sábado, 28 de março de 2020

O EVANGELHO SEGUNDO OS APÓSTOLOS [Resenha 039/20]


Logo de início, o autor faz um esclarecimento, afirmando que este livro não é uma sequência de O Evangelho Segundo Jesus, e sim, trata da doutrina da salvação abordada pelos apóstolos, mostrando que o evangelho segundo Jesus é também o evangelho segundo os apóstolos. Assim, toda a mensagem do Novo Testamento contrasta totalmente com o “evangelho” vazio que muitos estão proclamando hoje.

O principal questionamento nesta obra, é: As nossas obras têm algum efeito sobre nossa salvação? Desde os tempos dos apóstolos Paulo e Tiago, os cristãos têm tentado definir a relação correta entre fé e obras. Por um lado, Paulo afirma que salvação “não [é] por obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2:8-9). Por outro, Tiago oferece uma visão diferente: “Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras” (2:18). Seria possível conciliar essas duas visões aparentemente divergentes da verdade bíblica?

“Tiago e Paulo fazem eco à pregação de Jesus. A ênfase de Paulo é um eco de Mateus 5:3: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus” (RC). O ensino de Tiago tem o som de Mateus 7:21: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus”. Paulo representa o começo do Sermão do Monte; Tiago o término dele. Paulo declara que somos salvos pela fé sem as obras da lei. Tiago declara que somos salvos pela fé, que se evidencia nas obras. Tanto Tiago como Paulo veem as boas obras como a prova da fé – não o caminho para a salvação”.

Portanto, John MacArthur apresenta com clareza e precisão a relação bíblica entre fé e obras. Aqui vemos lugar da fé e do arrependimento como instrumentos de Deus para a salvação do homem. As obras são o exercício desta fé e foram preparadas por Deus para servir como uma resposta amorosa, prática e vívida do que Deus fez e faz na vida do homem.

MacArthur convida todo cristão a ler este livro com as seguintes palavras: `Este não é um estudo técnico ou um tratado acadêmico. Não é um livro-texto para teólogos, é uma mensagem que tem tocado fortemente meu coração durante todos os anos de meu ministério. Longe de ser uma dissertação fria, é um olhar apaixonado para a mais essencial de todas as verdades cristãs: a salvação.

Além da introdução e três apêndices muito importante, o livro possui doze capítulos abordando questões difíceis como: O que é a graça barata? Alguns cristãos adotaram uma teologia de não-senhorio? O que uma pessoa tem de fazer para ser considerada justa por Deus? As suas obras têm algum efeito sobre a sua salvação? Uma mensagem clara, direta e necessária para todos os cristãos hoje.
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MACARTHUR, John. O Evangelho segundo os apóstolos: o papel das obras na vida de fé. Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson Brasil, 2017. 304p.

sexta-feira, 27 de março de 2020

O QUE JESUS BEBERIA? [Resenha 038/20]


A Bíblia é um livro frustrante para muita gente. Muitas vezes ela diz e ensina coisas que preferiríamos não ouvir, e apresenta Deus sob aspectos desconcertantes para aqueles que gostariam de ser conhecidos por sua piedade. Mas, visto que o homem é um extraviado e anda em busca de muitos estratagemas e intrigas (Ec 7.29), desenvolvemos vários métodos para contornar este problema que a Bíblia cria. Nos círculos teológicos, as maneiras de fazer rodeio em torno do que as Escrituras realmente ensinam podem ser reduzidas a duas categorias amplas — a abordagem liberal, ou modernista, e a conservadora.

A abordagem liberal rejeita a autoridade prática da Escritura, mas às vezes é mais confiável quanto ao que o texto da Escritura realmente diz do que a abordagem conservadora. Isso é verdade, muito embora os conservadores sejam os que corajosamente professam que a “Bíblia é a inerrante Palavra de Deus, sem erro em tudo o que afirma”.

E isso é notável quando – Levante a questão do álcool em sua igreja local e você será obrigado a ouvir várias opiniões e pontos de vista diferentes sobre como o cristão deve responder. A ironia consiste em dois fatos: (1) muitos conservadores, que lutam pela autoridade infalível da Escritura em todos os tópicos de que ela fala, simplesmente não querem nem pensar que a Bíblia consente na presença de uma garrafa âmbar de uísque Glenfiddich no escritório de um homem piedoso. Mas a Bíblia é favorável a isso (Dt 14.26). (2) muitos conservadores reconhecem mansamente como cordeiros que a Bíblia não proíbe bebida alcoólica (muito ao contrário), mas continuam dizendo que, por amor de um “bom testemunho”, ainda devemos renunciar a isso.

Pois bem. Joel McDurmon é um tipo de crente conservador. Ele se dispõe a ir aonde a Bíblia diz que podemos ir, mesmo que seja o corredor de vinhos do supermercado. Ele se dispõe a sentar-se com os apóstolos para partilhar uma refeição, mesmo que o estabelecimento que serve o almoço tenha cerveja à venda. Ele se dispõe a beber o que a Bíblia diz que podemos beber. E neste livro ele faz um excelente trabalho, expondo diante de nós as razões escriturísticas para isso tudo. Ele começa onde todas as nossas lições sobre comer e beber deveriam começar, que é na Ceia do Senhor, e depois passa a discutir as palavras que o Espírito Santo escolheu para revelar a sua vontade sobre este assunto. Depois ele trata de algumas objeções comuns, que talvez você, leitor, provavelmente ouviu antes. Este livro é pequeno, mas há muita coisa aqui.

Com uma combinação convincente de teologia bíblica, exegese escriturística e história cultural judaica, o autor Joel McDurmon aborda a questão com uma clareza e honestidade que é tanto revigorante como rara.

Tomar uma posição neutra em qualquer debate não é o estilo de McDurmon, e certamente não é a estratégia deste livro. O autor não se limita a responder a pergunta do título; passa também a mostrar que comida e bebida, e o ato de comer ou beber em si, há muito têm sido coisas simplesmente tomadas como corriqueiras pelos cristãos modernos.

O Que Jesus Beberia? Um estudo cheio do Espírito não é apenas mais um livro chato sobre doutrina e prática cristã; é um estudo rico, cheio da bondade e graça de Deus. É um livro intensamente prático sobre a alegria da celebração e sobre as bênçãos da comunidade da aliança.
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MCDURMON, Joel. O que Jesus beberia? Um estudo cheio do Espírito. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2012. 150p.

MOISÉS - UM HOMEM DEDICADO E GENEROSO [Resenha 037/20]


A simples menção do nome de Moisés desperta diferentes imagens na mente das pessoas. E essas imagens são reforçadas para o filme premiado, Os Dez Mandamentos, dirigido por Cecil B. DeMille, já falecido, no qual o famoso ator, Charlton Heston, desempenhou o papel principal. Nesse papel, ele era bonito, corajoso e confiante. Já a geração mais atual tem O Príncipe do Egito, um desenho animado interessante que apresenta outra imagem de Moisés. Ele é fino e elegante, espirituoso, amante das diversões e virtualmente sempre jovem. Quer numa corrida de carro com Ramessés, levantando nuvens de pó ao redor do palácio de Faraó, quer guiando o povo por entre as águas do mar Vermelho que se abriram, levantando paredes, o superstar bronzeado é o herói de todos. Crianças e adultos se deliciam com a caracterização fantástica de um homem que parece o mesmo desde a adolescência até os oitenta anos.

Contudo, quando reportamos ao relato bíblico e real vemos um homem comum, que viveu as dificuldades de sua época com as quais nem sempre soube lidar de maneira perfeita. Apesar das limitações e dos temores e dúvidas que Moisés tinha quanto à sua habilidade e capacitação para a tarefa que Deus lhe designava, ele cedeu à vontade divina e tornou-se uma das personalidades de maior destaque na história do povo judeu, para não dizer na história da humanidade.

O autor deste livro, Charles R. Swindoll, traz um estudo realista dessa figura não menos notável que a apresentada pelo cinema, porém com uma diferença: demonstra que a fonte de sua força e sucesso estava totalmente nas mãos do Deus Todo-Poderoso, cuja graça soberana moldou o caráter e a personalidade dessa extraordinária figura histórica.

O autor assim o descreve: “Moisés tornou-se um homem de Deus numa época de transição na história. Quando veio o chamado divino para que assumisse um papel crucial no destino da humanidade e das nações, Moisés ocupou a posição. E possível que tenha relutado. Talvez tenha sentido medo, pesar e dúvidas quanto à sua capacidade. No final, porém, ele cedeu... e tornou-se o instrumento de Deus em sua geração”.

A vida de Moisés, segundo o Livro de Atos, capítulo 7, pode ser dividida em três segmentos de quarenta anos cada. Ele passou seus primeiros quarenta anos no Egito, sendo cuidado pela mãe e aprendendo nas escolas egípcias. Passou seu segundo ciclo de quarenta anos com o povo hebreu no deserto, nutrido pela solidão e ensinado por Deus. Seus últimos quarenta anos passou-os no deserto com o povo hebreu, alimentado pelas provações, desânimo e testes, ensinado pela lei que recebeu das mãos do próprio Deus.

Dwight L. Moody fez o seguinte comentário sobre esta notável biografia. “Moisés”, observou Moody, “passou seus primeiros quarenta anos pensando que era alguém. Os segundos quarenta anos passou aprendendo que era um ninguém! Os últimos quarenta ele os passou descobrindo o que Deus pode fazer com um ninguém”.
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SWINDOLL, Charles R. Moisés: um homem dedicado e generoso. São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2000

O PRAZER EM PENSAR [Resenha 036/20]


Os livros garimpados da biblioteca de Dalrymple contam casos curiosos não com as histórias dos textos originais que carregam, mas com a sua própria trajetória. São elas que fazem o pensamento do autor viajar e trazer à tona, em seu estilo instigante, memórias e observações críticas sobre literatura, história, política, filosofia, medicina, sociedade, viagens etc.

Por meio de uma série de histórias sobre anotações feitas à mão, cartas esquecidas e frases sublinhadas, Theodore Dalrymple conduz o leitor pelos prazeres e surpresas que certos livros especiais de sua biblioteca pessoal guardam. Em capítulos curtos, essas trajetórias são acompanhadas suas próprias memórias e apontamentos críticos sobre os mais diversos assuntos em seu estilo já conhecido do leitor.

Theodore Dalrymple é um dos pseudônimos de Anthony Daniels, um respeitado psiquiatra britânico que já escreveu mais de vinte livros sobre medicina, política, arte, educação e cultura contemporânea. Neste livro estão reunidos trinta e três ensaios curtos, muito bem escritos, sobre as associações, divagações e insights que Dalrymple produziu a partir de alguns dos livros de sua biblioteca. A escolha não é aleatória. Ele parece escolher livros relacionados aos temas que lhe são mais caros. O tom é biográfico, mas o objeto da história é antes os livros e os assuntos derivados deles do que propriamente a vida do autor. O sujeito viaja, frequenta sebos, conversa com livreiros. É um médico curioso pelo mundo, um dublê de sociólogo que investiga o comportamento humano, sempre disciplinado e atento, tentando ordenar o que aprende e pensa.

Veja o que ele escreve: “Encontramos coisas em livros velhos: principalmente insetos mumificados, é claro, mas também manchas de sangue, flores secas prensadas, bilhetes velhos de ônibus, listas de compras, fichas de embarque, orçamentos de consertos a serem feitos, contas de açougue, marcadores de página de livros anunciando seguros de vida, festivais de arte e livrarias e alguns chegam a chamar o leitor para a fé e o arrependimento”. [p.23]

Para finalizar: “Agradáveis descobertas feitas por acaso são um dos maiores prazeres de folhear livros, e nada substitui a sensação de poder ter um livro físico nas mãos. […] A alegria de descobrir algo que não sabíamos existir e que está profunda e inesperadamente conectado a algo que nos interessa no momento é uma das recompensas de folhear livros ao acaso, uma recompensa desconhecida para aqueles que têm uma visão apenas instrumental das livrarias, indo embora delas assim que descobrem que o livro que desejam não está disponível”.
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THEODORE, Dalrymple. O prazer de pensar. São Paulo, SP: É Realizações, 2016. 208p.

quinta-feira, 26 de março de 2020

KIERKEGAARD: UMA VIDA EXTRAORDINÁRIA [Resenha 035/20]


É impossível falar da Filosofia moderna sem lembrar de seus representantes mais ilustres, como Nietzsche, Schopenhauer, Heidegger, Kant, Sartre, Spinoza, Witgenstein, Descartes e Hegel, entre outros. Ao lado deles, igualmente respeitado como grande luminar do pensamento ocidental, figura Søren Kierkgaard. Acadêmico, poeta, dono de um senso crítico aguçado, ele se notabilizou não apenas por suas articulações teóricas brilhantes, que lhe valeram o epíteto de primeiro filósofo existencialista, mas também pela maneira como desenvolveu um sólido arcabouço ético e filosófico da fé cristã.

Os textos e pensamento de Søren Kierkgaard são considerados pelos jornalistas, filósofos e outros como algo difícil de entender. Os modernistas desconfiam desse pensador aparentemente pós-moderno que nunca falou nada diretamente e escreveu sob pseudônimos. Os pós-modernos adoram suas múltiplas vozes, mas suspeitam de sua adesão insistente à Verdade revelada com um V maiúsculo. As pessoas religiosas ouvem que Kierkgaard é o “pai do existencialismo” e suspeitam que ele seja ateu. Os ateus não se convencem quando ouvem que Kierkegaard está por trás da ideia popular de um “salto de fé”. Os apologistas cristãos adoram seu ataque à idolatria da racionalidade científica, mas estão menos interessados no seu ataque à apologética cristã. Os liberais apreciam seu amor pelo homem comum e suas percepções sobre a natureza insípida dos meios de comunicação e da política impulsionados pelo mercado, mas não gostam de sua crítica vigorosa sobre as soluções sociais para os problemas individuais ou sobre a crença ilusória dos tempos modernos no progresso histórico. Os conservadores valem-se muito do foco altamente cristão de Kierkegaard sobre a liberdade do indivíduo, mas não gostam quando ele considera como os principais inimigos dessa liberdade a própria cultura cristã e muito do que é chamado de valores familiares tradicionais. Seja qual for a opinião que você tem sobre a vida moderna, existem duas coisas verdadeiras que podem ser ditas sobre Kierkegaard: sua influência sobre os nossos vários modos de pensamento é bastante difundida, e a natureza exata dessa influência é difícil de articular.

Ler Kierkegaard pode ser um trabalho árduo. Mas, este livro nos traz visões gerais que se destinam a ajudar e orientar o leitor da biografia. Em “Kierkgaard – Uma vida extraordinária”, o estudioso Stephen Backhouse passa em revista a vida pessoal e a trajetória dialética de um homem que reuniu razão e religiosidade, influenciando em grande medida o pensamento de sua época e dos séculos seguintes. O autor revela como racionalidade e sensibilidade conviviam na vida acadêmica, na poesia, na teologia, nos amores e humores do intelectual dinamarquês.

O livro possui dez capítulos e faço três destaques sobre a obra de Backhouse: a prosa do autor é muito fluida e agradável, sendo a leitura envolvente; no fim do livro tem um capítulo que apresenta sistematicamente as obras de Kierkegaard em que se faz uma visão geral de cada uma delas; contudo, falta nessa obra a apresentação ou destaque de conceitos centrais em Kierkegaard, como "salto da fé".
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BACKHOUSE, Stephen. Kierkegaard: uma vida extraordinária. Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson, 2019. 272p.

SABEDORIA E PRODÍGIOS [Resenha 034/20]


Como avaliar as contribuições de um, digamos, Steve Jobs para a cultura humana? Como os cristãos explicam a quantidade imensurável de coisas boas realizadas por quem se presume não estar em um relacionamento pactual com Deus? A graça comum é a resposta: a misericórdia divina paira sobre todas as suas obras. Esta tradução da obra de Abraham Kuyper sobre a graça comum fornece o impulso necessário para os cristãos buscarem respostas às perguntas sobre a amplitude do evangelho, seu próprio papel na vida pública e as contribuições benéficas de outros, em especial na ciência e na arte. Altamente oportuno e recomendado.

Abraham Kuyper foi um teólogo profundo, um pensador enciclopédico e um homem profundamente espiritual que acreditava competir aos crentes “conhecer a Deus em todas as suas obras”

O livro está em duas partes, onde Kuyper aborda dois dos domínios mais difíceis que intimidam os cristãos nas nossas conversas modernas: ciências e arte.

Parte um: Ciência, composto por cinco capítulos onde o autor trata sobre sabedoria, conhecimento, entendimento, pecado e educação. Muitos cristãos se sentem ameaçados pela ciência, creem que não é digna de confiança e que afronta a fé. Questões concernentes à bioética, evolução, gestão ambiental e a probabilidade de aumento das descobertas científicas por meio de novas tecnologias obnubilam a objetividade entre certo e errado, bem e mal.

Parte dois: Arte, também possui cinco capítulos que trata sobre Maravilhas, beleza, glória, criatividade e adoração. A arte é outro aspecto com o qual os cristãos possuem relacionamento desconfortável e indefinido. Vivemos numa época na qual nossas imaginações se encontram sob ataque, de modo que, na vida de vários indivíduos, a criatividade se tornou uma vítima. Não estamos aptos a discernir entre a boa arte e a arte pobre, e os patronos da cultura sólida já se perderam. Infelizmente, grande parte da arte apreciada por cristãos é classificada como “arte cristã”, que são incapazes de nos comoverem profundamente.

Diante destes temas intimidadores, Kuyper vem ao nosso auxílio, empenhando-se em recuperar a noção de que a grande arte não deveria somente tocar nossos corações, mas também ocupar nossas mentes. Caso falhe nisso, não se configura como criativo.

A insistência de Kuyper de que Jesus é, de fato, Senhor sobre todas as coisas é ressaltada nas páginas deste livro. Sua convicção de que a ciência não é uma ameaça à nossa fé, mas uma aliada, e suas exortações para que celebremos a glória de Deus mediante a expressão criativa, farão, com regozijo, cantarmos cânticos novos de louvor àquele que é Senhor tanto dos céus quanto da terra. Portanto, Sabedoria e prodígios, de Abraham Kuyper, é um eloquente antídoto teológico contra os impulsos anti-intelectualistas e antiartísticos que tanto infectam a igreja contemporânea.
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KUYPER, Abraham. Sabedoria e prodígios: graça comum na ciência e na arte. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2018. 186p.

terça-feira, 24 de março de 2020

JESUS O SENHOR SEGUNDO O APÓSTOLO PAULO [Resenha 033/20]


O autor afirma que devido ao seu grande interesse por todos os temas paulinos do Novo Testamento, percebeu que havia duas lacunas consideráveis na literatura acadêmica que pareciam dignas de serem preenchidas: a compreensão que Paulo tinha do Espírito Santo e da pessoa de Cristo. Com o propósito de preencher essas lacunas, ele escreveu dois livros: A Presença Fortalecedora de Deus e Cristologia Paulina. Portanto, este livro “Jesus o Senhor segundo o Apóstolo Paulo”, publicado pela Editora CPAD, traz o conteúdo teológico dois livros citados.

Trata-se de um livro exegeticamente embasado e teologicamente sintético, academicamente e devocionalmente reverente, embasado em pesquisa, porém prático e simples de acompanhar. Intertextualmente rico e teologicamente provocativo, este livro nos convida a repensar a construção acadêmica tradicional da teologia de Paulo à luz dos dados primários fornecidos de forma bastante visível por Paulo em suas próprias cartas.

Gordon D. Fee está entre os mais respeitados acadêmicos do Novo Testamento de nosso tempo. Com seu foco em Jesus como Senhor, ele oferece à Igreja uma demonstração prática, convincente e reveladora da alta cristologia de Paulo. Ele dá tratamento sonoro a textos cruciais e à relação entre o Pai, Filho e Espírito Santo nas Cartas de Paulo.

O livro possui dez capítulos que estão distribuídos em quatro partes. A primeira parte (O Salvador) descreve Cristo como Salvador ao apresentar uma visão geral do significado da salvação em Cristo para o Apóstolo e, depois, examinando as implicações cristológicas da cosmovisão totalmente cristocêntrica de Paulo, em especial quando ela aparece na sua devoção a Cristo. A segunda parte (O Segundo Adão), portanto, aborda a questão da humanidade de Cristo por meio do uso que Paulo faz de “Adão” na palavra crucial eikōn (“imagem”) a partir de Gênesis 1–2, apontando que a preocupação suprema dessa analogia é a ênfase tanto na humanidade genuína de Cristo como no fato de Ele ser o portador e restaurador da imagem divina perdida na queda. A terceira (O Messias Judeu e Filho de Deus) e a quarta parte (O Messias dos Judeus e Senhor Exaltado) tratarão das duas ênfases cristológicas fundamentais que surgem regularmente no corpus e que, apesar de questionamentos, possuem as chaves que dão acesso à resposta paulina à pergunta: “Quem é Cristo?”.

Este livro servirá perfeitamente como um livro de estudo para estudantes de teologia paulina ou cristologia nos seminários.
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FEE, Gordon D. Jesus o Senhor segundo o apóstolo Paulo: Uma síntese teológica. Rio de Janeiro, RJ: Editora CPAD, 2019. 239p
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A GRANDE MENTIRA [Resenha 032/20]


Em seu novo livro, A grande mentira, o acadêmico Dinesh D’Souza resgata essas raízes históricas que ligam a esquerda americana e os nazistas e fascistas, argumentando que somente uma mentira escabrosa, que inverte totalmente a realidade, poderia passar impune por tantas décadas. Foi o próprio Hitler que ensinou a tática: uma pequena mentira não seria crível, seria logo desmascarada; mas uma enorme mentira poderia sobreviver, especialmente com a ajuda da cultura, da academia e da imprensa.

O autor mostra, ainda, como as práticas de eugenia dos nazistas começaram com a esquerda americana, de onde muitos nazistas extraíram importantes lições. Margaret Sanger, feminista e fundadora da Planned Parenthood, era uma defensora do aborto como “controle de natalidade” para impedir o avanço dos “deploráveis”. Os nazistas conheciam seu trabalho, e ela tinha orgulho disso. Tratava-se de uma via de mão dupla. Sanger é hoje admirada por democratas como Hillary Clinton.

A principal definição do fascismo é a concentração de todo o poder no Estado. A frase de Mussolini resume bem isso: “Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado”. Essa visão encontra eco justamente nos “progressistas” que clamam por mais e mais Estado em nossas vidas, querendo controlar tudo, do berço ao túmulo. A visão coletivista que transforma o indivíduo num meio sacrificável tem forte semelhança com várias mensagens dos democratas. E isso não começou com Obama.

O que tanto “progressistas” como nazistas e fascistas também desprezam é o capitalismo liberal. Muitos ignoram o fato de que o antissemitismo de Hitler tinha origem em seu ódio pelos financistas. Para ele, o elo entre judeu e capitalismo era total, e fonte de sua raiva. Soa familiar ao ódio pregado pelos democratas contra Wall Street, contra os especuladores e ricos capitalistas em geral? Não é a esquerda que odeia Israel, enquanto Trump representa seu maior aliado?

Há vasta informação no livro sobre as demais ligações diretas e indiretas entre a esquerda americana e os nazistas. Mas a esquerda tem sido capaz de não só bancar a vítima do fascismo, como inverter a realidade e pintar a real vítima como algoz. São os conservadores e liberais clássicos que lutam contra o fascismo, que querem diminuir o Estado, descentralizar seu poder, impor limites constitucionais e preservar as liberdades individuais. Tudo isso é contrário ao fascismo e ao nazismo, assim como ao “progressismo”.

Não é coincidência que Mussolini e seus companheiros tenham vindo do socialismo, assim como Hitler e os nacional-socialistas. Tampouco deveria ser surpresa: eles viam com naturalidade essa “transição”, justamente porque consideravam o nazismo e o fascismo como ideologias socialistas na essência. Somente uma “grande mentira” poderia esconder isso de tanta gente, por tanto tempo.

O livro possui nove capítulos, onde o autor descreve com fundamentação histórica qual é a “grande mentira” da esquerda. Ou seja, que os conservadores são fascistas. Até mesmo, nazistas. Mas, na verdade, essa mentira audaciosa é uma inversão completa da verdade. Sim, há fascistas, mas eles estão na esquerda. A esquerda possui uma ideologia virtualmente idêntica ao fascismo, e, rotineiramente, empresta as táticas de intimidação e terrorismo político dos nazistas. O livro é uma janela para a história, da parte da história que não está nos livros tradicionais mas explodirá a mente das pessoas que o lerem.
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D’SOUZA, Dinesh. A grande mentira: expondo as raízes nazistas da esquerda. São Paulo, SP: Trinitas, 2019.

COMO LER A BÍBLIA [Resenha 031/20]


Há quem leia pouco (ou mesmo deixe de ler) a Bíblia por se sentir intimidado pela complexidade de seus textos. Para pessoas assim, a leitura do texto sagrado é como uma viagem por terras desconhecidas usando um guia cheio de enigmas. São muitos livros cheios de nomes de lugares e pessoas, além de vários fatos históricos e diversas mensagens, nem sempre muito claras. Com o objetivo de tornar essa jornada mais tranquila e enriquecedora, os teólogos Gordon Fee e Douglas Stuart se propõem a tomar o leitor pela mão e desvendar a Palavra de Deus, livro por livro, detalhe por detalhe.

Este livro busca ser um COMPLEMENTO de um outro livro muito conhecido, intitulado “Entende o que lês?” Que foi uma obra concebida para ajudar pessoas a se tornarem melhores leitoras das Escrituras, levando em consideração os vários tipos de literatura que compõem a Bíblia cristã. Este livro também é uma EVOLUÇÃO, por dois motivos: (1) o propósito ainda é o mesmo: ajudar pessoas a se tornarem melhores leitoras das Escrituras e (2), pelo fato de ser um manual de pesquisa da Bíblia que irá auxiliar os estudantes em seus cursos de teologia.

Os autores apresentam três objetivos na elaboração desta obra. Primeiro, não é simplesmente distribuir conhecimento sobre os muitos livros da Bíblia. O interesse consiste no fato de que o leitor se torne um melhor leitor das Escrituras. Segundo, mostrar a harmonização de todos os livros bíblicos, que combinam-se como um todo para contar a história de Deus. Terceiro, fornecer uma leitura do documento bíblico em sua forma canônica final.

O livro possui três grandes seções em cada capítulo. A primeira, “Visão geral de...”, busca apresentar o livro dando uma noção do seu tema como um todo. A segunda, “Orientações para a leitura de...”, é apresentado uma maneira de ler o texto, alguns temas-chave para manter em mente durante a leitura, ou algum material crucial de antecedentes — tudo com o propósito de ajudar você quando estiver lendo o texto por conta própria. A seção final, “Uma Caminhada por...”, toma o leitor pela mão, por assim dizer, e o conduz através do livro, mostrando como as suas diversas partes interagem para formar o todo.

Portanto, “Como ler a Bíblia livro por livro” é um mapa para nortear a leitura, proporcionar clareza e ampliar a compreensão da Palavra de Deus.
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FEE, Gordon, STUART, Douglas. Como ler a Bíblia livro por livro: um guia confiável para ler e entender as escrituras sagradas. Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson Brasil, 2019. 448p.

segunda-feira, 23 de março de 2020

FÉ, ESPERANÇA E AMOR [Resenha]


A fé, a esperança e o amor são apresentadas pelo autor como as três virtudes teologais. “Toda a vida cristã, nos termos de nossa vida como resposta a Deus e a sua nova obra em nós, procede da fé, da esperança e do amor. Tudo que fazemos como cristãos se relaciona com essas três virtudes”. É excelente a citação que o autor faz na introdução de Godefridus Udemans, um teólogo holandês influente do movimento Nadere Reformatie (Reforma Adicional), que em uma de suas obras considera o Credo Apostólico (a fé), a Oração do Senhor (a esperança) e os Dez Mandamentos (o amor) formas para entender as virtudes teologais.

Este livro se baseia com firmeza na Escritura, e nos leva de volta as virtudes teologais da Idade Média, organiza-as em um catecismo reformado e usa as distinções teológicas do período pós-reforma e ortodoxas, para instruir nossa mente, inflamar nosso coração e nos levar ao serviço. Quando falo que o autor organizou em forma de catecismo, digo então que há perguntas, respostas e comentários. Ele também cava com profundidade em exposições teológicas clássicas, em especial entre os puritanos. Essa organização composta de maneira clara e vívida, permite aos eleitores não só entender os ensinos, mais interiorizá-los, e assim crescer na graça.

O livro possui três partes, Fé, Esperança e Amor com 58 perguntas. Na parte 1, sobre a fé, o autor afirma que tem uma dívida intelectual para com os luminares puritanos, John Owen e Thomas Goodwin, pois eles ensinam que nossa fé como uma graça faz mais que agir como instrumento para receber a salvação. Na parte 2 sobre a esperança, o autor diz deveríamos estar cientes da doutrina da esperança e deveríamos buscar cultivar uma expectativa mais esperançosa daquilo que Deus nos promete na Palavra. Finalmente, na parte 3, o autor mostra de forma positiva o que o amor requer. Muitos no passado olharam para o amor sob a perspectiva dos Dez Mandamentos, que é a expressão do amor a Deus e ao próximo. Portanto, em cada capítulo, o autor nos aponta para Cristo, em quem depositamos a fé, a quem imitamos em amor e por quem aguardamos com esperança.

O autor conclui o prefácio desta obra assim: “Essas virtudes teologais são graças outorgadas a nós por um Deus gracioso. Com fé, esperança e amor somos capazes dizer ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, em resposta às suas promessas: ‘O cordão de três dobras não se rompe tão facilmente’” (Ec 4.12b).
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MARK, Jones. Fé, esperança e amor: o modo cristocêntrico de crescer na graça. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2018. 322p.

sábado, 21 de março de 2020

O ESPÍRITO E A PALAVRA [Resenha]


O assunto deste livro é sobre hermenêutica e teologia pentecostal escrito por Gutierres Siqueira. Sobre a importância deste livro para o movimento pentecostal brasileiro, Robert. P. Menzies, ministro das Assembleias de Deus nos Estados Unidos destaca quatro aspectos importantes: (1). É um livro escrito por um obreiro e estudioso da Assembleia de Deus do Brasil, por isso, é uma expressão autêntica da visão teológica das Assembleias de Deus no Brasil. (2). Este livro é importante por causa de seu foco bíblico. O movimento pentecostal precisa de um firme fundamento teológico enraizado na clara exposição das Escrituras. (3). É uma expressão da teologia pentecostal em português. O autor fornece aos pentecostais brasileiros as palavras de que precisam para descrever sua própria experiência. (4). Este possui uma vitalidade espiritual. É completamente pentecostal e fielmente evangélico, centrado em Cristo e enraizado no texto bíblico. O foco do livro em Cristo e em seu dom do Espírito, produz vitalidade espiritual.

O autor do livro nomeia seu horizonte, no início da obra, mostrando a base estrutural do pentecostalismo. O livro é constituído de dezesseis capítulos, onde o autor descreve, histórica e conceitualmente, o método exegético da teologia pentecostal; apresenta o modo como habitualmente os carismáticos lidam com a religião e com a esfera pública; retrata as ideias, bem como os problemas, que estão em voga no mundo contemporâneo. Apreende tais signos para captar seu espírito; e então os reaviva, submetendo-os à compreensão de que o Espírito é o vicário de Jesus Cristo no mundo.

Portanto, o livro constitui um indício de que o pentecostalismo no Brasil começa a pensar por conta próprio. O autor pensa as questões do pentecostalismo, da teologia cristã e da cultura moderna. É com está escrito em uma parte da sinopse: “Nesta necessária obra, Gutierres Siqueira, ao discorrer com a clareza e o didatismo habituais sobre como os pentecostais interpretam as Sagradas Escrituras, especialmente o pentecostalismo de matriz assembleiana, faz um abrangente relato acerca da Hermenêutica Pentecostal, suas principais características e como ela dialoga com a Bíblia, com outras hermenêuticas e teologias, indo da neopentecostal à pública”.
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SIQUEIRA, Gutierres. O Espírito e a Palavra: fundamentos, características e contribuições da Hermenêutica Pentecostal. Rio de Janeiro: Editora CPAD, 2019.

sexta-feira, 20 de março de 2020

A LEI DE DEUS CONTRA A LIBERDADE DOS HOMENS [Resenha]


Para o autor, que a religião viva ou sobreviva, tudo bem. Mas que pretenda pôr a lei de Deus acima da “liberdade” dos homens (grifo meu) parece inadmissível. Contudo, ele diz que é necessário tentar compreender como e por que as grandes tradições religiosas, monoteístas em particular, veem hoje uma parte de seus adeptos resvalar em formas radicais de contestação da sociedade moderna, em formas de crenças arcaicas, em cruzadas e guerras “santas”.

Antes de tratar como os adeptos das expressões fundamentalistas das três religiões (judaísmo, cristianismo e islamismo) convergem perfeitamente na rejeição das tendências surgidas na modernidade, ele deixa claro que estas três religiões não são fundamentalistas em seus dogmas, e sim, parte dos seus adeptos é que são. Em seguida ele estabelece conceitos para três termos que usa durante todo o livro: (1) Fundamentalismo religioso: Admite que há apenas um livro sagrado que deve ser a regra de fé e conduta para todos e que é inquestionável. Exemplo: Fundamentalismo protestante (a minoria dos evangélicos), Fundamentalismo Islâmico (a minoria dos grupos islâmicos).; (2) Integrismo: Admite que há uma tradição sagrada que deve permear até mesmo as interpretações de seus livros sagrados. Exemplo: Integrismo católico (uma minoria do catolicismo); (3). Fundamentalismo-Integrismo: Acredita que há tanto um livro sagrado como uma tradição sagrada que o interpreta e que um não existe sem o outro.

Neste livro, o autor procura captar, de múltiplos ângulos, a lógica que embasa os fundamentalismos e os integrismos, seu “problema” com a modernidade. E acerca desta tal “modernidade”, o livro mostra ainda como os adeptos das expressões fundamentalistas das três religiões (judaísmo, cristianismo e islamismo) convergem perfeitamente na rejeição das tendências surgidas na modernidade. Essas tendências o autor assim enumera: (1) a autonomia do homem que quer governar-se conforme sua própria razão; (2) a democracia que instaurou a separação entre Igreja e Estado; (3) a secularização da sociedade; (4) os direitos do homem que afirmam a posição do indivíduo diante do estado e dos poderes em geral; (5) a cultura crítica que faz com que o homem “ouse pensar”.

Jean-Louis Schlegel é um filósofo francês, editor, sociólogo das religiões e tradutor nascido em 1946. Ele estuda em particular a evolução das religiões, especialmente o catolicismo, nas sociedades contemporâneas.

Do meu ponto de vista, o livro é bom, mas, não recomendo para aqueles que não estão acostumados a ler o contraditório.
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SCHLEGEL, Jean-Louis. A lei de Deus contra a liberdade dos homens: integrismos e fundamentalismos. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.

AS PARÁBOLAS DE JESUS [Resenha]


AS PARÁBOLAS DE JESUS ERAM metáforas engenhosamente simples que transmitiam lições espirituais profundas. Seus ensinamentos eram repletos dessas histórias do dia a dia. Algumas delas não passavam de observações rápidas sobre acontecimentos, objetos ou pessoas comuns. Jesus era mestre em contar histórias. Não existe verdade tão familiar ou doutrina tão complexa à qual ele não conseguisse dar nova profundidade e sabedoria contando uma simples história. Essas narrativas tipificam a profundeza plena e poderosa de sua mensagem e de seu estilo de instrução.

O autor faz um resumo sobre quais eram os objetivos das parábolas: “as parábolas de Jesus tinham um propósito duplo claro: elas escondiam a verdade das pessoas satisfeitas consigo mesmas, que se consideravam sofisticadas demais para aprender algo dele, enquanto a mesma parábola revelava a verdade às almas ansiosas que tinham a fé de uma criança — àquelas pessoas que tinham fome e sede de justiça. Jesus agradeceu ao Pai por ambos os resultados: “Eu te louvo, Pai, Senhor dos céus e da terra, porque escondeste estas coisas dos sábios e cultos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, pois assim foi do teu agrado” (Mateus 11:25-26).

Neste livro são examinados uma dúzia das parábolas mais notáveis de Jesus. Apesar de a parábola do filho pródigo ser uma das histórias mais ricas, mais memoráveis e mais importantes de Jesus, ela não foi incluída neste livro, visto que o autor escreveu um livro inteiro sobre esta passagem. Encontramos as parábolas de Jesus apenas nos Evangelhos sinóticos. O Evangelho de João não registra uma única parábola. Parábolas são raras também em Marcos; ele inclui apenas seis, e apenas uma (4:26-29) é registrada em Marcos.

O livro, além de uma bela introdução, possui dez capítulos onde são estudadas doze parábolas, onde o autor trabalha e expõe com uma boa teologia, a profundeza de sentido com a ajuda de uma seleção representativa das parábolas de Jesus e analisar a maneira engenhosa com que ele ilustrou verdades vitais com histórias do dia a dia. E nos ensina que as lições que Cristo incluiu em suas imagens verbais são verdadeiramente profundas e merecem nossa atenção. Como disse Jesus àqueles primeiros discípulos: “Felizes são os olhos que veem o que vocês veem. Pois eu lhes digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vocês estão vendo, mas não viram; e ouvir o que vocês estão ouvindo, mas não ouviram” (Lucas 10:23-24). Essas histórias contêm uma promessa de bênção para aqueles que entendem a verdade que elas ensinam.
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MACARTHUR, John. As parábolas de Jesus comentadas por John MacArthur: os mistérios do Reino de Deus revelados nas histórias contadas pelo Salvador. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2016.

sexta-feira, 13 de março de 2020

VIVENDO NA LUZ [Resenha]


Deus não concebeu e criou o dinheiro, o sexo e o poder simplesmente para serem uma tentação. Ele tinha bons propósitos em mente. O dinheiro, o sexo e o poder existem para os grandes objetivos de Deus na história humana. Não são desvios no caminho que conduz à alegria que exalta a Deus. Junto com todos os demais elementos do mundo bom criado por Deus, eles são a trilha pela qual seguimos. Por meio deles, podemos evidenciar o valor supremo de Deus.

Um dos objetivos deste livro é mostrar como isso acontece. Portanto, a abordagem do autor consiste em identificar os potenciais do dinheiro, do sexo e do poder, bem como suas armadilhas. Quais são os perigos que precisam ser superados? Quais são os potenciais que precisam ser devidamente aplicados?

A tese principal deste livro tem duas partes. Primeiro, o dinheiro, o sexo e o poder, que inicialmente eram boas dádivas de Deus para a humanidade, tornaram-se perigosos porque todos os seres humanos trocaram a glória de Deus por imagens (Rm 1.23). Segundo, o dinheiro, o sexo e o poder serão restaurados ao seu lugar, o que traz glória a Deus, e isso mediante a redenção que ele trouxe ao mundo por meio de Jesus Cristo, ou seja, a magnífica libertação da criação de todo pecado, enfermidade e tristeza.

Acerca desse livro, escreveu Albert Mohler Jr.: “Esse livro merece a cuidadosa consideração de todo cristão. John Piper nos conduz por uma exploração teologicamente rica e biblicamente fiel de potenciais obstáculos para desfrutarmos Deus. Nessas páginas, você descobrirá não apenas o perigo espiritual de depositar a esperança nas coisas deste mundo, mas também aprenderá como nós, cristãos, podemos entender o sexo, o dinheiro e o poder como meios para glorificar a Deus”.

Portanto, a importância de ler este livro, consiste nos seguintes fatos: (1) nos conduz por uma exploração teologicamente rica e biblicamente fiel de potenciais obstáculos para desfrutarmos Deus. (2) é inquisitivo em sua análise, pungente em seus desafios, mas maravilhosamente revigorante em seu encorajamento. (3) nos prepara para lutar contra a tentação, incendiando nossas afeições pela glória de Deus em Jesus Cristo.

Além dos agradecimentos, introdução e conclusão, o livro é composto por seis capítulos onde John Piper mostra a importância, a beleza e o benefício de entender o dinheiro, o sexo e o poder como caminhos para glorificar a Deus enquanto nos satisfazemos nele. Leia esse livro e você estará mais bem preparado para, com humildade e confiança, desfrutar esses bons presentes de Deus.
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PIPER, John. Vivendo na luz: dinheiro, sexo e poder. Fazendo o melhor uso de três oportunidades perigosas. São Paulo: Vida Nova, 2019.

sábado, 7 de março de 2020

OS QUATRO CÁLICES [Resenha]


Este livro, trata-se de uma exposição do “cálice” da aliança de Deus considerado pelo autor, um cálice poderoso e cheio de significado – um sentido que é plenamente esclarecido na primeira refeição de Páscoa que Israel teve no Egito. O autor afirma: “Estou convencido de que se cada cristão, cada igreja do mundo, pudesse compreender esses quatro princípios poderosos, a Igreja entraria em um mover que seria um verdadeiro avivamento. Já vi cristãos medíocres, moderados, mornos e pouco interessados se transformarem em crentes poderosos, apaixonados e dedicados quando se convenceram de que haviam sido totalmente livres do seu passado, foram libertos do seu cativeiro, descobriram o propósito de suas vidas e se lançaram em uma vida de serviço”.

A fundamentação do argumento do autor está nas quatros promessas escritas Êxodo 6.6-7, quando foram estabelecidos o fundamento para a nação de Israel. Cada uma dessas quatros promessas, segundo o autor, representa, quatro cálices que revelam a presença de Deus de uma maneira distinta e substancial. Os quatros cálices ou promessas também revelam o processo do desenvolvimento interativo – a transformação espiritual.
O primeiro Cálice, é o da Santificação, tem como base a promessa de Deus: “Eu os livrarei do trabalho imposto pelos egípcios” (6.6). O segundo Cálice é o da Libertação, baseia-se na seguinte promessa de Deus: “Eu os libertarei da escravidão” (6.6). O terceiro cálice, Cálice da Redenção, baseia-se nesta promessa de Deus: “Eu o resgatarei com braço forte e com poderosos atos de juízo” (6.6). O quarto cálice, o Cálice do Louvor, baseia-se nesta promessa de Deus: “Eu os farei Meu povo e serei o Deus de vocês” (6.7).

O livro, além do prefácio e epílogo, é constituído de sete capítulos. Os capítulos quatro a sete, é onde o autor expõe em detalhes sobre “Os quatro Cálices”. Em todo o livro, o objetivo do autor é exortar o leitor a experimentar a comprovação máxima da obra madura de Deus em sua vida.
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HODGES, Chris. Os quatro cálices: promessas de Deus para uma vida de realização. Rio de Janeiro, RJ: Luz às Nações, 2019. 140p.

sexta-feira, 6 de março de 2020

GRANDES ESPERANÇAS [Resenha]


Leland Ryken (autor do livro “Santos no mundo”), afirma que Grandes Esperanças de Charles Dickens é o melhor romance originalmente publicado em inglês. E sustenta que este romance é a melhor introdução possível ao povo e aos lugares da Inglaterra. E mostra dois motivos para tais elogios.

(1) A “britanicidade” de Grandes Esperanças está é sem igual. E diz que um bom romance é aquele que desejamos ao nos sentarmos para ler um romance é sermos transportados. “Grandes Esperanças” corresponde às expectativas. Nenhum escritor de ficção superou Dickens no dom de criar mundos. O mundo para o qual somos transportados quando lemos Grandes Esperanças é a Inglaterra britânica e vitoriana por excelência. É um mundo de natureza e campo, cidadezinhas e Londres.

(2) Um bom romance é aquele que desejamos ser entretidos. A defesa hedonista da literatura (a literatura defendida com base no princípio do prazer), nos proporciona lazer, e o lazer foi feito para ser desfrutado. Grandes Esperanças nos proporciona o lazer que buscamos. Ele também é uma obra-prima cômica. Entre os autores ingleses, Dickens está ao lado de Chaucer e Shakespeare como grandes maiores humoristas. Sua comédia é dividida entre comédia oriunda dos personagens e comédia oriunda das situações do enredo.

Dickens foi um estilista e artífice da palavra do mais alto calibre, e a obra em que ele mais deu provas disso foi em Grandes Esperanças, seu último grande romance. Ele pôde imortalizar momentos, dada a forma como os expressou. Seu estilo brilhante é autocompensador.

O que dizer da verdade de Grandes Esperanças? Um tipo de verdade que representa a experiência humana com precisão. Um escritor de ficção nos induz a encarar a vida, e o conhecimento que advém disso é conhecimento na forma de ver corretamente – ver as coisas com exatidão. Praticamente tudo que Dickens retrata em Grandes Esperanças “acerta” em sua interpretação acurada da experiência humana.

E a edificação, onde é que fica? Leland Ryken, coloca a literatura como um todo em uma sequência com três categorias principais: (1) Literatura cristã; (2) Literatura de esclarecimento e humanidade compartilhada e (3) Literatura de descrença.

Escrito em 1860, Grandes Esperanças se encaixa na categoria do meio. Ele não endossa explicitamente a fé cristã (embora contenha muitas referências bíblicas), mas se harmoniza facilmente com o cristianismo. A vida do personagem Pip (Philip Pirip) está dividida em três partes: sua infância penosa; a descoberta da vida adulta; e o desenrolar de suas grandes esperanças. O autor, em especial, levanta a questão dos valores de forma proveitosa. Pip perde sua alma (metaforicamente falando) quando baseia sua vida em suas “grandes esperanças” de uma vida de sossego material baseada no dinheiro herdado, e ganha sua alma (em um sentido moral, mas não espiritual) quando abandona suas grandes esperanças e baseia sua vida no amor, nos relacionamentos pessoais e no contentamento com a vida comum.
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DICKENS, Charles. Grandes Esperanças. São Paulo, SP: Penguim Classics Companhia das Letras, 2012.

quinta-feira, 5 de março de 2020

DEVOCIONAL POP [Resenha]


O livro Devocional POP é uma ramificação do projeto Parábolas Geek, onde são elaborados textos devocionais utilizando elementos da cultura pop, como filmes, séries de TV, Quadrinhos e personagens diversos, utilizando esta metalinguagem para que os princípios bíblicos possam fazer sentido a esta geração. Com esta estratégia buscam alcançar aqueles que são cristãos, mudando um paradigma nas fontes de estudo bíblico, além daqueles que não conhecem ao Senhor para que através de elementos familiares, eles possam aproximar-se de Deus. Ou seja, os elementos da cultura pop são transformados em parábolas com verdades do Reino e mensagens de Jesus.

São 366 textos, com personagens diferentes e englobando todos os gostos, filmes clássicos, personagens icônicos, ficção científica, épicos medievais, mutantes, super-heróis e muito mais. Todos os dias trazendo uma mensagem diferente, com conteúdo Cristocêntrico e edificante para nossas vidas.

Páginas impressas com exímia qualidade, contando com um apelo visual agradável, é um livro colorido, chamativo, criativo, feito em parceria com a Editora 100% Cristão. Enfim, não é um livro de uma estória ou história só, é um livro devocional, então o fluir de leitura é bem agradável, não precisa “gostar de ler” para conseguir lê-lo, pois uma leitura rápida, diária, já basta para absorver o conteúdo do livro. O que facilita muito a aceitação do livro, pois sabemos que estamos vivendo uma geração que não gosta de ler.

E isso é um ponto muito interessante, pois se formos para a bíblia, Jesus falava ao povo por parábolas, ou seja, ele usava elementos da pescaria, plantação, moeda da época para falar sobre o Reino de Deus, hoje em dia, muitas pessoas não conhecem esse tipo de coisa, mas conhecem Homem Aranha, Capitão América, Superman, Batman, Star Wars, Goonies e afins... Então, o autor segue excelentemente o exemplo do nosso mestre Jesus e pega os elementos que as pessoas conhecem para trazer verdades eternas do Reino de Deus!
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MEDEIROS, Eduardo. Devocional POP (Edição Especial). Osasco, SP: Editora 100% cristão, 2019.


Texto publicado originalmente no blog
https://www.bandodequadrados.com/reviews/devocional-pop-review

segunda-feira, 2 de março de 2020

FUTUROS HOMENS [Resenha]


Vivemos em uma cultura feminista e efeminada. Por causa disto, geralmente nos sentimos, no mínimo, desconfortáveis como a masculinidade. E, com frequência, sempre que a masculinidade de alguma maneira aparece, pedimos que seja feito algo a respeito. Há basicamente duas direções nas quais um garoto pode seguir ao se apartar da masculinidade bíblica. Uma é a opção pela efeminação, a outra é a macheza, uma masculinidade falsificada. Na primeira, o garoto toma como modelo um conjunto de virtudes que não seriam dele. Na segunda, adota um conjunto de supostas virtudes, práticas que não são virtudes de forma alguma.

Então, qual o modelo para a masculinidade bíblica? Douglas Wilson responde: “Ao olharmos para as Escrituras buscando um padrão de masculinidade que possamos apresentar aos nossos filhos, iremos encontra-lo perfeitamente manifesto na vida do Senhor Jesus Cristo. Ele é a Palavra encarnada, o Único que incorpora perfeitamente tudo que as Escrituras ensinam em palavras. No decorrer de todo esse livro, ao olharmos para o ensino das Escrituras sobre o que significa ser um homem (e, portanto, o que significa ser um futuro homem), iremos voltar nova e novamente para o exemplo de Jesus Cristo. Ele se apresenta a nós como padrão final para amizade, coragem, fé e integridade”.

Gosto do que Leonardo Galdino escreveu sobre este livro: “Um dos conceitos bíblicos mais preciosos que a igreja contemporânea precisa recuperar e comunicar com absoluta urgência a este mundo caído é o da masculinidade – a verdadeira, não a fingida (macheza, truculência). Ao longo dos últimos anos, sucumbimos diante do igualitarismo. Não conseguimos responder ao feminismo sem temer a pecha de “machista!”. Em outras palavras, não fomos suficientemente… viris. Nesse sentido, a leitura do livro pastor Douglas Wilson é mais que oportuna: é obrigatória. Ou recuperamos a masculinidade em nossos lares, ou mergulharemos de vez no mar sem fim do paganismo”.[1]

Além da introdução, conclusão e apêndices, o livro possui 18 capítulos. Douglas Wilson começa com um chamado aos pais, e então trata da importância de assuntos tais como dedicação aos estudos e esportes, o respeito pelas garotas, o desenvolvimento de uma noção profunda de trabalho ético, evitar as armadilhas do dinheiro, combater os ídolos e pecados secretos. Este livro lança os padrões bíblicos de masculinidade sobre todas as fronteiras da vida de um garoto.
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WILSON, Douglas. Futuros homens: criando meninos para enfrentar gigantes. Recife, PE: Editora Clire, 2013.


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[1] https://educarcomsapiencia.com/2015/10/28/futuros-homens-criando-meninos-para-enfrentar-gigantes-douglas-wilson/

domingo, 1 de março de 2020

BONHOEFFER: PASTOR, MÁRTIR, PROFETA, ESPIÃO [Resenha]


BONHOEFFER – pastor, mártir, profeta, espião de Eric Metaxas. Esta biografia nos apresenta com riqueza de detalhes a vida do teólogo alemão e ativista antinazista Dietrich Bonhoeffer (1906-1945). Segundo o jornal The New York Times, esta é a primeira biografia importante de Bonhoeffer em 40 anos e já entrou para sua lista de best-sellers. Neste livro, Eric Metaxas consegue aliar as duas vertentes da vida de Bonhoeffer, como teólogo e espião, em uma narrativa marcante da história desse homem de grande coragem moral e amor pelo próximo contra o monstro da época, o nazismo. Com uma narrativa comovente, Metaxas usa documentos, incluindo cartas pessoais anteriormente indisponíveis, anotações detalhadas de seus diários, que vão desnudando para o leitor a vida desse grande homem.

Em 1939, depois que Hitler declarou guerra contra a Polônia, e depois que Bonhoeffer retornou de sua viagem para os EUA, ele pediu direção a Deus sobre o que deveria fazer a seguir. Bonhoeffer foi então trabalhar para a inteligência militar alemã – denominada Abwehr – sob a supervisão de seu cunhado, Hans von Dohnanyi. Enquanto trabalhava para a Abwehr, Bonhoeffer se envolveu na chamada “Operação 7”, um ousado plano para contrabandear judeus para fora da Alemanha. Essa operação atraiu suspeitas da Gestapo, e em 05 de abril de 1943, após o fracasso de três atentados contra a vida de Hitler, Bonhoeffer foi preso e enviado para a prisão militar de Tegel, em Berlim.

Ainda antes de ser preso, Bonhoeffer denunciava profeticamente, por diferentes meios, a cooptação da igreja alemã, a participar da Igreja Confessante e a liderar o seminário clandestino dessa igreja. Porém, o engajamento ativo na luta política, que lhe custou a vida decorria da percepção que tinha do significado de ser discípulo de Cristo. Como salienta Metaxas, embora altamente competente como teólogo e professor, Bonhoeffer não estava interessado em abstração intelectual, mas nos aspectos práticos de como viver como cristão no seu contexto, aplicando a Bíblia a cada dimensão da existência.

Suas opções foram moldadas, como aponta Metaxas, pela formação recebida no ambiente familiar, que ajudou a desenvolver um pensamento teológico independente, mesmo estudando ou sendo amigo dos mais renomados teólogos do seu tempo, como Adolf von Harnack, Karl Barth, Reinhold Niebuhr e Paul Lehamann.

O livro também conta uma história de amor pouco conhecida, entre Bonhoeffer e sua noiva Maria von Wedemeyer, bem mais nova do que ele. Quando se conheceram ela estava com 18 anos e ele com 37. Logo após, em março de 1943, ele foi preso e acabou sendo enforcado, pouco tempo antes de o próprio Hitler cometer suicídio e a guerra acabar. Vale ressaltar que, durante o tempo que passou na prisão, Bonhoeffer escreveu cartas inspirativas e poemas que hoje são considerados como clássicos cristãos. “Porque eu descobri finalmente, e continuo ainda descobrindo, que é tão somente através do viver completo neste mundo que se aprende a crer”. Dietrich Bonhoeffer.

A vida desse homem nos apresenta ainda uma pessoa que não aceitava preconceitos; que correu riscos para defender os perseguidos; um lutador que não se omitia. A beleza e verdade contidas no livro de Metaxas levam o leitor à reflexão de que nós, “cidadãos politicamente corretos” do século 21, também não podemos nos esconder e muito menos nos omitir, face as grandes injustiças da humanidade e diante de gente que destila preconceitos como os que acompanhamos nos noticiários e em nosso dia a dia.

O livro, contem 31 capítulos escritos em 615 páginas, onde Eric Metaxas conta essas e outras histórias. Trata-se de um livro de leitura fácil, bem documentado, em que, sempre que possível, o autor deixa o biografado “falar por si mesmo” por meio de uma série de citações contextualizadas.
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METAXAS, Eric. Bonhoeffer: pastor, mártir, profeta, espião. São Paulo, SP: Editora Mundo Cristão, 2011. 615p.

DAVI, A VIDA REAL DE UM HERÓI BIBLICO [Resenha]


O escritor Joel Baden, estudioso da Bíblia Sagrada e professor da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, escreveu o livro “Davi: A Vida Real de um Herói Bíblico”. Segundo o autor, o seu objetivo é “recuperar o Davi histórico e extirpar todas as lendas que envolvem o rei israelita, chamado pelas Escrituras de ‘homem segundo o coração de Deus’”. No seu esforço ele diz coisas surpreendentes: (1) o pastor de ovelhas que ascendeu ao trono de Israel não foi o responsável pela morte de Golias. (2) e também não era o pai de Salomão, seu sucessor. (3) também não escreveu os salmos que lhe são creditados. Na introdução do livro, o autor apresenta um Davi controverso, inescrupuloso, ambicioso, violento e manipulador, valendo-se de traição e assassinato para chegar ao trono. 

Apesar do autor usar como fonte de pesquisa a própria Bíblia, o que se percebe neste que o método de interpretação empregado por Baden, denominado histórico-crítico, faz uma dissecação do texto procurando contradições, camadas e momento de autoria. O método histórico-crítico pode se apoiar ainda em evidências externas, como a arqueologia, que podem fornecer provas que corroboram ou não as hipóteses formadas por essas leituras. Contudo, não é caso deste livro.

Algumas verdades precisamos enfatizar. (1) Davi não foi o único a escrever o livro de Salmos. A Bíblia é clara sobre isso. (2) Davi realmente matou Golias. A “Enciclopédia Manual Popular – Enigmas e ‘Contradições da Bíblia’”, escrita por Norman Geisler e Thomas Howe – e publicada no Brasil pela editora Mundo Cristão – revela que a atribuição da morte de Golias a Elanã é, na verdade, um erro de copista, pois o guerreiro hebreu menos famoso teria matado o irmão de Golias, de acordo com uma narrativa paralela sobre a mesma batalha, apresentada no livro de Crônicas. A passagem de II Sm 21:19, que diz: “Elanã, filho de Jaaré-Oregim, o belemita, feriu Golias, o geteu, cuja lança tinha a haste como eixo do tecelão”, seria, assim, uma correspondência, com erros, da passagem de I Crônicas 20:5, que diz: “Elanã, filho de Jair, feriu a Lami, irmão de Golias, o geteu, cuja lança tinha a haste como eixo de tecelão”. Ainda segundo a “Enciclopédia Manual Popular”, tal equívoco seria explicado por uma confusão feita por um copista “com as palavras e letras hebraicas que, quando combinadas de certa maneira, deram a redação encontrada em II Samuel”. (3) Salomão é filho de Davi, como consta na genealogia de Jesus em Mateus 1.

O livro, além da introdução e conclusão, é composto por sete capítulos, onde, segundo o autor, busca estabelecer o que é lenda e o que é realidade. Contudo, para provar o que escreveu, o professor Joel Baden pouco pôde contar em termos de material de estudo, já que as fontes históricas mais antigas sobre o Rei Davi vieram das páginas da própria Bíblia. Praticamente inexistem outras fontes históricas do reinado de Davi. Sem outras fontes tão antigas, ele simplesmente caiu no vale da pura especulação e achismo. Com isso Baden presume muita coisa, levanta teorias de pura especulação, baseadas em nada palpável ou objetivo. Assim o professor de Yale acabou caindo numa armadilha perigosa - a da pura e simples especulação em torno de um personagem histórico, real. Isso definitivamente também não é ciência, apenas muita conversa fiada jogada fora.

O rei Davi estava longe de ser um homem perfeito, porém ele era uma pessoa sincera, fiel e leal aos seus amigos. Mas, principalmente, Davi era sensível à voz de Deus. O rei Davi era alguém que tinha seu coração completamente inclinado a Deus. Ele sabia de sua condição humana limitada diante um Deus Todo-Poderoso. Dessa forma, ele era verdadeiro em se arrepender e buscar o favor divino. Uma das descrições mais conhecidas sobre quem foi Davi está registrada no livro de Atos dos Apóstolos. Nela, lemos que o rei Davi era um homem “segundo o coração de Deus” (Atos 13:22).
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BADEN, Joel. Davi: a vida real de herói bíblico. Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 2016. 293p.