OS
NICODEMITAS receberam
este nome daquele homem que veio procurar Jesus à noite em João 3.1 e 2: “Havia,
entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus.
Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre
vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se
Deus não estiver com ele”. Sabemos de outros lugares nas Escrituras que a
razão pela qual Nicodemos procurou Jesus à noite, foi o temor dos judeus.
Calvino, na Reforma, estava escrevendo a certas pessoas que não tinham coragem
de externar suas convicções.
Lembramos
de Naamã, o leproso. O profeta Eliseu foi usado por Deus de uma forma miraculosa
para curá-lo, quando ele se lavou no rio Jordão e a lepra foi totalmente
removida dele. Mas depois ele fez um pedido muito estranho ao profeta. No
capítulo 5 de I Reis, versículos 17-18 lemos que Naamã queria levar para sua
pátria uma porção da terra de Israel para usar no seu culto a Deus:
“Disse
Naamã: Se não queres, peço-te que ao teu servo seja dado levar uma carga de
terra de dois mulos; porque nunca mais oferecerá este teu servo holocausto nem
sacrifício a outros deuses, senão ao SENHOR” (v. 17).
Vocês
devem se lembrar de que eles não podiam sacrificar, ou cultuar a Deus em nenhum
outro lugar, senão no lugar onde Deus havia posto o seu nome. Naamã está
dizendo no texto: “Se eu posso pelo menos levar um pouca da terra comigo de
volta para o meu país, isso será suficiente”. Disse mais: “Nisto perdoe
o SENHOR a teu servo; quando o meu senhor entra na casa de Rimom para ali
adorar, e ele se encosta na minha mão, e eu também me tenha de encurvar na casa
de Rimom, quando assim me prostrar na casa de Rimom, nisto perdoe o SENHOR a
teu servo”. Ou seja, “É meu trabalho, de vez em quando, entrar no templo
pagão e ali precisar apoiar meu rei quando ele estiver oferecendo sacrifícios
aos deuses pagãos”. E completa: “Espero que o Senhor me perdoe por este pequeno
probleminha”.
Veja
o que Naamã e Nicodemos tinham em comum: Eles queriam ser discípulos secretos.
Queriam seguir ao Senhor e ao mesmo tempo não queriam perder o status que
tinham. No caso de Nicodemos, ele desejava continuar no Sinédrio (o Sínodo que
governava os judeus). Quem sabe ele estivesse na lista de se tornar presidente
deste Concílio. No caso de Naamã, ele diz que tinha muitas coisas importantes a
cuidar no governo. Era um homem muito rico, um general, um guerreiro vitorioso,
um homem viril, mas tinha de entrar no templo de Rimom. Ele não queria abrir
mão do seu status.
Na
época de Calvino havia também homens que tinham idéias semelhantes com respeito
à Igreja Católica Romana. De um lado eles queriam dizer aos reformadores: “Sim,
nós cremos nas doutrinas reformadas; nós cremos na doutrina da justificação
somente, cremos que a adoração é definida somente por Deus, cremos que não
devemos adorá-lo de nenhuma outra forma se não a que Ele determinou na Sua
Palavra, mas não queremos abrir mão dos nossos empregos, de nossas posições.
Queremos continuar em nossos cargos e funções na Igreja Romana porque se
apoiarmos a Reforma publicamente, perderemos nosso status na sociedade”.
Veja
o que eles estavam dizendo: “Desde que o meu coração esteja bem, aquilo que eu
faço não importa”. Que você acha disso? Já ouviu coisa semelhante? “Não importa
se eu vou obedecer a Deus ou não, o importante é que eu esteja bem; não importa
o que eu estou lendo, não importa onde vou, não importa com quem eu ando, desde
que Deus veja que meu coração está bem”, dizem alguns.
É
disso que Calvino está tratando quando ele escreve suas cartas àquelas pessoas
a quem chama de “Nicodemitas”.
BACON, Richard. Calvino e os Nicodemitas. Palestra proferida por dr. Richard
Bacon no XV Simpósio Reformado os Puritanos, Maragogi, AL/2006. 1ª Edição digital em Português, 2013, p. 4-7.
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