sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

17 MINUTOS: ENTREVISTA COM O DITADOR [023/2022]


Durou apenas 17 minutos. Na tarde de segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019, entrevistei Nicolás Maduro no Palácio de Miraflores, em Caracas, Venezuela. Eu sabia que seria uma entrevista complicada. Sem dúvida, uma das mais difíceis da minha vida. No entanto, nunca imaginei que, por causa das minhas perguntas, fossem bloquear e literalmente roubar a entrevista, confiscar o nosso equipamento de gravação, deter-me e deportar-me com a equipe da Univision.

Escrevi este livro (ou melhor, recuperei-o) durante o confinamento que se deu por causa da pandemia em 2020. Depois de passar uma vida inteira nos queixando de falta de tempo, de repente, tínhamos tempo de sobra e não sabíamos o que fazer com ele. Então, comecei a concluir esta tarefa pendente. Nunca teria me perdoado se a tivesse esquecido.

Há, como creio, muitas coisas a aprender. Não só com as ditaduras, como também com a verdadeira missão do jornalista, que é questionar e desafiar os detentores do poder.

A história da entrevista censurada com Nicolás Maduro — como a realizamos, como nos despojaram dela e como a recuperamos — sempre esteve aí. Eu só precisava transcrevê-la, contextualizá-la, contar o antes e o depois, e incluir todas as vozes que a tornaram possível. O tempo passado não diminui sua relevância.

O ditador continua aí. Como em toda história, há coisas que não posso contar, para proteger a vida e a confidencialidade das nossas fontes. A operação para recuperar a entrevista, por exemplo, pôs muitas pessoas em risco. Contudo, o mais extraordinário foi a intenção e a motivação da maioria dos venezuelanos que colaboraram conosco: desmascarar e expor o ditador.

Dentro e fora do círculo vermelho de Maduro, há muitos venezuelanos absolutamente convictos de que não há futuro para seu país sem a queda do ditador. Alguns deles me ajudaram a preparar as perguntas e a pesquisa. Outros me apoiaram na Venezuela. Vários outros fizeram até o impossível para recuperar o material e para que a entrevista viesse à luz.

Tudo pela democracia da Venezuela e em defesa da liberdade de imprensa.

Como jornalista, eu sabia que pouquíssimas vezes na vida temos a oportunidade de entrevistar um ditador. Quando soube que Maduro estava disposto a falar comigo diante das câmeras de televisão, não pude perder a oportunidade. Preparei a minha entrevista como poucas vezes havia feito e analisei cada uma das perguntas. Especialmente a primeira, que define o ritmo e o tipo da conversa. Contudo, jamais pensei que fariam todo o possível para que a entrevista não fosse vista, que eu acabaria preso e deportado, e que os próprios agentes da ditadura roubariam o nosso equipamento.

Esta é a incrível história do que aconteceu.

Jorge Ramos
_________
RAMOS, Jorge. 17 minutos: entrevista com o ditador. São Paulo, SP: Editora Hábito, 2021

Descrição do prefácio da obra [p.11-12]

Disponível nos formatos físico e ebook Editora Hábito e Amazon

domingo, 20 de fevereiro de 2022

FOMOS, SOMOS, SEREMOS [Resenha 022/2022]


Alguém rabiscou em algum canto por aí, a seguinte frase: Escrever poesia implica universalizar o particular, o que faz com que o poeta intensifique os próprios sentimentos, vividos e/ou sonhados, confundindo-se com eles, para chegar a "Essa coisa é que é linda”. ​

Tenho aqui em minhas mãos um escrito que não tem tão somente o propósito de “universalizar o particular”. Mas, para o autor, trata-se de uma questão de “salvação do eu, coragem e autoconhecimento. Isso se torna notável, quando você abre o livro, e ler oitenta poesias recheadas de aceitação, amores, confissões, exageros, e como a odisseia humana prescreve – perdas. Os termos “fomos”, “somos” e “seremos”, não são meras expressões. Estes Termos indicam movimentos. Não para dentro de si, mas, para fora

FOMOS – Amar é como encarar o mar. Assusta. Excita. Faz você questionar. Ir para o fundo ou no raso ficar? Enfrentar as ondas ou só se molhar?

SOMOS – Quem tem coragem de mergulhar? Ou somos aqueles que têm dedo de se afogar? Talvez sejamos um reflexo de tudo o que fomos. Talvez ainda nem tenhamos idéia de tudo o que seremos.

SEREMOS – Seremos o que nossos pais esperavam o que fôssemos? Seremos histórias bonitas de serem contadas? Seremos as palavras que deixamos sair? Ou os sentimentos que deixamos entrar?

Na sua dedicação a este simples blogueiro, ele escreve: “Ler ao mesmo tempo tranqüiliza e revoluciona. Escrever esse livro foi ambíguo também. Meus melhores e piores momentos estão nessas páginas. Desejo que você possa identificar e sentir todas as emoções.”

Jovem @arthurwbb, sou velho demais para tantas emoções. Creio e defendo que a poesia é um presente de reflexão, alento e aconchego para a alma – contemplando todos os estados de espírito e do coração.
_______
WEBBER, Arthur. Fomos Somos Seremos. Caçador, SC: Edição do autor. 2020. 270p.

Gente colabora com o autor nacional, adquira o seu exemplar diretamente com o autor:
@ arthurwbb
linktr.ee/livrodoarthur

sábado, 19 de fevereiro de 2022

VENÇA A GUERRA NA SUA MENTE: MUDE O SEU PENSAMENTO, MUDE A SUA VIDA [Resenha 021/2022]



Seus pensamentos estão fora de controle - assim como sua vida? Você deseja se libertar da espiral do pensamento destrutivo? Deixe a verdade de Deus se tornar o seu plano de batalha para vencer a guerra em sua mente! Todos nós tentamos pensar em uma maneira de sair dos maus hábitos e padrões de pensamento prejudiciais, apenas para nos encontrarmos presos a uma mente fora de controle e fora dos trilhos na vida diária.

“Vença a Guerra na Sua Mente” é leitura obrigatória para aqueles que querem identificar padrões de pensamentos não-saudáveis e o que fazer a respeito disso. Podemos perder ou ganhar vida em nossos pensamentos. Este livro incrível é repleto de pesquisa, verdades bíblicas, e mudanças de paradigma perspicazes que o ajudarão a vencer batalhas diárias dentro da sua própria cabeça.

ALGUMAS NOTAS IMPORTANTES:

[1] Este livro é cheio de revelação de alguém digno de nossa confiança. O autor nos ajuda a entender como nossa mente funciona, por que fazemos o que fazemos, e como tomar nossos próximos passos corajosos adiante na fé.

[2] Se você é como eu e já teve problemas com ansiedade e padrões de pensamentos negativos, este livro é para você. O autor faz um trabalho incrível em transmitir como podemos mudar nosso pensamento para que Deus possa transformar nossa vida. A melhor parte é que Ele usa a psicologia e a Palavra para nos trazer a verdade. Este livro irá lhe mostrar como enxergar sua nova vida e parar de acreditar nas mentiras do inimigo.

[3] Acreditar em mentiras nos rouba da vida que Deus planejou para nós. Através do escopo das Escrituras e da ciência, o autor nos dá estratégias poderosas para derrotar mentiras, mudar nosso pensamento e vencer com a verdade de Deus.

[4] O seu pensamento determina o seu destino. Se você pensar que consegue estará certo; e se pensar que não consegue, estará certo também. Este livro lhe oferecerá as ferramentas para renovar a sua mente através do poder da Palavra de Deus para que você possa viver uma vida cheia de paixão e propósito, e cumprir o seu destino.

[5] Prático e profundo. O autor pega uma verdade teológica e esmiúça até chegar à sua aplicação clara, significativa e sem confusão. Este assunto é essencial para a santidade de todo crente, então é leitura obrigatória.

Na introdução o autor pergunta “Aonde seus pensamentos o estão levando?” ele escreve: “Nossa vida segue direção dos nossos pensamentos. Quanto mais agarrarmos essa verdade, mais capacitados estaremos para mudar nossa trajetória de vida. Porém, não fique apenas com as minhas palavras. Tanto a Bíblia quanto a ciência moderna oferecem evidência de que isto é verdade.”

O livro contém doze capítulos divididos em quatro partes: [1] O principio da substituição: Remova as mentiras, Substitua pela verdade; [2] O principio da reconexão: Reconecte o seu cérebro, renove a sua mente; [3] O principio do reenquadramento: Faça um reenquadramento da sua mente, restaure a sua perspectiva; [4] O principio da alegria: Avive a sua alma, Recupere a sua vida.

Na conclusão “Escolha vencer a guerra”, o autor afirma: “Assim como você, todos os dias em que sinto que tenho mais do que posso carregar, eu dependo de Deus para renovar a minha mente. A verdade Dele é meu plano de batalha. Continuo criando novos rastros mentais com a verdade a fim de substituir os antigos padrões de pensamentos e obter uma mente que leva à paz e à vida.”

Portanto, Craig pegou seu entusiasmo por ajudar pessoas, juntou com seu conhecimento sobre ciência neurológica e sua habilidade de comunicar a Palavra de Deus, e os colocou neste livro.
_______
GROESCHEL, Criag. Vença a guerra na sua mente: mude o seu pensamento, mude a sua vida. Rio de Janeiro, RJ: Editora Luz ás Nações, 2021.

Disponível nas Lojas Edilan e Amazon.

FREUD SEM TRAUMAS: PARA VOCÊ ENTENDER, DE UMA VEZ, AS TEORIAS QUE DESVENDARAM A MENTE HUMANA E MUDARAM O MUNDO - E AS NOSSAS VIDAS [Resenha 020/2022]


É bem provável que você já tenha se deparado com algumas das ideias criadas ou estruturadas pelo austríaco Sigmund Freud (1856-1939). Conceitos como complexo de Édipo, id, ego e superego – além da duplinha consciente/inconsciente – não raro aparecem em filmes, séries de TV e conversas de mesa de bar. O problema é que, pela densidade da obra original, essas teorias podem virar um telefone sem fio nas mãos de desavisados: confusas e mal interpretadas.

Para aqueles que desejam finalmente entender o que diabos “Freud explica”, o livro Freud sem traumas pode ser um bom caminho. Lançado recentemente pela editora Leya, a obra mostra como o austríaco revolucionou o estudo da psique e explora a coexistência, um século depois, entre a neurociência moderna e a psicanálise.

O autor de Freud sem traumas é o jornalista Alexandre Carvalho, colaborador de longa data da Super (você pode ler alguns de seus textos aqui, aqui e aqui). Sem jargões complicados, os capítulos estão divididos por temas (“Inconsciente”, “Ato falho”, “Sexualidade”) e há diversos exemplos e referências da cultura pop que facilitam a compreensão. Vamos combinar: tem jeito melhor de aprender sobre interpretação dos sonhos do que com uma história dos Beatles?

Freud era um barbudo que fumava vinte charutos por dia, foi usuário de cocaína e, apesar de conservador em muitos aspectos, tinha visões extremamente liberais em relação à sexualidade. Mas, afinal, por que é importante aprender sobre suas ideias? Por que elas continuam relevantes, mesmo depois de tantas décadas?

Freud não é o criador de muitos dos conceitos pelos quais ficou famoso. A noção de inconsciência, por exemplo, é discutida desde a Grécia Antiga; egípcios e assírios foram os primeiros a registrar por escrito tentativas de interpretação de sonhos. Mesmo a “cura pela fala” (método no qual o paciente exterioriza os seus problemas com o terapeuta como forma de tratá-los, um dos pilares da psicanálise), atribuída a Freud e seu divã, começou com outro austríaco: Josef Breuer (1842-1925).

O pulo do gato de Freud foi inverter a hierarquia dos nossos processos mentais. Ele foi o primeiro a dizer que quem nos controla é, na verdade, o inconsciente, lar de desejos, impulsos e pensamentos inacessíveis, mas que ditam boa parte de nossas ações, da maneira como nos comportamos no trabalho e em relacionamentos a uma simples escolha de vinho no mercado.

Pelas teorias revolucionárias, Freud foi taxado de charlatão. Muitos não acreditavam em suas pesquisas – e certas ideias, como as que envolvem a sexualidade das crianças, chocaram (e ainda chocam) muita gente. Não à toa, o austríaco foi fortemente desacreditado por décadas. Nos anos 1970, por exemplo, filósofos como Karl Popper diziam que a psicanálise era pseudociência.

Nos últimos anos, contudo, isso caiu por terra. Hoje, a neurociência estima que 5% dos nossos processos cognitivos passam por algum tipo de controle racional. O resto é dominado pelo inconsciente. É a parte submersa do iceberg – como o barbudo havia proposto.

Antes de Freud, os transtornos mentais eram atribuídos ao excesso de sangue no cérebro– e recebiam tratamentos quase medievais. “Freud virou a prática clínica de cabeça para baixo, influenciou a medicina e criou um modelo a ser seguido – com mais ou menos adaptações – por todas as psicoterapias que viriam depois dele”, escreve Alexandre.

Em uma época de ansiedade e depressão (turbinadas pelas redes sociais e a pandemia),nunca foi tão importante falar sobre saúde mental. Freud sem traumas é uma leitura mais do que bem-vinda.
_____
CARVALHO, Alexandre. Freud sem traumas: Para você entender, de uma vez, as teorias que desvendaram a mente humana e mudaram o mundo – e as nossas vidas. São Paulo, SP: LeYa Brasil, 2021. 240p.

Publicado originalmente em:
https://super.abril.com.br/cultura/livro-da-semana-freud-sem-traumas-de-alexandre-carvalho/

Disponível para venda nos formatos físicos e e-books na Editora Leya e Amazon.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

BIBLIA VERBO NT CAPA OVELHA [Resenha 019/2022]


A Bíblia VERBO é uma obra completamente original, ao apresentar o Novo Testamento em um formato gráfico contemporâneo e inovador

“A palavra de Deus será sempre a mesma, eternamente. Mas os tempos mudam, por isso, o nosso desafio é aplicá-la e transmiti-la de forma relevante em nossa geração, para os nossos tempos”, afirma o Editor da obra, Sinval Filho.

Para cumprir tal desafio, a Editora 100% Cristão associou-se ao artista plástico Daniel Bota, que foi o curador das imagens do projeto, além de ceder várias obras de sua autoria para comporem tanto as capas quanto as demais páginas. Publicitário e teólogo, Bota é um artista com diversos trabalhos premiados e detentor de um estilo próprio, tendo reconhecimento no cenário artístico nacional e internacional.

“Ao longo da Bíblia VERBO, o leitor encontrará o texto bíblico associado com imagens de forma criativa e espontânea, para um mundo orientado pelo visual”, afirma Daniel Bota. Dessa forma, a obra torna-se uma leitura ímpar, diferenciada de todas as demais propostas de Bíblia já existentes.

O uso de artes e fotos tem como proposta reforçar, mas nunca substituir, as realidades e o conteúdo da Escritura Sagrada. A versão de lançamento desta Bíblia é a NAA (Nova Almeida Atualizada), em parceria com a Sociedade Bíblica do Brasil. Ao final, o leitor terá uma sensação para além do texto, tendo uma verdadeira experiência estética, em formato contemporâneo. É uma ferramenta poderosa de instrução e evangelização de jovens e adultos de todas as idades.

“É importante frisar que a Bíblia VERBO destaca a atuação de Jesus como o Verbo que já existia antes de nós, que habitou entre nós e, assim como ele nos comunicou por meio de tantas metáforas, esperamos que o impacto visual dessa Bíblia também sirva de veículo para comunicar o seu amor para os nossos dias”, completou Bota.

A Bíblia VERBO possui 416 páginas coloridas, com acabamento em Capa Dura premium, 4 opções de Capa.

DIFERENCIAIS - A única Bíblia Sagrada com o texto bíblico diagramado em formato de revista, com papel couchê e colorida, aliando o uso de telas artísticas e imagens fotográficas, com outros recursos gráficos, para narrar os livros do Novo Testamento. E mais:
- Novo Testamento na versão NAA (Nova Almeida Atualizada)
- Única Bíblia no Brasil diagramada em formato de revista
- Capa Dura Premium, formato ideal para colecionar ou presentear.
- Totalmente colorida, com fotos e obras exclusivas do artista plástico cristão Daniel Bota

SINOPSE - A Bíblia Verbo é um projeto diferenciado e inovador, que associa o texto bíblico com imagens, de forma criativa e espontânea. Ao longo da leitura, artes e fotos aparecerão com o objetivo de reforçar as realidades e o conteúdo das Escrituras. Permita-se ser tocado pelo Verbo, inspire-se pelas imagens e aventure-se pelo caminho de Jesus por meio de suas palavras. Vivencie uma Bíblia acompanhada por uma experiência estética única, em formato contemporâneo e relevante para esta geração.

SOBRE O ARTISTA - Daniel Bota é casado e membro da Igreja Batista de Água Branca em São Paulo. É apaixonado por Teologia, Arte e Surf. Bacharel em Publicidade e Criação pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Mestre em Divindade pelo Seminário Servos de Cristo da América do Sul. Atuou como assessor da Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABU), e trabalhou como Diretor de Arte em diversas agências de publicidade. Estudou Desenho na Escola Cândido Portinari e Pintura na Accademia d’Arte AD’A em Firenze, Itália. Hoje é artista plástico com diversos trabalhos premiados e um estilo próprio, sendo reconhecido no cenário artístico nacional e internacional.
_____
BÍBLIA VERBO [Capa Ovelha]. Osasco, SP: Editora 100% Cristão, 2021.

Disponível Editora 100% Cristão

sábado, 12 de fevereiro de 2022

OS INKLINGS: O GRUPO LITERÁRIO DE C. S. LEWIS E J. R. R. TOLKIEN [Resenha 018/2022]


Autores famosos e clássicos no Brasil como Olavo Bilac, Lima Barreto, Machado de Assis, Monteiro Lobato e Malba Tahan, e ainda autores estrangeiros como C. S. Lewis e J. R. R. Tolkien têm em comum os grupos de amizade que formaram. Particularmente os britânicos se destacaram pelos chamados Clubs ou clubes de amigos, reunidos em torno de objetivos e interesses comuns.

Podemos citar o Detection Club que reunia G. K. Chesterton, Agatha Christie, Dorothy L. Sayers entre outros. Temos ainda o Bloomsbury Group, de Virgínia Woolf e, em Paris, as rodas literárias dos anos 1920 de Ernest Hemingway e Scott Fitzgerald.

O grupo Inklings tinha por objetivo estudar a mitologia e teologizar a partir dela, cujos membros também pretendiam analisar e criticar os escritos uns dos outros. Neste livro conheceremos melhor esse grupo, seus integrantes e suas ideias. Entre as primeiras obras lidas entre os Inklings, constam-se O senhor dos anéis, de Tolkien, Além do planeta silencioso, de Lewis, e All Hallow’s Eve, de Charles Williams, todas publicadas e relevantes para a literatura britânica.

Tendo em vista o cenário social da época, o grupo era estritamente composto por homens. Dorothy L. Sayers, renomada autora de literatura policial e cristã, apesar de ser amiga de Lewis e Williams, nunca frequentou as reuniões dos Inklings. Outro fator do grupo era a cristandade, tema abordado frequentemente tanto nas produções quanto nas discussões, mesmo que não se mostrava critério para ser um membro. Antroposofistas, ocultistas e simpatizantes de outras instituições religiosas também faziam parte das reuniões.

Era em Oxford, cidade universitária no interior da Inglaterra, que esse pequeno grupo de amigos se encontrava semanalmente para, assim como hobbits numa toca, fazer aquilo que adorava: reunir-se ao redor de uma mesa para comer, beber, conversar sobre literatura, mitologia e teologia, além de, é claro, dar boas gargalhadas. As reuniões aconteciam às terças-feiras nas dependências de Lewis na faculdade, com o intuito de discorrer sobre o papel da narrativa fantástica e, posteriormente, ler seus manuscritos em voz alta. Outras reuniões aconteciam no pub The Eagle and The Child, também conhecido como The Bird and The Baby, entretanto, essas consistiam apenas na discussão literária e os membros não se aventuravam com a leitura de suas histórias nele.

O livro é composto de quatro capítulos: 
[1] A Toca e os Hobbits: quem foram os Inklings? 
[2] Razão e Imaginação: a teologia dos Inklings 
[3] Os Inklings e os Doze: O dom da Amizade 
[4] Lá e de Volta Outra Vez: como os Inklings terminaram e como ainda continuam.

Neste livro, Os autores apresentam a história do grupo literário mais famoso do século XX: 'Os Inklings', formado por amigos de Lewis como Tolkien, Williams e outros, e por meio do qual algumas das obras mais importantes da literatura - como O Senhor dos Anéis e As Crônicas de Nárnia tiveram sua gênese e, à medida que eram escritas, foram lidas pela primeira vez.
_____
GASPAR, Igor; GREGGERSEN, Gabriele. Os Inklings: O grupo literário de C.S. Lewis e J.R.R. Tolkien. São Paulo, SP: Editora Trinitas. 2021. 107p.

Disponível nos formatos físico e ebook: Editora Trinitas e Amazon

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

AS SANDÁLIAS DO PESCADOR [Resenha 017/2022]


Lançado em 1963, o livro do jornalista australiano Morris West apresenta uma Igreja pré-concílio Vaticano II. Historicamente, nesse ano temos a morte de João XXIII, a eleição de Paulo VI e a retomada das discussões conciliares que culminaram em 1965 com seu encerramento. Porém, engana-se quem acredita que muitos dos dilemas ali retratados foram finitos com as reformas propostas pelos padres conciliares.

O primeiro deles é o drama vivido pelo vaticanista americano George Faber com a letargia apresentada do Tribunal da Rota Romana e os processos de anulação de casamento. Ainda hoje, o mesmo tribunal é responsável por esses julgamentos e a morosidade em suas decisões permanece.

Pior, não são somente os casos italianos que vão até o Vaticano, mas são as causas de todo o mundo. O que é, além de demorado, dispendioso, pois é exigido o envio e tradução dos documentos. Na história, Faber tem ainda um agravante em sua situação, sua amada Chiara é casada pela Igreja com Corrado Calitri, influente ministro italiano e de duvidosa conduta moral. Calitri alimenta pretensões de assumir o cargo máximo da Itália, condição que o coloca em relação de intimidade com o Vaticano.

Entretanto, os retratos mais eloquentes da dinâmica do governo da Igreja são protagonizados por Kiril Lakota, o papa Kiril. Logo após o Conclave que o elegeu, ele decide manter seu primeiro nome, as insígnias orientais e a vasta barba. Decisões que o colocam diante de suas primeiras resistências na Cúria. O livro retrata com perspicácia os entraves impostos pelo tradicionalismo e a complicada relação do papa com os seus cardeais em momentos importantes como nos preparativos de uma viagem e até em importantes reformas como da língua utilizada nas celebrações, na época o latim. Além da conflituosa relação entre a pessoa e o cargo que ocupa, retratado na amizade entre Kiril e Télémond, padre jesuíta e arqueólogo censurado pelo Santo Ofício.

É impossível ler a história sem repetir o ditado em que a vida imita a arte. Não há como negar as aproximações entre o fictício Lakota e o real Wojtyla, papa eleito 15 anos após o livro. A personagem do livro é um cardeal ucraniano que, após intensa batalha contra os nazistas, torna-se perseguido e encarcerado pelos soviéticos. Consegue fugir da pena imposta pelos russos, mas carrega as marcas de seu sofrimento na memória, na alma e no rosto com uma notável cicatriz. Também vindo do leste europeu, o polonês João Paulo II enfrentou os mesmos regimes totalitários, mas sem o cárcere. Assim como Lakota intermediou negociações com Kamenev (chefe do Kremlin no romance), Wojtyla negociou e atendeu Gorbachev.

West é um escritor reconhecido e As sandálias do pescador é um romance com tudo que tem direito: conspiração, intrigas, paixões, traição. Uma perspectiva de um jornalista que cobriu o Vaticano e conhece seus meandros e personagens. Sua obra retrata com afável delicadeza os homens ligados ao comando da Igreja, apresentando-os como homens de fé e boa vontade, por vezes incompreendidos e expostos ao exame de consciência de uma longa velhice. Até mesmo os cardeais mais duros são mostrados como pessoas de boa vontade no cumprimento daquilo que julgam ser o correto. Por fim, ao enxergarmos um panorama tão parecido mais de 50 anos depois, acende o alerta para a urgência nas reformas debatidas pelo conselho instalado pelo papa Francisco, mas ainda sem muita efetividade.
__________
WEST, Morris. As sandálias do Pescador. Rio de Janeiro, RJ: Editora Record. 2014. 1ª Edição. 264p.

Publicado originalmente
https://olharvaticano.wordpress.com/2015/06/25/resenha-as-sandalias-do-pescador-de-morris-west/

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

O MITO DA PERFEIÇÃO: LIBERTE-SE DA EXAUSTIVA PRÁTICA DA COMPARAÇÃO [Resenha 016/2022]


"O MITO DA PERFEIÇÃO": COMO SE LIBERTAR DA EXAUSTIVA PRÁTICA DA COMPARAÇÃO - "O mito da perfeição", escrito por Richella Parham, ajuda o leitor a enfrentar a tendência de comparar-se negativamente e de hipervalorizar as qualidades dos demais.

A constante tentativa de se ajustar a padrões de beleza e status inalcançáveis faz com que muitas pessoas caiam em uma armadilha: a comparação negativa e deprimente. Em O mito da perfeição, Richella Parham, escritora, palestrante e podcaster nos EUA, oferece subsídios para quem deseja superar essa tendência tão comum e emocionalmente nociva.

O mito da perfeição, lançamento da Editora Mundo Cristão, chama a atenção do leitor para atitudes que roubam a alegria, entre elas a da constante hipervalorização das qualidades alheias, comportamento pelo qual tende-se a superdimensionar aspectos positivos dos outros — e que, não raras vezes, é potencializado pelas redes sociais.

Com esse objetivo, Richella Parham compartilha sua história de superação ao vencer traumas e inseguranças causados por uma doença genética que deixou marcas em seu corpo.

“Comecei a estudar mais a fundo do que nunca a questão das comparações, na esperança de que, caso conseguisse entendê-la, eu seria capaz de desmantelá-la e descarregá-la. Estudei, orei e fiz perguntas, questionando por que eu — e muitas de minhas amigas — demonstramos tamanha propensão às comparações” (O mito da perfeição, p. 22)

Com um relato vívido, Richella mostra a via que empreendeu para enxergar sua singularidade e sentir-se realmente plena. Sem recorrer a jargões piegas ou a uma abordagem motivacional impraticável, ela evidencia que seu percurso foi árduo, tomou tempo e não descartou a importância da terapia. Ainda assim, seu esforço valeu a pena e lhe trouxe bem-estar e contentamento. Entre diversos assuntos, a autora também traz orientações para que o leitor faça as pazes com o passado, lide corretamente com os erros e avance para um novo estilo de vida.

O livro O mito da perfeição sinaliza uma rota promissora para quem deseja romper com hábitos que impedem o ser humano de despertar seu potencial e de gostar de si. Recurso para o desenvolvimento emocional e espiritual, foi escrito a partir de uma perspectiva cristã, alicerçado em princípios milenares das Escrituras, para auxiliar o leitor a reajustar o foco de sua visão sobre Deus, sobre si e os outros.

O livro está disponível para venda no site da Amazon.

Sobre a autora: Richella Parham é escritora, palestrante, apresentadora do podcast Friends in Formation e fundadora do blog ImpartingGrace.com. É vice-presidente do conselho do ministério Renovaré. Reside na Carolina do Norte com seu marido, Jack, e é mãe de três rapazes.
_____
PARHAM, Richella J. O mito da perfeição: liberte-se da exaustiva prática da comparação. São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2021. 192p.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

O GRANDE DIVÓRCIO [Resenha 015/2022]


Como a sinopse relata, acompanhamos uma pessoa sem nome que entra em um ônibus que vai ao Céu, lá é tudo diferente, pois as pessoas que vivem lá são sólidas, e os visitantes não. E a cada capítulo vemos a história dos “fantasmas”, que são as pessoas que, assim como o protagonista, vieram com o ônibus. Cada um desses fantasmas tem algo que é tão importante que os cega da grande oportunidade que estão recebendo: aparência, estudos, trabalho, filho, ressentimento, etc.

Publicado em 1945, a ideia sobre o livro passou longo tempo maturando na imaginação de Jack, e é baseada no conceito de Refrigerium – refrigério –, da teologia medieval, que Lewis diz ter encontrado ao ler a obra de um teólogo anglicano do século 17, Jeremy Taylor. Lewis lera a obra de Taylor em 1931 e encontrara a referência, que o próprio autor reputara ao poeta do século 4.º Prudêncio, e foi tão marcante que ele não mais se esqueceu e chegou a comentar com seu irmão, que em 1933 registrou em seu diário: “Jack teve uma nova ideia para uma obra religiosa, baseada na opinião de alguns dos Pais, que, embora a punição para os condenados seja eterna, ela é intermitente. Ele se propõe a fazer uma excursão infernal de um dia ao Paraíso. Estou muito interessado para ver como ele tratará disso”. A obra só foi escrita em 1944, e também recebemos algumas informações sobre sua composição através de duas cartas de Tolkien a seu filho Christopher, pois Lewis fez leituras, durante o desenvolvimento da obra, aos Inklings – confraria literária que mantinha com outros amigos literatos, dentre eles Charles Williams, Hugo Dyson e o próprio Tolkien –, dizendo tratar-se de uma “nova alegoria moral ou ‘visão’, baseada na ideia fantástica de Refrigerium, na qual almas perdidas dão um passeio ocasional no Paraíso”. Pois essa é, exatamente, a ideia principal, e o modo como Lewis a conduz é sensacional.

Alguns chegaram a escrever que esta obra teve uma clara inspiração no clássico mundial, “Divina Comédia”, de Dante Alighieri. Mas, não concordo. Prefiro como já foi dito acima: “nova alegoria moral ou ‘visão’, baseada na ideia fantástica de Refrigerium, na qual almas perdidas dão um passeio ocasional no Paraíso”.

Em primeiro lugar, a trama se inicia quando o protagonista se vê preso em uma fila para embarcar em um ônibus que o destino era o “Paraíso”. Mas, ele não se encontra sozinho, junto a ele, estão alguns personagens. Enquanto o protagonista aguarda o ônibus, nos deparamos com alguns diálogos entre os personagens, os quais C.S Lewis, de forma reflexiva, queria demonstrar a indignação com a soberba e as vontades que todos os seres humanos têm dentro de si. Ao decorrer da obra, compreendemos, acompanhando os diálogos entre os personagens e protagonista, que todos são “fantasma” ou “espíritos”, e já estão mortos.

O clímax da obra se dá na dificuldade dos personagens em aceitar o Deus Vivo, quem deu uma segunda chance para todos viverem junto a Ele no “Paraíso”. Contudo, todos estão cegos, cada um vê seu próprio deus, os quais não passam do egocentrismo, dúvidas e “pecados” em vida, segundo Lewis.

A obra apresenta vários diálogos muito profundos e reflexivos, onde temos o entendimento sobre o bem e o mal, a graça e o julgamento. Com um ótimo uso da sua criatividade, C.S Lewis cativa tanto com a diversão de uma boa leitura leve, quanto com a seriedade ao abordar vários assuntos desafiadores.

Por fim, o que podemos tirar do Grande Divorcio são várias experiências sobre nossas vidas, fé e reflexão sobre o que Deus significa para nós. Se Deus com sua misericórdia nos desse uma segunda chance para entrar no Paraíso, qual seria nossa decisão? Deixaríamos os prazeres, amores e deuses? 
______
LEWIS, C. S. O grande divórcio. Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson Brasil, 2020.

Disponível nos formatos e-book e físico no Amazon.