terça-feira, 11 de dezembro de 2018

JOÃO BATISTA - O PREGADOR POLITICAMENTE INCORRETO [Resenha]


ZIBORDI, Ciro Sanches. João Batista – o pregador politicamente incorreto. Rio de Janeiro, RJ: Editora CPAD, 2018.


Este livro é o primeiro de uma série de 7 livros, intitulado “Pregadores da Bíblia”, que tem como objetivo fazer uma análise da pregação contemporânea, dando destaque para os acertos do pregador bem-sucedido, isto é, aquele que tem compromisso com a palavra de Deus e com o Deus da Palavra. Nesse caso visando uma abordagem positiva, o autor selecionou sete pregadores neotestamentários aprovados por Deus, a fim de discorrer sobre as suas principais características. Os setes personagens são: João Batista, Jesus Cristo, Pedro, Estevão, Filipe, Barnabé e Paulo.

O Livro além da introdução, possui 7 capítulos que como escreveu o próprio autor – “um texto de leitura rápida, bem humorada e estimulante, que incentive o leitor a continuar lendo” [p.8]. Contudo, o conteúdo é sério com muita abordagem teológica.


INTRODUÇÃO – SETE PREGADORES E UM SEGREDO

Nesta introdução os setes pregadores que compõem a série são apresentados com detalhes interessantes:

1) João Batista: o Pregador Politicamente Incorreto, onde o autor discorre sobre esse enviado de Deus e suas importantes qualidades. E afirma que Pregadores malsucedidos valem-se de "milagres" ou "sinais" para alcançar fama e dinheiro, porém ignoram o testemunho que Jesus deu de seu precursor: "Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista' (Mt 11.11). Este, apesar de não ter feito sinal algum, disse toda a verdade acerca do Senhor (Jo 10.41), além de não pregar o que os fariseus e as turbas desejavam ouvir, e sim o que precisavam escutar.

2) Jesus Cristo é o nosso paradigma ou modelo, a quem se deve imitar e seguir os seus passos (Jo 13.15; 1 Pe 2.20,21). Ele, sem dúvida, foi o maior pregador que já andou na terra. E, entre todas as suas características, uma tem maior destaque. Ele realizou toda a vontade do Pai, podendo dizer-lhe, depois de cumprir sua missão: "Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer" (Jo 17.4; cf. 19.30). 

3) Pedro: o primeiro pregador pentecostal. Pedro é um personagem que pode ser visto a partir de vários ângulos. Mas, como a minha intenção é apresentá-lo como um exemplo para os pregadores, darei destaque para o fato de ter sido ele o primeiro pregador pentecostal.

4) Estevão, um arauto do arrependimento. Os principais arautos do arrependimento mencionados nas páginas neotestamentárias — e que fazem parte do grupo dos sete pregadores constantes desta série — morreram de modo trágico por causa de sua pregação irritante e politicamente incorreta. Um deles foi Estêvão, o homem que viu Jesus em pé, à direita de Deus, enquanto pregava!

5) Felipe, o evangelista. Filipe foi um pregador inteiramente guiado por Deus, um homem que priorizou sua chamada, e não o título de evangelista.

6) Barnabé, filho do encorajamento. Barnabé, como veremos, tem uma qualidade muito marcante como mensageiro do Senhor: ele cumpriu cabalmente a Grande Comissão, a qual abarca evangelização (Mc 16.15), discipulado e ensino teológico (Mt 28.19,20).

7) Paulo, um imitador de Cristo. Ao chamar Paulo para pregar o evangelho, Jesus disse o seguinte a seu respeito: "este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel" (At 9.15).

Eis os sete homens, e qual o segredo de cada um? [Leia o livro]


CAPÍTULO 1 – HOUVE UM HOMEM ENVIADO DE DEUS

Depois de trabalhar de forma bem lógica uma entrevista entre João Batista e os fariseus, o questionamento do autor do livro é sobre o João Batista Histórico. 

Quem é o João Batista histórico? As fontes de informações em primeira mão concernentes à sua vida estão limitadas ao Novo Testamento e ao famoso historiador judeu Flávio Josefo (37-100 d.C.). Em Antiguidades Judaicas, ele afirma que um dos exércitos do tetrarca Herodes — não confunda com Herodes Magno — foi destruído em 36 d.C. e que muitos judeus voltaram-se para o Senhor depois disso e reconheceram que esse infortúnio ocorrera por causa do que Herodes fizera a João Batista. Isso confirma a narrativa neotestamentária da prisão e morte do precursor de Cristo (Lc 3.18-20; Mt 14.1-12). Nos Evangelhos, a vida desse enviado de Deus é mencionada do nascimento até a morte, mas há também fragmentos, especialmente sobre o "batismo de João", em Atos dos Apóstolos (1.5,22; 10.37; 11.16; 13.24,25; 18.25; 19.3,4). Ademais, o Batista foi alguém que, conquanto não tenha feito sinais, disse toda a verdade acerca de Jesus: "E muitos iam ter com ele e diziam: Na verdade, João não fez sinal algum, mas tudo quanto João disse deste [Jesus] era verdade" (10.41).


CAPÍTULO 2 – THE VOICE

Isaías, que começou seu ministério em 740 a.C., no ano em que morreu o rei Uzias (6.1), descreveu com riqueza de detalhes, como se estivesse vendo, a primeira aparição pública do último profeta do período veterotestamentário em 26 ou 29 d.C. Ou seja, ele profetizou acerca da "voz do que clama no deserto" (40.3), cerca de oito séculos antes de isso acontecer. [p.29]. O estilo de vida de João, muito parecido com o dos profetas anteriores ao período intertestamentário e despertava a curiosidade das pessoas. Talvez, a pergunta mais frequente delas fosse esta: De onde veio este homem? [p.35]

Ele entra em cena sem nenhuma explicação anterior do autor sagrado, assim como Elias. Sem aviso, surge pregando! Veio-lhe a palavra do Senhor (1 Rs 17.2, ARA). Entretanto, "nem Jesus nem o Batista surgiram 'do nada', mas, ao contrário, vieram em cumprimento do plano de redenção elaborado por Deus" [p.36].

O autor mostra claramente que o ministério que Deus outorgou a João era algo que ele tinha muita convicção, ele sabia que o seu ministério consistia em tão somente deveria preparar o caminho do Messias, não sendo ele a luz do mundo, porém testificando dela aos pecadores (Jo 1.6-8; 8.12). O ato de preparar o caminho do Senhor significava não apenas pregar a mensagem do arrependimento por antecipação (Mt 4.17), mas também implicava batizar em água, não somente os pecadores, como também o Homem perfeito (que jamais pecou), para que se cumprisse toda justiça (3.6,15); profetizar sobre o derramamento do Espírito (Lc 3.15,16); e apresentar Jesus ao mundo — e não apenas a Israel — como o Cordeiro de Deus (Jo 1.29). [p.30]

Como um pregador politicamente incorreto, pois ganhou fama como pregador do arrependimento, um título que muitos hoje não apreciariam. Quando the voice apareceu pregando no deserto, ele não falava o que o povo queria ouvir, e sim a dura palavra que lhe veio da parte do Senhor. Sem preocupar-se com vantagens e comodidade, ele começou seu ministério falando de arrependimento, e não de dez passos para enriquecer. Quantos hoje apreciam a vida e a obra desse homem? [p.38]

Aqui, o autor chama atenção para os pseudo-pregadores - “O pregador coach evita palavras "negativas" como "pecado" e "arrependimento", já que é um motivador e explora as potencialidades humanas, valendo-se da neurolinguística, "mas sem abrir mão das Escrituras". Na verdade, ainda que não admitam, os adeptos da pregação coaching têm dado nova roupagem à Teologia da Prosperidade, além de nova vida à Confissão Positiva.” [p.39]

Conclui o capítulo afirmando: “Diante do exposto, o Senhor quer que sejamos apenas a "voz que clama no deserto". Se formos bem tratados por causa da pregação do evangelho, louvado seja Deus. Mas, se formos perseguidos pelo mesmo motivo, glória ao Senhor também. Nenhum pregador enviado de Deus tem o direito de abrir mão de sua chamada para tornar-se um pregador coach ou animador de platéia. Fomos chamados para pregar a Palavra de Deus em um tempo em que não se suporta mais a sã doutrina, e não para massagear o ego das pessoas ou lhes oferecer autoajuda (2 Tm 4.1-5; Tt 2.1). [p.40]


CAPÍTULO 3 – PREGAÇÃO POLITICAMENTE INCORRETA

A mensagem de João Batista não era simpática aos religiosos do seu tempo, especialmente os fariseus e saduceus. Para ele, não havia verdades que não podiam ser ditas, o que o transformava — como diríamos hoje — em um pregador contrário à ditadura do politicamente correto. Essa ditadura — uma marca da sociedade pós-cristã — é injusta porque não atende a todos os grupos sociais, e sim a quem obedece à agenda progressista, contrária à cosmovisão judaico-cristã. [p.40] No mundo politicamente correto, o cristão deve tolerar a heresia para demonstrar que ama o próximo. Falar de Jesus Cristo em um programa de televisão ou dizer um simples "Feliz Natal" no mês de dezembro pode ser uma conduta politicamente incorreta e ofensiva aos não cristãos, especialmente os ateus.

A partir daqui, o autor começa nos mostrar alguns personagens do nosso cotidiano que são “politicamente corretos” e bem aceito pela sociedade e atraem sobre si muitos admiradores.

Papa Francisco - Em 2013, o papa Francisco veio ao Brasil e encantou a muitos, inclusive alguns pastores evangélicos, com a sua aparente humildade. Ele, porém, tem outra característica muito valorizada na pós-modernidade, que poucos notaram: ele é politicamente correto. O maior líder religioso não carrega uma Bíblia e escreve: “Não há dúvida de que o papa tem procurado agradar a todos, especialmente os progressistas. E, com isso, acaba relativizando as verdades fundamentais do cristianismo, a ponto de sugerir que a conjunção carnal entre pessoas do mesmo sexo não é pecaminosa e afirmar que não existe a necessidade de condenar o aborto com veemência, etc. [p.45]

Pastores Evangélicos - A ditadura do politicamente correto não tem cooptado apenas formadores de opinião, a grande mídia e o Vaticano. Há pastores por aí defendendo, aberta ou tacitamente, a idéia falaciosa de que o amor cristão sobrepuja a verdade do evangelho. Para esses adeptos do politicamente correto, o mais importante é amar as pessoas, e não apontar seus erros. Mas, que mensagem Jesus Cristo pregou ao andar na terra? "Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus" (Mt 4.17). E o que o pregador João Batista começou a pregar antes? Ele anunciou exatamente a mesma mensagem (3.2). No evangelho politicamente correto, o amor substitui a verdade e é mais importante que o próprio evangelho. Em outras palavras, e melhor tolerar a heresia do que parecer desamoroso para o mundo. Assim, em vez de pregar e ensinar a Palavra de Deus como ela é — cumprindo a Grande Comissão (Mt 28.18-20; Mc 16.15-20; At 1.8) —, os cristãos devem fazer as pazes com os pecadores, lavar os seus pés, pedir-lhes perdão por terem sido tão "preconceituosos e "intolerantes". [p.46]

Escritores Evangélicos - No mercado editorial evangélico, também há autores politicamente corretos, que escrevem livros interessantes, inspirativos. Quando, no entanto, citam as palavras de Jesus Cristo, omitem seu nome; mencionam, quando muito, apenas o lugar onde elas estão registradas. O autor faz citação de um certo escritor e pastor brasileiro que concedeu entrevistas à BBC Brasil: “Finalmente, o escritor disse ao entrevistador da BBC que está buscando espaço para mostrar um lado mais ponderado, inclusivo e progressista" dos evangélicos. Em outras palavras, ele defende um evangelho de facilidades, não confrontador, politicamente correto, que visa a uma convivência ecumênica e que agrada a todos, dizendo às pessoas o que elas desejam ouvir, e não o que elas precisam escutar. Ou seja, apesar de esse pastor e escritor ser um bom comunicador, intelectual e filósofo, ele não prega o autêntico evangelho do arrependimento e da "porta estreita" propagados por João Batista e pelo Senhor Jesus (Mc 1.2-8; Mt 4.17; 7.13,14). [p.49]

O autor conclui esse capítulo, afirmando: Se vivesse hoje, João Batista seria persona non grata, pois ele não elogiava os ouvintes, falando-lhes palavras agradáveis aos ouvidos. Antes, denunciaria os pecados de toda a sociedade de maneira contundente, inclusive os dos saduceus e fariseus, cujos frutos eram a hipocrisia e a autossuficiência, baseadas na presunção de que tinham Abraão por pai. Como descendentes naturais desse patriarca, confiavam em sua ascendência para escapar de uma sentença condenatória por parte do Justo Juiz. A Igreja é um povo chamado do mundo, para estar separado dele quanto à doutrina e ao comportamento (2 Co 6.14-18). O povo de Deus deve estar unido em Cristo, em torno de uma fé comum, firmada nas Santas Escrituras. Paulo e principalmente Jesus, o nosso Senhor, disseram que a nossa salvação está relacionada com o conhecimento da verdade (1 Tm 2.4; Jo 8.32). Nossa missão é pregar a Palavra da Cruz (1 Co 1.18-23), quer gostem, quer deixem de gostar. Lembremo-nos de que o amoroso Deus também é santo e justo, e aqueles que permanecerem no pecado, por mais convincentes que sejam as suas argumentações, serão lançados no Inferno (Ap 21.8). [p.50-53]


CAPÍTULO 4 – PREGADOR CRISTOCÊNTRICO

O autor é claro quando diz: Se andasse na terra hoje, o precursor de Cristo seria um pregador simples, e não uma celebridade evangélica. Tal como sua pregação, seu estilo de vida era muito singelo, próprio de um homem que vivia no deserto. Em uma época de extrema simplicidade na maneira de vestir-se, ele superava as expectativas. Quem ia ao seu encontro via "um homem metido num pano grosseiro de pelo de camelo e com um cinto de couro atado à cintura, o traje ostensivo de um profeta". [p.55]

Segundo a descrição do próprio Senhor Jesus, João Batista era como "uma cana agitada pelo vento" (Mt 11.7). No entanto, apesar de sua fraca aparência e para além de seu estilo de vida excêntrico, era um profeta ousado no falar, extremamente desafiador e que não temia líderes religiosos ou políticos. Todas as características que deveriam, em tese, isolá-lo — visto que ele, inclusive, vivia no deserto — atraíam grandes multidões. [p.57]

Algumas características são apresentadas pelo autor.

a) João batizou Jesus. Mateus, Marcos e Lucas, diferentemente do quarto Evangelho, mencionam de maneira direta o batismo de Jesus por intermédio de João Batista, quem, a princípio, não queria imergi-lo na água. Ao conversar com o Mestre, o precursor de Cristo foi convencido de que era necessário cumprir toda a justiça (Mt 3.13-17; Mc 1.9-11; Lc 3.21,22). [p.57]

b) João teve uma experiência trinitária. João Batista, portanto, teve dois privilégios extraordinários. Primeiro, o de batizar o Homem Jesus nas águas do rio Jordão. Segundo, o de aprender a doutrina da Trindade de forma presencial, com o próprio Deus trino, uma vez que, no exato momento em que ele batizava em água o Filho de Deus, viu o Espírito manifestar-se e ouviu a voz do Deus Pai. [p.59]

c) João Batista tinha uma mensagem Cristocêntrica. Uma pregação pode ser muito cativante, cheia de humor, ricamente ilustrada, arrebatadora e, mesmo assim, não ser cristocêntrica. A melhor definição de pregação cristocêntrica está em 1 Coríntios 2.1-5: E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. [...] A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus".

Em seguida, o autor levanta duas questões teológica, com duas perguntas: João era Universalista, Calvinista ou arminianismo. E dentro de sua formação teológica, ele refuta o universalismo e para os pentecostais, os teólogos Armínio e Wesley foram os que melhor interpretaram a obra expiatória, ele faz uma defesa do arminianismo. [p.63]


CAPÍTULO 5 – DOIS BATISTAS

O apóstolo Paulo chamou o Senhor Jesus de último ou segundo Adão, quando o contrastou com o primeiro, a fim de ensinar-nos importantes lições (cf. 1 Co 15.45-47). A luz dessa analogia, o autor trata neste capítulo, de dois Batistas. O primeiro foi o protagonista do batismo em água. E, por ser ele o pioneiro dessa modalidade nas páginas do Novo Testamento, ganhou um verbete alusivo à sua missão: "batismo de João" (Lc 7.29; Mt 21.25; At 1.22,23; 10.36,37; 19.3). Quis Deus que João, o primeiro Batista, apresentasse ao mundo o segundo Batista (gr. haptistes, "batizador"), Jesus Cristo, o protagonista do batismo em fogo: "ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo" (Mt 3.11). [p.67]

João Batista é o único pregador do Novo Testamento descrito como cheio do Espírito Santo antes de nascer. Jesus, o segundo Batista, obviamente, sempre foi cheio do Espírito, mas a Palavra de Deus só lhe atribui essa qualidade quando menciona sua caminhada para o deserto, sob a direção do Paracleto, a fim de ser tentado pelo Diabo (4.1). [p.68]

Aqui começa a parte de polêmica do capítulo: Jesus Cristo Batiza com fogo? 

Os quatro Evangelhos mencionam a abordagem de João sobre o batismo com o Espírito Santo (cf. Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16; Jo 1.33), mas somente Mateus e Lucas acrescentam o complemento "com fogo", o que tem levado alguns teólogos a afirmarem que ele aludiu a um terceiro tipo de batismo. O Batista teria, então, falado de três batismos: (1) em/com água; (2) no/com o Espírito Santo; e (3) em/com fogo. Quem defende o desmembramento do batismo com o Espírito Santo e com fogo em dois afirma que o batismo com fogo é escatológico. Trata-se do "castigo terrível pelo qual os pecadores serão julgados no último dia" (PFEIFFER, p. 272), já que Jesus Cristo em "sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará" (Mt 3.12). De fato, João, ao mesmo tempo em que pregou sobre a promessa do derramamento do poder dinâmico do Espírito sobre os servos do Senhor também falou do fogo do juízo. Não obstante, como demonstraremos, os teólogos pentecostais, de modo geral, têm boas razões para interpretarem o batismo com o Espírito e com fogo como uma única bênção: o revestimento de poder para o salvo em Cristo (Lc 24.49; At 1.5,8; 2.1-4). [p.72].

Daqui em o autor levanta duas questões e responde de conformidade com os princípios pentecostais: O que é o “Batismo com Espírito e com Fogo” e o que são “Línguas como que de fogo?” [p.74-78]


CAPÍTULO 6 – POR QUE NÃO UM DOS DOZE APÓSTOLOS?

Logo no início deste capítulo, o autor, levanta um assunto muito relevante fazendo uma pergunta: João Batista é o primeiro servo de Deus cheio do Espírito Santo no Novo Testamento; e com um destaque: "desde o ventre de sua mãe" (Lc 1.15). Ele também foi o primeiro pregador a falar do arrependimento e a mencionar o Reino dos céus (Mt 3.1,2), termo que Mateus empregou em lugar de Reino de Deus "por causa da relutância semítica em proferir o nome divino. O reino de Deus é a soberania de Deus sobre seu povo" (MOUNCE, p. 32). João foi, ainda, o primeiro a batizar em água nos tempos neotestamentários (w. 5,6) e a profetizar sobre o batismo com o Espírito Santo (v.11). Diante de tantos feitos e qualidades positivos, por que ele não fez parte do colégio apostólico? Pois não está sendo aqui apresentado um pregador coach, capaz de cativar o público com suas histórias engraçadas, contadas em um grande auditório, com sistema de som de última geração, ar-condicionado e poltronas confortáveis, mas, sim, de um pregador simples, dono de um duro discurso e que pregava no deserto! [p.79-80]

Jesus Cristo — que iniciou seu ministério após o batismo de João (At 10.36,37) — valeu-se do fato de esse profeta, mesmo morto, exercer grande influência sobre o povo, deixando os religiosos sem resposta. Essa boa fama de João, aliás, seria reconhecida pelos próprios apóstolos momentos antes do derramamento do Espírito, no dia de Pentecostes: "o Senhor Jesus entrou e saiu dentre nós, começando desde o batismo de João até ao dia em que dentre nós foi recebido em cima" (At 1.21,22). Isso mostra que a fidelidade de um pregador a Deus faz com que sua conduta e sua mensagem durem muito mais que a sua própria vida na terra. [p.82]

Como precursor de Jesus Cristo, enviado adiante dEle, João Batista jamais se valeu disso para exaltar-se. Pelo contrário, sempre deu toda glória ao Senhor, mesmo depois de batizá-lo no rio Jordão. E, ainda antes de ser preso por Herodes, disse a seus discípulos que ninguém "pode receber coisa alguma, se lhe não for dada do céu. Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: eu não sou o Cristo, mas sou enviado adiante dele. Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que lhe assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do esposo. Assim, pois, já essa minha alegria está cumprida. E necessário que ele cresça e que eu diminua" (Jo 3.27-30). [p.84]

Diante deste quadro bem desenhado de João Batista, o autor volta a pergunta: Por que João Batista não foi um dos apóstolos? 

Embora João Batista, digamos, tenha recebido o status de apóstolo, visto que era um enviado (gr. apostello) de Deus (Jo 1.6), o primeiro apóstolo, nos tempos neotestamentários, de fato, foi o Senhor Jesus: Pelo que, irmãos santos, participantes da vocação celestial, considerai a Jesus Cristo, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão" (Hb 3.1). Mas, se o Batista também foi um embaixador do Senhor, por que não se tornou um dos apóstolos? Por que ele, que reconheceu a proeminência do Senhor antes de todos (Lc 3.16; Jo 3.30), não faz parte do colégio apostólico?

Embora João Batista tenha sido um embaixador de Deus e o precursor de Cristo, não foi um dos apóstolos do Senhor, tampouco um ministro nos moldes do Novo Testamento, em razão de não ter sido chamado para isso. Não obstante, o Deus soberano enviou-o para exercer um ministério singular, visto que, após um longo período de silêncio profético, o intertestamentário (cerca de 400 anos), o levantou para pôr termo ao Antigo Concerto. Ele precedeu o "que batiza com o Espírito Santo" (Jo 1.33), Jesus Cristo, quem inaugurou a Nova Aliança (a Dispensação da Graça), já que "a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo" (v. 17). [p.86-87]

Conclui. Na atualidade, muitos pregadores e líderes de igrejas têm feito questão de ostentar títulos cada vez mais pomposos, que, na maioria das vezes, não correspondem ao chamado que — pretensamente — receberam do Senhor. É o caso do banalizado título de apostolo, que muitos utilizam para demonstrar que estão no topo de uma pirâmide hierárquica. Eles fazem parte das chamadas redes apostólicas, encabeçadas por um "bispo primaz ou patriarca. [p.87] Na pós-modernidade, prioriza-se a pregação malabarista e milagreira, e não a verdade sobre Jesus. Ignora-se que os sinais, prodígios e maravilhas são o efeito da pregação do evangelho (Mc 16.15-20). Quem opera maravilhas é o Senhor. Aos pregadores, cabe apenas e tão somente dizer toda a verdade sobre Jesus, assim como fez João Batista, um exemplo para todos nós. [p.89]


CAPÍTULO 7 – ACABOU A CARREIRA, PERDEU A CABEÇA, GUARDOU A FÉ.

O autor escreve: Há alguns anos, ouvi um famoso pregador dizendo que João Batista fracassou ao querer ser "demasiadamente justo", pois faltou-lhe sabedoria, habilidade e "jogo de cintura" para contornar situações difíceis, o que resultou em uma morte horrível, antes do tempo determinado por Deus. Fiquei pensando em como esse enviado do Senhor, um homem de oração, cheio do Espírito Santo, que teve o privilégio de batizar Jesus Cristo no rio Jordão, foi capaz de fazer tudo errado, a ponto de perder a cabeça. Sinceramente, essa não é a melhor maneira de um embaixador de Deus morrer, não é mesmo? [p.91]

Em seguida o autor, nos fornece “Sete passos para perder a cabeça”.
1. Obedeça fielmente ao chamado de Deus.
2. Pregue o arrependimento e seja politicamente incorreto.
3. Preocupe-se menos com a aparência e consagre-se a Deus.
4. Não abra mão da mensagem cristocêntrica.
5. Seja cheio do Espírito Santo e areia no Pentecostes.
6. Não queira aparecer, mas dê toda glória a Jesus.
7. Priorize a Palavra de Deus, e não os sinais.

Se João fosse politicamente correto, teria apenas orado por Antipas e acobertado seu adultério, pois o próprio irmão deste, aparentemente, não se incomodara muito com o abandono de sua esposa. Mas o homem que trilhava o caminho da justiça (Mt 21.32) sabia que Herodes havia pecado contra a lei do levirato (cf. Lv 18.16; 20.21). E, por isso, dizia continuamente a ele: "Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão" (Mc 6.18). [p.95]

João, não incomodou só Herodes, O Sinédrio também estava incomodado com a sua dura pregação Mt 3.7-10), a ponto de enviar uma comitiva de sacerdotes e levitas a Betânia, a fim de interrogá-lo (cf. Jo 1.15-29,35,43).

Sendo este o último capítulo, o autor assim conclui: Se a última imagem é a que fica, a derradeira referência a João Batista nos Evangelhos não diz respeito à sua execução, mas trata do momento em que o Senhor Jesus, ao escapar das mãos dos judeus em Jerusalém, retira-se "outra vez para além do Jordão, para o lugar onde João tinha primeiramente batizado, e ali ficou. E muitos iam ter com ele e diziam: Na verdade, João não fez sinal algum, mas tudo quanto João disse deste era verdade. E muitos ali creram nele" (Jo 10.40-42). O Batista, sem dúvida, é um dos "homens dos quais o mundo não era digno" (Hb 11.38) e triunfou ao completar com louvor a sua carreira! Enquanto sua cabeça era exibida diante de escarnecedores embriagados com vinho em que há contenda, esse enviado de Deus, que fora cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe, era recebido na glória! Ao completar sua carreira, perdeu a cabeça, mas ganhou o céu! Sim, ele foi decapitado, e sua cabeça exibida em um prato, como se fosse um troféu. Mas, quando o Senhor voltar, João receberá a coroa da justiça. Parafraseando as últimas palavras de Paulo antes de sua morte (2 Tm 4.7,8), João Batista acabou a carreira, perdeu a cabeça, mas guardou a fé. [p.104]

O livro é muito bom e RECOMENDO.
Para ter acesso a Editora Cpad, clique na imagem do livro.

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Este livro faz parte da coleção "Pregadores da Bíblia". Para ler a resenha é só clicar no título do livro:
Pedro - O Primeiro Pregador Pentecostal
Estevão - O primeiro apologista do evangelho

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