Está próximo o reino dos céus
Em Apocalipse 4.7, na descrição dos quatros querubins, ou seres
viventes, o primeiro era semelhante ao leão (o rei dos animais); o segundo, o
novilho (ou boi, que serve aos homens com grande paciência); o terceiro tinha o
rosto como de homem; e o quarto era semelhante a águia quando voa. Os crentes
primitivos comparavam com razão, esses símbolos aos quatros Evangelhos. O livro
de Mateus é o Evangelho do Rei. O livro de Marcos é o Evangelho do grande Servo
de Deus. O livro de Lucas é o Evangelho do Filho de Homem. O livro de João é o
Evangelho do Filho de Deus.
No livro de Mateus, o Evangelho do Rei, vê-se nos primeiros capítulos o
Rei dos Judeus e por fim o Rei soberano nos céus e na terra, enviando Seus
embaixadores as nações para exigir sua sujeição e homenagem.
No livro de Marcos, o Evangelho do grande servo de Deus, enfatizam-se
os atos de Cristo, não as Suas palavras. Enquanto Mateus relata os grandes
discursos de Cristo, Marcos conta da lida incansável do Servo de Jeová.
No livro de Lucas, o Evangelho do Filho do Homem, mostra-se o coração
de Jesus em uma série de manifestações de Sua compaixão, ternura e amor.
Primeiro revela-o como criança de colo e, por fim, no passeio a Emaús, mostra
que Seu coração humano mão se mudara na morte e nem na ressurreição; Ele
continua Filho do Homem.
No livro de João, o Evangelho do Filho de Deus, vê-se como Jesus
assemelha-se à natureza da águia que voa e nos leva às alturas da Sua divindade
eterna. É o livro que nos revela o mistério de Ele ser um com o Pai. Nenhum dos
quatro evangelistas, contudo, pretende dar uma biografia completa de Jesus
Cristo. Ao contrário, vede, por exemplo, João 21.25.
Qual foi então o propósito de Mateus ao escrever seu Evangelho? Isso Ele
não declarou expressamente. Mas no que escreveu descobre-se que o seu alvo era
o de demonstrar, incontestavelmente, que Jesus de Nazaré é o grande Messias, o
verdadeiro Rei, prometido de Deus e esperado durante longo tempo por seus
patrícios, os judeus. Para esse fim, Mateus cita cerca de quarenta passagens do
Antigo Testamento. O único lugar na Bíblia onde aparece o termo “reino dos
céus” é no livro de Mateus; aí aparecem trinta e seis vezes! No primeiro
capitulo da sua obra, Mateus prova que Jesus nascera da linhagem real. No
terceiro capítulo descreve o precursor do Rei, proclamando que o Reino está
próximo. O sermão do monte é realmente o manifesto desse Rei. Seus milagres são
suas credenciais (cap. 8-9); Suas parábolas são intituladas “os mistérios do
Reino”. Até fora do país Ele chamado “o Filho de Davi”; declarou-se livre da
obrigação de pagar tributo, sendo Filho do Rei. Entrou, por fim, em Jerusalém
como Rei; na sombra da cruz predisse a Sua volta em glória para reinar sobre
tudo. Na ocasião da Sua morte, fenderam-se as rochas, a terra tremeu e mortos
saíram dos túmulos. A sua ressurreição foi com poder majestoso, acentuado por
terremoto e grande terror entre os guardas. Nas suas últimas palavras proclamou
Seu direito de Rei e deu a Sua ordem real: “Toda a autoridade me foi dada no
céu e na terra. Ide, portanto...”
O autor do primeiro Evangelho
O autor do livro é logo o Espírito Santo. Mas a pena que Ele usou
estava na mão de Mateus, também chamado Levi (Lc 5.27-29), um judeu da Galileia.
Um dos atos mais humilhantes, e igualmente sublimes, foi o da Divindade
Santíssima comer com publicanos. O Rei dos reis, nesse gesto de imenso amor,
ganhou um dos mais desprezados pecadores do mundo, “Mateus o publicano”, Mt
10.3. Seu nome está incluído em todas as listas dos nomes dos doze apóstolos,
Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13. A graça do Mestre, em comer com publicanos,
ganhou não apenas esse apóstolo, mas, também, por intermédio dele, ganhou-nos a
obra que encabeça o Novo Testamento, o Evangelho segundo Mateus.
O escritor do primeiro Evangelho era, por nascimento, um judeu. De
ofício, foi publicano, até o dia em que Cristo o chamou para segui-lo. Desde
então passou a acompanhar o Senhor Jesus durante todo o tempo em que Ele andou
entre eles, começando no batismo de João, até o dia em que foi elevado às
alturas, Atos 1.21-22. Era, portanto, uma testemunha inteiramente fidedigna,
escrevendo do que ele mesmo ouvira, do que vira com os próprios olhos, e do que
apalpara com as suas mãos, I Jo 1.1.
A data do livro de Mateus
O Evangelho segundo Mateus não somente ocupa o primeiro lugar de todos
os vinte e sete livros do Novo Testamento, mas os eruditos, geralmente,
concordam que foi escrito antes de qualquer outro dos quatro Evangelhos.
Conforme a tradição, o Evangelho Segundo Mateus foi escrito no ano 37 A.D. Pelo
que consta do cap. 24.15, é claro que foi escrito antes do ano 70 A.D., quando
Jerusalém foi destruída.
As divisões do livro
A matéria do livro de Mateus, na maior parte, não foi escrita em ordem cronológica.
Note-se como quase todos os relatos dos milagres estão agrupados nos caps. 8 e
9, enquanto uma grande parte das lições de Cristo estão ajuntadas como nos
caps. 5 a 7. Contudo pode-se dividir o livro em três grandes partes:
1) A genealogia,
o nascimento e a meninice do Senhor, caps. 1 e 2.
2) O ministério
de Jesus na Galileia, caps. 3 a 18.
3) O seu
ministério na Judeia, seguido por sua paixão, morte e ressurreição, caps. 119 a
28.
O valor prático do primeiro
Evangelho
Para os crentes em geral, Cristo Jesus é apenas Salvador. É fato transcendente
que Ele nos salva. Mas Mateus foi inspirado divinamente para levar os crentes a
viverem esperando a inauguração do reinado do Rei universal. Ao contemplar,
hoje em dia, a efervescência dos povos da terra, a selvageria da guerra, a
crescente ameaça do mal de derribar todo o governo – ao contemplar tudo isso, o
nosso coração anela o reinado daquele cuja sabedoria nunca falha, cujo amor é
infinito e cujo poder é supremo.
Cremos que uma das coisas mais práticas no propósito do Evangelho
Segundo Mateus é induzir os crentes a aceitarem a Cristo, não somente como
Salvador, mas também como Rei pronto a reinar sobre todo o mundo. O anelo da
nossa vida cotidiana é o que determina praticamente a nossa vida. É pergunta
penetrante: A aspiração da nossa vida é realmente a mesma da última suplica da
Bíblia: “Vem Senhor Jesus?”
BOYER, Orlando. Mateus, O Evangelho do Rei. Rio de Janeiro: CPAD, 1951,
292p.
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