quinta-feira, 21 de junho de 2018

PERSONAGENS AO REDOR DA CRUZ [Resenha]


HOUSTON,  Tom. Personagens ao redor da cruz. Curitiba, PR: Editora Esperança, 2018. 232p.

Interessante notar que a cruz é central para qualquer compreensão não só do Evangelho, mas da própria vida. A vida é essencialmente trágica quando vivida por pessoas imperfeitas em um mundo caído. Só a cruz de Cristo pode dar significado à vida quando a sua base é a tragédia, e isso porque a Cruz forma um só com a Ressurreição. Jesus sofreu a tragédia da condição humana e transformou tragédia em esperança. A partir da cruz, ou do alto da cruz olhando para baixo, é que se percebe que muitas vidas que vivia na perspectiva da tragédia foram transformadas. Por que a cruz tem esse poder. Quando Paulo escreveu “Longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”, (Gl 6.14).

O livro que temos em mãos nos fala sobre o impacto da cruz na vida de muitos personagens que estiveram ali junto ou próximo, comprometido ou não com a cruz de Cristo. O impacto da cruz na vida dessas pessoas resultou em bênçãos para alguns e maldição para outros. A luz que imanava da cruz revelou o caráter e conduta e as motivações de cada personagem que ali estiveram. Desde a multidão que acompanhou Jesus na entrada de Jerusalém, passando por Judas, Pedro, Caifás, sacerdotes, Pilatos e sua esposa, Barrabás, Herodes, Simão de Cirene, Maria, o centurião romano, José de Arimateia, as filhas de Jerusalém e os soldados romanos, os dois ladrões, os escarnecedores e as mulheres da Galileia, Nicodemos, Maria Madalena, João, Tomé e os discípulos de Emaús, todas essas pessoas foram impactadas pela cruz. Todas essas pessoas, ricos ou pobres, duras ou profundamente carinhosas, desagradáveis ou santas, amargas ou compassivas, vingativas ou amáveis e atenciosas. Eles eram, aquilo que somos nós, nem melhor nem pior, mas que alcançados pela palavra da cruz, fomos cheios de esperança e fomos transformados pela palavra do Evangelho.

“Jesus sofreu a tragédia da condição humana e transformou esta tragédia em esperança; Ele voltou dos mortos para dar aos homens a segunda chance que nunca acontece na tragédia. Ele ressuscitou dos mortos para encontrar Maria Madalena na profundidade da sua depressão, para encontrar Tomé em seu pessimismo, para encontrar os viajantes a caminho de Emaús no seu intelectualismo, até mesmo para encontrar os chefes dos sacerdotes nos seus esforços frenéticos para encobrir a ressurreição.” [p.15]

Tom Houston é o autor desta excelente obra. Nasceu em 1928na Escócia e iniciou sua carreira como ministro, em 1951, na Igreja Batista Johnstone na Escócia, e depois serviu como capelão de Quarriers Homes (lar de crianças e colônia epiléptica) antes de ser chamado para pastorear a Igreja Batista de Nairobi no Quênia, de que mais tarde se tornou Pastor Emérito. De 1971 a 1983, ele atuou como Diretor Executivo da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, e se tornou o Presidente da World Vision International. Em 1989, foi nomeado Diretor Internacional e, posteriormente, Ministro Geral do Movimento de Lausanne (então chamado de Comitê de Lausanne para Evangelização Mundial). Ele mora em Oxford, Inglaterra.

O livro possui 25 capítulos e irei tratar de forma descritiva e analítica dos três primeiros, e isso em poucas palavras, mostrando cada um dos personagens com a sua anomalia de caráter e o efeito da cruz sobre a vida desse personagem. Farei pequenas citações com o propósito de incitar os leitores a ler toda a obra e tirar suas próprias conclusões.

Capítulo 1 – A Multidão inconstante: Quando se trata de “multidão inconstante” a primeira visão que temos é daquela multidão na entrada triunfal em Jerusalém que estendia os seus mantos na estrada para Jesus passar e cantavam em alta voz: “Hosana, bendito o que vem em nome do Senhor” [Mc 11.9] e que dentro de cinco dias, a mesma multidão estava gritando palavras bem diferentes: “Deem-nos Barrabás! Livre-se de Jesus! Crucifiquem-no”. Tudo isso aconteceu por incredulidade. Religiosidade e incredulidade não necessariamente são coisas antagônicas. Na verdade, há mais incredulidade nas Escrituras estampada entre o povo da Aliança do que das nações ditas pagãs. O próprio Senhor Jesus achou mais fé no centurião romano do que em seus patrícios Judeus. Esses, no dia em que Jesus entrou em Jerusalém, celebraram uma festa litúrgica sem igual. Deram pública demonstração de serem um povo religioso e que conhecia as Escrituras. Mais tarde, porém, o que vimos foi a farsa de corações não convertidos ser desmascarada às portas do palácio de Pôncio Pilatos. A igreja de todos os tempos e de todas as tradições corre sempre o mesmo perigo. É possível que nos acostumemos à religião. É possível que reduzamos nossa vida cristã a experiências emocionais, ao formalismo religioso, ao ativismo e etc. Também é possível que façamos uma leitura bíblica inofensivamente devocional e que jamais cheguemos à maturidade da fé e as implicações do texto que devem transformar o nosso ‘ethos’. O cristianismo nominal ou uma vivência do evangelho sem profundidade pode ser incredulidade, a mesma que entregou Jesus ao suplício, a mesma que pediu a sua crucifixão, a mesma que o abandonou no calvário, a mesma que trancafiou e paralisou os discípulos no cenáculo naqueles dias.


Capítulo 2 – O materialismo de Judas: “Não existe a menor dúvida em relação ao tratamento dado a Judas Iscariotes no Novo Testamento. Apenas um motivo explica consistentemente o fato de ele ter traído Jesus: dinheiro. Ele era o responsável pela bolsa e tirava dinheiro dela (Jo 12.6); instigou o ataque o ataque a Maria quando ela ungiu os pés de Jesus com o perfume caro (Jo 12.4); recebeu um suborno de trinta moedas de prata para trair Jesus (Mt 26.15); e, quando sua consciência o perturbou, a primeira coisa em que pensou foi devolver o dinheiro (Mt 27.3). Tudo isso se resume a uma imagem consistente de motivação materialista. Ele era o amigo de Jesus para quem o dinheiro importava demais. Como materialista do Novo Testamento, Judas é uma lição para todos nós, pois foi o materialismo de um dos seus amigos que crucificou Jesus. A cruz nos mostra o que o materialismo faz”. [p. 28]. Vocês sabem o que aprendi neste capítulo? Tome cuidado, leitor, para que você não seja um dos seguidores do apóstolo Judas Iscariotes. Não adianta argumentar que ele operou milagres, isso não adiantará no Dia do Juízo (Mt 7.22,23). Não adianta evocar prerrogativas de nascimento, credibilidade humana ou apostolado. O que importa mesmo é não trair a Cristo, o que significa não vender princípios cristocêntricos por moedas de prata, dólares ou reais. E não vale sequer usar a tese de que os métodos da traição fazem a igreja crescer e aparecer para a sociedade. Quem não assume os princípios da Cruz deve ter estancado em algum momento, quem sabe no Getsêmani quem sabe com um beijo aparentemente gentil (Mt 26.47-56; Mc 14.43,44; Lc 22.47; Jo 18.1-3).

Capitulo 3 – A negação de Pedro: Embora este capitulo tenha este título, na verdade o seu conteúdo chama a atenção para algo que é origem da tragédia de Pedro – a Autoconfiança. O autor nos chama a atenção dizendo que os cristãos se identificam mais intimamente com Pedro do que com qualquer outro personagem do Novo Testamento pelo fato de que negar a Jesus é uma questão real para todos nós. Eu particularmente, creio que o motivo que leva os cristãos a negarem a Jesus hoje, seja realmente o que maciçamente enfatizado aqui – autoconfiança. Pois a autoconfiança levou Pedro ter muitos problemas. Foi assim no mar da Galiléia. Foi assim na questão dos impostos, na noite do Getsêmani quando sacou da espada e finalmente com as três negações. O autor conclui este capítulo com uma exortação clássica: “O que o comportamento de Pedro nos diz? Quais são as pressões que nos tornam frios em vez de quentes em relação a Jesus? Que fazem diminuir nossa “cristandade” em nossos lares, no trabalho ou nas nossas atividades de lazer? Basicamente, resume-se à nossa autoimagem. Alguns de nós caímos na mesma armadilha que Pedro, diminuindo nossa identificação com Jesus por nossas próprias razões. Queira Deus que o rosto de Cristo desapontado possa tocar fundo em nossos corações. A cruz em que Jesus morreu é o antidoto para a imagem indesejável que temos de nós mesmos. Eu tenho problemas com a maneira pelas qual os cristãos estão usando palavras com “auto”: autoestima, autoconfiança, autovalorização. Só existem duas palavras com “auto” que cabem no quadro do Novo testamento. Uma é “autocontrole”. A outra é “autonegação”. Ela fala de um “velho eu”, que precisa morrer, e de um “novo eu”, no qual Deus pode nos transformar. Foi isso que Pedro descobriu. Ele disse em sua carta. “Bendito seja o Deus e pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos...” (1 Pe 1.3). Existe um lugar para a confiança, mas a nossa confiança tem que estar em Cristo: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13). A confiança que nós temos está em Cristo, que habita em nós, que nos capacita, que nos fortalece e nos molda para cada situação com a qual somos confrontados. Ao olharmos para Pedro e vermos a destruição de sua autoconfiança, da sua arrogância, do seu orgulho, nós mesmos chegamos aos pés daquela Cruz para descobrir como podemos encontrar força, não em nós mesmos, mas naquele que nos amou e se entregou por nós.” [p. 47]

Os demais capítulos do livro são assim denominados:
Capitulo 4 – O nepotismo de Caifás
Capítulo 5 – A inveja dos chefes dos sacerdotes
Capítulo 6 – Pilatos: verdade e politica
Capítulo 7 – A esposa de Pilatos: casamentos e sonhos
Capítulo 8 – A multidão e Barrabás
Capítulo 9 – O adultério de Herodes
Capítulo 10 – Simão Cirene: sentindo o peso da cruz
Capítulo 11 – As filhas de Jerusalém: desastres à luz da cruz
Capítulo 12 – Os soldados; sorteando as roupas
Capítulo 13 – Dois ladrões e como eles terminaram
Capítulo 14 – Os escarnecedores que disseram mais do que sabiam
Capítulo 15 – As mulheres da Galileia, fiéis até o fim
Capítulo 16 – Maria, mãe de Jesus: fé e família
Capítulo 17 – O centurião romano: um veredito impressionante
Capítulo 18 – José de Arimatéia: testemunha silenciosa
Capítulo 19 – Nicodemos: um discípulo secreto
Capítulo 20 – Maria Madalena
Capítulo 21 – Ressurreição e integridade
Capítulo 22 – A evidência que não podia ser usada e o fato que não podia ser negado
Capítulo 23 – Pedro e João: uma nova parceria
Capítulo 24 – Tomé e a dúvida
Capítulo 25 – No Caminho de Emaús

Chegamos ao final e a nossa conclusão é temos diante de nossos olhos, uma exposição precisa, ilustrações vívidas e aplicações contemporâneas de cada um dos personagens envolvidos na morte de Jesus na cruz.

RECOMENDO

Este está disponível na Editora Esperança, no link


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