Mais do que praticamente qualquer outro livro da Bíblia, Romanos moldou de forma expressiva a história da igreja. Esse fato não surpreende, tendo em vista que Romanos é a explicação mais sistemática do evangelho de Jesus Cristo no Novo Testamento. Podemos nos lembrar aqui de alguns indivíduos mencionados anteriormente cuja vida foi transformada pela mensagem de Romanos. Agostinho (pai da igreja, do quinto século) finalmente encontrou paz em Deus depois de ler Romanos 13.14: “Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo; e não fiqueis pensando em como atender aos desejos da carne”. Esse era exatamente o desafio de que o jovem e irrequieto Agostinho precisava e assim ele veio a se tornar, possivelmente, o teólogo mais importante da igreja desde o próprio Paulo.
Em 1517. Martinho Lutero passou a entender de modo inteiramente novo a justiça de Deus enquanto meditava em Romanos 1.17: “Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do principio ao fim é pela fé, como está escrito: ‘O justo viverá pela fé’” (NVI). Veja o testemunho de Lutero, a respeito de sua conversão, com base em seu novo entendimento da justiça divina à luz desse versículo:
“Não obstante o caráter irrepreensível de minha vida como monge, sentia-me pecador diante de Deus e tinha a consciência extremamente inquieta. Não conseguia crer que ele havia sido aplacado pela satisfação que eu lhe dava. Eu não amava esse Deus justo que castigava os pecadores, mas, sim, o odiava [...] Por fim, pela misericórdia de Deus [...] comecei a entender que a justiça de Deus é a justiça pela qual o justo vive, por uma dádiva de Deus, ou seja, pela fé [...] Senti que havia nascido de novo e entrado pelas portas abertas do paraíso [...] Da mesma forma que havia odiado a expressão “justiça de Deus”, passei a amá-la como a mais doce palavra.”
Romanos 1.17 também mudou a vida de John Wesley, pois a mera leitura do comentário de Lutero sobre esse versículo, na capela de Aldersgate, numa noite em 1738, deu a Wesley a certeza da salvação que há tanto tempo buscava. Wesley escreveu a respeito desse momento: “Meu coração ficou estranhamente aquecido. Senti que, de fato, confiava em Cristo, e somente em Cristo, para minha salvação”.
A conversão de Karl Barth da teologia liberal para um cristianismo mais conservador (conhecido como neo-ortodoxia) foi resultado de seus sermões sobre Romanos. Seu comentário de 1919 sobre Romanos, em que declarou essa mudança de posicionamento, marcou o início de um novo período. Barth, munido da mensagem de Romanos, conseguiu provocar, sozinho a morte da teologia liberal tradicional.
Além dos expoentes espirituais que acabamos de mencionar, podemos apenas imaginar quantos indivíduos passaram a crer em Jesus Cristo ao percorrerem o “caminho de Romanos” (Rm 3.23; 6.23; 10.9,10,13), incluindo o autor do presente comentário.
Sem dúvida, Romanos mudou a vida de milhões de indivíduos e influenciou o rumo da história da igreja. Merece, portanto, nosso respeito e, até mesmo nossa reverência.
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PATE, C. Marvin. Romanos: Série Comentário Expositivo. São Paulo: Edições Vida Nova, 2015, 354p.
PATE, C. Marvin. Romanos: Série Comentário Expositivo. São Paulo: Edições Vida Nova, 2015, 354p.
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