I. HISTÓRIA DO COMENTÁRIO
O professor
Bruce Waltke tem ensinado e pregado o livro de Salmos ao longo de sua carreira,
que teve início em 1958. Ela inclui cursos sobre esse livro como um todo e a
prática de exegese, na qual ele usa salmos escolhidos como exemplos. Ao fim de
sua carreira, ele considerou apropriado escrever sobre o resultado de seu
trabalho.
Contudo, Bruce
não está capacitado para habilitar o leitor a ouvir a voz responsiva de fé da
igreja. Para sua grande alegria, o professor James M. Houston, anteriormente
conferencista de geografia histórica e cultural, especialista na história das idéias
e pioneiro em teologia espiritual entre os evangélicos, trabalhou como
voluntário para escrever esta história. Esperamos que nossos leitores sejam
edificados em alguma medida, como nós, por nossa interação. Jim e Bruce,
respectivamente, assumem a responsabilidade pela história da interpretação do
Saltério e por sua exegese.
Erika Moore,
professora assistente do Antigo Testamento na Trinity School para o Ministério,
ajudou como voluntária a produzir o comentário. Jim e Bruce alegremente
aceitaram sua proposta e lhe pediram para escrever a história do Saltério
durante o período do Segundo Templo (capítulo 1). Ela também preparou,
gentilmente, o glossário e os índices do inglês.
1. OBJETIVO DO COMENTÁRIO: UMA APOLOGIA
Nossos
principais propósitos neste livro são enriquecer a vida diária do cristão
contemporâneo e aprofundar a adoração comunitária da igreja em ouvir a voz de
Deus tanto através da exegese ortodoxa dos Salmos como também através da fé da
igreja. O humanista Desidério Erasmo de Roterdã (1469-1536), certa vez,
escreveu: “Quem, de fato, não escreveu sobre os Salmos?”. No entanto, as duas
vozes do Espírito Santo, falando infalivelmente na Escritura e edificando a
resposta de fé da igreja, são raramente combinadas.[1] Esta
necessidade de união exige um amparo de nossa abordagem interdisciplinar. Jim e
Bruce apresentam apologias respectivamente para a reação de fé da igreja e para
a exegese ortodoxa. Embora apresentadas separadamente, os autores estão de
acordo na íntegra com a apologia de cada um.
2. OUVINDO A VOZ DA IGREJA
Os Salmos foram
e são de importância vital na vida diária do cristão e na adoração cristã
comunitária. Ambas foram características fundamentais do cristianismo
primitivo, desde que os primeiros cristãos creram que o próprio Jesus Cristo
vivia nos Salmos. Os primeiros líderes da igreja, em contraste com a erudição
moderna, justamente creram na máxima que “a Escritura interpreta a Escritura”.
O incidente do Cristo ressuscitado, afirmando aos dois discípulos no caminho de
Emaús, o princípio hermenêutico que todas as Escrituras, incluindo os Salmos,
falam de Cristo, estabeleceu a base para os pensadores da igreja primitiva
interpretarem a Bíblia como o livro sobre Cristo (Lc 24.13-49). O poder radical
“do Espírito” sobre a letra introduziu a centralidade de Cristo na exegese
apostólica do Antigo Testamento – especialmente nos Salmos – de um modo
totalmente novo.
Em torno deste
novo princípio hermenêutico de “interpretar a Escritura pela Escritura”, os
pais da igreja formularam a “A regra de fé”, que agora determinava como a
exegese deveria ser feita. Agostinho em sua De doctrina christiana demarca
claramente que os princípios de questionamento teológico e as alegações da
verdade são distintos quando são “cristãos”. A erudição cristã é contrastada
com a erudição clássica em aspectos importantes, mesmo quando os procedimentos
clássicos para a retórica são ainda imitados e, então, modificados.
Deste modo,
deploramos o reducionismo confessional em muito da erudição bíblica
contemporânea, que ignora dois mil anos de devoção e ortodoxia cristã ou
“adoração correta” no uso do livro de Salmos. Ela ignora a continuidade
histórica da tradição na comunhão dos santos. Isto é o mesmo que estudar as
atividades de um porto marítimo e, no entanto, ignorar a existência do
território. Este tipo de teologia liberal é uma expressão da cultura cética do
“pós-modernismo”, que rejeita todos os “absolutos” e nega as “afirmações da
verdade”. Ela reinterpreta “a história” como uma série de eventos escolhidos
subjetivamente conforme o interesse do investigador, sem sentido algum de um
passado divinamente ordenado ou de alguma orientação soberana e providência.
Essa aleatoriedade produz “a morte do passado”, como J. H. Plumb nos advertiu
ao fim do modernismo, em 1969.[2]
Com a perda da
continuidade e do “âmbito histórico”, os salmos, então, perdem a
espiritualidade, e a tradição integral de devoção é ignorada tanto por judeus
como por cristãos. Como o erudito judeu James L. Kugel, professor de hebraico
em Harvard, observou: “Não seria injusto afirmar que a pesquisa nos Salmos,
neste século, tem um considerável efeito negativo na reputação do Saltério como
o foco natural da espiritualidade israelita e muito do que foi até agora
estimado neste campo passa por uma reavaliação relutante”. Em vez de serem inspirados
pela espiritualidade do Saltério, os críticos “modernos” “desespiritualizam” os
Salmos.[3] Questões eruditas sobre a autoria,
classificações dos salmos, origens pagãs de fontes cananitas e ugaríticas,
fontes cúlticas e fontes não cúlticas de adoração, a mudança de função dos
salmos, tudo tende a subtrair-se, de certo, como Kugel argumenta, eruditos
seculares, sejam eles “judeus” ou “cristãos”, “desespiritualizam” os salmos
para uso próprio, hoje”.
Entretanto,
paradoxalmente, estudos históricos florescem mais do que nunca, quando
ideologias definham e visões de mundo se alteram. Porque “o passado”, agora, é
visto como a fonte de múltiplas perspectivas difere tes, através das lentes do
comentário receptor. A atenção erudita é, neste instante, concedida à
“história” como uma série de estudos antropológicos dos quais “a história dos
comentários bíblicos” é traçável através da sequência de culturas históricas e
“mudanças de paradigmas”. A historiografia, então, torna-se mais confusa e
complexa em seu uso. Há múltiplas razões para usar a “história” como um
instrumento de erudição assim como um “comentário” para estudos bíblicos. Uma
vez que tanto o judaísmo como o cristianismo são religiões do “Livro”, a
crítica literária secular os contesta profundamente. A história da doutrina é
interligada com a história da exegese das Escrituras, tornando-a o novo campo
de batalha da fé contra o ceticismo.
Contudo, o
número crescente de eruditos que agora estão revisando a história dos
comentários anteriores é uma nova tendência bem-vinda na erudição bíblica (veja
p. 19-21).
II. OUVINDO A VOZ DO AUTOR INSPIRADO
Deploramos,
também, a falta de autêntica exegese no uso dos salmos como a falta de
compromisso cristão e ortodoxia em muito da erudição bíblica contemporânea. No
capítulo 3, um argumento é articulado para uma abordagem integrada em três
partes à interpretação da Escritura: a suplicante e devocional para ouvir a voz
de Deus; a confiante e sensível para ouvir a voz do autor; e a científica para
ouvir a voz do texto. Todas as três são necessárias ao mesmo tempo e
defenderemos uma exegese ortodoxa. A confissão que o intérprete precisa de
iluminação espiritual para compreender o texto difere radicalmente da confissão
do Iluminismo que o positivismo é suficiente para a exegese ortodoxa. Em seu
estudo ainda influente, J. A. Ernesti opôs o método científico ao método
espiritual. Ele negou a proposição “que as Escrituras não podem ser explicadas
propriamente sem oração e a simplicidade piedosa da mente”. No ponto de vista
de Ernesti, “a simplicidade piedosa da mente é inútil na investigação da
verdade escriturística”. Mas o autor divino do texto e seu sentido no texto não
podem ser verdadeiramente conhecidos ou compreendidos sem um compromisso
espiritual com ele. Nossa hermenêutica é sagrada porque o Autor é espírito,
conhecido no espírito humano através da mediação do Espírito Santo (1Co 2.11).[4] Martinho
Lutero afirmou: “Se Deus não abrir e explicar a Sagrada Escritura, ninguém pode
entendê-la; ela permanecerá um livro fechado, encerrado em trevas”. O Catecismo
de Genebra (1541) expressa isso desta forma: “Nossa mente é muito fraca para
compreender a sabedoria espiritual de Deus que é revelada a nós pela fé, e nossos
corações são muito tendenciosos tanto à rebelião como à perversa confiança em
nós mesmos ou nas coisas materiais. Mas o Espírito Santo nos ilumina para
fazer-nos entender que, do contrário, seria incompreensível para nós e nos
fortifica em convicção, selando e imprimindo as promessas da salvação em nossos
corações”.
1. O texto empírico exige uma abordagem científica
Por outro
lado, um estudo científico das informações empíricas do texto é também
necessário para uma hermenêutica genuína. Por científico queremos dizer a
abordagem gramático-histórica, que interpreta as palavras dentro do contexto do
mundo do orador. A Bíblia mesma utiliza esta abordagem, explicando palavras não
compreendidas pelos leitores (cf. 1 Sm 9.9) e explicando os costumes que se
tornaram obsoletos à época da narrativa (cf. Rt 4.7). A teologia ortodoxa exige
esta abordagem porque ela confessa que os autores da Bíblia foram inspirados
pelo Espírito de Deus para revelar a mente de Deus para o povo do pacto que lhe
pertence, e que ele o fez em palavras que exigiam fé e obediência.
2. O Novo Testamento autentica a ortodoxia através dos
textos de sentido claro
Antes que Jesus explicasse aos discípulos, no
caminho de Emaús, o que foi dito em todas as Escrituras – começando com Moisés
e os profetas – concernente a ele mesmo, ele os repreendeu por falharem em
compreender o sentido claro do texto.[5] “Como
vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo que os profetas falaram!
Não devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?” (Lc 24.25,
26). Cristo repreendeu os seus discípulos por não crerem naquilo que deveria
estar aparente com a leitura do texto. Ele não se baseou no método falho pesher
(interpretação, no sentido de solução) de hermenêutica para autenticar suas
afirmações, como o Mestre de Justiça em Qumran havia feito ou no método
alegórico dos pais da igreja. A falha de ver Cristo nos Salmos não é devida ao
método histórico-gramatical de exegese, mas à lentidão do coração humano para
crer na morte de Cristo pelo pecado e em sua ressurreição dos mortos. De fato,
é necessário que o Espírito Santo remova este véu de incredulidade. “O poder
radical do Espírito sobre a letra que introduziu a centralidade de Cristo na
exegese apostólica do Antigo Testamento de uma maneira totalmente nova na
história da interpretação”, como Jim expressa tão bem, é devido à graça de Deus
“sendo agora revelada pela manifestação de nosso Salvador, Cristo Jesus. Ele
tornou inoperante a morte e trouxe à luz a vida e a imortalidade por meio do
evangelho” (2Tm 1.10), para não negar o sentido claro da Escritura. Em vez de
focar na letra da Lei como os rabinos faziam, os apóstolos focaram no evangelho
de Jesus Cristo: sua morte pelos pecados da igreja, seu sepultamento, sua
ressurreição corpórea e ascensão, conforme o sentido claro da Escritura. Em suma,
o véu da incredulidade, não da ignorância histórica e filológica, teve que ser
retirado para que o poder radical do Espírito capacitasse uma leitura fiel da
Escritura.
Alguns alegam que os apóstolos usaram alegoria, mas discordamos. Conforme
veremos nos salmos escolhidos, tais como 2, 16, 22 e 110, os quais definimos
como "típico-proféticos", a interpretação profética é derivada de
textos de sentido claro, proveniente de exegese genuína, não da pesher ou de interpretação
alegórica. Em um exemplo onde Paulo usa alegoria, ele alerta seu leitor sobre
esta exceção (Gl 4.24; allegoreo jamais é usado em outras passagens do Novo
Testamento).
3. A continuidade do fiel se
estende aos autores inspirados
Além disso, a continuidade da comunidade de fé precisa começar com a aceitação
dos autores inspirados do Antigo Testamento e, então, mover-se para a
autoridade apostólica dos escritores do Novo Testamento. A confiabilidade dos
comentaristas cristãos posteriores, como Orígenes, Hilário de Poitiers,
Jerônimo e João Crisóstomo é dupla: suas habilidades lingüísticas para fazer
exegese do texto e a perspicácia teológica para a "avaliação
espiritual" da mensagem sendo comunicada. E a ruptura da erudição textual
dos estudos histórico-teológicos da "fé bíblica" que criou nossa
crise contemporânea de credibilidade.
4. Para proteger a igreja dos falsos
mestres
Na antigüidade, a igreja primitiva amadureceu uma abordagem útil de interpretação
constituída de quatro vertentes: a literal, a tropológica (de "tropo",
figurativa), a escatológica, e a moral. Este modelo ainda é útil na pregação.
Gregório comparou isto à edificação de uma igreja: lançar o alicerce (literal),
construir as paredes (tropológica com referencia a Cristo), o telhado
(escatológica) e as decorações (moral). Contudo, na prática, comentaristas de
fora da escola antioquiana, como Orígenes, Jerônimo, Hilário de Poitiers e
Crisóstomo, começaram essencialmente com as paredes ao usarem uma abordagem
alegórica à parte do sentido claro de fundamento. A igreja que eles construíram
era edificante, mas sem um alicerce e, assim, era instável e capaz de ser
vencida pelos falsos ensinos que utilizavam a mesma abordagem heterodoxa. Sem
dúvida, eles pensaram que estavam praticando interpretação bíblica por
começarem com Cristo, mas na verdade estavam abafando a voz dos escritores
inspirados que lhes deu a Bíblia. Uma estátua famosa que simboliza a
alegorização do texto representa Gregório, o Grande, assentado com a Bíblia na
mão e um pombo - um símbolo clássico do Espírito - pousado em seus ombros com o bico em seu ouvido. Em síntese,
a teologia deles era ortodoxa; o método, heterodoxo.
5. Uma reconciliação entre a
tropologia e o sentido claro
Por um longo tempo, a exegese contemporânea tem estado em desacordo com
os comentaristas históricos da igreja. O necessário neste diálogo é mais
compreensão, sensibilidade e uma hermenêutica correta.
a. Os primeiros comentários
eram mais bíblicos que críticos da Bíblia
Entretanto, os comentaristas da Pré-reforma que centram em Cristo com
piedade e paixão são, de fato, mais bíblicos que os acadêmicos que, de forma
desapaixonada e científica, explicam o texto sem considerar seu contexto
holístico, incluindo o Novo Testamento, sem paixão sem devoção a Cristo. A
piedade cristocêntrica e a devoção dos comentaristas antes da recuperação do
sentido claro deveriam ser apreciadas, não descartadas. Embora algumas de suas
interpretações nos pareçam ridículas e insensatas, na maior parte dos casos
eles permaneceram dentro dos parâmetros da ortodoxia - quer dizer, dentro dos
parâmetros das tradições apostólicas, tradições estas que foram expressas, mais
tarde, nos credos da igreja antiga, especialmente no Credo Niceno. Todavia,
eles devem ser censurados quando torceram a interpretação do autor original e a
declararam como o sentido do texto, justificando sua ignorância sobre a
intenção do autor ao reivindicarem iluminação espiritual dos mistérios divinos.
b. Alegoria não é reação
pós-moderna do leitor
Permita-me prosseguir, aqui. A abordagem alegórica dos comentaristas cristãos
não pode ser usada para defender a interpretação pós-moderna, que concede
prioridade à reação do leitor ao texto, não à intenção do autor.
Indubitavelmente, ambos: os "alegoristas" e os pós-modernos impõem sentidos
em um texto não intencionados pelo autor, mas os pós-modernos distorcem o
método alegórico dos comentaristas cristãos. Os comentaristas da igreja
alegorizaram o texto, mas eles foram ortodoxos, pastorais e, acima de tudo,
centrados em Cristo, enquanto que os pós-modernos são, na maior parte,
apóstatas, antropocêntricos, egoístas, e deste modo desconstroem a intenção do
autor para impor a própria agenda política e/ou social às Escrituras a fim de
autenticar o elitismo deles, enquanto acusam os escritores bíblicos de fazerem
o mesmo.
c. Os comentaristas antigos não
tiveram instrumentos exegéticos modernos
Os exegetas cristãos, antes da Reforma, não tinham mentalidade
histórica, e até àqueles que tinham faltaram os instrumentos modernos tanto da
arqueologia, para reconstruir o mundo antigo, como da filologia, para interpretar
os fenômenos lingüísticos complexos do texto. Com a providência de Deus, estes
instrumentos se tornaram disponíveis depois que os reformadores perceberam a
necessidade de ter uma mentalidade histórica. Se cremos na providência, é
errado negligenciar o conhecimento histórico mais evoluído e mais preciso que a
igreja tem. Anualmente, a pá dos arqueólogos descobre novos artefatos e textos
antigos para preencher o mundo da Bíblia, e novos e muito sofisticados
instrumentos filológicos são desenvolvidos para fazer progredir a ciência da
análise literária, tornando a memória da igreja mais viva à medida que ela
envelhece e chega à sua plena maturidade. Negligenciar estes instrumentos é
irresponsável para com a providência, a igreja e para com a vida espiritual dos
cristãos.
No entanto, paradoxalmente, estudos exegéticos, como estudos
históricos, florescem mais que nunca, enquanto a vida devocional dos cristãos e
da adoração comunitária murcha. Uma sucessão interminável de comentários emerge
das editoras, informando sobre novos conhecimentos textuais reunidos das
recentes descobertas arqueológicas e dos progressos da literatura
interpretativa. Estes conhecimentos e progressos não deveriam ser vistos como
ameaças à ortodoxia.
A ironia é que a providência permite que os críticos da história
bíblica - que usam estes instrumentos para "desteologizar" a Bíblia,
para "humanizá-la" totalmente - inconscientemente, afiam os
instrumentos dos eruditos fiéis para"teologizar" a Palavra de Deus.
No capítulo 3, um método ortodoxo de exegese que usa estes instrumentos será
explorado mais detalhadamente, e juntamente com ele, a apresentação e avaliação
da história dos comentários mais recentes.
d. A reconciliação que se
encontra na interpretação tipológica e canônica
Vamos continuar a reter o que é bom de ambos: a abordagem centrada em
Cristo da história da igreja e a evolução dos instrumentos exegéticos pelos
eruditos bíblicos de todas as convicções teológicas. Vamos também continuar
comparando as Escrituras com as Escrituras, pois nesta hermenêutica podemos
integrar as interpretações alegóricas mais antigas da igreja ao sentido claro
de Calvino [6]
(que incluía o que hoje se conhece como interpretação "tipológica").
Vamos defender a reconciliação por observar três pontos. Primeiro, tanto a
hermenêutica alegórica como também a tipológica assumem que Deus tem um plano
eterno que se realiza na história da salvação. Por isso, pretende-se dizer que
a história linear do mundo e, mais particularmente, de Israel - chamada hoje de
"história da salvação" - existe eternamente no decreto de Deus. Esta
história inclui ambos: os "fatos" da atividade de Deus e sua
interpretação inspirada do sentido destes fatos. [7]
Segundo, Deus revelou seu reinado sobre a história ao cumprir as
profecias anunciadas e ao prefigurar mediante pessoas que não tinham
consciência disso como também através de eventos e situações (isto é,
"tipos") um cumprimento superior em seus "antítipos" (veja
p. 122, 123). Enquanto as profecias predizem eventos da história da salvação,
tipos são reconhecidos apenas à luz do cumprimento em seus respectivos
antítipos. Em suma, a mente do autor da Escritura transcende a mente de seus
autores humanos (veja p. 212, 216, 221-2) e requer-se comparar e interpretar a
Escritura com e por meio de todo o cânon da Escritura.
Terceiro, tipologia é uma forma disciplinada de alegoria, pois ambas
admitem o desígnio eterno de Deus e procuram por correspondências dentro dele.
Mas a alegoria é desregrada em imaginar correspondências, porque ela
negligencia uma cuidadosa, se houver, exegese da realidade histórica, enquanto
a tipologia demanda manter um olho exegético preciso no tipo como também no
antítipo para autenticar a plausibilidade de uma correspondência divinamente
intencionada (veja Jim. Salmo 110, p. 517).
e. Hermenêutica prosopológica
Como veremos no estudo histórico do Salmo 2, Orígenes e seus discípulos
usaram a crítica prosopológica - isto é, ele viu diferentes interlocutores no
salmo falando de diferentes perspectivas. Entretanto, seu método era falho
porque aplicou o princípio hermenêutico de modo arbitrário e fantasioso.
Contudo, há algo legítimo em ler o salmo como duas vozes de duas perspectivas.
Admitindo-se que Davi e seu reino sejam tipos de Cristo e da igreja de Cristo
para o Pai, podemos, em acréscimo, ler os Salmos como a voz de Cristo e de sua igreja
dirigida ao Pai, e como as palavras da igreja para seu Senhor e Salvador, Jesus
Cristo. Isto é assim porque Cristo é tão plenamente humano quanto seu pai Davi
e seus irmãos. Mas ele também é plenamente Deus. De acordo com sua perspectiva
humana, ouvimos sua voz dirigida a Deus, e de acordo com a última perspectiva,
ouvimos a voz da igreja dirigida a ele. Assim sendo, no Salmo 1 é "o homem"
que se deleita na Torá de Deus, mas como Deus ele é o autor da Torá e, assim, a
igreja se deleita em seu ensino. Por exemplo, no Salmo 2, Cristo pede a Deus
sua herança, mas, como Deus, ele tem autoridade sobre todas as nações; no Salmo
3, ele é rodeado por inimigos, mas ele também é aquele que livra sua igreja; no
Salmo 4, ele vai dormir enfrentando a morte, mas confiando em Deus, e do mesmo
jeito, sua igreja confia no Cristo ressuscitado. Em outras palavras, Jesus
Cristo é o Eu Sou, como ele próprio testificou c conforme seus apóstolos afirmaram.
Esta perspectiva dual que o Saltério inteiro informa é um mistério que os
críticos bíblico-históricos não podem lidar.
C. A escolha do Saltério
Escolhemos o Saltério para o nosso estudo exegético-histórico por
diversas razões.
1. Restaurar a função especial
dos Salmos na adoração
Os Salmos desempenham uma função especial tanto em Israel e como na
igreja cristã como livro de oração e hinário para suas comunidades adoradoras.
Ao contrário de outros livros da Bíblia, os Salmos sempre foram cantados e
recitados, tendo profundas raízes poéticas e musicais na vida religiosa de
devoção. No entanto, desde o século XVIII a hinódia substituiu a centralidade
do Saltério na liturgia das igrejas evangélicas. A singularidade dos Salmos
tem, assim, desaparecido gradualmente da nossa tela de radar religiosa.
2. Restaurar a função dos
Salmos na formação espiritual
Para os primeiros cristãos, os Salmos eram também o singular manual emocional
para o uso pessoal, que poderia ser definido como "salmoterapia" -
somente ofuscado pela psicologia moderna e a mais recente "cultura
pop" de cânticos de louvor populares com suas repetições cansativas, substituindo
o entusiasmo emocional à parte da reflexão sóbria. Conforme Jonathan Edwards indicou
em sua obra-prima Religious Affections (Afeições religiosas, 1746), o evangelho
nos proporciona as afeições apropriadas. [8]
3. Restaurar o uso holístico de
um Salmo
A psicologia moderna e os cânticos de louvor substituem o estudo
holístico e o cântico dos salmos para a nutrição da vida espiritual e para o enriquecimento
da adoração da igreja. Isto resulta em perda das profundas raízes musicais e
poéticas da igreja na vida religiosa de devoção.
Portanto, nosso propósito é recuperar estas perdas através da exegese fiel
e de ouvir novamente a rica reação devocional da verdadeira igreja. Somos
herdeiros de todas as eras, e somos os mais pobres devido à nossa falha em
ouvir e acolher esta rica herança.
Escolhemos apenas treze salmos para apresentar um estudo profundo como
também ilustrar, as diferentes aplicações pastorais do uso dos Salmos. Eles
refletem gêneros distintos, mas também diferem em seus temas inter-relacionados
como expressão de todo o Saltério. Isto se reflete nos diversos tratamentos
históricos dos Salmos.
D. Um aviso
E importante notar que o objetivo do livro é escrever um comentário interdisciplinar,
não um comentário típico. Por falta de espaço, nenhuma atenção é dada a algumas
preocupações tradicionais de um comentário, tais como expor seus textos e
versões, a natureza da filologia e poesia hebraica e assim por diante. Em
geral, nosso desejo é que os leitores leigos sérios tanto quanto os pregadores
e os mestres alcancem o ouro puro do texto bíblico e o âmbito da história cristã,
para obterem a renovação do espírito e da reflexão de ambos, daquilo que é
negligenciado em nossa sociedade secular hodierna.
A história da interpretação requer menos propedêutica que exegese, a qual
assume uma familiaridade com os fundamentos da práxis exegética. As notas de
rodapé nas seções de exegese são planejadas principalmente para os estudantes
mais adiantados.
III. O CONTEXTO ERUDITO DO
COMENTÁRIO
a. Estudo da história da
composição do comentário
Sob a influência do Movimento Tratadista no século XIX, J. M. Neale foi
o pioneiro ao escrever A Commentary on the Psalms: From Primitive and Medieval
Writers [9] (Um comentário sobre os Salmos: de escritores
primitivos e medievais). No princípio do século XX, Rowland E. Prothero
escreveu sobre The Psalms in Human Life [10] (Os Salmos na vida
humana) e no contexto da fé e erudição contemporâneas. Este é o nosso objetivo
no princípio do terceiro milênio da igreja. Todavia, simplesmente citar como um
versículo de um salmo foi relevante para um cristão em particular cm um determinado
momento da vida dele ou dela, como Prothero o faz, não satisfaz o leitor
contemporâneo, inundado por muitas biografias excelentes. Exigimos muito mais
"profundidade" cultural no uso da história.
Desde que a história da doutrina está entrelaçada com a exegese, é bem--vinda
uma nova tendência na erudição bíblica, haja vista o número crescente de
eruditos que agora estão revisando a história dos comentários anteriores.
Quatro desses esforços são dignos de nota. Com respeito às séries de Ancient
Christian Commentary on Scripture (Comentário cristão da antigüidade sobre a Escritura)
o editor Thomas C. Oden explica: "Através da ajuda da tecnologia da
computação, uma vasta coleção de escritos dos pais da igreja - incluindo muito
do que está disponível somente nas línguas originais - é pesquisada para os
comentários destes eruditos sobre a Escritura".[11] Esta edição patrística do
comentário sobre a Escritura é publicada em vinte e oito volumes. No entanto,
sua extensão é limitada à era de Clemente de Roma c.95 a João de Damasco
c.645-c.749. A coleção é uma fonte de passagens selecionadas sobre os textos
dos livros da Bíblia, e assim, não é crítica aos autores antigos. Mais
precisamente, eles se permitem falar por si mesmos. No entanto, os colaboradores
trabalharam com nove princípios de seleção dos autores e textos escolhidos,
para orientar suas informações. Como audaciosa realização ecumênica, ela inclui
livros apócrifos que alguns pais aceitaram e ainda são aceitos pela Igreja
Católica Romana e tradições Ortodoxas Gregas.
Segundo, o projeto mais recente editado por Robert Louis Wilken, a série
The Church’s Bible (A Bíblia da Igreja), foca textos-chaves que têm sido mais
influentes no curso da história da igreja. Passagens bíblicas curtas, traduzidas
das versões Septuaginta e da Vulgata são seguidas com os trechos apropriados
dos textos antigos selecionados. A obra é designada para uso como instrumento
textual em vez de comentário contemporâneo. Não há notas editoriais nem
informação que provesse o contexto histórico para as passagens selecionadas.
Ela inclui comentaristas posteriores da Idade Média. Mas, se os outros volumes
seguem o formato do primeiro sobre O Cântico dos Cânticos, comentários
desaparecerão antes da Reforma, visto que a obra é, primariamente, para um
público católico romano.[12] Nenhuma indicação é dada
sobre quantos livros bíblicos serão cobertos nas séries.
A terceira obra, Hebrew Bible /Old Testament [Biblia Hebraica/Antigo
Testamento), editada pelo erudito norueguês Magne Saebo, [13] é composta de uma série
de ensaios escritos principalmente por eruditos judeus europeus. Ao contrário
dos dois volumes americanos, que ressaltam textos bíblicos selecionados, estes
ensaios focam na história bíblica da interpretação, algo análogo à The
Cambridge History of the Bible (A história da Bíblia de Cambridge). Até agora,
três volumes (de quatro das séries) foram publicados cobrindo o período da
literatura de Qumran até o fim do século XVIII. Ela é ampla em sua abordagem e
foca em seletos comentaristas cristãos e judeus.
Finalmente, a obra de dois volumes de Susan Gillingham, Psalms Through the
Centuries (Salmos através dos séculos), nos provê outro exemplo do novo movimento
acadêmico que foi criticado acima (isto é, "história da recepção" - como
a Bíblia é "recebida" antropologicamente por ambos, cristãos e judeus,
durante os últimos dois mil anos).[14] O trabalho de Susan, expressão da cultura
pós-moderna que "relata" história c cultura, oferece erudição detalhada
sem ser confessional em compromisso. A obra "informa" sobre a Bíblia,
analisando a história das práticas religiosas mais extensamente que os estudos
da "Bíblia – e - cultura". O trabalho dela pode ser caracterizado como
a abordagem do "estranho" à ortodoxia e ortopraxia bíblica. Em
propósito, a obra é mais historiográfica que teológica.
E encorajador que um número crescente de doutorandos esteja atento à história
de determinados comentários. "História" e "historiografia"
sempre são assuntos complexos, mas quando aplicados à Bíblia, os temas se
tornam intensos, pois a Bíblia como o livro sagrado é parte de nossa herança
cultural na sociedade ocidental. Ela é inseparável da história eclesiástica,
das mudanças culturais, de assuntos de heresia e reforma. Como o assunto
influente, de fato, a Palavra de Deus é o "dinamismo" da história
ocidental. Como "a Bíblia em miniatura", os Salmos têm sido
especialmente central para a história da devoção da igreja, até o século XVIII.
O outro tipo de história é dos "textos", como eram estudados pelo
mundo clássico, ou reintroduzidos na Renascença, ou os quais, agora, dominam a cultura
ocidental desde o Iluminismo. Isto torna a Bíblia em um “objeto de estudo"
em vez de permanecer “a espada de dois gumes" que os apóstolos usaram
pastoralmente.
b. Dificuldades de escrever um comentário
exegético e histórico
O foco histórico da erudição contemporânea encontra muitas estradas bloqueadas
com respeito aos Salmos.
Primeiro, alguns comentaristas do passado jamais completaram seus comentários.
Ou, por várias razões, tudo que fizeram foi compilar, e o que compilaram pode
não ter se conservado.
Segundo, em vários períodos, comentaristas têm diferentes perspectivas e
desafios para escrever como os comentários lhes ocorreram. A história da
doutrina, ou a interpretação da "história" e seus usos, evolui
durante o tempo de modos diversos.[15]
Terceiro, a compreensão sobre que é "literal" e/ou
"histórico", como também que é profecia , tem mudado através do
tempo, como notaremos.
Quarto, as interações da "tipologia" e" alegoria"
têm uma história complexa. Basta dizer que aplaudimos o uso tipológico dos
Salmos, pois esta abordagem fundamenta e unifica que o Espírito disse em sua
encarnação histórica e que veio a prefigurar na história progressiva da
salvação como narrado no cânon. Rejeitamos a alegoria como um método, pois ela
arbitrariamente impõe sentido separado do que o poeta inspirado intentava. Embora
a alegoria pareça ser utilizada em excesso pelos comentaristas antigos, precisamos
estudar e apreciar a forma como pensavam, porquanto consideravam o trabalho que
realizavam como "bíblico" – e era, muito mais que muitos
comentaristas que se orgulham do estudo erudito.[16] Isso porque na maior parte deles - embora o método
que utilizassem fosse questionável —, as interpretações alegóricas eram influenciadas
pela sã doutrina: a Escritura era interpretada pela Escritura e os eventos eram
criados pela presença de Deus na história. Portanto, eles nutriam
espiritualidade e adoração autênticas. O Espírito não é confinado para
autenticar a exegese! Visto que o alegórico não era somente humana imaginação
poética, mas a esfera do mistério de Deus. Não era clareza que desejavam, mas
efeito moral. Conforme Agostinho expressou: “Trate a Escritura de Deus como a
face de Deus. Derreta em sua presença".[17]
Quinto, os contextos diferentes de uma cultura oral, ou da cultura de pergaminhos,
ou de fato de uma cultura de edição, proporcionam distinções de consciência que
precisam ser reconhecidos e levados cm consideração.[18]
Sexto, "reforma", como Ladner defende,[19] é um processo contínuo de história da igreja,
às vezes conhecido por outros "nomes". Durante a Reforma, os
reformadores se propuseram a recuperar a intenção do Espírito nas composições
originais, mas o lema deles era reformatio
semper refomandum (“reformada e sempre reformando"). O pensamento
protestante tende a ignorar o dinamismo contínuo da fé, que requer dois mil
anos de reflexão – não somente esta "da Reforma" - para traçar os movimentos
de renovação do povo de Deus.
Finalmente, a escolha dos salmos para este livro fez suas próprias exigências
em como o tratamento contextual da história deles deveria ser feito.
IV. A ORGANIZAÇÃO DO COMENTÁRIO
O livro é dividido em duas seções: uma introdução, da qual este prólogo
pode ser considerado uma parte (capítulos 1-3), e um comentário sobre os salmos
escolhidos (capítulo 4-16). A introdução trata da história da interpretação do
Saltério como um todo, e o comentário lida com os salmos escolhidos. Dentre
outras funções, o Prólogo introduz o leitor à história deste tipo de comentário
dos pais da igreja para a introdução ao racionalismo nos Séculos XVII e XVIII.
Como grupo de autores, unimos uma interpretação hebraica do texto do Antigo
Testamento com a conexão intertestamentária dos Salmos com o Novo Testamento
(capítulo 1) para então estudar, no capítulo 2, os horizontes históricos da
ortodoxia cristã da igreja primitiva até a Reforma. O terceiro capítulo traça a
história da exegese da ascensão da crítica bíblica histórica até o presente.
Nos três primeiros capítulos, nos restringimos a estudar a história da interpretação
do período do Segundo Templo até as derivações contemporâneas da crítica
bíblica histórica. Na segunda seção, escolhemos os treze salmos para o nosso
estudo profundo através de critérios diversos.[20] Primeiro, escolhemos
alguns salmos (1, 23, e 51) que desempenharam uma função básica e central na
vida da igreja adoradora. Segundo, lançamos um sólido fundamento para a
apologética cristã por estudar os salmos que Cristo e seus apóstolos usaram
para autenticar a fé cristã (2, 16, 22e 110). Terceiro, estes e outros salmos
ilustram vários gêneros e perspectivas (3, 4, 8 e 139). Quarto, também
escolhemos salmos para realçar as perspectivas históricas da interpretação do
Saltério (isto é. Salmo 15). Deixamos para outros eruditos focarem nas
interpretações judaicas dos Salmos, exceto referências ao contínuo diálogo
judaico-cristão.
No tratamento dos salmos escolhidos, primeiramente, é dada a história da
interpretação e, em seguida, um comentário do salmo. Seguindo Lutero, começamos
com uma tradução original do salmo antes de sua exegese, que inclui uma análise
de seus aspectos literários seguida por um comentário versículo por versículo. A
numeração de muitos salmos difere porque a tradução grega une ou divide os
salmos um tanto diferentemente da tradição hebraica, a qual as versões inglesas
seguem, e a versificação do texto hebraico difere das versões inglesas porque a
tradição hebraica numera um sobrescrito com mais que três palavras como um
versículo, enquanto a tradição das versões inglesas jamais numera um
sobrescrito. Colocamos a numeração hebraica em colchetes.
__________________________________
Os Salmos como Adoração Cristã: Um Comentário
Histórico.
Bruce K. Waltke. São Paulo: Shedd Publicações, 2015, p. 9-24
[1] Enquanto D. H. Williams (Tradition, Scripture, and
Interpretation: A Sourcebook of the Ancient Church [Grand Rapids: Baker Academic,
2006]), professor de patrística e teologia histórica na Universidadede Baylor,
por um lado, deseja elevar as confissões da igreja antiga a um nível canônico
igual ao da Escritura, e, desta forma – presumivelmente infalível –, ele
reconhece, por outro lado, que para a igreja antiga o cânon da Escritura era a
‘norma normans’ (a regra que é regulada): “Todos
os principais credos e obras de teologia reconhecem, implícita ou
explicitamente, a supremacia da Bíblia” (p. 24).
[2] J. H. Plumb, The Death of the Past
(New York: Columbia University Press, 1969).
[3] James L. Kugel, “Topics in
the History of the Spirituality of the Psalms”, in Arthur Green, ed., Jewish
Spirituality from the Bible Through the Middle Ages (New York: Crossroad,
1988), p. 113.
[4] Bruce K. Waltke e Charles Yu,
An Old Testament Theology: An Exegetical, Thematic and Canonical Approach
(Grand Rapids: Zondervan, 2007), p. 80.
[5] “O sentido claro”. A descrição de Calvino de sua
hermenêutica significa examinar o texto cuidadosa e claramente dentro do
contexto amplo de todas as Escrituras.
[6] O sentido claro de Calvino interpreta um texto dentro
do contexto holístico do cânon, enquanto demonstra respeito à contribuição
patrística.
[7] A Escritura tanto infere como também afirma
claramente que Deus tem um plano eterno, decretado; por exemplo, através da
perdição de eventos futuros não antecipados (cf. Is 41.21-29); seu decreto da
missão não concebida para cumprir a história da salvação (cf. Is 49.1, 2); e os
mistérios de Paulo, "que durante as épocas passadas foi mantido oculto em
Deus, que criou todas as coisas", que agora se tornassem conhecidos,
"de acordo com o seu eterno plano que ele realizou em Cristo Jesus, nosso
Senhor" (Ef 3.1-13). A teologia da história da salvação, um tipo de
emanação do plano decretado de Deus, lembra um tanto a filosofia do
neoplatonismo, que ensinou a existência de um ser inefável c transcendente do
qual emanou o restante do universo como uma seqüência de seres inferiores. A síntese
deste pensamento do grego Plotino, um discípulo de Platão, com o pensamento
judeu, através da tradução do Antigo Testamento para o grego,exerceu uma enorme
influência no misticismo medieval e no humanismo da Renascença.
[8] Veja Robert
C. Roberts, Spiritual Emotions: A Psychology of Christian Virtues (Grand
Rapids: Eerdmans, 2007).
[9] O rev. J. M. Neale e o rev. R. F.. Littledale, A
Commentary on the Psalms: From Primitive and
Medieval Writers..., 4 vols. (London: Joseph Masters
& Co., 1860-).
[10] Rowland E. Prothero. The Psalms
in Human Life (New York: E. P. Dutton, 1905). A primeira edição inglesa foi em
1903. Prothero foi estudante de New
College, Oxford.
[11] Gerald Bray,
ed., Romans, The Ancient Christian Commentary on Scripture, ed. Thomas C. Oden. gen. ed., New Testament,
vol. 5 (Downers Grove, IL: InterVarsiyt Press, 1998), p. XI-XII.
[12] Richard A. Norris, The Sog os
Songs, The Church’s Bible, Robert Louis Wilken, gen. ed., vol 1 (Grand Rapids:
Eerdmans, 2003).
[13] Magne Saebo, Ed., Hebrew Bible/Old
Testament: The History of its Interpretation, vol. I, part 1: Antiquity
(Gottingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1996).
[14] Susan Gillingham. Psalms Through th
Centuries, vol 1, Blackwell Bible Commentaries (Oxford: BlackwellPublishing,
2008).
[15]
A antologia intitulada Theories of History, Ed. Com introduções e comentários
de P. Gardiner (New York/London: The Free Press, 1959).
[16]
Henri de Lubac, Medieval Exegesis, trans. Mark Sebanc e E. M. Macierowwski (Grand Rapids: Eerdmans, 1998-). Esta
obra de diversos volumes é um txto básico para apreciar a função da alegoria
nos comentários antigos e medievais.
[17] Citado por Robert Louis Wilken, The
Spirit of Eraly Christian Thoght (New haven/London: Yale Univeristy Press,
2003), p. 50.
[18] Antony Grafton e Megan Williams,
Christianity and the Transformation of the Book (Cambridge, MA, and London: The
Belknap Press of Harvard University Press, 2006). Este é um exemplo do
novo estudo interdisciplinary de como os pergaminhos e livros se tornaram “lidos”
em contraste com a tradição oral, onde foram “ouvidos”. Walter Ong. S. J. fez
uma contribuição similar para o estudo do impacto cultural do “livro impresso”
na cultura dos séculos XV e XVI.
[19] Gerhardt Ladner, The Idea of
Reform (New York, Harper & Row, 1967).
[20]
Coincidentemente, o capadócio Basílio, o Grande (330-379), também escreveu
treze homilias sobre salmos escolhidos.
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