Chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados; e ele meramente
com a palavra expeliu os espíritos e curou todos os que estavam doentes; para que se cumprisse o que fora dito por
intermédio do profeta Isaías: Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou
com as nossas doenças. Vendo Jesus muita gente ao seu redor, ordenou que
passassem para a outra margem. Então, aproximando-se dele um escriba,
disse-lhe: Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores. Mas Jesus lhe
respondeu: As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do
Homem não tem onde reclinar a cabeça. E outro dos discípulos lhe disse: Senhor,
permite-me ir primeiro sepultar meu pai. Replicou-lhe, porém, Jesus: Segue-me,
e deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Então, entrando ele no
barco, seus discípulos o seguiram. E eis que sobreveio no mar uma grande
tempestade, de sorte que o barco era varrido pelas ondas. Entretanto, Jesus
dormia. Mas os discípulos vieram acordá-lo, clamando: Senhor, salva-nos!
Perecemos! Perguntou-lhes, então, Jesus: Por que sois tímidos, homens de
pequena fé? E, levantando-se, repreendeu os ventos e o mar; e fez-se grande
bonança. E maravilharam-se os homens, dizendo: Quem é este que até os ventos e
o mar lhe obedecem? (Mt 8.16-27)
Na primeira parte destes versículos,
encontramos um notável exemplo da sabedoria
de nosso Senhor ao tratar com os que manifestam a disposição de se tomarem
seus discípulos. Este trecho
lança tanta luz sobre um assunto freqüentemente mal compreendido em nossos
dias, que merece consideração especial.
O texto diz, que um certo escriba ofereceu-se
para seguir nosso Senhor por onde quer que Ele fosse. É uma proposta admirável,
quando consideramos a classe social que aquele homem pertencia e a ocasião em
que foi proferida. Mas, a proposição recebe uma resposta igualmente admirável,
que não foi diretamente aceita, embora também não fosse manifestamente
rejeitada. Nosso Senhor tão somente faz uma réplica solene: “as raposas têm
seus covis e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar
a cabeça”.
Este outro discípulo de nosso Senhor se
apresenta em seguida, pedindo que lhe fosse permitido sepultar o pai, antes de
assumir totalmente os deveres de discípulo. À primeira vista, tal pedido
parece natural e legítimo. Entretanto, a resposta dos lábios de nosso Senhor
não foi menos solene do que a primeira: “Segue-me, e deixa aos mortos o sepultar
os seus próprios mortos”.
Há algo de profundamente impressionante em
ambas as respostas. Elas deveriam ser devidamente consideradas por todos os
que se professam cristãos.
O ensinamento é bem claro: as pessoas que
manifestam o desejo de vir a frente, e se professam verdadeiros discípulos de
Cristo, deveriam ser claramente advertidas a “calcular o custo” antes de
começarem.
Será que estão preparados para suportar as
dificuldades?
Estão prontos a carregar a cruz?
Se assim não é , tais pessoas ainda não estão
aptas para começar.
As respostas de Jesus nos ensinam claramente
que há ocasiões em que o cristão precisa literalmente desistir de tudo por
amor a Cristo e, se necessário, mesmo deveres tão importantes, como o
sepultamento de pai ou mãe, devem ser deixados ao encargo de outras pessoas.
Sempre haverá quem esteja pronto a comparecer em nosso lugar; mas tais deveres
em tempo nenhum podem ser comparados ao dever maior, que é o de pregar o
evangelho e trabalhar pela causa de Cristo no mundo.
Seria bom se estas palavras fossem mais
constantemente relembradas nas igrejas. Bem podemos temer que esta lição
esteja sendo por demais negligenciada pelos ministros do evangelho, e que muitas
pessoas estejam sendo admitidas à plena comunhão na igreja, sem jamais serem
advertidas a “calcular o custo”.
De fato, nada tem feito maior dano ao
cristianismo do que a prática de encher as fileiras do exército de Cristo com
qualquer voluntário que esteja disposto a fazer uma pequena profissão de fé, e
que possa falar fluentemente de sua experiência religiosa.
Infelizmente se tem esquecido que os números
apenas não significam poder. Pode haver uma grande quantidade de mera religiosidade
externa, enquanto há muito pouco da verdadeira graça.
Nunca nos esqueçamos disto. Cuidemos para
nada esconder aos recém- -convertidos e às pessoas que agora estão começando a
buscar a Deus. Não deixemos que se enganem com falsas expectativas. Podemos
dizer-lhe que receberão uma coroa de glória no fim, mas que nós também
digamos, não menos claramente, que existe uma cruz para ser carregada dia após
dia.
Na última parte destes versículos, aprendemos
que a fé salvadora com freqüência
está permeada de muita fraqueza e Instabilidade. Esta é uma lição que
nos deixa humilhados, mas que é deveras salutar.
O texto nos apresenta Jesus e os discípulos
atravessando o mar da Galiléia em uma embarcação. Surge uma tempestade, e o
barco está em perigo de se encher de água pela violência das ondas. Enquanto
isso, nosso Senhor está dormindo. Os discípulos atemorizados acordam Jesus e
clamam por socorro. Ele atende ao pedido e faz acalmar as águas com uma
palavra, de modo que “fez-se grande bonança”.
Ao mesmo tempo, Ele gentilmente censura a
ansiedade de seus discípulos: “Por que sois tímidos, homens de pequena fé?”
Temos aqui um retrato muito nítido do coração
de milhares de crentes! Há tantos que, mesmo possuindo suficiente fé e amor
para abandonar tudo por causa de Cristo, e segui-Lo para onde quer que vá,
ainda assim, estão cheios de temores na hora da provação!
Quantos têm graça suficiente para se voltarem
a Jesus em cada dificuldade, clamando: “Senhor, salva-nos”, e ainda não têm graça
suficiente para ficarem quietos na hora difícil e confiarem que tudo está bem?
Verdadeiramente, o crente tem razão de estar sempre cingido de humildade (1 Pe 5.5).
Que a oração: “Senhor, aumenta-nos a fé”,
sempre faça parte das nossas petições diárias. Talvez nunca conheceremos a
fraqueza da nossa fé, enquanto não formos postos na fornalha da tribulação e da
ansiedade. Felizes os que descobrem, por experiência, que a sua fé é capaz de
resistir ao fogo, e que podem, como Jó, dizer: “Ainda que ele me mate, nele
esperarei” (Jó 13.15).
Portanto, para concluir, devemos relembrar
que:
1. O ensinamento é bem claro: as pessoas que
manifestam o desejo de vir a frente, e se professam verdadeiros discípulos de
Cristo, deveriam ser claramente advertidas a “calcular o custo” antes de
começarem. Nunca nos esqueçamos disto. Cuidemos para nada esconder aos recém-
-convertidos e às pessoas que agora estão começando a buscar a Deus. Não
deixemos que se enganem com falsas expectativas. Podemos dizer-lhe que
receberão uma coroa de glória no fim, mas que nós também digamos, não menos
claramente, que existe uma cruz para ser carregada dia após dia.
2. Que a oração: “Senhor, aumenta-nos a fé”,
sempre faça parte das nossas petições diárias. Talvez nunca conheceremos a
fraqueza da nossa fé, enquanto não formos postos na fornalha da tribulação e da
ansiedade. Felizes os que descobrem, por experiência, que a sua fé é capaz de
resistir ao fogo, e que podem, como Jó, dizer: “Ainda que ele me mate, nele
esperarei” (Jó 13.15).
Portanto, quero dizer que: Temos grandes
razões para agradecer a Deus por Jesus, o nosso grande Sumo Sacerdote, pois Ele
é muito compassivo e terno de coração. Ele conhece a nossa estrutura. Ele leva
em conta as nossas enfermidades. Ele não lança fora o seu povo por causa de
defeitos. Ele se compadece mesmo dos que repreende. A oração, mesmo de “pequena
fé”, é ouvida e obtém resposta.
Que Deus nos abençoe!
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