PARTE 1 - DICA DE LEITURA
Texto Original in: https://goo.gl/SU7Pkv
As boas biografias são
maravilhosas porque reúnem em um só gênero, doutrina, história, psicologia e
drama. Da mesma maneira que uma frase pode ter seu sentido distorcido fora do
contexto também é difícil entender o que alguém escreve sem conhecer sua conjuntura
pessoal. Para se ter uma ideia disso em um equívoco monumental, os
contemporâneos de Bonhoeffer entenderam o cristianismo sem religião que ele
defendia como cristianismo que não crê em Deus, que só se preocupa com a ética.
A leitura Bonhoeffer: pastor, mártir, profeta, espião, que a editora Mundo
Cristão lançou no ano passado desfaz todas as dúvidas.
Conheci
Bonhoeffer nas aulas de seminário com o professor Heinrich Finger. Ele trouxe
alguns textos do livro póstumo Ética que trata além de religião questões
como amor, pecado e coragem. Logo após fomos levados a ler Resistência de
Submissão um livro de cartas escritas da prisão. Nelas Bonhoeffer falava contra
a religiosidade oficial deixando uma pulga atrás da nossa orelha sobre o
que ele estaria tentando comunicar. Mais tarde já pastor de igreja li
Discipulado, Tentação e aquele que seria dos seus livros o mais impactante na
minha vida: Vida em comunhão.
Bonhoeffer
foi um visionário. Ele antecipou debates que hoje fazem parte do nosso dia a
dia. O relacionamento da fé com o mundo emancipado, como viver em comunidade de
fé, relação entre igreja e estado e diferença entre religião e
cristianismo. Mas nenhuma história é mais cativante do que a que Bonhoeffer
escreveu com sangue em um tempo de grande omissão da igreja oficial na Alemanha
que aceitou tacitamente a doutrina nazista e seu messianismo monstruoso.
Bonhoeffer
foi um profeta. É fácil dizer eu já sabia, quando antes não se ouviu nenhuma
voz. Não foi assim com ele. Ele anteviu as ações do nacional socialismo e os
perigos que ele representava para a nação alemã. Quando toda a nação
celebrava a chegada de Hitler ao poder como a salvação da Alemanha, ele dizia: “O
perigo assustador do mundo atual é que, acima do clamor por autoridade… nós
esquecemos que o homem se encontra sozinho perante a autoridade suprema, e que
todo aquele que impõe mãos violenta sobre o homem está violando leis eternas e
concedendo a si mesmo uma autoridade sobrenatural que acabará por destruí-lo.”
Bonhoeffer
foi um grande pastor. Fundou um seminário que ensinava a orar e a ler as
Escrituras e a confissão de pecados, coisas difíceis de serem vistas no mundo
teológico daquela época e na de hoje mais ainda. Como pastor não se furtou ele
mesmo ao hábito de ser discipulado pelo seu cunhado Eberhardt Bethge. Um homem
que reuniu profundidade teológica, coragem pessoal e dedicação pastoral a uma
comunidade de discípulos merece meu respeito. É esse tipo de homem que eu mesmo
quero me tornar.
Creio
que a leitura dessa biografia mexerá muito com sua vida além de emocionar com o
desprendimento desse homem de Deus. Confesso que chorei ao ler os relatos da
morte tão extemporânea de um homem que sob um ponto de vista carnal tinha tanto
a dar ao mundo. Ao ser chamado para a execução por enforcamento ele diz ao
companheiro de cela: “Esse é o fim, mas para mim o começo da vida”
PARTE 2 – APRESENTAÇÃO
Texto Original in: https://goo.gl/YUoBpq
Dietrich Bonhoeffer é, certamente, uma das personalidades mais
interessantes do século XX. Filho de uma família alemã abastada, Bonhoeffer
tinha tudo para viver uma vida longa e confortável. No entanto, inspirado pelo
evangelho escolheu encarar os poderes de seu tempo sombrio.
Bonhoeffer enfrentou o status quo acadêmico teológico
do final do século XIX e início do século XX, o liberalismo. Orientado por Adolf
Harnack, a grande estrela do liberalismo teológico e do método
histórico-crítico de interpretação das Escrituras, o teólogo da igreja
confessante teve a coragem de rejeitar os dogmas liberais e reafirmar
importantes aspectos da ortodoxia.
A sua paixão por fazer a vontade de Deus o levou, finalmente, a
enfrentar o pior dos males que se abateu sobre sua terra natal, o nazismo, à
custa de sua própria vida. Quando Hitler tentou cooptar a Igreja Alemã,
Bonhoeffer foi um dos líderes da resistência, fundando a Igreja Confessante,
que acabou por ser tornada clandestina pelo regime. Ele também ajudou
ativamente na fuga de famílias de judeus para a Suiça e militou junto as demais
igrejas europeias no sentido de conscientizá-las a respeito da situação da
Igreja Alemã.
Porém, o momento mais dramático dessa luta foi participação de
Bonhoeffer num plano para assassinar Adolf Hitler. Várias questões
interessantes surgem dessa situação. É moral participar de um regicídio? Existe
alguma situação em que é permitido conspirar para assassinar o chefe de Estado?
O tema da permissibilidade do regicídio é um tema antigo, foi discutido por
Marsílio de Pádua, e volta à tona na situação concreta por que Bonhoeffer
passou.
Eric Metaxas conta essas e outras histórias no livro Bonhoeffer:
mártir, pastor, profeta, espião, publicado em português pela editora Mundo
Cristão. Trata-se de um livro de leitura fácil, bem documentado, em que, sempre
que possível, o autor deixa o biografado “falar por si mesmo” por meio de uma
série de citações contextualizadas. Como foi direcionado primariamente para o
público norte-americano, Metaxas se debruça longamente sobre o período em que
Bonhoeffer viveu em Nova Iorque como pesquisador convidado do Union Theological
Seminary e sobre as percepções do teólogo alemão do cristianismo praticado nos
Estados Unidos à época.
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Bonhoeffer: Pastor,
Mártir, Profeta, Espião. Eric Metaxas. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2011.
615p.
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