sexta-feira, 9 de junho de 2017

OS SALMOS COMO ADORAÇÃO CRISTÃ: UM COMENTÁRIO HISTÓRICO [Prólogo]



I. HISTÓRIA DO COMENTÁRIO

O professor Bruce Waltke tem ensinado e pregado o livro de Salmos ao longo de sua carreira, que teve início em 1958. Ela inclui cursos sobre esse livro como um todo e a prática de exegese, na qual ele usa salmos escolhidos como exemplos. Ao fim de sua carreira, ele considerou apropriado escrever sobre o resultado de seu trabalho.

Contudo, Bruce não está capacitado para habilitar o leitor a ouvir a voz responsiva de fé da igreja. Para sua grande alegria, o professor James M. Houston, anteriormente conferencista de geografia histórica e cultural, especialista na história das idéias e pioneiro em teologia espiritual entre os evangélicos, trabalhou como voluntário para escrever esta história. Esperamos que nossos leitores sejam edificados em alguma medida, como nós, por nossa interação. Jim e Bruce, respectivamente, assumem a responsabilidade pela história da interpretação do Saltério e por sua exegese.

Erika Moore, professora assistente do Antigo Testamento na Trinity School para o Ministério, ajudou como voluntária a produzir o comentário. Jim e Bruce alegremente aceitaram sua proposta e lhe pediram para escrever a história do Saltério durante o período do Segundo Templo (capítulo 1). Ela também preparou, gentilmente, o glossário e os índices do inglês.


1. OBJETIVO DO COMENTÁRIO: UMA APOLOGIA

Nossos principais propósitos neste livro são enriquecer a vida diária do cristão contemporâneo e aprofundar a adoração comunitária da igreja em ouvir a voz de Deus tanto através da exegese ortodoxa dos Salmos como também através da fé da igreja. O humanista Desidério Erasmo de Roterdã (1469-1536), certa vez, escreveu: “Quem, de fato, não escreveu sobre os Salmos?”. No entanto, as duas vozes do Espírito Santo, falando infalivelmente na Escritura e edificando a resposta de fé da igreja, são raramente combinadas.[1] Esta necessidade de união exige um amparo de nossa abordagem interdisciplinar. Jim e Bruce apresentam apologias respectivamente para a reação de fé da igreja e para a exegese ortodoxa. Embora apresentadas separadamente, os autores estão de acordo na íntegra com a apologia de cada um.


2. OUVINDO A VOZ DA IGREJA

Os Salmos foram e são de importância vital na vida diária do cristão e na adoração cristã comunitária. Ambas foram características fundamentais do cristianismo primitivo, desde que os primeiros cristãos creram que o próprio Jesus Cristo vivia nos Salmos. Os primeiros líderes da igreja, em contraste com a erudição moderna, justamente creram na máxima que “a Escritura interpreta a Escritura”. O incidente do Cristo ressuscitado, afirmando aos dois discípulos no caminho de Emaús, o princípio hermenêutico que todas as Escrituras, incluindo os Salmos, falam de Cristo, estabeleceu a base para os pensadores da igreja primitiva interpretarem a Bíblia como o livro sobre Cristo (Lc 24.13-49). O poder radical “do Espírito” sobre a letra introduziu a centralidade de Cristo na exegese apostólica do Antigo Testamento – especialmente nos Salmos – de um modo totalmente novo.

Em torno deste novo princípio hermenêutico de “interpretar a Escritura pela Escritura”, os pais da igreja formularam a “A regra de fé”, que agora determinava como a exegese deveria ser feita. Agostinho em sua De doctrina christiana demarca claramente que os princípios de questionamento teológico e as alegações da verdade são distintos quando são “cristãos”. A erudição cristã é contrastada com a erudição clássica em aspectos importantes, mesmo quando os procedimentos clássicos para a retórica são ainda imitados e, então, modificados.

Deste modo, deploramos o reducionismo confessional em muito da erudição bíblica contemporânea, que ignora dois mil anos de devoção e ortodoxia cristã ou “adoração correta” no uso do livro de Salmos. Ela ignora a continuidade histórica da tradição na comunhão dos santos. Isto é o mesmo que estudar as atividades de um porto marítimo e, no entanto, ignorar a existência do território. Este tipo de teologia liberal é uma expressão da cultura cética do “pós-modernismo”, que rejeita todos os “absolutos” e nega as “afirmações da verdade”. Ela reinterpreta “a história” como uma série de eventos escolhidos subjetivamente conforme o interesse do investigador, sem sentido algum de um passado divinamente ordenado ou de alguma orientação soberana e providência. Essa aleatoriedade produz “a morte do passado”, como J. H. Plumb nos advertiu ao fim do modernismo, em 1969.[2]

Com a perda da continuidade e do “âmbito histórico”, os salmos, então, perdem a espiritualidade, e a tradição integral de devoção é ignorada tanto por judeus como por cristãos. Como o erudito judeu James L. Kugel, professor de hebraico em Harvard, observou: “Não seria injusto afirmar que a pesquisa nos Salmos, neste século, tem um considerável efeito negativo na reputação do Saltério como o foco natural da espiritualidade israelita e muito do que foi até agora estimado neste campo passa por uma reavaliação relutante”. Em vez de serem inspirados pela espiritualidade do Saltério, os críticos “modernos” “desespiritualizam” os Salmos.[3]  Questões eruditas sobre a autoria, classificações dos salmos, origens pagãs de fontes cananitas e ugaríticas, fontes cúlticas e fontes não cúlticas de adoração, a mudança de função dos salmos, tudo tende a subtrair-se, de certo, como Kugel argumenta, eruditos seculares, sejam eles “judeus” ou “cristãos”, “desespiritualizam” os salmos para uso próprio, hoje”.

Entretanto, paradoxalmente, estudos históricos florescem mais do que nunca, quando ideologias definham e visões de mundo se alteram. Porque “o passado”, agora, é visto como a fonte de múltiplas perspectivas difere tes, através das lentes do comentário receptor. A atenção erudita é, neste instante, concedida à “história” como uma série de estudos antropológicos dos quais “a história dos comentários bíblicos” é traçável através da sequência de culturas históricas e “mudanças de paradigmas”. A historiografia, então, torna-se mais confusa e complexa em seu uso. Há múltiplas razões para usar a “história” como um instrumento de erudição assim como um “comentário” para estudos bíblicos. Uma vez que tanto o judaísmo como o cristianismo são religiões do “Livro”, a crítica literária secular os contesta profundamente. A história da doutrina é interligada com a história da exegese das Escrituras, tornando-a o novo campo de batalha da fé contra o ceticismo.

Contudo, o número crescente de eruditos que agora estão revisando a história dos comentários anteriores é uma nova tendência bem-vinda na erudição bíblica (veja p. 19-21).


II. OUVINDO A VOZ DO AUTOR INSPIRADO

Deploramos, também, a falta de autêntica exegese no uso dos salmos como a falta de compromisso cristão e ortodoxia em muito da erudição bíblica contemporânea. No capítulo 3, um argumento é articulado para uma abordagem integrada em três partes à interpretação da Escritura: a suplicante e devocional para ouvir a voz de Deus; a confiante e sensível para ouvir a voz do autor; e a científica para ouvir a voz do texto. Todas as três são necessárias ao mesmo tempo e defenderemos uma exegese ortodoxa. A confissão que o intérprete precisa de iluminação espiritual para compreender o texto difere radicalmente da confissão do Iluminismo que o positivismo é suficiente para a exegese ortodoxa. Em seu estudo ainda influente, J. A. Ernesti opôs o método científico ao método espiritual. Ele negou a proposição “que as Escrituras não podem ser explicadas propriamente sem oração e a simplicidade piedosa da mente”. No ponto de vista de Ernesti, “a simplicidade piedosa da mente é inútil na investigação da verdade escriturística”. Mas o autor divino do texto e seu sentido no texto não podem ser verdadeiramente conhecidos ou compreendidos sem um compromisso espiritual com ele. Nossa hermenêutica é sagrada porque o Autor é espírito, conhecido no espírito humano através da mediação do Espírito Santo (1Co 2.11).[4] Martinho Lutero afirmou: “Se Deus não abrir e explicar a Sagrada Escritura, ninguém pode entendê-la; ela permanecerá um livro fechado, encerrado em trevas”. O Catecismo de Genebra (1541) expressa isso desta forma: “Nossa mente é muito fraca para compreender a sabedoria espiritual de Deus que é revelada a nós pela fé, e nossos corações são muito tendenciosos tanto à rebelião como à perversa confiança em nós mesmos ou nas coisas materiais. Mas o Espírito Santo nos ilumina para fazer-nos entender que, do contrário, seria incompreensível para nós e nos fortifica em convicção, selando e imprimindo as promessas da salvação em nossos corações”.


1. O texto empírico exige uma abordagem científica

Por outro lado, um estudo científico das informações empíricas do texto é também necessário para uma hermenêutica genuína. Por científico queremos dizer a abordagem gramático-histórica, que interpreta as palavras dentro do contexto do mundo do orador. A Bíblia mesma utiliza esta abordagem, explicando palavras não compreendidas pelos leitores (cf. 1 Sm 9.9) e explicando os costumes que se tornaram obsoletos à época da narrativa (cf. Rt 4.7). A teologia ortodoxa exige esta abordagem porque ela confessa que os autores da Bíblia foram inspirados pelo Espírito de Deus para revelar a mente de Deus para o povo do pacto que lhe pertence, e que ele o fez em palavras que exigiam fé e obediência.


2. O Novo Testamento autentica a ortodoxia através dos textos de sentido claro

 Antes que Jesus explicasse aos discípulos, no caminho de Emaús, o que foi dito em todas as Escrituras – começando com Moisés e os profetas – concernente a ele mesmo, ele os repreendeu por falharem em compreender o sentido claro do texto.[5] “Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo que os profetas falaram! Não devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?” (Lc 24.25, 26). Cristo repreendeu os seus discípulos por não crerem naquilo que deveria estar aparente com a leitura do texto. Ele não se baseou no método falho pesher (interpretação, no sentido de solução) de hermenêutica para autenticar suas afirmações, como o Mestre de Justiça em Qumran havia feito ou no método alegórico dos pais da igreja. A falha de ver Cristo nos Salmos não é devida ao método histórico-gramatical de exegese, mas à lentidão do coração humano para crer na morte de Cristo pelo pecado e em sua ressurreição dos mortos. De fato, é necessário que o Espírito Santo remova este véu de incredulidade. “O poder radical do Espírito sobre a letra que introduziu a centralidade de Cristo na exegese apostólica do Antigo Testamento de uma maneira totalmente nova na história da interpretação”, como Jim expressa tão bem, é devido à graça de Deus “sendo agora revelada pela manifestação de nosso Salvador, Cristo Jesus. Ele tornou inoperante a morte e trouxe à luz a vida e a imortalidade por meio do evangelho” (2Tm 1.10), para não negar o sentido claro da Escritura. Em vez de focar na letra da Lei como os rabinos faziam, os apóstolos focaram no evangelho de Jesus Cristo: sua morte pelos pecados da igreja, seu sepultamento, sua ressurreição corpórea e ascensão, conforme o sentido claro da Escritura. Em suma, o véu da incredulidade, não da ignorância histórica e filológica, teve que ser retirado para que o poder radical do Espírito capacitasse uma leitura fiel da Escritura.

Alguns alegam que os apóstolos usaram alegoria, mas discordamos. Conforme veremos nos salmos escolhidos, tais como 2, 16, 22 e 110, os quais definimos como "típico-proféticos", a interpretação profética é derivada de textos de sentido claro, proveniente de exegese genuína, não da pesher ou de interpretação alegórica. Em um exemplo onde Paulo usa alegoria, ele alerta seu leitor sobre esta exceção (Gl 4.24; allegoreo jamais é usado em outras passagens do Novo Testamento).


3. A continuidade do fiel se estende aos autores inspirados

Além disso, a continuidade da comunidade de fé precisa começar com a aceitação dos autores inspirados do Antigo Testamento e, então, mover-se para a autoridade apostólica dos escritores do Novo Testamento. A confiabilidade dos comentaristas cristãos posteriores, como Orígenes, Hilário de Poitiers, Jerônimo e João Crisóstomo é dupla: suas habilidades lingüísticas para fazer exegese do texto e a perspicácia teológica para a "avaliação espiritual" da mensagem sendo comunicada. E a ruptura da erudição textual dos estudos histórico-teológicos da "fé bíblica" que criou nossa crise contemporânea de credibilidade.


4. Para proteger a igreja dos falsos mestres

Na antigüidade, a igreja primitiva amadureceu uma abordagem útil de interpretação constituída de quatro vertentes: a literal, a tropológica (de "tropo", figurativa), a escatológica, e a moral. Este modelo ainda é útil na pregação. Gregório comparou isto à edificação de uma igreja: lançar o alicerce (literal), construir as paredes (tropológica com referencia a Cristo), o telhado (escatológica) e as decorações (moral). Contudo, na prática, comentaristas de fora da escola antioquiana, como Orígenes, Jerônimo, Hilário de Poitiers e Crisóstomo, começaram essencialmente com as paredes ao usarem uma abordagem alegórica à parte do sentido claro de fundamento. A igreja que eles construíram era edificante, mas sem um alicerce e, assim, era instável e capaz de ser vencida pelos falsos ensinos que utilizavam a mesma abordagem heterodoxa. Sem dúvida, eles pensaram que estavam praticando interpretação bíblica por começarem com Cristo, mas na verdade estavam abafando a voz dos escritores inspirados que lhes deu a Bíblia. Uma estátua famosa que simboliza a alegorização do texto representa Gregório, o Grande, assentado com a Bíblia na mão e um pombo - um símbolo clássico do Espírito - pousado em seus ombros com o bico em seu ouvido. Em síntese, a teologia deles era ortodoxa; o método, heterodoxo.


5. Uma reconciliação entre a tropologia e o sentido claro

Por um longo tempo, a exegese contemporânea tem estado em desacordo com os comentaristas históricos da igreja. O necessário neste diálogo é mais compreensão, sensibilidade e uma hermenêutica correta.


a. Os primeiros comentários eram mais bíblicos que críticos da Bíblia

Entretanto, os comentaristas da Pré-reforma que centram em Cristo com piedade e paixão são, de fato, mais bíblicos que os acadêmicos que, de forma desapaixonada e científica, explicam o texto sem considerar seu contexto holístico, incluindo o Novo Testamento, sem paixão sem devoção a Cristo. A piedade cristocêntrica e a devoção dos comentaristas antes da recuperação do sentido claro deveriam ser apreciadas, não descartadas. Embora algumas de suas interpretações nos pareçam ridículas e insensatas, na maior parte dos casos eles permaneceram dentro dos parâmetros da ortodoxia - quer dizer, dentro dos parâmetros das tradições apostólicas, tradições estas que foram expressas, mais tarde, nos credos da igreja antiga, especialmente no Credo Niceno. Todavia, eles devem ser censurados quando torceram a interpretação do autor original e a declararam como o sentido do texto, justificando sua ignorância sobre a intenção do autor ao reivindicarem iluminação espiritual dos mistérios divinos.


b. Alegoria não é reação pós-moderna do leitor

Permita-me prosseguir, aqui. A abordagem alegórica dos comentaristas cristãos não pode ser usada para defender a interpretação pós-moderna, que concede prioridade à reação do leitor ao texto, não à intenção do autor. Indubitavelmente, ambos: os "alegoristas" e os pós-modernos impõem sentidos em um texto não intencionados pelo autor, mas os pós-modernos distorcem o método alegórico dos comentaristas cristãos. Os comentaristas da igreja alegorizaram o texto, mas eles foram ortodoxos, pastorais e, acima de tudo, centrados em Cristo, enquanto que os pós-modernos são, na maior parte, apóstatas, antropocêntricos, egoístas, e deste modo desconstroem a intenção do autor para impor a própria agenda política e/ou social às Escrituras a fim de autenticar o elitismo deles, enquanto acusam os escritores bíblicos de fazerem o mesmo.


c. Os comentaristas antigos não tiveram instrumentos exegéticos modernos

Os exegetas cristãos, antes da Reforma, não tinham mentalidade histórica, e até àqueles que tinham faltaram os instrumentos modernos tanto da arqueologia, para reconstruir o mundo antigo, como da filologia, para interpretar os fenômenos lingüísticos complexos do texto. Com a providência de Deus, estes instrumentos se tornaram disponíveis depois que os reformadores perceberam a necessidade de ter uma mentalidade histórica. Se cremos na providência, é errado negligenciar o conhecimento histórico mais evoluído e mais preciso que a igreja tem. Anualmente, a pá dos arqueólogos descobre novos artefatos e textos antigos para preencher o mundo da Bíblia, e novos e muito sofisticados instrumentos filológicos são desenvolvidos para fazer progredir a ciência da análise literária, tornando a memória da igreja mais viva à medida que ela envelhece e chega à sua plena maturidade. Negligenciar estes instrumentos é irresponsável para com a providência, a igreja e para com a vida espiritual dos cristãos.

No entanto, paradoxalmente, estudos exegéticos, como estudos históricos, florescem mais que nunca, enquanto a vida devocional dos cristãos e da adoração comunitária murcha. Uma sucessão interminável de comentários emerge das editoras, informando sobre novos conhecimentos textuais reunidos das recentes descobertas arqueológicas e dos progressos da literatura interpretativa. Estes conhecimentos e progressos não deveriam ser vistos como ameaças à ortodoxia.

A ironia é que a providência permite que os críticos da história bíblica - que usam estes instrumentos para "desteologizar" a Bíblia, para "humanizá-la" totalmente - inconscientemente, afiam os instrumentos dos eruditos fiéis para"teologizar" a Palavra de Deus. No capítulo 3, um método ortodoxo de exegese que usa estes instrumentos será explorado mais detalhadamente, e juntamente com ele, a apresentação e avaliação da história dos comentários mais recentes.

d. A reconciliação que se encontra na interpretação tipológica e canônica

Vamos continuar a reter o que é bom de ambos: a abordagem centrada em Cristo da história da igreja e a evolução dos instrumentos exegéticos pelos eruditos bíblicos de todas as convicções teológicas. Vamos também continuar comparando as Escrituras com as Escrituras, pois nesta hermenêutica podemos integrar as interpretações alegóricas mais antigas da igreja ao sentido claro de Calvino [6] (que incluía o que hoje se conhece como interpretação "tipológica"). Vamos defender a reconciliação por observar três pontos. Primeiro, tanto a hermenêutica alegórica como também a tipológica assumem que Deus tem um plano eterno que se realiza na história da salvação. Por isso, pretende-se dizer que a história linear do mundo e, mais particularmente, de Israel - chamada hoje de "história da salvação" - existe eternamente no decreto de Deus. Esta história inclui ambos: os "fatos" da atividade de Deus e sua interpretação inspirada do sentido destes fatos. [7]

Segundo, Deus revelou seu reinado sobre a história ao cumprir as profecias anunciadas e ao prefigurar mediante pessoas que não tinham consciência disso como também através de eventos e situações (isto é, "tipos") um cumprimento superior em seus "antítipos" (veja p. 122, 123). Enquanto as profecias predizem eventos da história da salvação, tipos são reconhecidos apenas à luz do cumprimento em seus respectivos antítipos. Em suma, a mente do autor da Escritura transcende a mente de seus autores humanos (veja p. 212, 216, 221-2) e requer-se comparar e interpretar a Escritura com e por meio de todo o cânon da Escritura.

Terceiro, tipologia é uma forma disciplinada de alegoria, pois ambas admitem o desígnio eterno de Deus e procuram por correspondências dentro dele. Mas a alegoria é desregrada em imaginar correspondências, porque ela negligencia uma cuidadosa, se houver, exegese da realidade histórica, enquanto a tipologia demanda manter um olho exegético preciso no tipo como também no antítipo para autenticar a plausibilidade de uma correspondência divinamente intencionada (veja Jim. Salmo 110, p. 517).


e. Hermenêutica prosopológica

Como veremos no estudo histórico do Salmo 2, Orígenes e seus discípulos usaram a crítica prosopológica - isto é, ele viu diferentes interlocutores no salmo falando de diferentes perspectivas. Entretanto, seu método era falho porque aplicou o princípio hermenêutico de modo arbitrário e fantasioso. Contudo, há algo legítimo em ler o salmo como duas vozes de duas perspectivas. Admitindo-se que Davi e seu reino sejam tipos de Cristo e da igreja de Cristo para o Pai, podemos, em acréscimo, ler os Salmos como a voz de Cristo e de sua igreja dirigida ao Pai, e como as palavras da igreja para seu Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Isto é assim porque Cristo é tão plenamente humano quanto seu pai Davi e seus irmãos. Mas ele também é plenamente Deus. De acordo com sua perspectiva humana, ouvimos sua voz dirigida a Deus, e de acordo com a última perspectiva, ouvimos a voz da igreja dirigida a ele. Assim sendo, no Salmo 1 é "o homem" que se deleita na Torá de Deus, mas como Deus ele é o autor da Torá e, assim, a igreja se deleita em seu ensino. Por exemplo, no Salmo 2, Cristo pede a Deus sua herança, mas, como Deus, ele tem autoridade sobre todas as nações; no Salmo 3, ele é rodeado por inimigos, mas ele também é aquele que livra sua igreja; no Salmo 4, ele vai dormir enfrentando a morte, mas confiando em Deus, e do mesmo jeito, sua igreja confia no Cristo ressuscitado. Em outras palavras, Jesus Cristo é o Eu Sou, como ele próprio testificou c conforme seus apóstolos afirmaram. Esta perspectiva dual que o Saltério inteiro informa é um mistério que os críticos bíblico-históricos não podem lidar.


C. A escolha do Saltério

Escolhemos o Saltério para o nosso estudo exegético-histórico por diversas razões.


1. Restaurar a função especial dos Salmos na adoração

Os Salmos desempenham uma função especial tanto em Israel e como na igreja cristã como livro de oração e hinário para suas comunidades adoradoras. Ao contrário de outros livros da Bíblia, os Salmos sempre foram cantados e recitados, tendo profundas raízes poéticas e musicais na vida religiosa de devoção. No entanto, desde o século XVIII a hinódia substituiu a centralidade do Saltério na liturgia das igrejas evangélicas. A singularidade dos Salmos tem, assim, desaparecido gradualmente da nossa tela de radar religiosa.


2. Restaurar a função dos Salmos na formação espiritual

Para os primeiros cristãos, os Salmos eram também o singular manual emocional para o uso pessoal, que poderia ser definido como "salmoterapia" - somente ofuscado pela psicologia moderna e a mais recente "cultura pop" de cânticos de louvor populares com suas repetições cansativas, substituindo o entusiasmo emocional à parte da reflexão sóbria. Conforme Jonathan Edwards indicou em sua obra-prima Religious Affections (Afeições religiosas, 1746), o evangelho nos proporciona as afeições apropriadas. [8]


3. Restaurar o uso holístico de um Salmo

A psicologia moderna e os cânticos de louvor substituem o estudo holístico e o cântico dos salmos para a nutrição da vida espiritual e para o enriquecimento da adoração da igreja. Isto resulta em perda das profundas raízes musicais e poéticas da igreja na vida religiosa de devoção.

Portanto, nosso propósito é recuperar estas perdas através da exegese fiel e de ouvir novamente a rica reação devocional da verdadeira igreja. Somos herdeiros de todas as eras, e somos os mais pobres devido à nossa falha em ouvir e acolher esta rica herança.

Escolhemos apenas treze salmos para apresentar um estudo profundo como também ilustrar, as diferentes aplicações pastorais do uso dos Salmos. Eles refletem gêneros distintos, mas também diferem em seus temas inter-relacionados como expressão de todo o Saltério. Isto se reflete nos diversos tratamentos históricos dos Salmos.


D. Um aviso

E importante notar que o objetivo do livro é escrever um comentário interdisciplinar, não um comentário típico. Por falta de espaço, nenhuma atenção é dada a algumas preocupações tradicionais de um comentário, tais como expor seus textos e versões, a natureza da filologia e poesia hebraica e assim por diante. Em geral, nosso desejo é que os leitores leigos sérios tanto quanto os pregadores e os mestres alcancem o ouro puro do texto bíblico e o âmbito da história cristã, para obterem a renovação do espírito e da reflexão de ambos, daquilo que é negligenciado em nossa sociedade secular hodierna.

A história da interpretação requer menos propedêutica que exegese, a qual assume uma familiaridade com os fundamentos da práxis exegética. As notas de rodapé nas seções de exegese são planejadas principalmente para os estudantes mais adiantados.


III. O CONTEXTO ERUDITO DO COMENTÁRIO


a. Estudo da história da composição do comentário

Sob a influência do Movimento Tratadista no século XIX, J. M. Neale foi o pioneiro ao escrever A Commentary on the Psalms: From Primitive and Medieval Writers [9]  (Um comentário sobre os Salmos: de escritores primitivos e medievais). No princípio do século XX, Rowland E. Prothero escreveu sobre The Psalms in Human Life [10] (Os Salmos na vida humana) e no contexto da fé e erudição contemporâneas. Este é o nosso objetivo no princípio do terceiro milênio da igreja. Todavia, simplesmente citar como um versículo de um salmo foi relevante para um cristão em particular cm um determinado momento da vida dele ou dela, como Prothero o faz, não satisfaz o leitor contemporâneo, inundado por muitas biografias excelentes. Exigimos muito mais "profundidade" cultural no uso da história.

Desde que a história da doutrina está entrelaçada com a exegese, é bem--vinda uma nova tendência na erudição bíblica, haja vista o número crescente de eruditos que agora estão revisando a história dos comentários anteriores. Quatro desses esforços são dignos de nota. Com respeito às séries de Ancient Christian Commentary on Scripture (Comentário cristão da antigüidade sobre a Escritura) o editor Thomas C. Oden explica: "Através da ajuda da tecnologia da computação, uma vasta coleção de escritos dos pais da igreja - incluindo muito do que está disponível somente nas línguas originais - é pesquisada para os comentários destes eruditos sobre a Escritura".[11] Esta edição patrística do comentário sobre a Escritura é publicada em vinte e oito volumes. No entanto, sua extensão é limitada à era de Clemente de Roma c.95 a João de Damasco c.645-c.749. A coleção é uma fonte de passagens selecionadas sobre os textos dos livros da Bíblia, e assim, não é crítica aos autores antigos. Mais precisamente, eles se permitem falar por si mesmos. No entanto, os colaboradores trabalharam com nove princípios de seleção dos autores e textos escolhidos, para orientar suas informações. Como audaciosa realização ecumênica, ela inclui livros apócrifos que alguns pais aceitaram e ainda são aceitos pela Igreja Católica Romana e tradições Ortodoxas Gregas.

Segundo, o projeto mais recente editado por Robert Louis Wilken, a série The Church’s Bible (A Bíblia da Igreja), foca textos-chaves que têm sido mais influentes no curso da história da igreja. Passagens bíblicas curtas, traduzidas das versões Septuaginta e da Vulgata são seguidas com os trechos apropriados dos textos antigos selecionados. A obra é designada para uso como instrumento textual em vez de comentário contemporâneo. Não há notas editoriais nem informação que provesse o contexto histórico para as passagens selecionadas. Ela inclui comentaristas posteriores da Idade Média. Mas, se os outros volumes seguem o formato do primeiro sobre O Cântico dos Cânticos, comentários desaparecerão antes da Reforma, visto que a obra é, primariamente, para um público católico romano.[12] Nenhuma indicação é dada sobre quantos livros bíblicos serão cobertos nas séries.

A terceira obra, Hebrew Bible /Old Testament [Biblia Hebraica/Antigo Testamento), editada pelo erudito norueguês Magne Saebo, [13] é composta de uma série de ensaios escritos principalmente por eruditos judeus europeus. Ao contrário dos dois volumes americanos, que ressaltam textos bíblicos selecionados, estes ensaios focam na história bíblica da interpretação, algo análogo à The Cambridge History of the Bible (A história da Bíblia de Cambridge). Até agora, três volumes (de quatro das séries) foram publicados cobrindo o período da literatura de Qumran até o fim do século XVIII. Ela é ampla em sua abordagem e foca em seletos comentaristas cristãos e judeus.

Finalmente, a obra de dois volumes de Susan Gillingham, Psalms Through the Centuries (Salmos através dos séculos), nos provê outro exemplo do novo movimento acadêmico que foi criticado acima (isto é, "história da recepção" - como a Bíblia é "recebida" antropologicamente por ambos, cristãos e judeus, durante os últimos dois mil anos).[14]  O trabalho de Susan, expressão da cultura pós-moderna que "relata" história c cultura, oferece erudição detalhada sem ser confessional em compromisso. A obra "informa" sobre a Bíblia, analisando a história das práticas religiosas mais extensamente que os estudos da "Bíblia – e - cultura". O trabalho dela pode ser caracterizado como a abordagem do "estranho" à ortodoxia e ortopraxia bíblica. Em propósito, a obra é mais historiográfica que teológica.

E encorajador que um número crescente de doutorandos esteja atento à história de determinados comentários. "História" e "historiografia" sempre são assuntos complexos, mas quando aplicados à Bíblia, os temas se tornam intensos, pois a Bíblia como o livro sagrado é parte de nossa herança cultural na sociedade ocidental. Ela é inseparável da história eclesiástica, das mudanças culturais, de assuntos de heresia e reforma. Como o assunto influente, de fato, a Palavra de Deus é o "dinamismo" da história ocidental. Como "a Bíblia em miniatura", os Salmos têm sido especialmente central para a história da devoção da igreja, até o século XVIII. O outro tipo de história é dos "textos", como eram estudados pelo mundo clássico, ou reintroduzidos na Renascença, ou os quais, agora, dominam a cultura ocidental desde o Iluminismo. Isto torna a Bíblia em um “objeto de estudo" em vez de permanecer “a espada de dois gumes" que os apóstolos usaram pastoralmente.


b. Dificuldades de escrever um comentário exegético e histórico

O foco histórico da erudição contemporânea encontra muitas estradas bloqueadas com respeito aos Salmos.

Primeiro, alguns comentaristas do passado jamais completaram seus comentários. Ou, por várias razões, tudo que fizeram foi compilar, e o que compilaram pode não ter se conservado.

Segundo, em vários períodos, comentaristas têm diferentes perspectivas e desafios para escrever como os comentários lhes ocorreram. A história da doutrina, ou a interpretação da "história" e seus usos, evolui durante o tempo de modos diversos.[15]

Terceiro, a compreensão sobre que é "literal" e/ou "histórico", como também que é profecia , tem mudado através do tempo, como notaremos.

Quarto, as interações da "tipologia" e" alegoria" têm uma história complexa. Basta dizer que aplaudimos o uso tipológico dos Salmos, pois esta abordagem fundamenta e unifica que o Espírito disse em sua encarnação histórica e que veio a prefigurar na história progressiva da salvação como narrado no cânon. Rejeitamos a alegoria como um método, pois ela arbitrariamente impõe sentido separado do que o poeta inspirado intentava. Embora a alegoria pareça ser utilizada em excesso pelos comentaristas antigos, precisamos estudar e apreciar a forma como pensavam, porquanto consideravam o trabalho que realizavam como "bíblico" – e era, muito mais que muitos comentaristas que se orgulham do estudo erudito.[16]  Isso porque na maior parte deles - embora o método que utilizassem fosse questionável —, as interpretações alegóricas eram influenciadas pela sã doutrina: a Escritura era interpretada pela Escritura e os eventos eram criados pela presença de Deus na história. Portanto, eles nutriam espiritualidade e adoração autênticas. O Espírito não é confinado para autenticar a exegese! Visto que o alegórico não era somente humana imaginação poética, mas a esfera do mistério de Deus. Não era clareza que desejavam, mas efeito moral. Conforme Agostinho expressou: “Trate a Escritura de Deus como a face de Deus. Derreta em sua presença".[17]

Quinto, os contextos diferentes de uma cultura oral, ou da cultura de pergaminhos, ou de fato de uma cultura de edição, proporcionam distinções de consciência que precisam ser reconhecidos e levados cm consideração.[18]

Sexto, "reforma", como Ladner defende,[19]  é um processo contínuo de história da igreja, às vezes conhecido por outros "nomes". Durante a Reforma, os reformadores se propuseram a recuperar a intenção do Espírito nas composições originais, mas o lema deles era reformatio semper refomandum (“reformada e sempre reformando"). O pensamento protestante tende a ignorar o dinamismo contínuo da fé, que requer dois mil anos de reflexão – não somente esta "da Reforma" - para traçar os movimentos de renovação do povo de Deus.

Finalmente, a escolha dos salmos para este livro fez suas próprias exigências em como o tratamento contextual da história deles deveria ser feito.


IV. A ORGANIZAÇÃO DO COMENTÁRIO

O livro é dividido em duas seções: uma introdução, da qual este prólogo pode ser considerado uma parte (capítulos 1-3), e um comentário sobre os salmos escolhidos (capítulo 4-16). A introdução trata da história da interpretação do Saltério como um todo, e o comentário lida com os salmos escolhidos. Dentre outras funções, o Prólogo introduz o leitor à história deste tipo de comentário dos pais da igreja para a introdução ao racionalismo nos Séculos XVII e XVIII. Como grupo de autores, unimos uma interpretação hebraica do texto do Antigo Testamento com a conexão intertestamentária dos Salmos com o Novo Testamento (capítulo 1) para então estudar, no capítulo 2, os horizontes históricos da ortodoxia cristã da igreja primitiva até a Reforma. O terceiro capítulo traça a história da exegese da ascensão da crítica bíblica histórica até o presente.

Nos três primeiros capítulos, nos restringimos a estudar a história da interpretação do período do Segundo Templo até as derivações contemporâneas da crítica bíblica histórica. Na segunda seção, escolhemos os treze salmos para o nosso estudo profundo através de critérios diversos.[20] Primeiro, escolhemos alguns salmos (1, 23, e 51) que desempenharam uma função básica e central na vida da igreja adoradora. Segundo, lançamos um sólido fundamento para a apologética cristã por estudar os salmos que Cristo e seus apóstolos usaram para autenticar a fé cristã (2, 16, 22e 110). Terceiro, estes e outros salmos ilustram vários gêneros e perspectivas (3, 4, 8 e 139). Quarto, também escolhemos salmos para realçar as perspectivas históricas da interpretação do Saltério (isto é. Salmo 15). Deixamos para outros eruditos focarem nas interpretações judaicas dos Salmos, exceto referências ao contínuo diálogo judaico-cristão.

No tratamento dos salmos escolhidos, primeiramente, é dada a história da interpretação e, em seguida, um comentário do salmo. Seguindo Lutero, começamos com uma tradução original do salmo antes de sua exegese, que inclui uma análise de seus aspectos literários seguida por um comentário versículo por versículo. A numeração de muitos salmos difere porque a tradução grega une ou divide os salmos um tanto diferentemente da tradição hebraica, a qual as versões inglesas seguem, e a versificação do texto hebraico difere das versões inglesas porque a tradição hebraica numera um sobrescrito com mais que três palavras como um versículo, enquanto a tradição das versões inglesas jamais numera um sobrescrito. Colocamos a numeração hebraica em colchetes.

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Os Salmos como Adoração Cristã: Um Comentário Histórico. Bruce K. Waltke. São Paulo: Shedd Publicações, 2015, p. 9-24



[1] Enquanto D. H. Williams (Tradition, Scripture, and Interpretation: A Sourcebook of the Ancient Church [Grand Rapids: Baker Academic, 2006]), professor de patrística e teologia histórica na Universidadede Baylor, por um lado, deseja elevar as confissões da igreja antiga a um nível canônico igual ao da Escritura, e, desta forma – presumivelmente infalível –, ele reconhece, por outro lado, que para a igreja antiga o cânon da Escritura era a ‘norma normans’ (a regra que é regulada): “Todos os principais credos e obras de teologia reconhecem, implícita ou explicitamente, a supremacia da Bíblia” (p. 24).
[2] J. H. Plumb, The Death of the Past (New York: Columbia University Press, 1969).
[3] James L. Kugel, “Topics in the History of the Spirituality of the Psalms”, in Arthur Green, ed., Jewish Spirituality from the Bible Through the Middle Ages (New York: Crossroad, 1988), p. 113.
[4] Bruce K. Waltke e Charles Yu, An Old Testament Theology: An Exegetical, Thematic and Canonical Approach (Grand Rapids: Zondervan, 2007), p. 80.
[5] “O sentido claro”. A descrição de Calvino de sua hermenêutica significa examinar o texto cuidadosa e claramente dentro do contexto amplo de todas as Escrituras.
[6] O sentido claro de Calvino interpreta um texto dentro do contexto holístico do cânon, enquanto demonstra respeito à contribuição patrística.
[7] A Escritura tanto infere como também afirma claramente que Deus tem um plano eterno, decretado; por exemplo, através da perdição de eventos futuros não antecipados (cf. Is 41.21-29); seu decreto da missão não concebida para cumprir a história da salvação (cf. Is 49.1, 2); e os mistérios de Paulo, "que durante as épocas passadas foi mantido oculto em Deus, que criou todas as coisas", que agora se tornassem conhecidos, "de acordo com o seu eterno plano que ele realizou em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Ef 3.1-13). A teologia da história da salvação, um tipo de emanação do plano decretado de Deus, lembra um tanto a filosofia do neoplatonismo, que ensinou a existência de um ser inefável c transcendente do qual emanou o restante do universo como uma seqüência de seres inferiores. A síntese deste pensamento do grego Plotino, um discípulo de Platão, com o pensamento judeu, através da tradução do Antigo Testamento para o grego,exerceu uma enorme influência no misticismo medieval e no humanismo da Renascença.
[8] Veja Robert C. Roberts, Spiritual Emotions: A Psychology of Christian Virtues (Grand Rapids: Eerdmans, 2007).
[9] O rev. J. M. Neale e o rev. R. F.. Littledale, A Commentary on the Psalms: From Primitive and
Medieval Writers..., 4 vols. (London: Joseph Masters & Co., 1860-).
[10] Rowland E. Prothero. The Psalms in Human Life (New York: E. P. Dutton, 1905). A primeira edição inglesa foi em 1903. Prothero foi estudante de New College, Oxford.
[11] Gerald Bray, ed., Romans, The Ancient Christian Commentary on Scripture,  ed. Thomas C. Oden. gen. ed., New Testament, vol. 5 (Downers Grove, IL: InterVarsiyt Press, 1998), p. XI-XII.
[12] Richard A. Norris, The Sog os Songs, The Church’s Bible, Robert Louis Wilken, gen. ed., vol 1 (Grand Rapids: Eerdmans, 2003).
[13] Magne Saebo, Ed., Hebrew Bible/Old Testament: The History of its Interpretation, vol. I, part 1: Antiquity (Gottingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1996).
[14] Susan Gillingham. Psalms Through th Centuries, vol 1, Blackwell Bible Commentaries (Oxford: BlackwellPublishing, 2008).
[15] A antologia intitulada Theories of History, Ed. Com introduções e comentários de P. Gardiner (New York/London: The Free Press, 1959).
[16] Henri de Lubac, Medieval Exegesis, trans. Mark Sebanc e E. M. Macierowwski (Grand Rapids: Eerdmans, 1998-). Esta obra de diversos volumes é um txto básico para apreciar a função da alegoria nos comentários antigos e medievais.
[17] Citado por Robert Louis Wilken, The Spirit of Eraly Christian Thoght (New haven/London: Yale Univeristy Press, 2003), p. 50.
[18] Antony Grafton e Megan Williams, Christianity and the Transformation of the Book (Cambridge, MA, and London: The Belknap Press of Harvard University Press, 2006). Este é um exemplo do novo estudo interdisciplinary de como os pergaminhos e livros se tornaram “lidos” em contraste com a tradição oral, onde foram “ouvidos”. Walter Ong. S. J. fez uma contribuição similar para o estudo do impacto cultural do “livro impresso” na cultura dos séculos XV e XVI.
[19] Gerhardt Ladner, The Idea of Reform (New York, Harper & Row, 1967).
[20] Coincidentemente, o capadócio Basílio, o Grande (330-379), também escreveu treze homilias sobre salmos escolhidos.

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