1. A NATUREZA
HUMANA REAL DE CRISTO [1]
Uma verdade muito preciosa com respeito ao nosso
Senhor é que ele é como nós em todas as coisas, exceto no pecado (Hb. 4:15).
Que ele é como nós significa que ele teve nossa natureza humana em adição à sua
natureza divina. Ele é tanto Deus como homem numa pessoa.
Quando falamos da natureza humana de Cristo, existem
várias verdades importantes enfatizadas, especialmente cinco. Ele tinha uma natureza
humana real, completa, sem pecado e fraca, e uma natureza
humana central procedente da linha do pacto.
Cada uma dessas verdades é da maior importância
possível para a nossa salvação.
Que Cristo tinha uma natureza humana real precisa
ser enfatizado contra o ensino – de alguns na igreja primitiva e algumas seitas
hoje – que Cristo somente apareceu na forma de um homem, mas não tinha
de fato um corpo humano real, de carne e sangue, e nem uma alma humana real
como nós temos. Sua humanidade, é dito, era somente uma aparência – algo como um
anjo aparecendo na forma de um homem.
Mas se Cristo não tinha uma natureza humana real,
nossa salvação não é real também. Se sua natureza humana era somente uma
aparência, assim também o seu sofrimento e morte, e a nossa salvação. A
realidade da nossa salvação depende da realidade de sua natureza humana.
Hebreus 2:14, 15 diz: “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue,
também ele participou das mesmas coisas, para que, pela morte,
aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo, e livrasse todos
os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão”.
A Bíblia ensina a realidade da natureza humana de
Cristo não somente enfatizando o fato que ele era como nós em tudo, mesmo em
ser tentado (Hb 4:15), mas em muitas outras formas também. A realidade de sua
natureza humana é ensinada em todas aquelas passagens que falam de Jesus
nascendo, crescendo, aprendendo, obedecendo, comendo, bebendo, ficando cansado,
chorando, sofrendo e morrendo. Todas elas nos falam que ele era realmente um
homem, como nós em todas as coisas. Duvidar da realidade de sua agonia no
Getsêmani, sua dor na negação de Pedro e traição de Judas, e sua agonia ao ser
abandonado na cruz, é duvidar não somente de sua honestidade, mas também da
nossa salvação por meio desses sofrimentos.
Cristo é, portanto, osso dos nossos ossos e carne da
nossa carne (Ef. 5:30), capaz de nos representar diante de Deus, e dar sua vida
como um sacrifício pelos nossos pecados. Ele, sendo homem, pôde pagar pelo
pecado do homem e nos levar a Deus.
2. A NATUREZA
HUMANA COMPLETA DE CRISTO
Apontamos que existem cinco verdades que precisam ser
cridas sobre a natureza humana de Cristo: que ela era real, completa, sem
pecado, fraca e centralmente procedente da linha do pacto.
Olhemos agora para a verdade maravilhosa que Cristo
tinha uma natureza humana completa, significando que quando Cristo
nasceu em nossa carne, não nasceu simplesmente com um corpo humano. Ele tinha
também uma alma ou espírito humano (Lucas 23:46; João 12:27), uma mente humana (Fp.
2:5), uma vontade (João 6:38), um coração (Mt. 11:29) e tudo o mais que pertence
à nossa natureza humana.
Ele não era metade homem e metade Deus, mas plenamente
homem e plenamente Deus; todavia, ele é um Cristo somente. Essa é a
maravilha, o mistério e a glória de sua encarnação.
Essa verdade tem sido negada na história da igreja.
Alguns tentaram explicar a encarnação dizendo que Cristo tinha somente um corpo
humano, e que sua natureza divina tomou o lugar da mente ou alma humana. Por analogia,
portanto, ele seria como uma criatura que tinha uma mente humana num corpo de
um animal. Nesse caso, Cristo não teria uma natureza humana completa, mas
somente parte dela.
Contudo, é de extrema importância crermos que Cristo
tinha uma natureza humana completa. Nossa salvação depende disso!
Cristo tinha que tomar cada parte da nossa natureza
humana, pois cada parte precisava ser redimida. A verdade bíblica da
depravação total diz que somos corrompidos e depravados em cada parte.
Nosso corpo é vil (Fp. 3:21), nossa arma é perdida
(Mt. 16:26), nossa vontade está em cativeiro (Rm. 6:16), nossa mente é carnal,
cheia de inimizade contra Deus, que forma que não pode ser sujeita à lei de
Deus (Rm. 8:7,8), e nosso coração é enganoso acima de todas as coisas e
desesperadamente corrupto (Jr. 17:9). Não existe nenhuma parte da nossa
natureza humana que seja boa.
Portanto, Cristo tomou sobre si nossa natureza humana
completa, para que pudesse sofrer nela, fazendo expiação pelo pecado em cada
parte. Dessa forma, ele nos redimiu – coração, mente, alma e força – do domínio
e poder do pecado e nos fez, com tudo o que somos, servos e filhos do Deus
vivo.
Cristo é um Salvador completo. Graças a Deus
por ele. Certamente não existe outro além dele.
3. A NATUREZA
HUMANA SEM PECADO DE CRISTO
Já apresentamos as duas primeiras verdades que
precisam ser cridas sobre a natureza humana de Cristo. Olhamos para os ensinos
maravilhosos que ele tinha uma natureza humana real e completa.
Agora nos voltaremos para a importante verdade que Cristo tinha uma natureza
humana sem pecado.
Que ele não tinha pecado é ensinado mui claramente em
Hebreus 4:15. Isso é ensinado também em Isaías 53:9, Lucas 1:35 e 2 Coríntios
5:21. Contudo, Hebreus 4:15 levanta a questão se Cristo era capaz de pecar,
visto que foi tentado como nós em todas as coisas. Em outras palavras, a impecabilidade
de Cristo significa apenas que ele não pecou, ou que ele não poderia pecar?
Alguns têm dito que as tentações de Cristo poderiam
ser reais somente se fosse possível para ele pecar em sua natureza humana. Que
ele não pecou é devido apenas ao fato dele ser Deus também. Em face de tal ensino,
devemos enfatizar a verdade que não era possível que ele pecasse.
Devemos lembrar que não é uma natureza que peca, mas uma pessoa,
e Cristo é uma pessoa somente, o Filho de Deus. Como uma pessoa divina,
ele não poderia pecar. Dizer que era possível que ele pecasse em sua natureza
humana é dizer que Deus poderia pecar, pois pessoalmente, mesmo em nossa
natureza humana, ele é o Filho eterno de Deus. Essa, cremos, é uma das verdades
ensinadas em 2 Coríntios 5:21, que diz que ele não conheceu pecado, e em
Hebreus 7:26, que diz que ele era “santo, inocente, imaculado, separado dos
pecadores”.
Que Cristo não tinha pecado significa que ele não
tinha o pecado original, o pecado que temos de Adão (Rm. 5:12). Nesse respeito,
também, ele era imaculado. O nascimento virginal de Jesus e o fato que Deus era
seu Pai, também o Pai de sua natureza humana, garantiu que dentre todos os descendentes
de Adão, Cristo somente nasceu puro e santo.
Ele não somente não tinha o pecado original; ele
também não tinha nenhum pecado real. Durante toda a sua vida, desde o tempo
quando nasceu, Cristo nunca quebrou os mandamentos de Deus, nunca errou (nem infinitesimamente),
e nunca falou uma palavra frívola que não glorificasse a Deus. Ele era
perfeito!
Em suma, portanto, sua impecabilidade significa que
ele não tinha o pecado original, nem qualquer pecado real e não tinha a
possibilidade de pecar. Isso, como Hebreus nos diz, é a razão dele poder ser
nosso Salvador.
Como alguém sem pecado, ele não precisava oferecer
sacrifício primeiro pelos seus próprios pecados, mas foi capaz de oferecer em
nosso favor um sacrifício perfeito (Hb. 7:27). Portanto, ele pôde se fazer
pecado em nosso lugar, para que pudéssemos ser feitos a justiça de Deus nele (2
Co. 5:21).
A impecabilidade de Cristo, então, é a garantia que
sua justiça é perfeita, e que ela é nossa. Tudo o que ele mereceu por sua morte
ele não precisava para si mesmo; ele adquiriu para nós, que estávamos em tão
grande necessidade.
4. A NATUREZA
HUMANA FRACA DE CRISTO
Olhemos agora para a quarta grande verdade sobre a natureza humana de
Cristo: que aquele que agora tem uma natureza humana glorificada, teve uma
natureza humana fraca enquanto na terra. Sua natureza humana, além de real,
completa e sem pecado, era fraca.
Porque Cristo tinha uma natureza humana fraca, durante seu tempo de vida
terreno ele esteve sujeito a todos os males resultantes do pecado, embora não
ao próprio pecado. Ele esteve sujeito à doença, fome, sofrimento, dor, fraqueza
e até mesmo à morte, assim como nós. Ele foi “tocado com o sentimento das
nossas fraquezas” (Hb. 4:15, KJV).
Romanos 8:3, que diz que Cristo veio em semelhança da carne do pecado,
também ensina essa verdade. Visto que o versículo não pode significar que ele
mesmo era pecador, o mesmo pode se referir apenas ao fato que ele estava
sujeito a todos os males que o pecado trouxe sobre nós, a saber, às fraquezas
da nossa carne do pecado.
Cristo, então, não veio em semelhança da carne sem pecado. Ele
não era como Adão, que após ser criado desfrutou de toda a glória e esplendor
do seu primeiro estado. Ele foi feito como nós, que perdemos aquele estado e recebemos
não somente a depravação e culpa, mas também a maldição de Deus.
Essa é uma verdade importante. Enfermidade, sofrimento, dor e morte são
resultados do nosso pecado e da maldição de Deus sobre nós. Cristo ter suportado
as nossas fraquezas é parte dele ter sido feito maldição para nós. Ele tomou
todas as nossas fraquezas sobre si, tomando nossa maldição e afastando-a de
nós. Que conforto para nós, portanto, são todas as suas fraquezas!
Isaías disse tudo isso quando profetizou de Cristo e o chamou de “homem
de dores e que sabe o que é padecer” (Is. 53:3, RA). Seus sofrimentos, disse
Isaías, deveriam ser explicados assim: “Certamente, ele tomou sobre si as nossas
enfermidades e as nossas dores levou sobre si… ele foi traspassado
pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades”. Por
seu sofrimento, dor e tristeza “o castigo que nos traz a paz estava
sobre ele” (vv. 4,5).
Não foi apenas a morte de Cristo que teve poder expiatório, mas também
o sofrimento que ele suportou durante toda a sua vida sobre a terra. Ele
confessou isso quando disse: “Porque a minha vida está gasta de tristeza, e os
meus anos, de suspiros; a minha força descai por causa da minha iniqüidade, e
os meus ossos se consomem” (Sl. 31:10).
Existe conforto adicional para nós nas aflições e sofrimentos de
Cristo; elas significam que ele conhece nossas provações e sofrimentos por experiência
própria. Ele passou por elas, e não podemos dizer que ninguém pode entender
verdadeiramente nossas provações. Cristo entende!
Dessa forma, também, as fraquezas, dores, tristezas e sofrimentos do nosso
Salvador são parte da nossa salvação. Que não apenas contemplemos e vejamos que
não existe nenhuma dor como a sua (Lm. 1:2), mas creiamos nisso!
[1] Doctrine
according to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free
Publishing Association, p. 129-133. Tradução:
Felipe Sabino de Araújo Neto. Originalmente publico no Monergismo - https://goo.gl/vSCLgc
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