A Bíblia não fala apenas de dois estados da vida
humana, mas de três. Existe a vida como a conhecemos na terra. Existe o estado
final de nossos futuros corpos ressuscitados. E há o que acontece conosco entre
o momento de nossa morte e ressurreição final.
Historicamente a teologia cristã fala de um estado
intermediário que se refere à existência pessoal continuada de nossas almas no
céu, até que sejam revestidas do corpo glorificado. No estado intermediário,
continuamos a existir, vivos, como espíritos sem corpos.
O Cristianismo ortodoxo rejeita a noção de sono da
alma que se tornou popular em alguns grupos religiosos. A idéia de sono da alma
baseia-se no uso bíblico do termo “dormir” como um eufemismo para a morte. Esta
posição ensina que após a morte, as almas dos santos que partiram, permanecem
numa espécie de animação suspensa, inconscientes, e sem perceber a passagem do
tempo até a grande ressurreição. Esta noção vê uma analogia entre o sono da
alma e as experiências de sono que temos nesta vida (sem sonhos). Quando
dormimos, temos a sensação de suspensão do tempo enquanto estamos inconscientes.
O Novo testamento não reconhece nenhuma noção de sono
da alma. Paulo descreve o estado intermediário como sendo melhor do que esta
vida, no sentido de que passamos imediatamente para a presença de Cristo (2 Co
5.8). É difícil imaginar como este estado poderia ser melhor do que aquele que gozamos agora se
permanecemos inconscientes na presença de Cristo
Sem dúvida existe o descanso e a suspensão da dor e do
tumulto que sentimos enquanto estamos dormindo, mas a comunhão consciente com
Cristo que gozamos presentemente nesta vida não pode ser desprezada. Há
ocasiões em que suspiramos por um sonho inconsciente para sentir alivio dos
cuidados deste mundo, mas o normal é desejarmos acordar para assumir novamente
a vida consciente.
Os lampejos que a Bíblia nos dá sobre o estado
intermediário sugerem fortemente um estado de consciência alerta. Embora seja
uma parábola cujos elementos não podem ser pressionados demais, a parábola do
rico e Lázaro sugere uma aguda consciência de ambos os homens. A parábola envolve
uma conversação entre o rico e Abraão. O homem rico, consciente de seu
tormento, clama por misericórdia a Abraão. Abraão responde:
“Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que
recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é
consolado e tu atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre
nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam,
nem tampouco os de lá passar para cá.” [Lucas 16:25,26]
Então o homem rico apela para que uma mensagem seja
enviada a seus irmãos que ainda estão vivos, para que eles sejam avisados sobre
o lugar de tormento (v. 27-28).
Embora seja uma parábola Jesus pinta a cena do “seio
de Abraão” como um lugar intermediário de felicidade consciente, e Hades como
um lugar de tormento consciente.
Obviamente a cena tem lugar antes da grande
ressurreição. A visão de João registrada no livro de apocalipse
inclui cenas dos santos que partira, e esperam o estado final de glória:
“E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar
as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do
testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó
verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que
habitam sobre a terra? E foram dadas a cada um compridas vestes brancas e
foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se
completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos
como eles foram. [Apocalipse
6:9-11]
Aqui as almas dos mártires estão claramente em
descanso em seu estado intermediário. Mas, este descanso não é um estado de
sono inconsciente. É um descanso consciente no qual são capazes de conversar.
SPROUL, R. C. Surpreendido pelo Sofrimento. São Paulo:
Cultura Cristã, 1998, p. 97-98.
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