Ângelo Vieira da Silva [1]:
COSTA, Hermisten Maia Pereira[2].
Eu Creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo. São Paulo: Editora Fiel, 2014.
479p.
O livro Eu creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo, de
Hermisten Maia Pereira da Costa, acrescenta elementos essenciais para o bom
desenvolvimento do sistema teológico hodierno, subscrevendo verdades bíblicas
fundamentais para uma confissão de fé viva e fiel às Escrituras. O Credo dos
Apóstolos é a matéria de exame do livro. Pretendendo usá-lo como rota de
estudo, por ser uma boa síntese da fé cristã, Costa afirma que seu método está
estritamente conectado com a forma do mesmo enxergar as Escrituras.
O assunto em questão é o Credo ou a atitude adequada frente à
expressão Eu creio, a saber: é preciso reconhecer e confessar a
realidade e o conteúdo da fé. Por isso, o autor verifica a importância da
subscrição de fé, como pode ser encontrada no Antigo Testamento, no credo
judeu: o shema; e no Novo Testamento, pleno de referências às tradições,
à doutrina dos apóstolos, à palavra da vida, à forma que foi entregue e muitas
outras expressões que podem fundamentar a matéria em questão, organizada em
vinte e uma partes de exame no referido credo.
Ao finalizar o extenso capítulo introdutório, adentra-se à primeira
parte da obra, sobre a inspiração e inerrância das Sagradas Escrituras. Costa
refere-se a estas como verdades fundamentais da fé cristã, das quais depende
toda formulação teológica. Demonstra também o que não é inspiração (nem
mecânica, iluminada, intuída, fracionada, mentalizada) e o que ela realmente é
a partir de considerações gramaticais, focando-se na inspiração (a) plenária
(toda a Escritura), (b) dinâmica (não anulou a personalidade), (c) verbal
(através de palavras) e (d) sobrenatural (originada em Deus) das Escrituras.
A segunda porção da obra salienta a fé salvadora, indispensável,
essencial à vida humana. Costa relaciona quatro tipos de fé que chama de
(a) Histórica ou Especulativa (crença intelectual na veracidade de um
acontecimento histórico), (b) Temporal (decorrente da consciência da realidade
das verdades religiosas), (c) Milagrosa (pela persuasão intelectual de ser
instrumento ou beneficiário de um milagre, daí ativa ou passiva) e (d)
Salvadora. Para o autor, a fé salvadora tem elementos distintos (Intelectual,
Emocional e Volitivo), necessidades (para salvação, oração, culto,
relacionamento com Deus, resistir ao diabo), efeitos (na salvação, selo do
Espírito Santo, adoção, perdão dos pecados, justificação) e características
especiais, pois se origina no próprio Deus, direcionada para Ele e Sua Palavra,
apoiando-se em seu poder e fidelidade, resultando em nossa eleição interna.
Creio em Deus Pai... O terceiro elemento do livro acentua a paternidade
de Deus no Antigo e Novo Testamentos, inicialmente. Contudo, parece que sua
ênfase está na filiação em Cristo Jesus. A partir dos quatorze aspectos desta
paternidade, Costa avalia a natureza da filiação como resultado da graça de
Deus e de seu amor eterno, bem como os critérios desta filiação (nascer de
novo, receber a Cristo, fé em Jesus) e evidências da mesma (guiados pelo
Espírito que testemunha interiormente e manifesta seu fruto, obediência,
comunhão integral).
Creio num Deus Todo-Poderoso... Na quarta divisão, Costa evidencia o
poder soberano de Deus. O ponto de partida é a liberdade do poder de Deus em
cinco aspectos: (a) a liberdade de existência (Ele é o próprio poder), (b) a
liberdade de decisão (Ele determina livremente sua ações), (c) a liberdade de
execução (Ele age conforme a sua vontade) e (d) a liberdade de limitação (Ele
age conforme as perfeições de seu Ser).
O quinto ponto de observação na obra está no Deus Criador. O objetivo
deste capítulo é estudar alguns aspectos da ação criadora de Deus, dedicando
maior atenção ao homem como a ‘a obra-prima’ do Criador. A origem do homem
segundo as Escrituras e o sábio Conselho do Deus Triúno é vista nos conceitos
sinônimos de imagem/semelhança em sete aspectos teológicos: (a) Personalidade,
(b) Justiça e Santidade, (c) Liberdade, (d) Conhecimento espiritual, (e)
Imortalidade, (f) Espiritualidade e (g) Domínio sobre a natureza.
Creio em Jesus Cristo... A primeira vinda do Senhor é vista no sexto
capítulo do livro. Jesus, o Cristo, o Messias, o Ungido é destacado a partir do
significado e prática da unção no Antigo Testamento, um sinal visível de (a)
designação para um ofício, (b) estabelecimento de uma relação sagrada e a
conseqüente consagração da pessoa ou coisa ungida e (c) comunicação do Espírito
ao que foi ungido. Jesus veio cumprir a vontade do Pai. Veio salvar Seu povo,
que foi ungido pelo Espírito.
A sétima parte descreve a Pessoa de Cristo como se confessa. Costa visa
demonstrar a realidade das duas naturezas de Cristo, afirmando que Jesus Cristo
é plena e perfeitamente Deus e perfeitamente homem. O autor expõe a Divindade e
Humanidade de Jesus aprofundadamente nos termos de profetizadas, reconhecidas e
demonstradas.
A oitava porção da obra enfatiza a unidade e a necessidade das duas
naturezas de Cristo. Quanto à necessidade, Costa a descreve em relação à
Divindade, Humanidade e nas duas naturezas numa só pessoa. Tal necessidade
fundamenta-se (a) no cumprimento de toda lei, (b) na revelação de Deus e da
salvação aos homens, (c) na derrota definitiva de satanás, (d) no suportar o
peso da culpa do pecado de seu povo, (e) no constituir-se um caminho perfeito e
imaculado e (f) no apresentar-se como sacrifício perfeito.
O nono elemento do livro é o Filho unigênito de Deus. Costa ensina
acerca da eternidade do Filho e de Filho e como se dá o íntimo relacionamento
deste com seu Pai. Para isto, salienta alguns aspectos desta relação como: (a)
a igualdade essencial entre ambos, (b) o poder do Filho, (c) a santidade
gloriosa do Filho e (d) o reconhecimento da filiação de Jesus Cristo.
Na décima divisão a temática é Jesus Cristo, nosso Senhor. A
começar do Antigo Testamento, Costa estabelece suas reflexões no Senhorio do
Redentor, dono da terra, de Israel e da história. São esclarecedores os seis
possíveis sentidos fundamentais para Jesus como Senhor escritos pelo autor, bem
como suas características, manifestações e efeitos escatológicos.
O décimo primeiro ponto se relaciona ao ministério terreno de Jesus
Cristo. Para Costa são seis as facetas deste ministério: (a) Docente
(autoritativo, sábio, poderoso, incansável, corajoso, determinado, realista,
sincero, sensível, fiel), (b) Litúrgico (sobre Arão, exegeta intérprete do Pai,
culto a Deus, que foi glorificado), (c) Diaconal (veio para servir, não para
ser servido), (d) Pastoral (conhecendo suas ovelhas, reconhecido por elas,
guiava com segurança, vivificador, sacrifica pelas ovelhas, preservador,
compartilha com seus servos o privilégio do pastorado), (e) Terapêutico
(preocupação com o homem por inteiro) e (f) Intercessório (orou por todos, num
futuro próximo ou distante).
Os sofrimentos de Cristo tornam-se o fundamento do décimo segundo
capítulo do livro. Neste ponto se pode aprender que a vitória sobre o
sofrimento está na plena submissão à vontade de Deus. As causas do sofrimento
de Cristo não são outras senão o pecado humano, a justiça, o amor reconciliador
de Deus e a voluntariedade do Filho. O autor ressalta a consciência e a
obediência perfeito de Cristo em seu sofrimento, demonstrando qual a intenção e
extensão destes.
A décima terceira parte é sobre Jesus, o Salvador. Se todos os homens
necessitam da salvação por causa de seus pecados, Costa demonstra que tal
necessidade parte dos princípios (a) da universalidade do pecado, (b) da
interrupção da comunhão com Deus e (c) da morte física/espiritual do homem.
Jesus é o único Salvador. Apropriar-se desta graça só será possível pelo (a)
Arrependimento, (b) Fé em Jesus Cristo, (c) Regeneração, (d) Obediência, (e)
Santificação, (f) Perseverança e (g) Confissão Pessoal de Cristo como Senhor.
A décima quarta porção é sobre o Sacerdócio de Cristo. Mediante citação
da obra Sacerdotal, Profética e Real de Cristo, definição de termos
vetero-testamentários e o sacerdócio judaico, o autor define que o profeta fala
da parte de Deus ao povo; mas é o sacerdote que fala da parte do povo a Deus.
Costa ainda demonstra que Cristo é o sacerdote perfeito, pois (a) ofereceu a
Deus um sacrifício perfeito para satisfazer a justiça divina, reconciliando seu
povo com Deus e (b) intercede continuamente por seu povo, fundamentado em seus
méritos redentores.
O décimo quinto elemento da obra é a ressurreição de Cristo. Segundo
Costa, o mistério desta doutrina, da singularidade da ressurreição de Cristo,
poderá estar em seu corpo real e transcendente. É por isso que trabalha significados
para mesma: (a) teológico (como o cumprimento das Escrituras), (b)
soteriológico (como nossa regeneração), (c) kerigmático (dando sentido a
pregação fiel da igreja), (d) vivencial (frutificando para Deus) e (e)
escatológico (modelo do corpo glorioso dos cristãos).
A ascensão é assunto da décima sexta divisão da obra. Percebe-se que,
para o autor, a ascensão denota a grande responsabilidade de se viver como o
Corpo de Cristo no mundo, e que o regresso de Jesus ao Pai evidencia a
realização completa de toda a obra a qual viera realizar.
O décimo sétimo ponto do livro é a segunda vinda de Cristo,
considerando-a como elemento de transição entre o “já” (a realidade do reino
presente) e o “ainda não” (a consumação plena do Reino). Certo da segunda vinda
de Cristo, Costa evidencia que a mesma será repentina, decisiva e definitiva,
pessoal, visível e audível, física, triunfante, gloriosa e glorificante.
O décimo oitavo capítulo é sobre o juízo final. Costa afirma que o
juízo final é o momento quando haverá a consumação da história, tendo os homens
que prestar a Deus contas de seus atos, palavras e pensamentos. O entendimento
é que o juízo final manifestará a glória de Deus tornado público seu eterno
propósito e consumando a história salvífica.
“Creio no Espírito Santo”, este é o foco do décimo nono capítulo.
Partindo do Antigo e Novo Testamentos, judaísmo posterior e história
eclesiástica, Costa demonstra as perfeições do Espírito Santo (Unicidade,
Personalidade e Divindade) e afirma que verdadeiramente procede de um (Pai) e
outro (Filho), desde a eternidade e deve ser com ambos adorado.
A vigésima parte do livro é sobre a Igreja de Deus. Definindo palavras
a partir de considerações gramaticais, informa as marcas da verdadeira Igreja
(pregação fiel da Palavra, a correta administração dos sacramentos, o exercício
fiel da Disciplina) e aborda a eclesiologia pela (a) Unicidade (união essencial
produzida pelo Espírito cheia de propósito), (b) Santidade e (c) Catolicidade.
A vigésima primeira porção é sobre o significado da Palavra Amém (confiança,
ter fé, assim seja, etc.). Vislumbrando o uso desta no Antigo e Novo
Testamentos, aplica-lhe a quarenta e quatro proposições teológicas extraídas do
Credo Apostólico.
Finalmente, deve-se dizer que Eu Creio no Pai, no Filho e no
Espírito Santo é uma obra com profundidade teológica, exegética e
histórica. De fato, o livro pode ajudar o leitor no comprometimento com uma
identidade de fé. Ele declarará: eu também creio. Costa,
definitivamente, evidenciou o grande valor dos credos e confissões de fé para o
homem regenerado e para o relativista. O leitor atento concluirá e corroborará
com o autor que não se podem desvalorizar as contribuições dos servos de Deus
no passado referentes á compreensão bíblica.
O livro pode ser mais bem organizado. A divisão de capítulos é
superficial (ainda que o conteúdo não o seja). Sugeriria uma melhor divisão dos
capítulos como descrito pelo próprio autor (p. 78), estabelecendo os capítulos
desta obra como sub-tópicos. No vigésimo capítulo, a título de enriquecimento,
talvez valesse a pena uma exposição sobre a Apostolicidade da Igreja como
citado pelo credo Niceno-Constantinopolitano. Destarte, destaco na obra as
comparações introdutórias entre os Credos Niceno, Niceno-Constantinopolitano,
Calcedônia e Atanasiano, a profundidade e biblicidade do autor quanto às
limitações do homem no quinto capítulo (resumidas em quatorze aspectos
fundamentais) e o adendo com sínteses dos documentos de fé dos séculos XVI e
XVII.
Costa demonstra claro intelectualismo e lógica, o que contribui para a
compreensão do leitor, que se sentirá mais resoluto no que subscreve e
declarará: eu também creio. Destaca-se, como sempre, o amplo
conhecimento do autor das fontes que utiliza, principalmente, pelo
enriquecimento das notas de rodapé, que são sua marca registrada (como visto em
suas obras). [3]
[1] Ângelo Vieira da Silva possui o mestrado profissional
em Ciências das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória, ES. Bacharel em
Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, SP. Pesquisador na área de
apocalíptica, pseudoepígrafos (Enoque etíope), escatologia (milenarismo) e
angelologia. É pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, atualmente na Primeira
Igreja Presbiteriana de Resplendor, MG. Publicou, entre outros estudos em
Literatura Bíblica e Teologia, o opúsculo Angelologia Bíblica. (1. ed. Amazon,
Kindle Edition, 2013. v. 1. 38p.). E-mail
de contato: revavds@gmail.com Blog: http://revavds.blogspot.com.br Lattes:
http://lattes.cnpq.br/8163422369950583
[2] O Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa possui
graduação em Pedagogia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1993),
graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(1983), graduação em Teologia – Seminário Presbiteriano do Sul (1979), Mestrado
em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (1999) e
Doutorado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo
(2003).
[3] Resenha publicada
originalmente na Ciberteologia - Revista
de Teologia & Cultura - Ano XI, n. 51, p. 120-124.
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