I. Há um só Deus vivo
e verdadeiro, o qual é infinito em seu ser e perfeições. Ele é um espírito
puríssimo, invisível, sem corpo, membros ou paixões; é imutável, imenso,
eterno, incompreensível, - onipotente, onisciente, santíssimo, completamente
livre e absoluto, fazendo tudo para a sua própria glória e segundo o conselho
da sua própria vontade, que é reta e imutável. É cheio de amor, é gracioso,
misericordioso, longânimo, muito bondoso e verdadeiro remunerador dos que o
buscam e, contudo, justíssimo e terrível em seus juízos, pois odeia todo o
pecado; de modo algum terá por inocente o culpado.[2]
II. Deus tem em si
mesmo, e de si mesmo, toda a vida, glória, bondade e bem-aventurança. Ele é
todo suficiente em si e para si, pois não precisa das criaturas que trouxe à
existência, não deriva delas glória alguma, mas somente manifesta a sua glória
nelas, por elas, para elas e sobre elas. Ele é a única origem de todo o ser;
dele, por ele e para ele são todas as coisas e sobre elas tem ele soberano
domínio para fazer com elas, para elas e sobre elas tudo quanto quiser. Todas
as coisas estão patentes e manifestas diante dele; o seu saber é infinito,
infalível e independente da criatura, de sorte que para ele nada é contingente
ou incerto. Ele é santíssimo em todos os seus conselhos, em todas as suas obras
e em todos os seus preceitos. Da parte dos anjos e dos homens e de qualquer
outra criatura lhe são devidos todo o culto, todo o serviço e obediência, que
ele há por bem requerer deles.[3]
Que há um só Deus, as
Escrituras afirmam constantemente essa verdade:
“Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”. Dt 6:4
Assim que, quanto ao comer das coisas sacrificadas aos
ídolos, sabemos que o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um
só. - 1 Co 8:4
1. DEUS O AUTO-EXISTENTE
Dentro das fronteiras
do universo em que a humanidade habita, existem dois tipos de seres.
a) Existem aqueles
seres que são dependentes uns dos outros. Esta categoria abarca tudo, de
elefantes a lesmas, de anjos a demônios, de seres humanos a vírus.
b) Contudo, existe um
ser do qual todos os outros dependem. Somente ele é auto-existente – o grande
Yahweh (“Jehovah” ou Jeová), que disse a Moisés que o Seu nome é “EU SOU O QUE
SOU”
“E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim
dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós”. - Êxodo 3:14
“João, às sete igrejas que estão na Ásia: Graça e paz seja
convosco da parte daquele que é, e que era, e que há de vir, e da dos sete
espíritos que estão diante do seu trono”. Apocalipse
1:4
Todos os outros seres
extraem o seu sustento e existência a partir Dele. Ele é absolutamente único,
de tal forma que Ele não depende (não precisa) de nada fora de Si mesmo.
Apenas Ele possui o
que os estudantes de teologia chamam de asseidade, o atributo da
auto-existência (João 1:4; 5:26).
“Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens”. João 1:4
Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também
ao Filho ter a vida em si mesmo”. João
5:26
Como Ele concede a
vida para toda a criação, desde o maior objeto até a menor das partículas, Ele
deve ser confessado como o único Criador e Deus.
“Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para
quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas,
e nós por ele”. 1 Coríntios 8:6
Ele
existe de uma maneira diferente de nós: nós, criaturas suas, existimos
em forma dependente, derivada, finita e frágil, mas nosso
Criador existe cm forma eterna, autossustentada e necessária — necessária,
isto é, no sentido de que Deus não tem, por sua imanência, de sair da
existência, como, inversamente, não temos em nós a faculdade de viver para
sempre. Nós necessariamente envelhecemos e morremos, porque c nossa presente
natureza fazer isso; Deus necessariamente continua para sempre imutável,
porque é sua natureza eterna fazer isso. Este é um dos muitos contrastes
entre a criatura e o Criador.[4]
2. DEUS É SANTO
A confissão da Bíblia
sobre a singularidade de Deus também pode ser encontrada na declaração de que
Ele é santo:
“E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o
Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória”. - Isaías 6:3
“E os quatro animais tinham, cada um de per si, seis asas, e
ao redor, e por dentro, estavam cheios de olhos; e não descansam nem de dia nem
de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que
era, e que é, e que há de vir”. - Apocalipse 4:8
A santidade de Deus
significa primeiramente que Ele é completamente diferente da Sua criação. Ele é
o Criador, único e em controle completo de tudo o que Ele fez.
Nós, seres humanos,
somos limitados no que podemos fazer. Nosso conhecimento é finito, e nunca
exaustivo. Nossas vidas nesta terra são relativamente curtas em duração e,
frequentemente, perseguidas por experiências dolorosas — “desagradável, brutal
e curta”, como o filósofo Thomas Hobbes[5] uma vez descreveu.
Deus não é assim. Ele
é imortal, pode fazer tudo o que a Sua boa vontade decide, e não tem
absolutamente nenhuma limitação. Dizer que Deus é santo significa falar da Sua
singularidade, da Sua diversidade (ou alteridade) diante da Sua criação.
3. DEUS É ÚNICO
Homens e mulheres
adoram a vários deuses. Sempre houve inumeráveis deuses falsos, e o título,
“deus”, tem sido aplicado:
a) aos Anjos, Sl
82.1,6
b) Satanás é chamado
de deus, 2 Co 4.4
c) Alguns homens já
foram tratados como deus – Faraós – e a bíblia faz referência a Herodes Agripa
I, que foi tratado como deus, Atos 12.21-23
Deus está na congregação dos poderosos; julga no meio dos
deuses.1
Eu disse: Vós sois deuses, e todos vós filhos do Altíssimo.6
Sl 82.1,6
Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus. 2 Co 4:4
“E num dia designado, vestindo Herodes as vestes reais,
estava assentado no tribunal e lhes fez uma prática.
E o povo exclamava: Voz de Deus, e não de homem.
E no mesmo instante feriu-o o anjo do Senhor, porque não deu
glória a Deus e, comido de bichos, expirou”. Atos
12:21-23
Tendo sido feitos à
imagem do Deus verdadeiro, os seres humanos têm um insaciável desejo de adoração
(ou prestar culto). Contudo, sendo seres caídos (pelo pecado), os seres humanos
inevitavelmente adoram deuses fabricados por eles mesmos.
a) O primeiro deus fabricado pelo
homem tinha a forma de um bezerro, Ex 32.1-4.
b) O homem adora os elementos como
pedra e madeira (Isaías 44.6-20)
c) O homem adora o próprio homens, At
10.24-26.
1Mas
vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de Arão, e
disse-lhe: Levanta-te, faze-nos deuses, que vão adiante de nós; porque quanto a
este Moisés, o homem que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe
sucedeu.
2E
Arão lhes disse: Arrancai os pendentes de ouro, que estão nas orelhas de vossas
mulheres, e de vossos filhos, e de vossas filhas, e trazei-mos.
3Então
todo o povo arrancou os pendentes de ouro, que estavam nas suas orelhas, e os
trouxeram a Arão.
4E
ele os tomou das suas mãos, e trabalhou o ouro com um buril, e fez dele um
bezerro de fundição. Então disseram: Este é teu deus, ó Israel, que te tirou da
terra do Egito. Êxodo 32:1-4
(...)
Isaías 44.6-20
24E no
dia imediato chegaram a Cesaréia. E Cornélio os estava esperando, tendo já
convidado os seus parentes e amigos mais íntimos.
25E
aconteceu que, entrando Pedro, saiu Cornélio a recebê-lo, e, prostrando-se a
seus pés o adorou.
26Mas
Pedro o levantou, dizendo: Levanta-te, que eu também sou homem. Atos 10:24-26
João Calvino, o
Reformador Francês, apontou precisamente que a mente humana é “uma perpétua
fábrica de ídolos”. [6] (Rm 1:18-25).
18Porque
do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos
homens, que detêm a verdade em injustiça.
19Porquanto
o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou.
20Porque
as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder,
como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão
criadas, para que eles fiquem inescusáveis;
21Porquanto,
tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças,
antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se
obscureceu.
22Dizendo-se
sábios, tornaram-se loucos.
23E
mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem
corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis.
24Por
isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia,
para desonrarem seus corpos entre si;
25Pois
mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do
que o Criador, que é bendito eternamente. Amém.
Romanos 1:18-25
O único remédio é a
dádiva da visão espiritual, por parte de Deus, onde é concedido como que um
raio de luz do céu, e as pessoas são despertadas para conhecerem ao Deus
verdadeiro, e para conhecerem a si mesmas como Suas criaturas.
CONCLUSÃO
Deus é, portanto,
soberano sobre a Sua criação. Ele concede vida e tira a vida, levanta nações e
montanhas, e também as rebaixa, traz sóis para a luz, e os estingue. Nada pode
detê-Lo. O que Ele decide, certamente acontece, e neste exercício de soberania
está a Sua glória.
Os seres humanos têm
o privilégio e a responsabilidade de reconhecer esta soberania de Deus.
Contudo, eles só podem fazer isto quando Deus inclina os seus corações. Por
natureza, eles são rebeldes, desprezando a Sua autoridade, e agindo contra o
que eles instintivamente sabem, e também declarando que Deus não existe.
Contudo, Ele existe
sim! O cristão tem mais certeza disto do que qualquer outra coisa que ele ou
ela saiba. Assim, o “doce deleite”[7] (emprestando uma frase de
Jonathan Edwards, o pregador evangélico do século XVIII) do cristão é
submeter-se a este grande Deus, reconhecendo a sua total dependência Dele, e
vivendo para Ele e para a Sua glória.
Portanto, o discurso
cristão sobre Deus é muito mais do que uma discussão filosófica sobre a Sua
existência. É o próprio deleite, para o cristão, vir a conhecer o único e
verdadeiro Deus, e conhecendo-O, encontrar significado para a vida e,
certamente, a vida eterna (1João 5:20) – na qual o cristão vai desfrutar
eternamente o conhecimento, o amor e a comunhão com o Deus triuno, tendo gozo
no Seu sorriso e banqueteando na Sua presença.
[1] Confissão de Fé de
Westminster comentada por A. A. Hodge. São Paulo: Editora Os Puritanos, 1999
[2] Versículos da Seção I
- Dt. 6:4; I Co 8:4, 6; I Ts 1:9; Jr. 10:10; Jó 11:79; Jó 26:14; Jo 6:24; I Tm.
1:17; Dt. 4:15-16; Lc. 24:39; At. 14:11, 15; Tg 1:17; I Re 8:27; Sl. 92:2; Sl.
145:3; Gn. 17:1; Rm. 16:27; Is. 6:3; Sl. 115:3; Ex 3:14; Ef. 1:11; Pv. 16:4; Rm
11:36; Ap. 4:11; I Jo 4:8; Ex 36:6-7; Hb. 11:6; Ne 9:32-33; Sl. 5:5-6; Na
1:2-3.
[3] Versículos da Seção II - Jo 5:26; At. 7:2; Sl 119:68; I
Tm 6: 15; At 17:24-25; Rm 11:36; Ap 4:11; Hb 4:13; Rm 11:33-34; At 15:18; Pv
15:3; Sl 145-17; Ap 5: 12-14.
[4] PACKER, J. I. Teologia Concisa: Um guia de estudos das
doutrinas cristãs históricas. São Paulo: Cultura Cristã, 2014, 3ª Ed. p.33
[5] HOBBES, Thomas. Leviatã:
Matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. São Paulo:
Edipro, 2015, p. 24
[6] CALVINO, João. A
Instituição da Religião Cristã. São Paulo: Editora UNESP, 2008. Volume
1.11.8, p.101
[7] LAWSON, Stevens J. As
Firmes Resoluções de Jonathan Edwards. São Paulo: Editora Fiel, 2014,
p.148.
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