectiva histórica. Esta parte concentra-se no desenvolvimento histórico da doutrina e (2) Evidência inicial e o texto bíblico: quatro perspectivas. Esta parte inclui quatro ensaios exegéticos sobre a evidência inicial por diferentes ângulos. Estas duas partes são compostas por 13 capítulos, cada um assinado por um especialista, incluindo teólogos, historiadores e exegetas. Eles apresentam sua visão sobre a doutrina que estabeleceu as línguas como a evidência física inicial do batismo com Espírito Santo. Entre eles, além de McGee, estão Stanley Burgess, Robert Menzies, Larry Hurtado, Cecil Robeck Jr. e Donald Johns.

O editor afirma que esses ensaios, sem dúvida, desencadeiam muitas respostas. A fé e os pressupostos de alguns serão confrontados com descobertas históricas recentes ou em oposição às exposições bíblicas da doutrina. Outros, no entanto, podem descobrir um novo significado para suas experiências carismáticas de glossolalia, ou talvez possam ser forçados a reconsiderar suas suposições sobre o batismo do Espírito Santo. Em todo caso, se este exame limitado do batismo pentecostal e da doutrina da evidência inicial suscitar mais discussões, diálogo, pesquisa e melhor entendimento dentro do corpo de cristo, e terá cumprido seu propósito.
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MCGEE, Gary. Evidência inicial: perspectivas bíblicas e históricas sobre a doutrina pentecostal do batismo no Espírito. Natal, RN: Editora Carisma, 2019.

O CÓDIGO DO CAÇADOR DE RECOMPENSA [Resenha 136/20]


Você ama o universo expandido de Star Wars, é fã do Boba Fett, gosta do modo como os caçadores de recompensa trabalham, ou apenas gosta da franquia e queria saber mais? Acabou de encontrar o livro perfeito para isso tudo! E o nome dele é: O Código do Caçador de Recompensas.

Já diferenciando de qualquer outra obra, aqui não trataremos de uma narrativa e sim de um manual. E aí você se pergunta: “O que eu faria com um manual de caçadores de recompensas intergaláticos do universo expandido de uma franquia fictícia?”. Bom, primeiramente não é qualquer “manual intergalático do universo expandido de uma franquia fictícia” mas sim, um manual que já “passou pelas mãos” dos caçadores Boba Fett, Greedo, Dengar, Bossk e de alguma forma, depois de um tempo, acabou parando nas mãos do próprio Han Solo.

Bom, vamos ao que interessa. O primeiro detalhe que se pode observar é o trabalho maravilhoso que foi feito no acabamento da obra, tudo, em toda a coleção (que será comentada nas resenhas seguintes), foi feito para sentirmos que estamos pegando em um objeto que foi utilizado pelos próprios personagens da franquia (sensacional, né?). A capa se parece realmente com um manual espacial, desde a pintura até a espessura, e o mais legal é que logo atrás, em baixo relevo, temos um brasão Mandaloriano, que pode ser considerado um indício que a edição foi encadernada pelo próprio Boba Fett.

Logo ao abrir, temos uma espécie de relatório Rebelde anexado dizendo como, quando e onde o manual foi encontrado (o que já mexe bastante com a imaginação do leitor). No decorrer do livro, temos o manual com tudo o que se precisa saber para se tornar um caçador de recompensas: As noções básicas, requisitos de alistamento em guildas, credos, regulamentos de guilda, recompensas por regiões, história dos caçadores de recompensas, armas que se devem ser utilizadas, veículos, procedimento com o império, as quatro fases de como caçar uma aquisição, enfim, exatamente tudo que você precisaria para se tornar um caçador de recompensas.

Além de todo o manual muito bem estruturado, e com cada parte escrita por um membro importante da guilda dos caçadores de recompensas, temos o ponto alto do livro, enquanto você aprende tudo sobre esse universo, também pode desfrutar de comentários feitos pelos próprios caçadores quando também estavam lendo a obra.

Em termos cronológicos, respondendo a pergunta: “Mas como eles pegaram o mesmo livro e leram ao mesmo tempo?” A leitura de cada um ocorreu em tempos diferentes, fica subentendido que primeiro, o manual estava nas mãos de Greedo, após um tempo foi para as mãos de Bossk, depois Dengar que o entrega para Boba, até que finalmente vai parar com Han Solo através da Aliança Rebelde. Em determinadas partes da obra é possível ver respostas dos que pegaram o livro depois, para alguns comentários dos que pegaram antes, outro atrativo sensacional.

Por fim, nas ultimas páginas, temos outra história, um manifesto dos sentinelas da morte Mandalorianos (raça do caçador Boba Fett), Onde podemos ver a origem da fama e a grandeza da espécie. Ideal para desvendar inúmeros mistérios sobre o Caçador. Dentro desta parte podemos desfrutar dos comentários de Jango fett, que são direcionados para o filho Boba, que depois, deixa comentários para a filha Ailyn Vel, já que se trata de um exemplar passado de geração em geração. Além deles ainda temos palavras de Aurra Sing e do pirata Weequay Hondo Ohnaka.

O livro é considerado para mim, um item indispensável para um colecionador de Star Wars, principalmente para quem foca a sua coleção nos caçadores de recompensa da franquia.
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WINDHAM, Ryder. Star Wars: O Código do Caçador de Recompensa. São Paulo, SP: Editora: Bertrand Brasil, 2015.

Resenha publicada originalmente
No Blog Torre de Vigilância no link: encurtador.com.br/aJK13

terça-feira, 11 de agosto de 2020

OS DOIS REINOS E A APLICAÇÃO CIVIL DAS DUAS TÁBUAS DA LEI [Resenha 135/20]


Na introdução do livro, os tradutores escreveram o seguinte: “Muito foi escrito no passado sobre João Calvino e suas opiniões sobre o relacionamento do Magistrado Civil com a Igreja. [...] Como você verá nas numerosas seleções dos escritos de Calvino coletados abaixo, o ensino consistente do trabalho volumoso de sua vida nos leva à conclusão inevitável de que ele acreditava, como a Assembléia de Westminster fez, que as Escrituras ensinam tanto que a Igreja como o Estado estão sob a autoridade de Deus e que eles são governados separadamente, mas com responsabilidades ordenadas por Deus de um para o outro.

O livro é pequeno, mas é muito esclarecedor. Além da introdução e conclusão, o livro possui cinco capítulos, onde nos mostra os escritos de João Calvino e sua percepção incomum à época, traçando claramente os limites de atuação do Estado e especificando com clareza a esfera da Igreja.

Em seu mais famoso trabalho, as Institutas da Religião Cristã, no Livro IV, Capítulo 20 (o último capítulo desse seu livro), encontramos uma grande exposição do tema, sob o título Do Governo Civil, em 32 seções. Na terminologia de Calvino, os governantes são chamados de “magistrados” ou de “magistrados civis”, seguindo a própria terminologia paulina de Romanos 13.1-7.

Ao concluir o livro, aprendemos sobre o cristão e seu relacionamento com os Magistrados. Os cristãos devem ter os magistrados em honra, respeito e obediência; Devem estar sujeito a eles não por castigo, mas pela consciência; Devem se sujeitar não por medo, mas porque ao fazerem estarão obedecendo ao próprio Deus. “É impossível resistir ao magistrado sem ao mesmo tempo resistir a Deus”.

O pensamento de Calvino tem, portanto, uma visão elevada da importância dos governantes. Ele não “abre brechas” para focos de insubmissão ou de insurreição. Calvino não deixa de classificar as esferas de cada um – Estado e Igreja, agindo em áreas e situações diferentes. Acima de tudo, ele coloca tanto governantes como governados responsáveis diante de Deus por suas ações ou omissões. Em nossos dias, a visão clara e precisa de Calvino a respeito desses diversos aspectos da regência terrena de nossas vidas deveria ser estudada, aplicada e defendida tanto pelos governantes como pelos governados.
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CALVINO, João. Os dois reinos e a aplicação civil das duas tábuas da lei. Cascavel, PR. Editora Caridade Puritana, 2020. 114p.

sábado, 8 de agosto de 2020

O GUARANI [Resenha 134-20]

Há obras literárias que estão fortemente vinculadas ao momento em que foram criadas. É o caso do romance "O Guarani" (1857), do cearense José de Alencar (1829-1977), ligado à fase inicial do romantismo brasileiro, conhecido como indianismo. A obra de José de Alencar contribuiu para a nacionalização da literatura no Brasil e a consolidação do romance nacional, do qual foi pioneiro e, por isso, chamado de "patriarca da literatura brasileira". Os seus heróis indígenas, rodeados de uma natureza exótica e fascinante, são repletos de bondade, nobreza, valentia e pureza, características que os aproximam dos cavaleiros e donzelas medievais.

O romance está dividido em quatro partes com capítulos titulados: (1) Parte: Os Aventureiros. (2) Peri. (3) Os Aimorés e (4) A Catástrofe. Narrado em terceira pessoa, o livro se passa no Brasil do início do século 17. A história gira em torno de Dom Antonio de Mariz, fidalgo português que, com a construção de uma fortaleza, desafia o poder espanhol. O plano do antagonista, o aventureiro Loredano, queimado como traidor ao final do livro, incluía raptar Cecília, a Ceci, filha de D. Antônio, vigiada pelo forte e valente índio Peri (o personagem central do livro), protagonista do romance, com características morais e comportamentos dignos de um soldado da Idade Média europeia. Ele salva a vida da moça, ameaçada de morte pelos índios aimorés, que queriam vingar a morte acidental de uma índia de sua tribo causada por Diogo, filho de D. Antônio. No combate entre aimorés e portugueses, os primeiros, mais numerosos levam vantagem.

Peri, num ato heroico, bem ao gosto do romantismo, oferece-se ao sacrifício. Toma veneno para que, após ser derrotado na luta e devorado pelos adversários antropófagos, eles falecessem contaminados pela sua carne. Álvaro, capataz de Dom Antônio, apaixonado por Isabel, criada e irmã bastarda de Ceci, salva o índio, convencido pela donzela lusa a tomar o antídoto. Em seguida, Álvaro falece na guerra, e Isabel, inconformada, comete suicídio.

A derrota dos portugueses, no entanto, é inevitável. D. Antônio, num gesto extremo, também romântico, faz a fortaleza explodir, matando a todos ali dentro, inclusive a si mesmo. Pede também a Peri que se converta ao cristianismo para que fuja com a filha.

Adormecida com vinho, Ceci enfrenta com o índio uma tempestade tropical. Quando acorda, Peri conta o que ocorreu. Ela, decepcionada com a civilização branca, decide morar com o "bom selvagem" na selva. Enquanto isso, as águas continuam subindo. O índio, como se fosse um Hércules do mito grego, arranca uma palmeira do chão e improvisa uma canoa. Na última cena, o casal se perde na linha do horizonte, havendo a sugestão, bem dentro do universo nacionalista de Alencar, de que os dois seriam os fundadores da nação brasileira, com suas matrizes portuguesas e indígenas.
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ALENCAR, José de. O Guarani. Jandira, SP: Livros Principis, 2019. 288p.