INTRODUÇÃO
Nos
dias e na cultura que vivemos, os nomes pessoas não são nada mais do que
rótulos que nos tornam distintos de outras pessoas que convivem conosco. Os
nomes das pessoas não têm nada a ver com o que elas são ou fazem. Algumas
vezes, os apelidos que são dados às pessoas são mais significativos do que os
seus nomes, pois dizem algo do que a pessoas é ou faz.
Estas
coisas tornam-se ainda mais clara quando se trata dos nomes de Deus. Para
algumas pessoas, os nomes que Deus possui não significam nada mais do que
simples designações do Ser divino. Por causa da nossa cultura ocidental, não
costumamos prestar atenção à relação que há entre os nomes de Deus e o seu
caráter, os seus modos de agir e o significado dos nomes no que diz respeito ao
relacionamento entre nós e Deus.
A
grande diferença entre os nomes dados aos homens e os dados a Deus é que estes
últimos foram dados pelo próprio Deus. Deus revelou os seus próprios nomes ao
seu povo. Com isso podemos entender que a expressão “o nome” é indicativo de um
ser pessoal ou da totalidade do caráter de Deus. [1]
Joel
Beeke, afirma que os nomes (ou títulos) de Deus são alguns dos caminhos-chave
por meio dos quais Deus revela a Si mesmo. Estes nomes são mais do que apenas rótulos
ou etiquetas de identificação; eles são descrições proposicionais de alguns
aspectos das Suas infinitas Pessoas. Consequentemente, eles não podem ser
usados ao acaso (à esmo), e não devem ser desconsiderados durante a leitura das
Escrituras.
Ele
ainda afirma, que existem, de uma maneira geral, três categorias para os nomes
de Deus:
(1) Proposicional, expressando algum fato
pertinente à sua divindade, tais como “Deus Altíssimo” (Gênesis 14:18-22) e
“Deus eterno” (Gênesis 21:33);
(2) Histórico, comemorando algum encontro
com Deus (como Jeová Jireh, “o Senhor proverá” - Gênesis 22:14; ver também
Gênesis 16:13; Êxodo 17:15);
(3) Pessoal, declarando alguma experiência
individual (“o Deus de Abraão”, “o Deus de Isaque”, etc.).[2]
Neste
estudo estaremos nos detendo sobre uma breve explicação de alguns nomes proposicionais comuns no Antigo
Testamento:
1. Jeová. Este é o nome pessoal
de Deus, especialmente ligado ao Seu pacto de graça e misericórdia. Derivado do
verbo “Eu sou” (explicado no episódio da sarça ardente, encontrado em Êxodo 3),
este nome declara a:
a) Autossuficiente
b) Independência,
c) Eternidade
d) Soberania
de Deus.
Ainda,
de maneira extraordinária, Jeová é o principal nome de Deus usado em contextos
de salvação. Embora Deus seja infinitamente independente de qualquer coisa fora
de Si mesmo, Ele está disposto a ter comunhão íntima com o homem,
particularmente através do pacto da graça.
2. Deus. Este é o termo mais
geral para a deidade. A palavra em hebraico pode estar tanto no singular (El),
quanto no plural (Elohim). Ambas enfatizam a grandiosidade de Deus.
a) Ele
é “Todo-Poderoso”, Jó 9.4.
b) Ele
possui toda a autoridade, 1 Cr 29.11
c) Ele
é capaz realizar o que Lhe apraz, Is 46.10.
Ele é sábio de
coração, e forte em poder; quem se endureceu contra ele, e teve paz? - Jó 9:4
Tua é, Senhor, a
magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade; porque teu é
tudo quanto há nos céus e na terra; teu é, Senhor, o reino, e tu te exaltaste
por cabeça sobre todos. - 1 Crônicas 29:11
Que anuncio o fim
desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que
digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade. - Isaías 46:10
Este
título – Deus - também magnifica a
transcendência de Deus; Ele é exaltado acima de toda a criação, incluindo o
homem.
A forma
no plural significa a sua majestade ou excelência, que realça o Seu poder e
grandiosidade, com ainda maior ênfase. De forma significativa, esta é a Sua
primeira auto-revelação: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1:1; Sl
19:1). Ele é o Criador.
3. Senhor. O
título Adonai descreve Deus como:
a) O
Proprietário e Mestre supremo de tudo, Sl 24.1-2; Dt 10.17.
b) Tudo
pertence a Ele, e Ele governa tudo de acordo com os Seus próprios propósitos,
para a Sua própria glória, Rm 11.36.
Do SENHOR é a terra e
a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam.
Porque ele a fundou sobre os mares, e a firmou sobre os rios. - Salmos 24:1,2.
Porque ele a fundou sobre os mares, e a firmou sobre os rios. - Salmos 24:1,2.
Pois o SENHOR vosso
Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e
terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita recompensas- Deuteronômio
10:17.
Porque dele e por
ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém. -
Romanos 11:36
Este
nome declara a Sua absoluta soberania ou realeza. Reis terrenos vêm e vão, mas
o Rei celestial reina, supremo, para sempre (Isaías 6:1).
Todos
os homens e todas as nações, quer tenham conhecimento Dele ou não, estão
sujeitos à Sua autoridade e devem responder (se reportar) a Ele. Ele é o
Soberano sobre toda a terra; todos irão se curvar diante Dele (2 Reis 7:6;
Salmos 110:5; Daniel 1:2; Amós 1:8).
Thomas
Watson, descrevendo sobre o poder de Deus, disse: [3]
O nome gravado em suas vestes é: “Rei dos
reis e Senhor dos senhores” (Ap 19.16). Ele se apresenta como o Senhor
soberano, quem pode lhe pedir satisfação? “Farei toda a minha vontade” (Is
46.10). O mundo é o bispado de Deus, não faria o que quisesse em seus domínios?
Foi ele quem fez o rei Nabucodonosor comer grama e lançou no inferno os anjos
que pecaram. Foi ele quem quebrou a cabeça do império babilônico. (Is 14.12).
Deus é o monarca supremo e todo o poder reside
originalmente nele. “Não há autoridade que não proceda de Deus” (Rm 13.1). Os
reis possuem coroa por causa dele: “Por meu intermédio, reinam os reis” (Pv
8.15).
4. Deus Todo-Poderoso. Apesar
deste título ocorrer mais frequentemente no período patriarcal, especialmente
no livro de Jó, ele não é limitado somente a este período.
“Sendo, pois, Abrão
da idade de noventa e nove anos, apareceu o SENHOR a Abrão, e disse-lhe: Eu sou
o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito.” - Gênesis 17:1
Em
hebraico, significa El Shaddai. As opiniões diferem no que diz respeito à
tradução, contudo é mais provável que o significado seja “o Deus que é
suficiente”. Ele é completamente capaz de manter (ou cumprir) cada uma das
palavras das Suas promessas, mesmo quando o cumprimento parece impossível.
Haveria coisa alguma
difícil ao Senhor? Ao tempo determinado tornarei a ti por este tempo da vida, e
Sara terá um filho. - Gênesis 18:14
Bem sei eu que tudo
podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido - Jó 42:2
E Jesus, olhando para
eles, disse-lhes: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível. - Mateus
19:26
A Teologia
Puritana nos ensina que: [4]
De fato, embora
misericórdia e justiça sejam essenciais à natureza divina, o poder é mais
“evidentemente essencial”, pois, por exemplo, sem poder é impossível exercer a
misericórdia e a justiça. “A simplicidade de Deus, inclusive a harmonia de seus
atributos, requer que seu poder seja ilimitado, o que explica por que um dos
nomes usados para Deus é “Poder” [“Poderoso”] (Mc 14.62).
Campos,
afirma que de todos os nomes de Deus, este é o nome mais pactual:
O nome El-Shaddai possui uma
importância pactual. Deus é o todo poderoso e cheio de majestade que se
relaciona com seu povo em termos de promessas que cumpre fielmente. O nome
El-Shaddai aponta para o poder que ele tem de cumprir tudo o que promete.[5]
5. Senhor dos Exércitos.
Significa “Jeová dos exércitos”, uma expressão militar que identifica Deus como
o “Comandante” que tem toda a autoridade e patente infinita para ordenar as
Suas tropas a completar a Sua vontade.
E todos os moradores
da terra são reputados em nada, e segundo a sua vontade ele opera com o
exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão,
e lhe diga: Que fazes? - Daniel 4:35
Este
título ocorre mais frequentemente durante o período da monarquia (Samuel, Reis,
Crônicas, Salmos, e os Profetas). Dependendo do contexto, o exército pode estar
se referindo à Israel, aos anjos, aos corpos celestiais (estrelas e planetas),
ou até mesmo à toda a criação.
O ponto
importante é que Deus tem o poder, a autoridade e os recursos ao Seu comando,
para fazer e alcançar todos os Seus planos e propósitos. Não importa quão grande
seja a promessa, ou quão séria seja a ameaça, o “Senhor dos Exércitos” estará
no comando e irá concretizar.
CONCLUSÃO
No Catecismo Maior
Comentado, tem um questionamento que é bastante interessante, no item 14 tem a
seguinte pergunta: “Se Deus é
Todo-Poderoso, como diz o catecismo, existe contudo alguma coisa que Ele não
possa fazer?” [6]
Resposta: A Bíblia nos fala de algumas coisas
que até mesmo Deus não pode fazer. Uma delas é que não pode mentir (Tt 1.2).
Somos informados também que Deus não poder negar a Si mesmo (2 Tm 2.13).
Podemos sintetizar esses ensinamentos ao dizer que deus não pode negar a Sua
própria natureza – Ele não pode negar a sua natureza moral ao dizer uma mentira
ou ao cometer algo injusto, e não pode negar a Sua natureza racional ao fazer
qualquer coisa a contrarie em si mesma. Por exemplo, Deus não pode criar um
círculo quadrado, ou fazer dois mais dois igual a cinco. À parte das coisas que
não contrariem a Sua própria natureza, não existe absolutamente nada que Deus
não possa fazer.
Em esperança da vida
eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos
- Tt 1:2
Se formos infiéis,
ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo - 2 Tm 2:13
[1] CAMPOS, H. C, O Ser de Deus e os seus atributos. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p.84-85.
[2] BEEKE, J. A Doutrina de Deus: Os Nomes de Deus.
Os Puritanos. Disponivel in:
Acesso em 06 Mai. 2018.
[3] WATSON, Thomas. A Fé Cristã – Estudos Baseados no Breve
Catecismo de Westminster. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2009, p.100.
[4] JONES, M. &
BEEKE, J. Teologia Puritana: Doutrina
para a vida. São Paulo: Edições
Vida Nova, 2016, p. 122.
[5] CAMPOS, H. C, O Ser de Deus e os seus atributos. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p.86.
[6] VOS, Geerhardus
Johannes. Catecismo Maior Comentado.
São Paulo: Os Puritanos, 2015, p.52
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