HOUSTON, Tom. Personagens ao redor da cruz. Curitiba,
PR: Editora Esperança, 2018. 232p.
Interessante
notar que a cruz é central para qualquer compreensão não só do Evangelho, mas
da própria vida. A vida é essencialmente trágica quando vivida por pessoas
imperfeitas em um mundo caído. Só a cruz de Cristo pode dar significado à vida
quando a sua base é a tragédia, e isso porque a Cruz forma um só com a
Ressurreição. Jesus sofreu a tragédia da condição humana e transformou tragédia
em esperança. A partir da cruz, ou do alto da cruz olhando para baixo, é que se
percebe que muitas vidas que vivia na perspectiva da tragédia foram
transformadas. Por que a cruz tem esse poder. Quando Paulo escreveu “Longe
esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”, (Gl
6.14).
O livro
que temos em mãos nos fala sobre o impacto da cruz na vida de muitos
personagens que estiveram ali junto ou próximo, comprometido ou não com a cruz
de Cristo. O impacto da cruz na vida dessas pessoas resultou em bênçãos para
alguns e maldição para outros. A luz que imanava da cruz revelou o caráter e
conduta e as motivações de cada personagem que ali estiveram. Desde a multidão
que acompanhou Jesus na entrada de Jerusalém, passando por Judas, Pedro,
Caifás, sacerdotes, Pilatos e sua esposa, Barrabás, Herodes, Simão de Cirene,
Maria, o centurião romano, José de Arimateia, as filhas de Jerusalém e os
soldados romanos, os dois ladrões, os escarnecedores e as mulheres da Galileia,
Nicodemos, Maria Madalena, João, Tomé e os discípulos de Emaús, todas essas
pessoas foram impactadas pela cruz. Todas essas pessoas, ricos ou pobres, duras
ou profundamente carinhosas, desagradáveis ou santas, amargas ou compassivas,
vingativas ou amáveis e atenciosas. Eles eram, aquilo que somos nós, nem melhor
nem pior, mas que alcançados pela palavra da cruz, fomos cheios de esperança e fomos
transformados pela palavra do Evangelho.
“Jesus
sofreu a tragédia da condição humana e transformou esta tragédia em esperança;
Ele voltou dos mortos para dar aos homens a segunda chance que nunca acontece
na tragédia. Ele ressuscitou dos mortos para encontrar Maria Madalena na
profundidade da sua depressão, para encontrar Tomé em seu pessimismo, para
encontrar os viajantes a caminho de Emaús no seu intelectualismo, até mesmo
para encontrar os chefes dos sacerdotes nos seus esforços frenéticos para
encobrir a ressurreição.” [p.15]
Tom
Houston é o autor desta excelente obra. Nasceu em 1928na Escócia e iniciou sua
carreira como ministro, em 1951, na Igreja Batista Johnstone na Escócia, e
depois serviu como capelão de Quarriers Homes (lar de crianças e colônia
epiléptica) antes de ser chamado para pastorear a Igreja Batista de Nairobi no
Quênia, de que mais tarde se tornou Pastor Emérito. De 1971 a 1983, ele atuou
como Diretor Executivo da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, e se
tornou o Presidente da World Vision International. Em 1989, foi nomeado Diretor
Internacional e, posteriormente, Ministro Geral do Movimento de Lausanne (então
chamado de Comitê de Lausanne para Evangelização Mundial). Ele mora em Oxford,
Inglaterra.
O livro
possui 25 capítulos e irei tratar de forma descritiva e analítica dos três
primeiros, e isso em poucas palavras, mostrando cada um dos personagens com a
sua anomalia de caráter e o efeito da cruz sobre a vida desse personagem. Farei
pequenas citações com o propósito de incitar os leitores a ler toda a obra e
tirar suas próprias conclusões.
Capítulo
1 – A Multidão inconstante: Quando se trata de “multidão inconstante” a
primeira visão que temos é daquela multidão na entrada triunfal em Jerusalém
que estendia os seus mantos na estrada para Jesus passar e cantavam em alta
voz: “Hosana, bendito o que vem em nome do Senhor” [Mc 11.9] e que dentro de
cinco dias, a mesma multidão estava gritando palavras bem diferentes: “Deem-nos
Barrabás! Livre-se de Jesus! Crucifiquem-no”. Tudo isso aconteceu por
incredulidade. Religiosidade e incredulidade não necessariamente são coisas
antagônicas. Na verdade, há mais incredulidade nas Escrituras estampada entre o
povo da Aliança do que das nações ditas pagãs. O próprio Senhor Jesus achou
mais fé no centurião romano do que em seus patrícios Judeus. Esses, no dia em
que Jesus entrou em Jerusalém, celebraram uma festa litúrgica sem igual. Deram
pública demonstração de serem um povo religioso e que conhecia as Escrituras.
Mais tarde, porém, o que vimos foi a farsa de corações não convertidos ser
desmascarada às portas do palácio de Pôncio Pilatos. A igreja de todos os tempos
e de todas as tradições corre sempre o mesmo perigo. É possível que nos
acostumemos à religião. É possível que reduzamos nossa vida cristã a
experiências emocionais, ao formalismo religioso, ao ativismo e etc. Também é
possível que façamos uma leitura bíblica inofensivamente devocional e que
jamais cheguemos à maturidade da fé e as implicações do texto que devem
transformar o nosso ‘ethos’. O cristianismo nominal ou uma vivência do
evangelho sem profundidade pode ser incredulidade, a mesma que entregou Jesus
ao suplício, a mesma que pediu a sua crucifixão, a mesma que o abandonou no
calvário, a mesma que trancafiou e paralisou os discípulos no cenáculo naqueles
dias.
Capítulo
2 – O materialismo de Judas: “Não existe a menor dúvida em relação ao tratamento
dado a Judas Iscariotes no Novo Testamento. Apenas um motivo explica
consistentemente o fato de ele ter traído Jesus: dinheiro. Ele era o
responsável pela bolsa e tirava dinheiro dela (Jo 12.6); instigou o ataque o
ataque a Maria quando ela ungiu os pés de Jesus com o perfume caro (Jo 12.4);
recebeu um suborno de trinta moedas de prata para trair Jesus (Mt 26.15); e,
quando sua consciência o perturbou, a primeira coisa em que pensou foi devolver
o dinheiro (Mt 27.3). Tudo isso se resume a uma imagem consistente de motivação
materialista. Ele era o amigo de Jesus para quem o dinheiro importava demais.
Como materialista do Novo Testamento, Judas é uma lição para todos nós, pois
foi o materialismo de um dos seus amigos que crucificou Jesus. A cruz nos mostra
o que o materialismo faz”. [p. 28]. Vocês sabem o que aprendi neste capítulo?
Tome cuidado, leitor, para que você não seja um dos seguidores do apóstolo
Judas Iscariotes. Não adianta argumentar que ele operou milagres, isso não
adiantará no Dia do Juízo (Mt 7.22,23). Não adianta evocar prerrogativas de
nascimento, credibilidade humana ou apostolado. O que importa mesmo é não trair
a Cristo, o que significa não vender princípios cristocêntricos por moedas de
prata, dólares ou reais. E não vale sequer usar a tese de que os métodos da
traição fazem a igreja crescer e aparecer para a sociedade. Quem não assume os
princípios da Cruz deve ter estancado em algum momento, quem sabe no Getsêmani
quem sabe com um beijo aparentemente gentil (Mt 26.47-56; Mc 14.43,44; Lc
22.47; Jo 18.1-3).
Capitulo
3 – A negação de Pedro: Embora este capitulo tenha este título, na verdade o
seu conteúdo chama a atenção para algo que é origem da tragédia de Pedro – a
Autoconfiança. O autor nos chama a atenção dizendo que os cristãos se
identificam mais intimamente com Pedro do que com qualquer outro personagem do
Novo Testamento pelo fato de que negar a Jesus é uma questão real para todos
nós. Eu particularmente, creio que o motivo que leva os cristãos a negarem a
Jesus hoje, seja realmente o que maciçamente enfatizado aqui – autoconfiança.
Pois a autoconfiança levou Pedro ter muitos problemas. Foi assim no mar da
Galiléia. Foi assim na questão dos impostos, na noite do Getsêmani quando sacou
da espada e finalmente com as três negações. O autor conclui este capítulo com
uma exortação clássica: “O que o comportamento de Pedro nos diz? Quais são as
pressões que nos tornam frios em vez de quentes em relação a Jesus? Que fazem
diminuir nossa “cristandade” em nossos lares, no trabalho ou nas nossas
atividades de lazer? Basicamente, resume-se à nossa autoimagem. Alguns de nós
caímos na mesma armadilha que Pedro, diminuindo nossa identificação com Jesus
por nossas próprias razões. Queira Deus que o rosto de Cristo desapontado possa
tocar fundo em nossos corações. A cruz em que Jesus morreu é o antidoto para a
imagem indesejável que temos de nós mesmos. Eu tenho problemas com a maneira
pelas qual os cristãos estão usando palavras com “auto”: autoestima,
autoconfiança, autovalorização. Só existem duas palavras com “auto” que cabem
no quadro do Novo testamento. Uma é “autocontrole”. A outra é “autonegação”.
Ela fala de um “velho eu”, que precisa morrer, e de um “novo eu”, no qual Deus
pode nos transformar. Foi isso que Pedro descobriu. Ele disse em sua carta.
“Bendito seja o Deus e pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua
grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a
ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos...” (1 Pe 1.3). Existe um lugar
para a confiança, mas a nossa confiança tem que estar em Cristo: “Tudo posso
naquele que me fortalece” (Fp 4.13). A confiança que nós temos está em Cristo,
que habita em nós, que nos capacita, que nos fortalece e nos molda para cada
situação com a qual somos confrontados. Ao olharmos para Pedro e vermos a
destruição de sua autoconfiança, da sua arrogância, do seu orgulho, nós mesmos
chegamos aos pés daquela Cruz para descobrir como podemos encontrar força, não
em nós mesmos, mas naquele que nos amou e se entregou por nós.” [p. 47]
Os
demais capítulos do livro são assim denominados:
Capitulo
4 – O nepotismo de Caifás
Capítulo
5 – A inveja dos chefes dos sacerdotes
Capítulo
6 – Pilatos: verdade e politica
Capítulo
7 – A esposa de Pilatos: casamentos e sonhos
Capítulo
8 – A multidão e Barrabás
Capítulo
9 – O adultério de Herodes
Capítulo
10 – Simão Cirene: sentindo o peso da cruz
Capítulo
11 – As filhas de Jerusalém: desastres à luz da cruz
Capítulo
12 – Os soldados; sorteando as roupas
Capítulo
13 – Dois ladrões e como eles terminaram
Capítulo
14 – Os escarnecedores que disseram mais do que sabiam
Capítulo
15 – As mulheres da Galileia, fiéis até o fim
Capítulo
16 – Maria, mãe de Jesus: fé e família
Capítulo
17 – O centurião romano: um veredito impressionante
Capítulo
18 – José de Arimatéia: testemunha silenciosa
Capítulo
19 – Nicodemos: um discípulo secreto
Capítulo
20 – Maria Madalena
Capítulo
21 – Ressurreição e integridade
Capítulo
22 – A evidência que não podia ser usada e o fato que não podia ser negado
Capítulo
23 – Pedro e João: uma nova parceria
Capítulo
24 – Tomé e a dúvida
Capítulo
25 – No Caminho de Emaús
Chegamos
ao final e a nossa conclusão é temos diante de nossos olhos, uma exposição
precisa, ilustrações vívidas e aplicações contemporâneas de cada um dos
personagens envolvidos na morte de Jesus na cruz.
RECOMENDO
Este está
disponível na Editora Esperança, no link
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