O Livro Teologia
Sistemática de Charles Hodge é um material teológico de grande
importância para quem deseja se aprofundar nos estudos da teologia. Hodge foi
um grande estudioso e dedicou sua vida aos estudos da teologia. Um consagrado
teólogo lúcido em seus pensamentos, vigoroso em suas afirmações e respeitado
pela sua integridade cristã, fiel ao conteúdo das Antigas Escrituras dos
patriarcas, profetas e apóstolos. Sua Teologia Sistemática não é especulativa,
nem filosófica, nem teórica, mas Bíblica. Sua obra expõe a teologia sistemática
a partir dos pressupostos clássicos da Reforma Protestante. E como não
poderia deixar de ser, essa é uma obra bem grande. Essa, especificamente,
possui 1.774 páginas e foi minuciosamente elaborada.
A teologia sistêmica de Charles
Hodge apresenta ao leitor uma reflexão doutrinária aprofundada sobre todos os
assuntos teológicos e um índice temático e biográfico que torna a obra
confiável, funcional e respeitável a todo que investe no
estudo aprofundado da teologia cristã.
A Bíblia é um sistema teológico. A Bíblia contém as verdades que o teólogo precisa coligir, autenticar,
organizar e demonstrar em sua relação natural umas com as outras. Isso
constitui a diferença entre a teologia bíblica e a teologia sistemática. A
função da primeira é asseverar e declarar os fatos da Escritura. A função da
segunda é tomar esses fatos, determinar sua relação entre si e com as
outras verdades cognatas, bem como vindicá-las e mostrar sua harmonia e
consistência. “Essa não é uma tarefa fácil, nem de somenos importância.”
Naturalmente pode-se perguntar
por que não tomar as verdades como Deus considerou próprio revelá-las, e então
poupar-nos do trabalho de demonstrar sua relação e harmonia?
A resposta a essa pergunta é,
em primeiro lugar, que isso não pode ser feito. Tal é a constituição da mente
humana que ela não consegue empreender a sistematização e conciliação dos fatos
que ela própria admite ser verdadeiros. Em nenhuma esfera do
conhecimento os homens têm ficado satisfeitos com a posse de uma massa de
fatos indigestos. E dos estudiosos da Bíblia tampouco se pode esperar que
fiquem satisfeitos. Portanto, existe uma necessidade para construir sistemas
teológicos. Disso a história da Igreja oferece abundante prova. Em todas
as épocas, e entre todas as denominações, têm-se produzido tais sistemas.
Em segundo lugar, tem sido
obtido, portanto, conhecimento de um tipo muito mais elevado do que por mero
acúmulo de fatos isolados. Por exemplo, uma coisa é saber que os oceanos,
os continentes, as ilhas, as montanhas e os rios existem na face da terra;
outra muito mais elevada é conhecer as causas que têm determinado a
distribuição de terra e água na superfície de nosso globo; a configuração
da terra; os efeitos dessa configuração sobre o clima, sobre as
espécies de plantas e animais, sobre o comércio, a civilização e o destino
das nações. É identificando essas causas que a geografia emergiu de uma
coleção de fatos para uma ciência altamente importante e elevada. De igual
modo, sem o conhecimento das leis de atração e movimento, a astronomia
seria uma confusa e ininteligível coleção de fatos. O que é verdadeiro em
relação a outras ciências é verdadeiro em relação à teologia. Não podemos
saber o que Deus revelou em sua Palavra a menos que entendamos, pelo menos
numa medida plausível, a relação em que as verdades dispersas nela
compreendidas mantém umas com as outras. Solucionar o problema concernente
à pessoa de Cristo, isto é, ajustar e produzir um arranjo harmonioso de todos
os fatos que a Bíblia ensina sobre esse tema, custou à Igreja séculos de
estudo e controvérsia.
Em terceiro lugar, não temos
escolha nessa matéria. Se desempenharmos nosso dever como mestres e defensores
da verdade, devemos envidar esforços em trazer todos os fatos da revelação a
uma ordem sistemática e a uma relação mútua. Somente assim podemos
satisfatoriamente exibir suas verdades, defendê-las das objeções ou
apresentá-las para que se disseminem, na plenitude de sua força, na mente
dos homens.
Em quarto lugar, essa
evidentemente é a vontade de Deus. Ele não ensina astronomia nem química aos
homens, mas lhes fornece os fatos dos quais essas ciências são construídas.
Tampouco ele nos ensina teologia sistemática, mas nos exibe na Bíblia as
verdades que, apropriadamente entendidas e organizadas, constituem a
ciência da teologia. Como os fatos da natureza se acham todos relacionados
e determinados pelas leis físicas, da mesma forma os fatos da Bíblia se
acham todos relacionados e determinados pela natureza de Deus e de suas
criaturas. E como ele quer que os homens estudem suas obras e descubram
sua portentosa relação orgânica e harmoniosa combinação, assim sua vontade é
que estudemos sua Palavra, e aprendamos que, como os astros, suas verdades
não são pontos isolados, mas sistemas, ciclos e epiciclos, numa infindável
harmonia e grandeza. Além de tudo isso, embora as Escrituras não contenham
um sistema de teologia como um todo, temos nas Epístolas do Novo
Testamento porções desse sistema a ser elaborado por nossas mãos. Elas são
nossa autoridade e guia.
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