Havia uma dúvida quanto ao título desta obra. Seria o Evangelho segundo
a filosofia ou o Evangelho segundo as mentalidades? O leitor que entender
“filosofia” no sentido mais acadêmico do termo, como uma disciplina, poderá
corretamente argumentar pela maior fidedignidade da segunda opção. Ou seja,
trata-se aqui mais de inventariar o efeito do Evangelho (e, por decorrência, do
cristianismo) sobre as mentalidades do que sobre os filósofos de referência da
história da filosofia.
Optei pelo primeiro título porque a ideia nasceu em mim a partir da
vontade de aplicar princípios hermenêuticos e dialéticos próprios do exercício
filosófico tanto ao Evangelho em si como às filosofias e circunstâncias
históricas que o inspiraram ou precederam e como ao que se sucedeu no Ocidente
e em Bizâncio como decorrência da aplicação de tais princípios ao Evangelho e
da expansão e consolidação do cristianismo.
Adicionalmente, pode-se traduzir “mentalidades” por “filosofia popular”
ou a forma pela qual cada um interioriza ideias gerais e preceitos filosóficos
referentes à ética ou à moral. Creio ser mais relevante ligar uma análise do
Evangelho ao que se sabe sobre essa interiorização do que às manifestações
políticas do clero e dos mais destacados filósofos/teólogos da cristandade ou
contra o cristianismo, sem perder de vista as interações e mal-entendidos entre
uns e outros.
A bibliografia focada na evolução das mentalidades individuais é
relativamente escassa. Servi-me, em especial, da série História da vida
privada, editada originalmente na França em 1985, dirigida por Philippe Ariès e
Georges Duby, e contando com a participação de autores fundamentais para a
compreensão das pontes entre agires cotidianos e pregação de matriz cristã,
como Paul Veyne, Peter Brown, Évelyne Patlagean, Gérard Vincent e Michel Rouche. Isso não
representa de modo algum um comprometimento com as conclusões desses autores.
Recomendo, porém, vivamente ao leitor que queira se aprofundar sobre a história
do cristianismo e do Ocidente a leitura dessa coleção.
A
edição da Bíblia utilizada nesta obra foi, por norma, a Bíblia Ave-Maria, em
versão em português publicada pela primeira vez em 1959 no Brasil. A edição
católica prima pelo uso de sinônimos atuais, facilitando a compreensão do
público em geral. Excepcionalmente, para situações em que o rigor se fazia mais
importante, utilizei a Bíblia Sagrada editada pela Sociedade Bíblica Brasileira
(2ª edição, revista e atualizada — 1993) a partir da clássica tradução de João
Ferreira de Almeida para o português (completa em 1694). Para fins de exegese
específica do Evangelho, porém, consultei originais em grego, disponíveis em
portais confiáveis da internet.
Apesar
de minha adesão ao cristianismo, procurei sinceramente compreender os pontos de
vista de autores anticristãos ou agnósticos. Minha simpatia, digamos assim,
pelo cristianismo, não se estende ao milenarismo cristão, à crença no
criacionismo nem a propostas teocráticas de caráter autoritário.
Para
finalizar, registro os devidos agradecimentos, não todos, mas alguns
selecionados para manter a brevidade. Em primeiro lugar, à editora Record, em
especial ao editor Carlos Andreazza, pela confiança depositada no projeto e
pela liberdade a mim concedida na expressão de pensamentos que afrontam crenças
pessoais e ideias consolidadas.
Aos
filhos, Marco Aurélio, Marco Túlio, Sofia e Caio, os três primeiros meus
colaboradores
diretos, o último um incentivador por sua presença, seu amor e seu carinho. Aos
amigos Afonso Henrique Soares Júnior, Araken Vaz Galvão, Emmanuel Mirdad, Liane
Dittberner, Marcos Cruz Teixeira, a meu pai, Nilson, e a minha irmã, Paula,
pelo precioso apoio com questionamentos, observações, apontamentos e críticas. Aos
amigos Leandro Narloch e Douglas Cavalheiro, pelas orientações prévias e
incentivo.
Aos
meus leitores e admiradores recentes ou antigos, que me acompanham e são a razão
de ser de minha dedicação à escrita.
______________________
SCHOMMER, Aurélio. O evangelho
segundo a filosofia: do filósofo Jesus às idéias sobre Jesus. Rio de Janeiro:
Record, 2016, 307p.
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