BIERMA, Lyle D. Introdução ao Catecismo
de Heidelberg: Fonte, História e Teologia. São Paulo: Editora Cultura
Cristã, 2010, 239p.
Tenho em mãos o livro a “Introdução ao Catecismo de Heidelberg: fonte, história
e teologia” que foi publicado pela Cultura Cristã em 2010. Além do Catecismo de
Heidelberg, esta obra também traz uma tradução dos Catecismos Breve e Maior de
Zacarias Ursinus. Esta obra faz parte de uma série de textos e estudos sobre o
pensamento reformado e pós-reforma que tenha como propostas tornar disponíveis
obras como a de Caspar Olevianus, Firme Fundamento; de Theodore Beza, O Quadro
da Predestinação; e de Jerome Zanchi, Confissão de Fé.
O livro é dividido em 2 partes: na primeira parte temos, o primeiro
capitulo, escrito por Charles D. Gunnoe Jr.[1] Em
que traça todos os antecedentes históricos do Catecismo de Heidelberg e uma introdução
histórica abrangendo a Reforma no Palatinado.[2] O
segundo e o terceiro capítulo, escrito por Lyle D. Bierna,[3] onde
escreve detalhadamente sobre a grande polêmica sobre a autoria e as fontes e
orientação teológica do catecismo de Heidelberg.[4] A
Dra. Karin Y. Maag[5] prepara o capítulo 4
indica as primeiras edições e traduções do Catecismo de Heidelberg.[6] E,
para quem deseja continuar os estudos nesta área, O Dr. Paul W. Fields,[7]
escreve o capítulo 5 onde apresenta uma vasta bibliografia de pesquisa sobre o
Catecismo de Heidelberg desde 1900.
Na segunda parte,[8] Bierma
traz uma tradução revisada dos Catecismos de Zacarias Ursinus, acrescida uma
introdução histórica. A importância destes dois documentos confessionais é que
eles constituem em fonte para o Catecismo de Heidelberg, e possibilidade para um
estudo comparativo do que seria a posição teológica exclusiva de Ursinus.
Para que esse livro fosse produzido, os editores usaram todo o acervo da
maior autoridade do mundo no Catecismo de Heidelberg, o Dr. Fred H. Klooster
(1922-2003), que foi professor de Teologia Sistemática no Calvin Theological
Seminary entre os anos 1956 e 1988. O Dr. Klooster produziu as seguintes obras:
Em 1981, O Catecismo de Heidelberg: origem e história (manuscrito de 468
páginas não publicado). Em 1990, Um Poderoso Consolo: a fé cristã segundo o
Catecismo de Heidelberg. Um comentário em dois volumes em 2001, Nosso Único Conforto:
um comentário detalhado sobre o Catecismo de Heidelberg.
O Catecismo de Heidelberg, o segundo dos padrões doutrinários das
Igrejas Reformadas, foi escrito em Heidelberg a pedido do Eleitor Frederico
III, governador, entre 1559 e 1576, da mais influente província alemã, o
Palatinado.
O prefácio de Frederico III dá uma noção dos seus motivos para ordenar
um novo catecismo:
“Portanto, também apuramos que a
maior deficiência do nosso sistema se acha no fato de que nossos jovens tendem
a ser descuidados quanto à doutrina cristã, tanto nas escolas como nas igrejas
do nosso principado – estando mesmo, alguns deles, sem nenhuma instrução
cristãs, outros sendo ensinados sem métodos, sem um catecismo oficial, digno de
confiança e inteligível, mas meramente segundo um plano ou juízo individual; e,
entre tantas outras deficiências, a consequência delas tem sido, um muitíssimos
casos, que [os nossos jovens] tem crescido sem o temor de Deus e o conhecimento
da sua Palavra, recebido instrução sem proveito, ou, caso contrário, sendo
confundidos com questões irrelevantes e desnecessárias e, por vezes, sobre
carregados com doutrinas perniciosas”.[9]
O prefácio ainda sugere, portanto, que Frederico III tinha no mínimo três
objetivos para o seu novo catecismo: 1. Para que servisse como um recurso catequético
para o ensino das crianças; 2. Como um guia de pregação para a instrução do
povo comum nas igrejas; e por último como uma forma de unidade confessional
entre as diversas facções protestantes do Palatinado.[10]
Esse piedoso príncipe cristão comissionou Zacarias Ursinus, vinte e oito
anos de idade e professor de Teologia da Universidade de Heidelberg, e Gaspar
Olevianus, vinte e seis anos de idade e pregador da corte de Frederico, para
que preparassem um catecismo para instruir os jovens e guiar pastores e
mestres. “No final do século 19, defendeu-se largamente que Ursinus foi o
responsável pela substância doutrinal do catecismo, com um suposto primeiro
esboço em latim, e Olevianus o responsável pelo estilo devocional e pessoal da
versão alemã final. Essa cooperação entre mestre e pregador foi a responsável
combinação da profundidade teológica com a ternura pastoral, pelos quais o
Catecismo de Heidelberg se tornou bem conhecido”.[11]
Na preparação do Catecismo, Frederico contou com o conselho e a
cooperação de todo o corpo docente de Teologia. O Catecismo de Heidelberg foi
adotado pelo Sínodo de Heidelberg e publicado na Alemanha com um prefácio de
Frederico III datado de 19 de janeiro de 1563. Uma segunda e terceira edição
alemã, com alguns pequenos acréscimos, além de uma tradução latina, foram
publicadas em Heidelberg nesse mesmo ano.
O Catecismo de Heidelberg tornou-se ampla e favoravelmente conhecido nos
Países Baixos quase imediatamente após sair das prensas, principalmente pelos
esforços de Pedro Dathenus, que o traduziu para o holandês e o acrescentou à
sua versão do Saltério de Genebra, publicando-o em 1566. No mesmo ano Pedro
Gabriel deu o exemplo, explicando-o à sua congregação em Amsterdã nos sermões
das tardes de domingo. Os Sínodos Nacionais do século dezesseis o adotou como
uma das Formas de Unidade, requerendo dos seus oficiais eclesiásticos que o
subscrevessem e que os seus ministros o explicassem às igrejas. Essas
exigências foram fortemente enfatizadas pelo grande Sínodo de Dort de
1618/1619.O Catecismo de Heidelberg tem sido traduzido em muitas línguas e é o
mais influente e o mais geralmente aceito dos diversos catecismos dos dias da
Reforma.
Este livro nos fornece dados importantes sobre “as Fontes e a Orientação
Teológica do Catecismo de Heidelberg.” [12]
Contudo, tecerei comentários acerca de suas divisões, ecumenismo reformado e
teologia.
1. O
documento tem três divisões principais: a Primeira Parte - Nosso Pecado e
Culpa: A Lei de Deus (perguntas 3 a 11), é uma confissão da pecaminosidade
humana e do desprazer de Deus. A Segunda Parte - Nossa Redenção e Liberdade: A
Graça de Deus em Jesus Cristo (perguntas 12 a 85), revela o plano de redenção e
inclui uma exposição do Credo dos Apóstolos. A Terceira Parte - Nossa Gratidão
e Obediência: Nova Vida através do Espírito Santo (perguntas 86 a 129),
apresenta a gratidão obediente como o fundamento das boas obras e inclui uma
exposição dos Dez Mandamentos e da Oração Dominical. Esta seção vê a vida
cristã como a resposta de gratidão do crente às bênçãos de Deus. [13] As perguntas estão organizadas de modo a que o
Catecismo todo possa ser estudado em 52 domingos (o número de domingos que tem
em um ano).
2. É considerada a mais ecumênica dentre as confissões da Reforma,
reunindo três correntes do pensamento reformado.
Ademais, está isenta de definições dogmáticas e é notavelmente
não-sectária. “Das 129 perguntas do
Catecismo de Heidelberg, mais da metade delas foi tirada de modo considerável
de obras catequéticas existentes. Desse número, 35, no mínimo, devem ser atribuídas
aos catecismos de à Lasco. Talvez dez levem diretamente até Calvino; cinco ao Landescatechismusn
de Brenz. Mais significativamente, os catecismos de à Lasco deram as perguntas
formativas – sobre consolação (1, 21, 26, 31, 53, 54), fé (21), expiação (37),
igreja (54), credos, mandamentos e oração do Senhor.
E todas as quatros perguntas que ensinam a eleição como fontes de consolação
(1, 31, 53, 54) foram tiradas das obras de à Lasco”.[14]
O
autor do capitulo 3, Lyle D. Bierna [o principal editor deste livro], escreve
que:
“O trabalho de Ursinus não foi amplamente
ecumênico, no sentido contemporâneo do termo, mas era ecumenismo reformado do
melhor”[15]
A clareza e habilidade com todas as fontes foram
trabalhadas fez com que o Catecismo de Heidelberg se tornasse parte das
chamadas “Três Formas de Unidade”, que incluem também a Confissão Belga e os
Cânones de Dordt. Juntos, os três documentos resumem a explicação das igrejas
reformadas acerca da doutrina e da vida cristã segundo descritas na bíblia.
3. Em
sua posição teológica, o catecismo é cristão, evangélico e reformado, estando
plenamente radicado na tradição dos apóstolos e dos concílios ecumênicos da
igreja antiga. E isto fica bem claro quando observamos a sua ênfase reformada
em (1) na doutrina dos sacramentos,
apontando para uma presença real de Cristo na celebração da ceia, onde os
crentes participam verdadeiramente do corpo e do sangue de Cristo mediante a
operação do Espírito Santo; (2) na centralidade das Escrituras como autoridade
prática na vida de cada cristão; (3) na consagração a Deus mediante a prática
de boas obras como resposta à sua graça recebida em Cristo (Ef 2.8-10); (4) Na
igreja como fonte de verdadeira disciplina cristã.
Concluindo, afirmamos que esse
catecismo é importante por pelo menos quatro razões: (1) Foi traduzido para
muitos idiomas sendo adotado por inúmeros grupos protestantes tornando-se a
mais popular declaração de fé reformada. (2) Como o seu objetivo era pacificar
uma controvérsia, sua linguagem é pacífica no seu espírito, de tom moderado,
devocional e prático na sua atitude; sua linguagem é clara e fervorosa. Esposa
uma teologia calvinista não ofensiva ao luteranismo majoritário na Alemanha
pós-Lutero conciliando o melhor dessas duas tradições eclesiásticas. (3) É um
manual prático da vida cristã, tanto para crianças como para jovens e adultos.
(4) Sua organização diferenciada o torna agradável na leitura, pois visa
demonstrar simplicidade bíblica, moderação e paz, fugindo das sutilezas do
escolasticismo (escola filosófica que procurava conciliar a teologia cristã com
a filosofia grega de Aristóteles, marcada por um academismo rigoroso).
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Prof. Antônio de Pádua
[1] Charles D. Gunnoe Jr. (Ph.D.,
University of Virginia) é professor adjunto de História e Chefe do Departamento
de História do Aquinas College em Grand Rapids, Michigan (EUA)
[2] Pags 15-51.
[3] Lyle D. Bierna (Ph.D., Duke University) é
professor de Teologia Sistemática no Calvin Theological Seminary em Grand
Rapids, Michigan (EUA), e editor do Calvin Theological Journal.
[4] Pags 53-115.
[5] Karin Y Maag (Ph.D., University of St. Andrews)
é diretora do H. Henry Meeter Center for Calvin Studies no Calvin College e no
Calvin Theological Seminary, e professor adjunta de História no Calvin College
em Grand Rapids, Michigan (EUA).
[6] Pags. 117-134.
[7] Paul W. Fields (M.L.S., Syracuse University) é
bibliotecário teológico e curador do H. Henry Meeter Center for Calvin Studies
no Calvin College e no Calvin Theological Seminary em Grand Rapids, Michigan
(EUA).
[8] Pags. 155-239.
[9] p. 55.
[10] p. 56
[11] p. 57
[12] p. 83
[13] p. 90-95.
[14] p. 84
[15] p. 85
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