terça-feira, 30 de janeiro de 2018

EVANGELHO DE JOÃO - UMA INTRODUÇÃO


INTRODUÇÃO

O Evangelho de João, é livro mais importante da história. Steven Lawson chama-o de o monte Everest da teologia, o mais teológico dos evangelhos.[1] Charles Erdman o considera o mais conhecido e o mais amado livro da Bíblia. Provavelmente, é a mais importante peça da literatura que há no mundo.[2] Para William Hendriksen, o evangelho de João é o livro mais maravilhoso já escrito.[3] Lawrence Richards o descreve como “o evangelho universal”.[4]

Mateus apresentou Jesus como Rei, Marcos como servo e Lucas como homem perfeito. João, por sua vez, apresenta Jesus como Deus.


1. QUEM FOI O AUTOR E COMO A BÍBLIA O IDENTIFICA

Junto com Pedro e Tiago, João formou o grupo mais íntimo dos três discípulos que estiveram com Jesus na ressurreição da filha de Jairo (Mc 5.37), na transfiguração (Mc 9.2) e na sua angústia no jardim de Getsêmani (Mc 14.33). 

Dos três, João era o mais íntimo de Jesus. Ele é conhecido como o discípulo amado (13.23). Foi João quem se inclinou sobre o peito de seu mestre durante a ceia pascal; foi ele quem acompanhou seu Senhor ao julgamento, quando os demais discípulos fugiram (Jo 18.15).[5] 

De todos os apóstolos, foi ele o único que esteve ao pé da cruz para receber a mensagem do Senhor antes de expirar (19.25-27) e cuidou de Maria, após a morte de Jesus (19.27). Depois da ascensão de Cristo, João tornou-se um dos grandes líderes da igreja de Jerusalém (At 1.13; 3.111; 4.13-21; 8.14; G12.9).

De acordo com a tradição, João mudou-se para Éfeso, capital da Ásia Menor, onde viveu os últimos anos de sua vida, como líder da igreja na região. Foi banido para a ilha de Patmos, no governo de Domiciano, onde escreveu o livro de Apocalipse. Com a ascensão de Nerva, João recebeu permissão para retornar a Éfeso, onde morreu aos 98 anos, no início do reinado de Trajano (98-117). João foi o único apóstolo de Jesus que teve morte natural. Os demais morreram pelo viés do martírio, João 21.22-23


2. A TEOLOGIA DO EVANGELHO DE JOÃO

Bruce Milne afirma corretamente que o evangelho de João é explicitamente o mais teológico dos quatro evangelhos.[6] 

Desde o prólogo, João antecipa o conteúdo de todo o seu evangelho, mostrando-nos que Jesus é o Verbo eterno, pessoal e divino. Aquele que tem vida em si mesmo é o criador do universo. 

Sem descrever o nascimento de Jesus e sua infância, João apenas nos informa que o Verbo divino se fez carne e habitou entre nós.

Sete vezes em João, Jesus emprega a gloriosa expressão “Eu Sou”, a mesma revelada por Deus a Moisés no Sinai.

Eu sou o pão da vida (6.35,48)
Eu sou a luz do mundo (8.12)
Eu sou a porta das ovelhas (10.7,9)
Eu sou o bom pastor (10.11)
Eu sou a ressurreição e a vida (11.25)
Eu sou o caminho, a verdade e a vida (14.6)
Eu sou a videira verdadeira (15.1,5).

Além dessas declarações diretas, Gundry ressalta aquelas que envolvem a expressão “Eu Sou”, que sugerem a reivindicação de ser ele o eterno Eu Sou — o Iavé do Antigo Testamento (4.25,26; 8.24,28,58; 13.19).[7]


3. O EVANGELHO DE JOÃO E AS DOUTRINAS DA GRAÇA

De acordo com Steven Lawson, as grandes doutrinas da graça são fortemente apresentadas pelo apóstolo João nesse evangelho.[8] 

A DEPRAVAÇÃO TOTAL é amplamente explorada, pois o homem sem Deus está:
a) Cego (3.3)
b) Alienado (3.5),
c) Incapaz (6.44)
d) Escravo (8.34)
e) Surdo (8.43-47)
f) Tomado de ódio por Deus (15.23).

A ELEIÇÃO INCONDICIONAL é igualmente tratada, pois é:
a) Deus quem escolhe (6.37-39).
b) Deus nos escolheu do mundo (15.19),
c) Os eleitos são dados pelo Pai a Jesus (17.9).

A EXPIAÇÃO EFICAZ É CLARA, pois:
a) Cristo morreu por suas ovelhas (10.14,15)
b) Cristo dá a vida eterna a todos os que o Pai lhe deu (17.1,2,9,19).

A GRAÇA IRRESISTÍVEL é acentuada, uma vez que o novo nascimento e:
a) Obra soberana do Espírito (3.3-8)
b) Os mortos espirituais ouvem a voz de Jesus e vivem (5.23; 6.63),
c) Todos aqueles que o Pai dá a Jesus são atraídos irresistivelmente (6.37,44,65)
d) Convocados individualmente (10.1-5,8,27).

A PERSEVERANÇA DOS SANTOS é claramente ensinada, pois:
a) Os que creem recebem vida eterna (3.15),
b) Tem salvação eterna (3.16),
c) Gozam de satisfação eterna (4.14),
d) Recebem proteção eterna (6.38-44),
e) Tem segurança eterna (10.2730),
f) Tem sustentação eterna (6.51,58),
g) Possui duração eterna (11.25,26)
h) visão eterna (17.24).


CONCLUSÃO

O evangelho de João, como uma águia, voa nas alturas excelsas. Atinge os cumes mais altos da revelação bíblica, penetra pelos umbrais da eternidade e traz para o palco da História as verdades mais estonteantes e gloriosas. Mostra com eloquência singular como o transcendente torna-se imanente, como o infinito entra nos limites do finito, como o eterno invade o tempo e como Deus veste pele humana para habitar entre nós.

__________________________
[1] LAWSON, Steven J. Fundamentos da graça. São José dos Campos: Fiel, 2012, p. 383.
[2] ERDMAN, Charles. O evangelho de João. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1965, p. 11.
[3] HENDRIKSEN, William. João. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 13.
[4] RICHARDS, Lawrence O. Comentário histórico-cultural do Novo 'Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 192.
[5] PEARLMAN, Myer. Através da Bíblia. Miami: Vida, 1987, p. 215.
[6] MILNE, Bruce. The Message of John, p. 25.
[7] GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento, p. 114.
[8] LAWSON, Steven J. Fundamentes da graça, p. 383-434.

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