O evangelho deveria ser recuperado
para as nações, e Deus havia preparado
Whitefield para pregá-lo. - lain
H. Murray [1]
Se eu pudesse ser qualquer figura da história da igreja, desejaria ser
George Whitefield. Digo isso, não por sua grande habilidade de oratória nem sua
fama mundial, mas principalmente por seu ardente zelo evangelístico.
Preeminentemente, Whitefield instilou em mim uma paixão pela pregação.
Fui motivado a buscar maior ousadia pela verdade por meio de Martinho
Lutero. Adquiri maior desejo de pregar a Escritura de maneira seqüencial,
expositiva, através de João Calvino. Fui desafiado em termos de disciplina na
vida cristã por meio de Jonathan Edwards. Aprendi a necessidade de um intenso
foco no evangelho em cada sermão através de Charles Spurgeon. Mas, quando chego a George Whitefield, sou cativado
por seu zelo impar na proclamação da mensagem do evangelho até os confins da
terra.
Neste livro, é meu desejo desvendar o coração de um homem que ardia por
realizar a obra de Deus. Minha sincera esperança é que o exemplo de George
Whitefield renove a sua paixão por levar o nome de Cristo às nações. Oro para
que este livro mova uma nova geração de pregadores do evangelho, que avancem
nos campos do mundo, brancos para a colheita. Mas, antes de examinar a vida e o
ministério desse homem extraordinário, permita-me estabelecer primeiramente o
ambiente histórico no qual ele viveu.
Para o mundo de língua inglesa, o século XVIII foi um período monumental
de despertamento espiritual. Martyn Lloyd-Jones chamou este tempo de "a
maior manifestação do poder do Espírito Santo desde os dias apostólicos".[2] Essa era provou ser tempo sem
precedentes de esforços evangelísticos e renovação espiritual Seus efeitos se estenderam
por dois continentes e foram especialmente dramáticos, dada a letargia
espiritual que permeava a igreja e a cultura da época. Este tempo provou ser nada menos que uma "segunda reforma".
Desde o século XVII a pregação do evangelho havia se esfriado em toda a
Europa, mas especialmente na Inglaterra. A igreja estatal já estava em declínio
espiritual. O presbiterianismo havia se enfraquecido, e os batistas gerais
começavam uma escorregadia descida do arminianismo para o unitarianismo.
Diversos fatores causaram tais dias de sequidão. Muitas igrejas não
exigiam mais uma membresia regenerada e eram descuidadas quanto a quem admitiam
à Mesa do Senhor. O puritanismo sofreu um golpe devastador quando o parlamento provou o Ato de Uniformidade em
1662, que dividiu permanentemente a Igreja da Inglaterra de todas as demais
igrejas protestantes, dali em diante conhecidas como "Dissidentes".[3] Debaixo de Carlos II, este
decreto determinou uma forma mais católica de orações públicas, o sacerdócio, os
sacramentos, e outros ritos na Igreja da Inglaterra.Pastores puritanos foram
obrigados a abandonar as suas ordenações originais e serem reordenados sob essa
nova forma da igreja do estado.
A crise que se fomentava chegou ao ápice em 24 de agosto de 1662, no
dia de São Bartolomeu, quando dois mil ministros puritanos foram enxotados de suas
igrejas. Em um dia só dia, a maior geração de pregadores do evangelho foi
despedida do púlpito e proibida de pregar. Esses pastores puritanos sofreram
restrições ainda maiores com a aprovação do Ato
De Conventicle, em 1664. Foram banidos da pregação em campos ou condução de
cultos particulares de adoração nos lares dos párocos. Restrições ainda maiores
vieram com o Ato das Cinco Milhas,
em1665, que proibia os pastores expulsos de chegar mais perto que cinco milhas
das suas antigas igrejas, bem como de qualquer cidade ou vilarejo em que
tivessem pastoreado anteriormente.
Essa perseguição foi retirada em 1689 pelo Ato de Tolerância, sob Guilherme e Maria [William e Mary], mas até
chegar esse tempo,a maioria dos principais pastores puritanos já havia morrido.
Proibidos de serem enterrados em cemitérios adjacentes às igrejas inglesas,
muitos pastores puritanos foram sepultados em um cemitério separado, não
conformista, em Bunhill Fields, fora De Londres. Incluídos nesse cemitério
desprezado estavam pessoas de renome como John Bunyan, John Owen, Isaac Watts e
Thomas Goodwin. Considerados párias indignos, estes homens de Deus eram
sepultados fora dos limites da cidade. A influência puritana havia declinado
fortemente.
Ao mesmo tempo, muitos púlpitos anglicanos altamente estimados
ensinavam uma corrupção moralista e legalista da justificação pela fé. Tal declínio
doutrinário deixava a igreja inglesa com pouco apetite pela pregação da
Palavra. Havia desvanecido qualquer interesse pelos perdidos. Como os apóstolos
no jardim de Getsêmane, os pastores
ingleses tinham deixado de vigiar e eram acalentados em profundo sono. As
convicções bíblicas foram substituídas pelas filosofias seculares prevalecentes.
Havia verdadeira fome na terra por ouvir a Palavra de Deus.
Foi nesse vazio espiritual que Deus levantou o evangelista inglês George
Whitefield. Como um raio vindo de um céus em nuvens, Whitefield subiu ao palco
mundial como o mais eloqüente arauto do evangelho desde os dias do Novo
Testamento. Deus deu poder a Whitefield para se tomar como uma lâmpada de
chamas fortes, colorada sobre uma montanha, no meio do negro império de Satanás.
Esta figura poderosa, de incomum fervor evangélico, encabeçou um ressurgimento
cristão sem precedentes. Sua retumbante voz foi catalisadora de despertamento
espiritual, à medida que sua pregação tomou conta das Ilhas Britânicas como
tempestade, dando choques elétricos às colônias americanas. Através de seu zelo
evangelístico, Whitefield atiçou as chamas do avivamento até que se espalhassem
no coração de incontáveis homens e mulheres. Pode-se afirmar que mediante a sua
pregação, as Ilhas Britânicas foram salvas do que seria equivalente à Revolução
Francesa. E do outro lado do Atlântico, uma nação nasceria com o despertar de
sua proclamação do evangelho.
Dados os muitos males que contaminam a igreja de hoje, a presente geração
necessita uma forte dose de George Whitefield. Ao olharmos o cristianismo dos
dias atuais, existe muito pelo qual ser grato, especialmente à luz do
ressurgimento reformado dos anos recentes. Contudo, tem se tornado uma tendência
para muitos deste movimento se afastar em uma clausura calvinista, tendo pouco impacto
sobre o mundo a seu redor. Whitefield, mediante seu intenso envolvimento com o
mundo e sua fervorosa proclamação do evangelho, tem muito a nos ensinar sobre
aquilo que tem de ser desesperadamente recobrado.
Temos muitos apologetas pobres, dando palestras inócuas em nossos púlpitos
hoje em dia. A necessidade da hora é de calorosos proclamadores de Deus e de sua
graça salvadora – não apenas explanadores filosóficos. É muito fácil nos
emaranharmos nas teias das pressões sociais e políticas que deslocam nosso
dever principal de pregar a Cristo. Na presente hora, é necessário recuperar a
profunda crença de Whitefield na soberana graça de Deus, junto com um desejo
zeloso de chamar os perdidos ao arrependimento e fé em Cristo. Whitefield via
como maior necessidade do ser humano o estar bem diante de Deus. Whitefield
cumpria o chamado de Deus, de conclamar compaixão a um mundo perdido que perecia,
para que cressem no evangelho. Nós também precisamos fazer o mesmo.
Que o Senhor use o exemplo de Whitefield, quer você seja leigo quer pregador,
para dar-lhe coragem em seu compromisso com a causa de Cristo e o expandir de
seu evangelho. Nestes dias, quando há gritante necessidade de coragem, tanto no
púlpito quanto nos bancos da igreja, que possamos ver a restauração até a
pureza cristalina da igreja de Cristo mediante uma nova reforma.
________________________
O Zelo Evangelístico de George Whitefield. Steven Lawson. São José dos
Campos: Editora Fiel, 2014, p.13-18.
[1] Iain H. Murray, Heroes (Edimburgo:
Banner of Truth, 2009), 53.
[2] Martin Lloid-Jones, The Puritans:
Their Origins and Successors (Edimburgo: Banner of Thuth, 1996), 107.
[3]
Murray, Heroes, 49.
Nenhum comentário:
Postar um comentário