sexta-feira, 29 de junho de 2018

OS CÂNTICOS DE JESUS [Introdução]


KELLER, Timothy. Os Cânticos de Jesus: Um ano de devocionais nos Salmos. São Paulo: Edições Vida Nova. 2017.

O Livro de Salmos foi o hinário divinamente inspirado para a adoração pública do Israel antigo a Deus (1 Cr 16.8-36). Como os salmos não eram simplesmente lidos, mas cantados, penetravam a mente e a imaginação do povo como só a música é capaz de fazer. Saturavam de tal forma o coração e a imaginação do povo que, quando Jesus entrou em Jerusalém, nada mais natural que a multidão o saudasse recitando espontaneamente o trecho de um salmo (Mc 11.9; SI 118.26).

Os primeiros cristãos também cantavam e oravam os salinos (Cl 3.16; 1Co 14.26). Quando Benedito formou seus mosteiros, ordenou que os salmos fossem cantados, lidos e orados ao menos uma vez por semana. Ao longo do período medieval, os salmos foram a parte mais conhecida da Bíblia para a maioria dos cristãos. O Saltério era, provavelmente, a única parte da Bíblia da qual um cristão leigo tinha posse. No período da Reforma, os salmos desempenharam papel fundamental na renovação da igreja. Martinho Lutero determinou: "... o Saltério inteiro, salmo por salmo, deve permanecer em uso”. João Calvino prescreveu os salmos métricos como regime principal de cânticos nas congregações de adoradores. Escreveu ele: "O propósito do Espírito Santo [era] [...] entregar à igreja uma forma comum de oração”.

Todos os teólogos e líderes eclesiásticos acreditam que os salmos devem ser utilizados e reutilizados em toda busca diária cristã a Deus em privado e na adoração pública. Não nos limitamos a ler os salinos; devemos mergulhar neles de modo que moldem profundamente a forma de nos relacionarmos com Deus. Eles são o modo divinamente ordenado de aprender a devoção a nosso Deus.

Por quê? Uma razão está no fato de o livro de Salmos ser o que Lutero chamou de "Bíblia em miniatura': Ele dá uma visão geral da história da salvação desde a criação, passando pela entrega da Lei no monte Sinai, o estabelecimento do Tabernáculo e do Templo e o Exílio por causa da infidelidade, e aponta para adiante, para a redenção messiânica vindoura e a renovação de todas as coisas. Trata das doutrinas da revelação (Sl 19), de Deus (Sl 139), da natureza humana (Sl 8) e do pecado (Sl 14).

Todavia, os salmos são mais que mero instrumento de instrução teológica. Atanásio, um dos antigos pais da igreja, escreveu: "Seja qual for sua necessidade ou dificuldade particular, desse mesmo livro [Salmos] você pode escolher um conjunto apropriado de palavras, para [...] aprender a remediar seu mal''. Toda situação da vida está representada no livro de Salmos. Os salmos preveem cada condição espiritual, social e emocional possível e o treinam para elas - mostram quais são os perigos, o que você deve ter sempre em mente, qual deve ser sua atitude, como conversar com Deus sobre o assunto e como obter dele a ajuda necessária. "Colocam seu entendimento inarredável da grandeza do Senhor ao lado das situações que vivemos, a fim de que possamos ter uma noção apropriada da correta proporção das coisas.” Cada aspecto ou circunstância da vida é "... enviado à presença do Senhor e inserido no contexto do que é verdadeiro acerca de Deus''. Portanto, os salmos não são apenas uma cartilha inigualável de ensino, mas um armário de remédios para o coração e o melhor guia possível para a vida prática.

Ao chamar os salmos de "remédio” tento fazer justiça ao que os torna um pouco diferentes das outras partes da Bíblia. São escritos para ser orados, recitados e cantados - para ser praticados, não apenas lidos. O teólogo David Wenham conclui que usá-los repetidas vezes é um "ato performativo" que "altera o relacionamento da pessoa [com Deus] de modo tal que o simples ouvir não consegue''. Em certo sentido, devemos introduzi-los em nossas próprias orações, ou talvez introduzir nossas orações neles, e assim nos aproximarmos de Deus. Com isso, os salmos envolvem o falante diretamente em novas atitudes, compromissos, promessas e até emoções. Quando, por exemplo, não nos restringimos apenas a ler Salmos 139.23,24 - "Sonda-me [...] prova-me [...] vê se há em mim algum caminho mau ...” - mas o oramos, convidamos Deus a examinar nossas motivações e damos consentimento ativo ao modo de vida requerido pela Bíblia.

Os salmos nos levam a agir como os salmistas - a nos comprometer com Deus por meio de pactos e promessas, a depender dele por meio de súplica e expressões de aceitação, a buscar consolo em Deus por meio do choro e da lamentação, a encontrar a misericórdia de Deus por meio da confissão e do arrependimento, a adquirir nova sabedoria e perspectiva de Deus por meio da meditação, da lembrança e da reflexão.

Os salmos também nos ajudam a enxergar Deus - não como queremos ou esperamos que ele seja, mas como ele de fato se revela. A riqueza das descrições de Deus no Saltério ultrapassa a inventividade humana. Ele é mais santo, mais sábio, mais temível, mais terno e amoroso do que jamais imaginaríamos que ele fosse. Os salmos incendeiam nossa imaginação e a transportam para novos reinos, mesmo enquanto a conduzem em direção ao Deus que de fato existe. Isso traz uma realidade à nossa vida de oração como nada mais é capaz de fazer. "Entregues a nós mesmos, oraremos a algum deus que fale o que gostamos de ouvir ou à parte de Deus que conseguimos compreender. Crucial, no entanto, é que falemos ao Deus que fala conosco e a tudo o que ele nos diz. [...] Na oração, o essencial não é que aprendamos a nos expressar, mas que aprendamos a responder a Deus.”

A maior parte dos salmos, lida à luz da Bíblia inteira, leva-nos a Jesus. Os salmos foram o livro de música de Jesus. O hino que ele cantou no jantar de Páscoa (Mt 26.30; Me 14.26) seria o Grande Hallel, salmos 113-118. De fato, temos todos os motivos para presumir que Jesus cantou todos os salmos constantemente ao longo de sua vida, de modo que os conhecia de cor. Eles constituem o livro da Bíblia que Jesus cita mais do que qualquer outro. Mas os salmos não eram apenas cantados por Jesus; eles também falam sobre ele, como veremos ao longo deste livro.

Os salmos, portanto, são de fato os cânticos de Jesus.

Este livro pode ser adquirido neste link

quarta-feira, 27 de junho de 2018

GÊNESIS: COMENTÁRIO DO ANTIGO TESTAMENTO [Análise e texto]


WALTKE, Bruce K. Gênesis: Comentário do Antigo Testamento. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010, 800p.


Um extenso processo de pesquisa e colaboração levou à criação deste comentário. A fundação de notas exegéticas foi estabelecida no final dos anos 80, quando Bruce preparou as notas de Gênesis para a New Geneva Study Bible. Somos muitíssimos gratos à Foundation for Reformation por sua permissão para o uso destas notas como uma excelente base para este comentário. As primeiras reflexões teológicas e notas expandidas focalizando a análise literária foram desenvolvidas quando Bruce subseqüentemente ensinava Gênesis no Regent College. Em 1997, Bruce e a Zondervan perceberam que a combinação destas notas, análise literária e reflexões teológicas continham os traços de um excelente comentário que enriqueceriam a compreensão do povo deste livro dos primórdios.

Aqui Bruce envolveu Cathi, sua assistente docente naquela época, a fim de colaborar com ele no projeto de escrita, edição e organização. Cathi, anteriormente professora de inglês, parecia bem apta para o projeto, capaz de contribuir não só com a composição e edição, mas também para cuidar da análise literária e dos estudos de mulheres bíblicas.

Quando escreveu as notas originais de suas preleções, Bruce analisou
Gênesis com uma estrutura de livros, atos e cenas no esforço de captar a natureza literária do texto e ajudar seus alunos a apreenderem a estrutura e fluxo de Gênesis. Como esta abordagem incomum provou ser eficaz a ajudar os estudantes em seu estudo do livro, Cathi e Bruce trabalharam juntos para burilar e expandir a análise literária. Cathi providenciou um projeto do mesmo. Então, como inevitavelmente ocorre quando alguém começa um projeto dessa magnitude, Bruce determinou que a pesquisa adicional significativa era necessária para cobrir adequadamente os detalhes de Gênesis. Ele fez extensas adições à análise literária, notas exegéticas e reflexões teológicas. Cathi digitou tudo, tornando-o mais legível, testando Bruce com perguntas desafiadoras e melhorando o fluxo global, dando especial atenção ao plano e estrutura da narrativa. A introdução ao comentário foi escrita por Bruce, inclusive a adaptação de seu ensaio “The Kingdom of God in Biblical Theology”. Utilizando as notas de teologia bíblica de Bruce, Cathi escreveu a seção sobre os poéticos. O processo contínuo de diálogo e colaboração levou ao comentário em sua forma atual.

Nossa esperança e convicção é que a combinação de análise literária, notas exegéticas e reflexões teológicas sejam particularmente úteis a pastores e líderes leigos para ensinar e pregar em Gênesis. Como já se explicou na introdução, seguindo o plano do autor de Gênesis, esboçamos este fazendo uso de um prólogo e dez livros (Tol+dot). No início de cada livro dispomos o tema chave e o esboço do livro. Numa tentativa de captar o fluxo literário da narrativa e para facilidade de análise, dividimos ainda mais Gênesis em atos e cenas. Esta nomenclatura é arbitrária, já que o autor de Gênesis não laborou em estruturas de um drama moderno. Não obstante, cremos que nossas divisões são reais para sua interpretação da história de Israel e proveitosas para demarcar unidades na narrativa. A Análise Literária lança luzes nos principais aspectos literários de cada ato e cena e fornece um útil ponto de partida para o leitor. A análise não é de modo algum exaustiva nem conclusiva. Antes, tentamos modelar uma abordagem literária ao Gênesis. Quando os leitores adentrarem o Gênesis, nossa esperança é que descubram seus ricos tesouros literários, desvendando muitas outras estruturas e técnicas possíveis.

É melhor ler as Notas Exegéticas com a Bíblia em mãos. Tomando por base o texto da NVI, a não ser que se veja por outro prisma, sua intenção é prover um sumário e explicação úteis. Palavras e frases particulares que tenham significação ou requeiram clareza histórica, social ou geográfica são arbitrárias. As Reflexões Teológicas expandem os temas do Gênesis, extraindo conexões com o resto da Escritura e fazendo aplicações à igreja e à vida cristã.

Como ficou estabelecido antes, Quando escreveu as notas originais de suas preleções, Bruce analisou Gênesis com uma estrutura de livros, atos e cenas no esforço de captar a natureza literária do texto e ajudar seus alunos a apreenderem a estrutura e fluxo de Gênesis.

Veja o conteúdo:
Livro 1: Relato dos Céus e da Terra (2.4–4.26)
Livro 2: Relato dos Descendentes de Adão (5.1–6.8)
Livro 3: Relato de Noé e Sua Família (6.9–9.29)
Livro 4: Relato de Sem, Cam, Jafé e Seus Descendentes (10.1–11.9)
Livro 5: Relato dos Descendentes de Sem (11.10-26)
Livro 6: Relato dos Descendentes de Terá (11.27–25.11)
Livro 7: Relato dos Descendentes de Ismael (25.12-18)
Livro 8: Relato dos Descendentes de Isaque (25.19–35.29)
Livro 9: Relato dos Descendentes de Esaú (36.1–37.1)
Livro 10: Relato dos Descendentes de Jacó (37.2–50.26)


Teologia de Gênesis

Baseado naquilo que li, escrevo abaixo um pouco da teologia do Gênesis, fundamentado em outros comentaristas. Como temos dito que esse livro é uma Auto-Revelação de Deus para o povo de Israel, não poderíamos deixar de falar de Sua Pessoa como apresentada por ele. Sobre isso, House diz:

“Certamente tornou-se visível um retrato nítido de Deus. Ele é a única divindade que atua nesses relatos. Só Deus cria, de maneira que só Ele julga o pecado, chama, dirige e abençoa Abraão e seus descendentes, e proteje e livra em todas as circunstâncias o povo agora chamado Israel. Esse Deus comunica-se com o povo alternadamente emanando ordens, fazendo promessas e dando orientação, Ele trabalha para tirar o pecado que atribula toda a raça humana. Esse Deus não tem qualquer começo, rival, limites de tempo ou espaço, falha moral, ou interesses ocultos”[1]


Deus é Criador

Em Gênesis não difícil falar em um Deus Criador: “No princípio criou Deus os céus e a terra”. O relato da criação em Gênesis é realizado em duas etapas para ressaltar a Pessoa do Criador: Enquanto o primeiro relato aponta para um fato (há um Criador de todas as coisas) o segundo relato mais específico sobre a criação do homem apresenta o Criador como zeloso, atencioso e relacional. Essa descrição de Deus é certamente uma demonstração do Seu poder e de Seu cuidado graciosos.

Entretanto, é válido dizer que a descrição da criação demonstra a ordem e a dignidade dela. “Enquanto outras histórias da criação tendem a tratar a raça humana como fonte de irritação para o panteão e o mundo criado como alo que os deuses não pensaram inicialmente, Gênesis 1.1-2.3 apresenta a ordem criada como resultado da atividade intencional da parte do Deus único”.[2]

A unicidade de Deus nos primeiros versos de Gênesis também são também uma descrição de contraste entre YAHWEH, o verdadeiro Deus e os deuses pagãos. Até por que, a descrição de Deus como Criador auto-existente, solitário e auto-suficiente difere gritantemente de outros relatos antigos da criação. Falando sobre a multiplicidade de deuses do paganismo, LaSor, Hubbard e Bush afirmam que “para eles a variedade de forças personificava-se em deuses. Assim, uma divindade era multipessoal, em geral ordenada e equilibrada, mas às vezes caprichosa, instável e temerária. O texto de Gênesis 1 combate tal concepcção de divindade. Ela retrata a natureza surgindo de uma simples ordem de Deus, o que é anterior a ela e dela independente”.[3]

Outro detalhe sobre a Singularidade de Deus como Criador é estampado no uso do termo hebraico bärä’, que descreve sua ação como trazendo a criação do nada (ex nihilo)[4]. Em Gn.1.1 não há qualquer indicação de matéria pré-existente que Deus teria formado, antes “afirma que Deus criou, (bärä’) sem nenhum esforço, todo o universo e tudo o que nele há[5]”. Assim, “o termo hebraico bärä’, ‘criar’, é uma palavra chave, sendo empregada seis ou sete vezes no relato da criação. Essa palavra tem Deus como seu único sujeito no Antigo Testamento, e não se fez nenhuma menção do material a partir do qual se cria algum objeto. Ela descreve um modo de agir que não possui analogia humana. Só Deus cria, assim como só Deus salva”.[6]


Deus é Soberano

Sidlow Baxter quando comenta sobre Gênesis diz: “Pelo fato de ter sido colocado logo no início dos 66 livros, Gênesis nos faz dobrar os joelhos em obediência reverente diante de Deus, por exibir perante os nossos olhos, e trovejar em nossos ouvidos, aquela verdade que deve ser aprendida antes de todas as outras em nosso trato com Deus, em nossa interpretação da história e em nosso estudo da revelação divina, a saber A SOBERANIA DIVINA”.[7]

A soberania de Deus é observada em quase todos os eventos apresentados nesse livro: Ele é o Criador Soberano, o Juiz soberano sobre o pecado do homem, na punição de Caim, no Dilúvio, em Babel. Ele é o Soberano na separação e eleição de Abraão como herdeiro das promessas. Não havia qualquer característica em Abraão digna da atenção de Deus, mas em Sua Soberania Deus o separa para dele fazer uma grande nação. “O Senhor escolhe a Abrão da mesma maneira como decide criar os céus e a terra, ou seja, a partir da liberdade absoluta resultante de ele ser o Deus único, todo-suficiente e independente”.[8]

Toda a história dos patriarcas é uma demonstração da Soberania de Deus: Abraão é eleito soberanamente por Deus; Isaque é mantido soberanamente por Deus; Jacó[9], o mais relutante de todos, demonstra a Soberania de Deus na Preservação de sua Promessa feita a Abraão e em José podemos observar a Soberania de Deus no controle das situações para formar um povo Seu em meio a um tempo de crise.

Até mesmo na tensão entre a Soberana Vontade de Deus e da vontade rebelde de suas criaturas, “o que o homem pecador tenciona para o mal, YAHWEH é mais do que capaz de suplantar para Seus propósitos de bênção e bem estar para o povo de Sua aliança”.[10] A soberania de Deus é capaz de convergir a maldade do homem para bênçãos para os Seus: Esse retrato é vívido em Gênesis.


Deus é Justo

No trato com a humanidade desde a Criação, Deus demonstra sua habilidade para exercer sua Justiça. Na retribuição justa de Gn.3 vemos que Deus é severo no trato com o pecado e na imposição das punições para cada um dos participantes da rebelião contra Ele no Éden. Entretanto, é importante lembrar que “quando Sua bondade original foi desprezada no jardim do Éden em troca da independência que as criaturas queriam Dele, foi Deus quem tomou a iniciativa de buscar o homem (3.8, 9), de prometer a vitória definitiva sobre a serpente pela semente da mulher (3.15) e remediar a nudez e a vergonha do primeiro casal”.[11] No exercício de sua Justa punição, Deus não deixou de manifestar sua Graça Salvadora: O maior prejudicado na queda foi o próprio Deus, pois Ele mesmo assume as piores conseqüências da Queda e doa-se em amor ao mundo.

Da mesma forma o dilúvio revela Sua Justa retribuição à intenção do homem em contraposição à Lei Divina. Em sua Justa Soberania, Deus estabelece o juízo da rebeldia dos homens e os sentencia à morte no Dilúvio. Entretanto, temos que lembrar que Ele mesmo ofereceu 120 anos para o arrependimento dos seres humanos em demonstração de que age com paciência. Isso sem contar que Deus havia deixado um modo para que os homens pudessem ser libertos dessa punição, pela fé na instrução que havia dado a Noé (Hb.11.7). Assim, tanto a Paciência quanto Graça são observadas no exercício da Justiça de Deus.[12]

Deve ser por isso que Ralph Smith diz: “Três coisas são essenciais a um bom juiz: autoridade e soberania; decisões justas e imparciais; e a capacidade de perceber e interpretar corretamente todas as evidências. Javé tem as três qualidades”.[13] Por isso, “a justiça de YAHWEH reflete-se não tanto em declarações sobre Seu caráter quanto nos meios simples e diretos pelos quais Ele julga a falta de conformidade do homem com o padrão de conduta prescrito pelo Criador”.[14]


Deus é Gracioso:

“Pelo contrário, ele opera exclusivamente em benefício do mundo que não tem intenção alguma de fazer o que é certo. Neste caso a eleição demonstra a misericordiosa bondade de Deus com o mundo”.[15]

Por que Deus não opera sua disciplina para com Jacó, que demonstra em sua história não manter um padrão de conduta em nada parecido com o do seu pai? “O fato mais consolador é que Deus não mudou seu propósito, promessa ou poder. O caráter divino continua intacto, acentuando a sensação que o leitor tem de respeito e expectativa diante do futuro”.[16]

“A graça divina seleciona este homem [Jacó] terrivelmente imperfeito, não por causa de mérito algum de sua parte. O amor determina a decisão, e esse amor é tão grande por Jacó quanto é por Abraão e Isaque, pois as promessas divinas feitas anteriormente permanecem de pé”.[17]

“A graça intensifica-se quando o pacto de YAHWEH com a humanidade se focaliza em Abraão e sua linhagem: Ló é preservado pela graça (19.1-31), Isaque é poupado pela graça (cap.22), Jacó é escolhido por graça (25.19-23; cf. Rm.9.11, 12), assim como toda a família patriarcal é libertada da corrupção e miscigenação em Canaã pela provisão graciosa que YAHWEH lhes faz de José como vice-regente do Egito (caps.37-50)”[18]


Deus é Único

Em oposição ao conceito do Oriente Médio Antigo, Gênesis apresenta um Deus que é Único, “nenhuma outra divindade questiona o direito divino de criar; nenhuma outra divindade ajuda Deus a criar nem se opõe à sua atividade criadora. Desde o princípio, ou desde a origem do tempo e da história, só Deus existe ou age”.[19]

“A idéia da unicidade de Deus no Antigo Testamento é singular e significativa. Enquanto outros povos antigos achacam que seus deuses eram muitos, cada um tendo sua própria esfera de influência e responsabilidade, o Israel antigo entendia que seu Deus era um (indivisivo), como todos os atributos e poderes da divindade em si mesmo, governando todas as esferas da existência”.[20]

“A singularidade de YAHWEH aparece em cores ainda mais brilhantes no fato de que Ele é um Deus que, apesar de transcendente e todo-poderoso, busca um relacionamento com Suas criaturas e a elas Se revela. Ele estabelece alianças (cf. 9.8-17; 15.9-21; 17.1-27) e garante seu cumprimento ao prover e proteger milagrosamente a semente que havia prometido (18.13-15; 22.15-18; 25.21).”[21]

O livro está disponível no site da Editora Cultura Cristã


[1] HOUSE, Paul, Teologia do Antigo Testamentopp.107.
[2] HOUSE, Paul, Teologia do Antigo Testamentopp.76.
[3] LASOR, Willian, HUBBARD, David, BUSH, Frederic, Introdução ao Antigo Testamentopp.24.
[4] A expressão latina ex nihilo encontrada em alguns materiais teológicos sobre a Criação é provavelmente proveniente da Vulgata. Em 2Mc.7.28 lemos: “peto nate aspicias in caelum et terram et ad omnia quae in eis sunt et intellegas quia ex nihilo fecit illa Deus et hominum genus” (Eu te suplico, meu filho, contempla o céu e a terra e observa o que nele existe. Reconhece que não foi de coisas existentes que Deus os fez, e que também o gênero humano surgiu da mesma forma. – BJ). Sobre o uso de bärä’ considere alguns usos que descrevem o início de algo novo (cf. Is.41.20; 48.6, 7; 65.17) como um paralelo do conceito criativo ex nihilo. Lembre-se também dos usos que descrevem o sentido de trazer à existência (Is.43.1Ez.21.30; 28.13, 15) como exemplificação da origem ex nihilo de uma ação divina.
[5] SMITH, Ralph, Teologia do Antigo Testamento. pp.172.
[6] LASOR, Willian, HUBBARD, David, BUSH, Frederic, Introdução ao Antigo Testamentopp.24.
[7] BAXTER, Sidlow, Examinais as Escrituras. Vol.I, pp29.
[8] HOUSE, Paul, Teologia do Antigo Testamentopp.92.
[9] Pouquíssimos textos do AT ressaltam os conceitos bíblicos de eleição e graça mais do que os relatos que envolvem Jacó” – HOUSE, Paul, Teologia do Antigo Testamentopp.98
[10] PINTO, Carlos Osvaldo, Foco e Desenvolvimento do Antigo Testamentopp.25
[11] Idem, IBID.
[12] MERRIL, Eugene, The Pentateuch. IN: Holman Bible Handbook
[13] SMITH, Ralph, Teologia do Antigo Testamentopp.206.
[14]  PINTO, Carlos Osvaldo, Foco e Desenvolvimento do Antigo Testamentopp.25.
[15] HOUSE, Paul, Teologia do Antigo Testamentopp.792.
[16] HOUSE, Paul, Teologia do Antigo Testamentopp.97.
[17] HOUSE, Paul, Teologia do Antigo Testamentopp.98.
[18] PINTO, Carlos Osvaldo, Foco e Desenvolvimento do Antigo Testamentopp.26
[19] HOUSE, Paul, Teologia do Antigo Testamentopp.74.
[20] SMITH, Ralph, Teologia do Antigo Testamento, pp.218-219.
[21] PINTO, Carlos Osvaldo, Foco e Desenvolvimento do Antigo Testamentopp.26.

sábado, 23 de junho de 2018

O DIRETÓRIO DO CULTO DE WESTMINSTER [Resumo]


O DIRETÓRIO DO CULTO DE WESTMINSTER. São Paulo: Editora Os Puritanos, 2013. 66p. [Resumo do livro]

Esse documento foi redigido por teólogos piedosos e preocupados com um culto puro que exalte a Deus.

Nosso desejo com este documento histórico é ver a importância da relação entre o que Deus requer de nós e nossa resposta na adoração. Cremos que este Diretório nos ajudará a refletir sobre o culto que estamos apresentando diante de Deus e que deve ser regulado unicamente pelas Escrituras.

Em meio a uma igreja esquecida das palavras de Jesus quando disse “Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens” (Mc 7:7), alguns poucos, na nossa pátria começam a manifestar um interesse mais profundo e teológico (não apenas tradicional, mas piedoso) por mudanças na liturgia. Esses veem a necessidade de uma adoração mais simples e pura que não obscureça “o testemunho da obra de Deus na oração, louvor, palavra e sacramento”. Além disso, esperamos despertar a liderança para uma “reavaliação do material bíblico e do que foi legado pelos pais da igreja, à luz de uma reflexão nova sobre a obra do Espírito Santo, a natureza da igreja, e seu culto comum”.

Em 12 de junho de 1643, o Parlamento sancionou um decreto intitulado “Convocação dos Lords e Comuns do Parlamento para a Convocação de uma Assembleia de Teólogos e outros com vistas a serem consultados pelo Parlamento para estabelecimento do Governo e Liturgia da Igreja da Inglaterra e purificação da Doutrina da dita igreja das falsas aspersões e interpretações”. Em 12 de outubro passaram à preparação de um Diretório de Governo, Culto e Disciplina. A Assembleia de Westminster esteve reunida durante cinco anos, seis meses e vinte dois dias. Chegou a marca de 1163 sessões. No final havia redigido os documentos: A Confissão de Fé, o Catecismo Maior; o Breve Catecismo; o Diretório de Culto Público; a Forma de Governo de Igreja e Ordenação e um Saltério.

Temos na língua portuguesa os três primeiros. Muitos nos perguntavam pelo Diretório de Culto que muitas vezes é citado em conferências, especialmente quando está em jogo a questão da liturgia, em particular, a pregação. Agora publicamos pela primeira vez em língua portuguesa este documento redigido por grandes teólogos calvinistas e aceito pelo Parlamento Inglês (1648).

Nossa pretensão com essa publicação não é de levar às igrejas uma sugestão de modelo litúrgico para nossos dias, mas apresentar um documento histórico que revela o zelo, preocupação e amor por parte da igreja (do Reino Unido) com a forma de se cultuar a Deus. Será que hoje existe essa preocupação? Ou as igrejas estão cultuando a Deus da forma como bem entendem, como fruto da imaginação dos homens?

Nosso desejo com este documento histórico é ver a importância da relação entre o que Deus requer de nós e nossa resposta na adoração. Cremos que este Diretório nos ajudará a refletir sobre o culto que estamos apresentando diante de Deus e que deve ser regulado unicamente pelas Escrituras.

Em meio a uma igreja esquecida das palavras de Jesus quando disse “Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens” (Mc 7:7), alguns poucos, na nossa pátria começam a manifestar um interesse mais profundo e teológico (não apenas tradicional, mas piedoso) por mudanças na liturgia. Esses veem a necessidade de uma adoração mais simples e pura que não obscureça “o testemunho da obra de Deus na oração, louvor, palavra e sacramento”. Além disso, esperamos despertar a liderança para uma “reavaliação do material bíblico, e do que foi legado pelos pais da igreja, à luz de uma reflexão nova sobre a obra do Espírito Santo, a natureza da igreja, e seu culto comum”.

Esperamos que isso aconteça com a graça de Deus.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

A IGREJA APOSTÓLICA: QUE SIGNIFICA ISTO? [Resenha]


WITHEROW, Thomas. A Igreja Apostólica: Que significa isto? São Paulo: Editora Os Puritanos, 2005. 104p.

Este livro foi lançado no Brasil em 2005 pela Editora Os Puritanos de Thomas Witherow (1824-1890). O alvo dessa obra é apresentar para o povo presbiteriano, partindo da Escritura, a visão de que há um e somente um tipo de governo bíblico para a Igreja de Cristo no Novo Testamento, a Igreja Apostólica. O autor coloca de forma clara que o tema Governo Eclesiástico não é algo de menor importância, mas é uma das marcas da verdadeira igreja apostólica, pois “a Igreja moderna que incorpora mais princípios apostólicos no seu governo é a mais próxima da Igreja Apostólica”.

O autor apresenta:
1. A definição da palavra “igreja” dentro da Escritura;
2. O fato da Igreja ser apresentada como um reino onde Cristo é Seu Rei Supremo e Seu Cabeça, ela deve ter um corpo governante;
3. Apresenta os ofícios que encontramos na Escrituras: Apóstolo, Profeta, Evangelista, Presbítero e Diácono.

O livro mostra função de cada um desses ofícios, suas áreas de ação e o tempo de suas vigências. Para os ofícios de Apóstolo, Profeta, Evangelista a ação era abrangente e a vigência foi o período apostólico, enquanto a ação dos ofícios de presbítero e diácono era limitada às igrejas locais e ainda perduram até nossos dias. São mencionadas sinteticamente, mas de forma clara, as três formas de governo praticadas nas igrejas cristãs: Episcopal (papistas e anglicanos), Congregacional (batistas e independentes) e Presbiteriano.

Depois disto temos uma explicação de seis princípios extraídos da Escritura e que mostram o padrão de governo eclesiástico deixado pelos apóstolos para a Igreja Cristã. Na Igreja Apostólica:
1. Os oficiais eram eleitos pelo povo;
2. Os ofícios de bispo e presbíteros eram a mesma coisa;
3. O governo era exercido por uma pluralidade de presbíteros;
4. A ordenação era um ato de um presbitério – uma pluralidade de presbíteros;
5. Havia o privilégio de se apelar ao presbitério em casos especiais e o direito de governo exercido por seus delegados.
6. Cristo é a Cabeça suprema da Igreja em todas as coisas.

Thomas Witherow usa estes seis princípios para examinar as formas de governo praticadas na Igreja Cristã. Sua conclusão é:
a) O governo Episcopal Romano e Anglicano quebram todos os princípios apresentados e são contrários a todos eles. “É um sistema completamente humano; é, em todos os sentidos, uma invenção de homens”.
b) O governo Congregacional é melhor, pois preserva os princípios 1, 2, 6 porém nega os princípios 3, 4 e 5. “É mais defeituoso que errôneo, precisando ter as suas deficiências corrigidas”.

A conclusão é que o “sistema Presbiteriano é, em termos de governo, a única Igreja Apostólica”, porque “todos os princípios apostólicos de governo eclesiástico são encontrados somente na Igreja Presbiteriana”.

Outro detalhe importa na obra é que o autor não quer apenas apresentar a doutrina, mas aplicar seu ensino na vida da Igreja. De forma prática chama os presbiterianos a serem de fato presbiterianos, assumindo sem medo, que o seu sistema de governo é o único ensinado pelos Apóstolos inspirados.

Witherow é bem contundente ao afirmar que o presbiterianismo de sua época evita ensinar o seu sistema de governo com receio de ferir as outras “igrejas” que não o adotam. No livro Igreja Apostólica encontramos um pouco dos problemas dentro do presbiterianismo na Irlanda. Para ele muitos presbiterianos eram políticos, frios, tradicionalistas, omissos em passar os fundamentos bíblicos do presbiterianismo às novas gerações; presbiterianos por nascimento e não por convicções. Esta prática tinha feito a distinção bíblica peculiar ao presbiterianismo ser apagada e até mesmo esquecida dos seus membros, levando muitos a abandonarem suas igrejas ou até mesmo viverem dentro delas discordando do seu sistema de governo.

O autor coloca na obra muita ênfase no trabalho dos ministros da Palavra para influenciar a Igreja e a Sociedade em favor do governo bíblico. Segundo ele, o melhor remédio para a indiferença morna e odiosa ao sistema presbiteriano “é o ensino da Palavra de Deus para instruir o povo, pública e privadamente, o que o presbiterianismo realmente é”. Portanto, deixar de pregar estes princípios nos púlpitos das igrejas é o fim delas. O livro termina conclamando os presbiterianos a, por amor a Cristo, defenderem os princípios presbiterianos; a se esforçarem a honrarem o sistema bíblico ao qual os presbiterianos estão ligados.

Pontos fortes do livro:
1. Chama atenção para a discussão sobre governo eclesiástico, algo pouco refletido pelas igrejas no mundo, especialmente, no Brasil;
2. Apresenta de forma simples e clara as formas de Governo Eclesiástico praticados pelas igrejas cristãs;
3. Extrai da Escritura toda sua base de argumentação para os seis princípios sobre Governo Eclesiástico;
4. Apresenta esses princípios de forma clara e objetiva;
5. De forma prática discute e aplica os princípios apresentados nas formas de governo eclesiástico existentes, deixando à disposição do leitor o julgamento desses sistemas à luz dos princípios bíblicos expostos;
6. É um chamado aos presbiterianos para serem seguros naquilo que eles praticam, sabendo que estão governando a Igreja de Cristo conforme a Palavra de Deus.

Para concluir, observamos que apesar de sua primeira publicação ser datada em 1856, o pequeno livro de Thomas Witherow é uma excelente obra para abrir em nossos dias a discussão sobre governo eclesiástico em nossa nação. Uma nação que ainda está engatinhando, ou melhor, rastejando na teologia, na prática protestante e apenas começando a provar a gloriosa Fé Reformada. Temos no livro Igreja Apostólica uma boa exposição do que é o presbiterianismo na sua essência. O livro mostra de forma clara, forte e irrefutável as bases bíblicas do Sistema Presbiteriano de Governo. O presbiterianismo, especialmente, o brasileiro só tem a ganhar com essa obra. O autor nos chama atenção para um presbiterianismo mais próximo das igrejas locais e não hierárquico. Um presbiterianismo que tem sua força vital nos presbitérios e contra um tipo de presbiterianismo centralizado numa cúpula nacional.

Para Witherow o presbitério é o cerne das igrejas presbiterianas, que podem funcionar muito bem sem sínodos e a Assembleia Geral conhecida no Brasil como Supremo Concílio (em todo mundo presbiteriano somente a Igreja Presbiteriana do Brasil usa esse termo).

O livro A Igreja Apostólica é um instrumento prático na área de governo eclesiástico para instruir às igrejas que se dizem protestantes e para fortificar os presbiterianos na sólida base bíblica de seu sistema de governo. Essa obra só vem para acrescentar o trabalho de Reforma nas Igrejas Brasileiras, especialmente, para reforçar o presbiterianismo do Brasil.

Publicado originalmente em
http://www.bandeiradagraca.org/2008/06/resenha-igreja-apostlica-o-que.html


quinta-feira, 21 de junho de 2018

PERSONAGENS AO REDOR DA CRUZ [Resenha]


HOUSTON,  Tom. Personagens ao redor da cruz. Curitiba, PR: Editora Esperança, 2018. 232p.

Interessante notar que a cruz é central para qualquer compreensão não só do Evangelho, mas da própria vida. A vida é essencialmente trágica quando vivida por pessoas imperfeitas em um mundo caído. Só a cruz de Cristo pode dar significado à vida quando a sua base é a tragédia, e isso porque a Cruz forma um só com a Ressurreição. Jesus sofreu a tragédia da condição humana e transformou tragédia em esperança. A partir da cruz, ou do alto da cruz olhando para baixo, é que se percebe que muitas vidas que vivia na perspectiva da tragédia foram transformadas. Por que a cruz tem esse poder. Quando Paulo escreveu “Longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”, (Gl 6.14).

O livro que temos em mãos nos fala sobre o impacto da cruz na vida de muitos personagens que estiveram ali junto ou próximo, comprometido ou não com a cruz de Cristo. O impacto da cruz na vida dessas pessoas resultou em bênçãos para alguns e maldição para outros. A luz que imanava da cruz revelou o caráter e conduta e as motivações de cada personagem que ali estiveram. Desde a multidão que acompanhou Jesus na entrada de Jerusalém, passando por Judas, Pedro, Caifás, sacerdotes, Pilatos e sua esposa, Barrabás, Herodes, Simão de Cirene, Maria, o centurião romano, José de Arimateia, as filhas de Jerusalém e os soldados romanos, os dois ladrões, os escarnecedores e as mulheres da Galileia, Nicodemos, Maria Madalena, João, Tomé e os discípulos de Emaús, todas essas pessoas foram impactadas pela cruz. Todas essas pessoas, ricos ou pobres, duras ou profundamente carinhosas, desagradáveis ou santas, amargas ou compassivas, vingativas ou amáveis e atenciosas. Eles eram, aquilo que somos nós, nem melhor nem pior, mas que alcançados pela palavra da cruz, fomos cheios de esperança e fomos transformados pela palavra do Evangelho.

“Jesus sofreu a tragédia da condição humana e transformou esta tragédia em esperança; Ele voltou dos mortos para dar aos homens a segunda chance que nunca acontece na tragédia. Ele ressuscitou dos mortos para encontrar Maria Madalena na profundidade da sua depressão, para encontrar Tomé em seu pessimismo, para encontrar os viajantes a caminho de Emaús no seu intelectualismo, até mesmo para encontrar os chefes dos sacerdotes nos seus esforços frenéticos para encobrir a ressurreição.” [p.15]

Tom Houston é o autor desta excelente obra. Nasceu em 1928na Escócia e iniciou sua carreira como ministro, em 1951, na Igreja Batista Johnstone na Escócia, e depois serviu como capelão de Quarriers Homes (lar de crianças e colônia epiléptica) antes de ser chamado para pastorear a Igreja Batista de Nairobi no Quênia, de que mais tarde se tornou Pastor Emérito. De 1971 a 1983, ele atuou como Diretor Executivo da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, e se tornou o Presidente da World Vision International. Em 1989, foi nomeado Diretor Internacional e, posteriormente, Ministro Geral do Movimento de Lausanne (então chamado de Comitê de Lausanne para Evangelização Mundial). Ele mora em Oxford, Inglaterra.

O livro possui 25 capítulos e irei tratar de forma descritiva e analítica dos três primeiros, e isso em poucas palavras, mostrando cada um dos personagens com a sua anomalia de caráter e o efeito da cruz sobre a vida desse personagem. Farei pequenas citações com o propósito de incitar os leitores a ler toda a obra e tirar suas próprias conclusões.

Capítulo 1 – A Multidão inconstante: Quando se trata de “multidão inconstante” a primeira visão que temos é daquela multidão na entrada triunfal em Jerusalém que estendia os seus mantos na estrada para Jesus passar e cantavam em alta voz: “Hosana, bendito o que vem em nome do Senhor” [Mc 11.9] e que dentro de cinco dias, a mesma multidão estava gritando palavras bem diferentes: “Deem-nos Barrabás! Livre-se de Jesus! Crucifiquem-no”. Tudo isso aconteceu por incredulidade. Religiosidade e incredulidade não necessariamente são coisas antagônicas. Na verdade, há mais incredulidade nas Escrituras estampada entre o povo da Aliança do que das nações ditas pagãs. O próprio Senhor Jesus achou mais fé no centurião romano do que em seus patrícios Judeus. Esses, no dia em que Jesus entrou em Jerusalém, celebraram uma festa litúrgica sem igual. Deram pública demonstração de serem um povo religioso e que conhecia as Escrituras. Mais tarde, porém, o que vimos foi a farsa de corações não convertidos ser desmascarada às portas do palácio de Pôncio Pilatos. A igreja de todos os tempos e de todas as tradições corre sempre o mesmo perigo. É possível que nos acostumemos à religião. É possível que reduzamos nossa vida cristã a experiências emocionais, ao formalismo religioso, ao ativismo e etc. Também é possível que façamos uma leitura bíblica inofensivamente devocional e que jamais cheguemos à maturidade da fé e as implicações do texto que devem transformar o nosso ‘ethos’. O cristianismo nominal ou uma vivência do evangelho sem profundidade pode ser incredulidade, a mesma que entregou Jesus ao suplício, a mesma que pediu a sua crucifixão, a mesma que o abandonou no calvário, a mesma que trancafiou e paralisou os discípulos no cenáculo naqueles dias.


Capítulo 2 – O materialismo de Judas: “Não existe a menor dúvida em relação ao tratamento dado a Judas Iscariotes no Novo Testamento. Apenas um motivo explica consistentemente o fato de ele ter traído Jesus: dinheiro. Ele era o responsável pela bolsa e tirava dinheiro dela (Jo 12.6); instigou o ataque o ataque a Maria quando ela ungiu os pés de Jesus com o perfume caro (Jo 12.4); recebeu um suborno de trinta moedas de prata para trair Jesus (Mt 26.15); e, quando sua consciência o perturbou, a primeira coisa em que pensou foi devolver o dinheiro (Mt 27.3). Tudo isso se resume a uma imagem consistente de motivação materialista. Ele era o amigo de Jesus para quem o dinheiro importava demais. Como materialista do Novo Testamento, Judas é uma lição para todos nós, pois foi o materialismo de um dos seus amigos que crucificou Jesus. A cruz nos mostra o que o materialismo faz”. [p. 28]. Vocês sabem o que aprendi neste capítulo? Tome cuidado, leitor, para que você não seja um dos seguidores do apóstolo Judas Iscariotes. Não adianta argumentar que ele operou milagres, isso não adiantará no Dia do Juízo (Mt 7.22,23). Não adianta evocar prerrogativas de nascimento, credibilidade humana ou apostolado. O que importa mesmo é não trair a Cristo, o que significa não vender princípios cristocêntricos por moedas de prata, dólares ou reais. E não vale sequer usar a tese de que os métodos da traição fazem a igreja crescer e aparecer para a sociedade. Quem não assume os princípios da Cruz deve ter estancado em algum momento, quem sabe no Getsêmani quem sabe com um beijo aparentemente gentil (Mt 26.47-56; Mc 14.43,44; Lc 22.47; Jo 18.1-3).

Capitulo 3 – A negação de Pedro: Embora este capitulo tenha este título, na verdade o seu conteúdo chama a atenção para algo que é origem da tragédia de Pedro – a Autoconfiança. O autor nos chama a atenção dizendo que os cristãos se identificam mais intimamente com Pedro do que com qualquer outro personagem do Novo Testamento pelo fato de que negar a Jesus é uma questão real para todos nós. Eu particularmente, creio que o motivo que leva os cristãos a negarem a Jesus hoje, seja realmente o que maciçamente enfatizado aqui – autoconfiança. Pois a autoconfiança levou Pedro ter muitos problemas. Foi assim no mar da Galiléia. Foi assim na questão dos impostos, na noite do Getsêmani quando sacou da espada e finalmente com as três negações. O autor conclui este capítulo com uma exortação clássica: “O que o comportamento de Pedro nos diz? Quais são as pressões que nos tornam frios em vez de quentes em relação a Jesus? Que fazem diminuir nossa “cristandade” em nossos lares, no trabalho ou nas nossas atividades de lazer? Basicamente, resume-se à nossa autoimagem. Alguns de nós caímos na mesma armadilha que Pedro, diminuindo nossa identificação com Jesus por nossas próprias razões. Queira Deus que o rosto de Cristo desapontado possa tocar fundo em nossos corações. A cruz em que Jesus morreu é o antidoto para a imagem indesejável que temos de nós mesmos. Eu tenho problemas com a maneira pelas qual os cristãos estão usando palavras com “auto”: autoestima, autoconfiança, autovalorização. Só existem duas palavras com “auto” que cabem no quadro do Novo testamento. Uma é “autocontrole”. A outra é “autonegação”. Ela fala de um “velho eu”, que precisa morrer, e de um “novo eu”, no qual Deus pode nos transformar. Foi isso que Pedro descobriu. Ele disse em sua carta. “Bendito seja o Deus e pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos...” (1 Pe 1.3). Existe um lugar para a confiança, mas a nossa confiança tem que estar em Cristo: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13). A confiança que nós temos está em Cristo, que habita em nós, que nos capacita, que nos fortalece e nos molda para cada situação com a qual somos confrontados. Ao olharmos para Pedro e vermos a destruição de sua autoconfiança, da sua arrogância, do seu orgulho, nós mesmos chegamos aos pés daquela Cruz para descobrir como podemos encontrar força, não em nós mesmos, mas naquele que nos amou e se entregou por nós.” [p. 47]

Os demais capítulos do livro são assim denominados:
Capitulo 4 – O nepotismo de Caifás
Capítulo 5 – A inveja dos chefes dos sacerdotes
Capítulo 6 – Pilatos: verdade e politica
Capítulo 7 – A esposa de Pilatos: casamentos e sonhos
Capítulo 8 – A multidão e Barrabás
Capítulo 9 – O adultério de Herodes
Capítulo 10 – Simão Cirene: sentindo o peso da cruz
Capítulo 11 – As filhas de Jerusalém: desastres à luz da cruz
Capítulo 12 – Os soldados; sorteando as roupas
Capítulo 13 – Dois ladrões e como eles terminaram
Capítulo 14 – Os escarnecedores que disseram mais do que sabiam
Capítulo 15 – As mulheres da Galileia, fiéis até o fim
Capítulo 16 – Maria, mãe de Jesus: fé e família
Capítulo 17 – O centurião romano: um veredito impressionante
Capítulo 18 – José de Arimatéia: testemunha silenciosa
Capítulo 19 – Nicodemos: um discípulo secreto
Capítulo 20 – Maria Madalena
Capítulo 21 – Ressurreição e integridade
Capítulo 22 – A evidência que não podia ser usada e o fato que não podia ser negado
Capítulo 23 – Pedro e João: uma nova parceria
Capítulo 24 – Tomé e a dúvida
Capítulo 25 – No Caminho de Emaús

Chegamos ao final e a nossa conclusão é temos diante de nossos olhos, uma exposição precisa, ilustrações vívidas e aplicações contemporâneas de cada um dos personagens envolvidos na morte de Jesus na cruz.

RECOMENDO

Este está disponível na Editora Esperança, no link


segunda-feira, 11 de junho de 2018

O CULTO SEGUNDO DEUS: A MENSAGEM DE MALAQUIAS [Resenha]


LOPES, Augustus Nicodemus. O culto segundo Deus: a mensagem de Malaquias para a igreja de hoje. São Paulo: Edições Vida Nova, 2012. 156p. 

Para quem deseja aprender sobre o que o profeta Malaquias pregou contra o povo de sua época, vai aí um resumo: A pregação de Malaquias era sobre a centralidade de Deus no culto, as razões corretas para cultuarmos a Deus, a relação entre o culto e a nossa vida diária, a necessidade de adorarmos a Deus de acordo com o que Ele nos revelou e não de acordo com nossa criatividade. Havia ainda uma situação de descaso moral, como corrupção do clero, casamentos mistos e abuso por parte dos poderosos. 

Neste contexto, a palavra de Malaquias era “peso da palavra do Senhor contra Israel”, ou seja, não trazia uma mensagem doce, agradável. Era uma palavra de denúncia, uma palavra de crítica, por isso era chamada de peso ou sentença. 

Para o autor do livro, a profecia de Malaquias foi proferida e registrada em um contexto muito parecido com os evangélicos vivem hoje no Brasil. Em outras palavras, o livro, assim como nos dias que hoje vivemos, situa-se em um contexto no qual adorar a Deus parece não fazer diferença visível na vida dos que o buscam constantemente nos locais de culto. A sua mensagem é dirigida, em grande parte, aos sacerdotes, àqueles que eram responsáveis por manter o culto devido a Deus da maneira correta. Portanto, as palavras inspiradas por Deus, servem para a igreja de todas as épocas como uma orientação a respeito do culto segundo a vontade de Deus. O autor conclui: O objetivo desse estudo é que possamos entender esses princípios e aplica-los aos nossos dias, pois, assim como nos dias de Malaquias, um reavivamento do culto bíblico hoje também se faz extremamente necessário. 

O livro está dividido em oito capítulos. O capitulo 1, trabalha o questionamento do povo perante Deus, com o seguinte assunto: “por que cultuar a Deus se tudo está dando errado?” O capítulo 5 quebra a ordem dos capítulos 2 ao 7, para tratar de um assunto interessante: “Por que cultuar a Deus se o mal existe, os ímpios prosperam e os justos sofrem?” E o capitulo 8 traz um resumo dos princípios do culto a Deus. Os outros seis capítulos (2 ao 7) irá tratar dos seguintes assunto: Deus exige: devoção verdadeira e sinceridade de coração [cap. 2]; Fidelidade na pregação da palavra [cap. 3]; vida pessoal e moral reta [cap. 4]; Obediência [cap. 6]; e temor ao seu nome [cap. 7]. 

Neste RESENHA DESCRITIVA vou me deter apenas aos capítulos 1, 5 e 7. Os demais capítulos deixo para quando os nossos leitores descobrirem quando adquirem este excelente livro. 

Capítulo 1: Por que cultuar a Deus se tudo está dando errado? A base dos comentários deste capítulo está fundamentada em Malaquias 1.1-5. Neste capítulo, seguindo a lógica do livro de Malaquias, Deus faz uma declaração, o povo questiona e então Deus responde, refutando o argumento apresentado pelo povo, seguido por uma resposta de Deus. 
a) Deus faz uma declaração – “Eu sempre vos amei, diz o Senhor” (Ml 1.2) Malaquias traz a ideia de que Deus não somente amou um dia, mas continua amando seu povo. 
b) O povo questiona – “De que maneira nos tem amado? ” Questionamento se dá pelo fato de que o povo vivia uma situação financeira e difícil e ainda estavam sob o jugo dos persas. Que amor era esse se eles viviam ainda em situação de miséria?
c) E então Deus responde, refutando o argumento apresentado pelo povo, seguido por uma resposta de Deus. – “Não era Esaú irmão de Jacó? Disse o Senhor; todavia amei a Jacó, e odiei a Esaú”. (Ml 1.2-3). A resposta de deus faz referência à predestinação: “Por acaso não era Esaú irmão de Jacó?, diz o Senhor. No entanto, amei a Jacó e rejeitei Esaú”. A resposta de Deus é esta: “A prova de que eu tenho amado vocês é que, quando eu poderia ter escolhido Esaú, que é o pai dos edomitas, dos árabes, escolhi o pai de vocês, Jacó, e isso quando ambos ainda não tinham feito nem bem nem mal.” O Comentário de Paulo sobre esse texto, em Romanos 9.10-16, diz que a escolha soberana de Deus é apresentada por Malaquias não apenas como prova de que ele é soberano, mas como prova do amor livre que deus tem para com o seu povo, sua igreja e a nação de Israel, da qual somos continuação. Assim, quando os judeus questionavam a Deus, “de que maneira nos tens amado?” Deus respondia: “Vocês poderiam estar entre aqueles que eu rejeitei para sempre, mas estão entre os que escolhi amar soberanamente, e essa é a maior prova de amor que eu posso dar a vocês. A escolha soberana de Jacó como o pai da nação israelita era a maior prova do amor de Deus. 


Capítulo 5 – Este capítulo trata sobre um dos dilemas mais antigos para doutrina cristã que é o problema do mal. Existe um termo teológico que dá nome a esse tema: teodiceia, que é o estudo do problema do mal e sua origem. Se Deus é bom, por que existe o mal? Como pode existir o mal em um Universo governado por um Deus justo, bom e todo poderoso? A teodiceia procura responder a essas perguntas. Mas a questão vai mais além: Como um Deus justo, bom e todo-poderoso permite que o mal exista em seu Universo, que os ímpios prosperem e pequem abertamente ser castigados? E por que ele permite que o justo sofra neste mundo? 

O livro nos apresenta três respostas básicas para essas indagações: Primeira resposta é a do ateísmo. Este parte do seguinte raciocínio: Se Deus é justo, bom e todo-poderoso, por que o mal existe? Se o mal existe, a conclusão deles é que Deus simplesmente não existe. A natureza é determinista, não segue qualquer princípio ou ordem moral. O mal faz parte do Universo. Não existe um Deus bom nem um Deus justo que possa impedir a realidade do mal. Segunda resposta é a da chamada teologia relacional ou teísmo aberto. A teologia relacional diz o seguinte: Não é culpa de Deus que o mal exista no mundo, porque Deus não é todo poderoso nem onisciente. Deus esvaziou-se de sua onisciência e de sua onipotência para poder se relacionar de maneira ideal com as pessoas, a fim de que não fôssemos meras peças de um jogo de xadrez em suas mãos. Terceira resposta vem das religiões orientais, como o zen-budismo e outras correntes religiosas que negam o outro lado da equação, ou seja, afirmam a inexistência do mal. Seus adeptos alegam que o mal é simplesmente uma projeção de nossa mente. Para eles, se a pessoa alcançar determinado nível de espiritualidade, entrará em sintonia com a realidade que temos ao nosso redor, na natureza e nas forças que nos cercam. Dessa maneira o mal e a dor deixarão de ser uma realidade para ela. Isso tem tudo a ver com a meditação transcendental, que tenta resolver o problema do mal negando a própria existência do mal. 

A resposta do Cristianismo é que o nosso serviço a Deus independe dessas coisas, pois ele é bom, justo e todo-poderoso, mas permite a existência do mal. E assim o permite porque tem o propósito de mostrar sua soberania ao castigar os ímpios, naquele dia que ele já preparou, e igualmente de mostrar sua misericórdia ao salvar aqueles que são seus neste mundo tenebroso. Portanto, mesmo que não possamos entender os motivos por que Deus permite que o mal atinja determinadas pessoas, podemos afirmar que ele é justo, santo, bom, todo-poderoso, que o mal existe neste mundo por permissão dele e está dentro dos seus planos. Embora nem sempre possamos entender isso claramente, de uma coisa podemos ter certeza: haverá um dia que Deus julgará todo o mal. 

Capítulo 8 – Este capítulo para mim ele se tornou importante, pois além de um resumo do livro é também uma síntese completa do livro de Malaquias. O livro de Malaquias aborda vários temas diferentes. Ele fala a respeito da eleição e predestinação, da necessidade da consagração total do seu povo a Deus, do ministério dos líderes e sacerdotes, do casamento misto, divórcio, da vinda de Cristo no dia do juízo, dos dízimos e ofertas, do problema do mal, da prosperidade dos perversos e da aliança de Deus com o seu povo, incluindo a aliança de Deus com os sacerdotes e com o casamento. Todos estes temas, embora diferentes, mas todos estão relacionados com a principal preocupação do profeta: o culto a Deus. Essa era sua inquietação maior, porque ele viveu numa época em que o culto a Deus estava corrompido. Os sacerdotes tinham se corrompido: eram ineptos, descuidados, enfadados com o serviço prestado a Deus e não cumpriam corretamente sua função. O povo, por sua vez, não ficava atrás: questionava a justiça de Deus, sua bondade, seu amor, sua lealdade, trazia ofertas defeituosas para serem oferecidas em sacrifício, sonegava os dízimos e as ofertas, levava uma vida irregular no casamento, tanto que se casava com mulheres estrangeiras, assim contribuindo para corromper o povo de Deus, bem como se divorciava sem justa causa, quebrando a aliança com a mulher da sua mocidade, a esposa com a qual contraíra matrimônio. 

Portanto, trata-se de um livro em que podemos aprender vários princípios a respeito do culto que devemos tributar a Deus. 

1. O culto é a celebração pública e visível da aliança que temos com Deus - Essa é uma das grandes ênfases de Malaquias. Ele fala do Deus da aliança por diversas vezes. Essa aliança foi feita com o seu povo. Por meio dela, Deus se comprometeu a abençoar o povo, ser o Deus deles, cuidar da sua descendência e lhes dar vida eterna; e, da parte do povo, havia o compromisso de servir a Deus e andar nos seus caminhos. Essa mesma aliança está em vigor ainda hoje, só que agora ela é chamada de nova aliança, a nova aliança em Cristo Jesus. É uma aliança superior, pois temos um mediador, Jesus Cristo, cujo sangue derramado é superior ao sangue dos animais. O culto que prestamos a Deus expressa exatamente isso. O culto hoje é a celebração pública e visível da aliança que temos com Deus. Tudo que fazemos no culto tem a ver com essa aliança. 

Quando temos essa visão aliancista do culto, as várias aberrações idolátricas ficam do lado de fora. O culto passa a ter mais sentido, pois entendemos por que estamos reunidos como povo para louvar a Deus. 

2. Devemos cultuar a Deus, independentemente das circunstâncias - Um questionamento constante do povo na época de Malaquias é que não fazia diferença servir a Deus ou não. Eles perguntavam: “Onde está o Deus da justiça?”. Os ímpios cometiam pecados, prosperavam e escapavam impunes, e os que serviam a Deus passavam por dificuldades. Então qual era a vantagem de servir a Deus? E inútil servir a Deus, concluíam eles. A resposta de Malaquias foi que Deus nos ama porque ele nos escolheu. Essa é a maior prova do seu amor para conosco. Deus punirá o ímpio e recompensará o piedoso, mas isso só acontecerá no dia que ele já preparou. Até lá, devemos cultuá-lo, independentemente das circunstâncias. Esse princípio vale para nós hoje, numa época em que as pessoas são incentivadas a cultuar a Deus em troca da prosperidade, de um apartamento novo, de um emprego, de um casamento, da restauração da saúde. É esse o apelo que se faz hoje para que as pessoas venham cultuar a Deus, servi-lo, agradá-lo com ofertas e sacrifícios, com dízimos e compromissos. Mas isso é completamente diferente da mensagem de Malaquias, pois ele nos fala de cultuar a Deus em tempo de desesperança, de dificuldades, mesmo quando as coisas não estão dando certo. 

3. Devemos cultuar a Deus da forma que ele revelou - Não podemos alterar nem acrescentar nada ao culto a Deus. Ele revelou com clareza na sua Lei o culto que desejava. Encontramos isso com muita clareza no Antigo Testamento. Ele revelou que tipo de ofertas deveriam ser trazidas e de que maneira deveriam ser apresentadas, os animais que poderiam ser sacrificados e a maneira de fazê-lo. Ele falou a respeito de quem poderia oferecer o sacrifício — os sacerdotes e levitas —, determinou a tarefa de cada um deles e instituiu leis e normas para que seu culto expressasse a sua vontade em relação a como ele deveria ser adorado. O Novo Testamento não prescreve normas detalhadas para o culto, não apresenta uma ordem litúrgica como havia no Antigo Testamento. Contudo, os elementos do culto a Deus são muito claros: as orações, os cânticos, a pregação da Palavra, os sacramentos e outros, os quais o Novo Testamento diz com clareza que fazem parte do culto a Deus. Não podemos inventar elementos de culto. Não nos cabe introduzir no culto invenções humanas, ainda que a pretexto de ser algo prático, de boa intenção, ligado à tradição, à antiguidade ou mesmo algo que todo mundo faz. Devemos adorar a Deus de acordo com sua Palavra, sem inventar partes ou elementos do culto para chegarmos diante do Senhor. 

4. Devemos cultuar a Deus com a atitude apropriada - Devemos cultuar a Deus com sinceridade de coração. Ele sempre quis que o culto fosse sincero. As regras e leis estabelecidas tinham como objetivo expressar a santidade divina, e o alvo de todas elas era mostrar ao adorador a necessidade da mediação, da purificação de pecados e da graça de Deus, para que o culto fosse agradável a ele. No entanto, mesmo com toda aquela formalidade, o que Deus desejava de fato era o coração do povo, que este se apresentasse diante dele voluntariamente, com o coração quebrantado e contrito. Portanto, não basta apenas termos um culto apropriado, simples, bíblico, contendo somente os elementos que Deus prescreveu, porque, no final, acima de tudo, Deus deseja nosso coração. Deus quer que nos entreguemos a ele no culto. A melhor maneira de cultuar a Deus de forma adequada é lembrar-nos da aliança que ele tem conosco, de quem ele é e de sua grandeza. Ele é o Senhor dos exércitos; ele é nosso Pai e Senhor. Quando Deus é o foco e o centro do culto, e não o homem, então fica mais fácil manter o espírito de adoração do qual Deus é digno e se agrada. 

5. Devemos dar a Deus nosso melhor no culto - Todo culto no Antigo Testamento girava em torno disso. Os dízimos eram os melhores animais que havia no campo; as primícias eram oferecidas a Deus. As ofertas tinham de ser do melhor. Na verdade, o que Deus desejava com isso era demonstrar a importância dele. Ao adorarmos a Deus, devemos apresentar-nos a ele com o melhor do nosso coração, do nosso talento, da nossa disponibilidade e do nosso tempo, com uma atitude que reflita aquilo que Jesus diz: “Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33). 

6. A aceitação do nosso culto depende também da nossa vida moral e espiritual - O Antigo Testamento enfatiza essa relação entre a vida do povo e o culto que ele prestava a Deus. Há uma estreita relação entre a nossa vida moral e o culto que prestamos a Deus. Malaquias, como vimos, denuncia a imoralidade do povo de sua época. Ele denuncia a imoralidade dos sacerdotes, o casamento com mulheres adoradoras de deuses estranhos, o divórcio sem justa causa, e diz: “Deus não aceita o culto de vocês”. Deus não se agrada quando chegamos para adorá-lo com mãos, pés, coração, mente, enfim, com todo nosso ser impuro. É por isso que no culto sempre há uma oportunidade de confissão de pecados, de contrição, de pedir que Deus nos purifique. Aqueles que são de Deus e estão sinceramente arrependidos de seus pecados têm no culto a oportunidade para se purificarem. 

Concluindo, vimos que o nosso Deus tem um culto extremamente definido de acordo com aquilo que ele mesmo revelou, que ele é um Deus que sonda os corações, que exige uma atitude correta, uma vida santa. Há somente um modo de oferecermos a Deus um culto aceitável: pelo sangue de Jesus. Portanto, o culto a Deus é coisa séria, e somente purificados em Cristo podemos chegar diante de Deus e servi-lo de todo o coração. Esse culto, então, que prestamos a Deus aqui neste mundo, pelo sangue de Jesus, é o prelúdio do culto celestial, no qual Deus receberá toda a glória naquele grande dia. 

Chegamos ao final e a minha palavra é: RECOMENDO.

Lembramos que este livro faz parte da série A Mensagem da Bíblia para a Igreja de Hoje.

Link da Ediçoes Nova vida para a venda dos livros
https://vidanova.com.br/235-a-mensagem-da-biblia-para-a-igreja-de-hoje

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http://professorpadua.blogspot.com/2018/05/a-mensagem-da-biblia-para-igreja-de.html