sábado, 9 de setembro de 2017

EU CREIO NO PAI, NO FILHO E NO ESPÍRITO SANTO [Resenha]


Ângelo Vieira da Silva [1]: COSTA, Hermisten Maia Pereira[2]. Eu Creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo. São Paulo: Editora Fiel, 2014. 479p.


O livro Eu creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo, de Hermisten Maia Pereira da Costa, acrescenta elementos essenciais para o bom desenvolvimento do sistema teológico hodierno, subscrevendo verdades bíblicas fundamentais para uma confissão de fé viva e fiel às Escrituras. O Credo dos Apóstolos é a matéria de exame do livro. Pretendendo usá-lo como rota de estudo, por ser uma boa síntese da fé cristã, Costa afirma que seu método está estritamente conectado com a forma do mesmo enxergar as Escrituras.

O assunto em questão é o Credo ou a atitude adequada frente à expressão Eu creio, a saber: é preciso reconhecer e confessar a realidade e o conteúdo da fé. Por isso, o autor verifica a importância da subscrição de fé, como pode ser encontrada no Antigo Testamento, no credo judeu: o shema; e no Novo Testamento, pleno de referências às tradições, à doutrina dos apóstolos, à palavra da vida, à forma que foi entregue e muitas outras expressões que podem fundamentar a matéria em questão, organizada em vinte e uma partes de exame no referido credo.

Ao finalizar o extenso capítulo introdutório, adentra-se à primeira parte da obra, sobre a inspiração e inerrância das Sagradas Escrituras. Costa refere-se a estas como verdades fundamentais da fé cristã, das quais depende toda formulação teológica. Demonstra também o que não é inspiração (nem mecânica, iluminada, intuída, fracionada, mentalizada) e o que ela realmente é a partir de considerações gramaticais, focando-se na inspiração (a) plenária (toda a Escritura), (b) dinâmica (não anulou a personalidade), (c) verbal (através de palavras) e (d) sobrenatural (originada em Deus) das Escrituras.

A segunda porção da obra salienta a fé salvadora, indispensável, essencial à vida humana. Costa relaciona quatro tipos de fé que chama de (a) Histórica ou Especulativa (crença intelectual na veracidade de um acontecimento histórico), (b) Temporal (decorrente da consciência da realidade das verdades religiosas), (c) Milagrosa (pela persuasão intelectual de ser instrumento ou beneficiário de um milagre, daí ativa ou passiva) e (d) Salvadora. Para o autor, a fé salvadora tem elementos distintos (Intelectual, Emocional e Volitivo), necessidades (para salvação, oração, culto, relacionamento com Deus, resistir ao diabo), efeitos (na salvação, selo do Espírito Santo, adoção, perdão dos pecados, justificação) e características especiais, pois se origina no próprio Deus, direcionada para Ele e Sua Palavra, apoiando-se em seu poder e fidelidade, resultando em nossa eleição interna.

Creio em Deus Pai... O terceiro elemento do livro acentua a paternidade de Deus no Antigo e Novo Testamentos, inicialmente. Contudo, parece que sua ênfase está na filiação em Cristo Jesus. A partir dos quatorze aspectos desta paternidade, Costa avalia a natureza da filiação como resultado da graça de Deus e de seu amor eterno, bem como os critérios desta filiação (nascer de novo, receber a Cristo, fé em Jesus) e evidências da mesma (guiados pelo Espírito que testemunha interiormente e manifesta seu fruto, obediência, comunhão integral).

Creio num Deus Todo-Poderoso... Na quarta divisão, Costa evidencia o poder soberano de Deus. O ponto de partida é a liberdade do poder de Deus em cinco aspectos: (a) a liberdade de existência (Ele é o próprio poder), (b) a liberdade de decisão (Ele determina livremente sua ações), (c) a liberdade de execução (Ele age conforme a sua vontade) e (d) a liberdade de limitação (Ele age conforme as perfeições de seu Ser).

O quinto ponto de observação na obra está no Deus Criador. O objetivo deste capítulo é estudar alguns aspectos da ação criadora de Deus, dedicando maior atenção ao homem como a ‘a obra-prima’ do Criador. A origem do homem segundo as Escrituras e o sábio Conselho do Deus Triúno é vista nos conceitos sinônimos de imagem/semelhança em sete aspectos teológicos: (a) Personalidade, (b) Justiça e Santidade, (c) Liberdade, (d) Conhecimento espiritual, (e) Imortalidade, (f) Espiritualidade e (g) Domínio sobre a natureza.

Creio em Jesus Cristo... A primeira vinda do Senhor é vista no sexto capítulo do livro. Jesus, o Cristo, o Messias, o Ungido é destacado a partir do significado e prática da unção no Antigo Testamento, um sinal visível de (a) designação para um ofício, (b) estabelecimento de uma relação sagrada e a conseqüente consagração da pessoa ou coisa ungida e (c) comunicação do Espírito ao que foi ungido. Jesus veio cumprir a vontade do Pai. Veio salvar Seu povo, que foi ungido pelo Espírito.

A sétima parte descreve a Pessoa de Cristo como se confessa. Costa visa demonstrar a realidade das duas naturezas de Cristo, afirmando que Jesus Cristo é plena e perfeitamente Deus e perfeitamente homem. O autor expõe a Divindade e Humanidade de Jesus aprofundadamente nos termos de profetizadas, reconhecidas e demonstradas.

A oitava porção da obra enfatiza a unidade e a necessidade das duas naturezas de Cristo. Quanto à necessidade, Costa a descreve em relação à Divindade, Humanidade e nas duas naturezas numa só pessoa. Tal necessidade fundamenta-se (a) no cumprimento de toda lei, (b) na revelação de Deus e da salvação aos homens, (c) na derrota definitiva de satanás, (d) no suportar o peso da culpa do pecado de seu povo, (e) no constituir-se um caminho perfeito e imaculado e (f) no apresentar-se como sacrifício perfeito.

O nono elemento do livro é o Filho unigênito de Deus. Costa ensina acerca da eternidade do Filho e de Filho e como se dá o íntimo relacionamento deste com seu Pai. Para isto, salienta alguns aspectos desta relação como: (a) a igualdade essencial entre ambos, (b) o poder do Filho, (c) a santidade gloriosa do Filho e (d) o reconhecimento da filiação de Jesus Cristo.

Na décima divisão a temática é Jesus Cristo, nosso Senhor. A começar do Antigo Testamento, Costa estabelece suas reflexões no Senhorio do Redentor, dono da terra, de Israel e da história. São esclarecedores os seis possíveis sentidos fundamentais para Jesus como Senhor escritos pelo autor, bem como suas características, manifestações e efeitos escatológicos.

O décimo primeiro ponto se relaciona ao ministério terreno de Jesus Cristo. Para Costa são seis as facetas deste ministério: (a) Docente (autoritativo, sábio, poderoso, incansável, corajoso, determinado, realista, sincero, sensível, fiel), (b) Litúrgico (sobre Arão, exegeta intérprete do Pai, culto a Deus, que foi glorificado), (c) Diaconal (veio para servir, não para ser servido), (d) Pastoral (conhecendo suas ovelhas, reconhecido por elas, guiava com segurança, vivificador, sacrifica pelas ovelhas, preservador, compartilha com seus servos o privilégio do pastorado), (e) Terapêutico (preocupação com o homem por inteiro) e (f) Intercessório (orou por todos, num futuro próximo ou distante).

Os sofrimentos de Cristo tornam-se o fundamento do décimo segundo capítulo do livro. Neste ponto se pode aprender que a vitória sobre o sofrimento está na plena submissão à vontade de Deus. As causas do sofrimento de Cristo não são outras senão o pecado humano, a justiça, o amor reconciliador de Deus e a voluntariedade do Filho. O autor ressalta a consciência e a obediência perfeito de Cristo em seu sofrimento, demonstrando qual a intenção e extensão destes.

A décima terceira parte é sobre Jesus, o Salvador. Se todos os homens necessitam da salvação por causa de seus pecados, Costa demonstra que tal necessidade parte dos princípios (a) da universalidade do pecado, (b) da interrupção da comunhão com Deus e (c) da morte física/espiritual do homem. Jesus é o único Salvador. Apropriar-se desta graça só será possível pelo (a) Arrependimento, (b) Fé em Jesus Cristo, (c) Regeneração, (d) Obediência, (e) Santificação, (f) Perseverança e (g) Confissão Pessoal de Cristo como Senhor.

A décima quarta porção é sobre o Sacerdócio de Cristo. Mediante citação da obra Sacerdotal, Profética e Real de Cristo, definição de termos vetero-testamentários e o sacerdócio judaico, o autor define que o profeta fala da parte de Deus ao povo; mas é o sacerdote que fala da parte do povo a Deus. Costa ainda demonstra que Cristo é o sacerdote perfeito, pois (a) ofereceu a Deus um sacrifício perfeito para satisfazer a justiça divina, reconciliando seu povo com Deus e (b) intercede continuamente por seu povo, fundamentado em seus méritos redentores.

O décimo quinto elemento da obra é a ressurreição de Cristo. Segundo Costa, o mistério desta doutrina, da singularidade da ressurreição de Cristo, poderá estar em seu corpo real e transcendente. É por isso que trabalha significados para mesma: (a) teológico (como o cumprimento das Escrituras), (b) soteriológico (como nossa regeneração), (c) kerigmático (dando sentido a pregação fiel da igreja), (d) vivencial (frutificando para Deus) e (e) escatológico (modelo do corpo glorioso dos cristãos).

A ascensão é assunto da décima sexta divisão da obra. Percebe-se que, para o autor, a ascensão denota a grande responsabilidade de se viver como o Corpo de Cristo no mundo, e que o regresso de Jesus ao Pai evidencia a realização completa de toda a obra a qual viera realizar.

O décimo sétimo ponto do livro é a segunda vinda de Cristo, considerando-a como elemento de transição entre o “já” (a realidade do reino presente) e o “ainda não” (a consumação plena do Reino). Certo da segunda vinda de Cristo, Costa evidencia que a mesma será repentina, decisiva e definitiva, pessoal, visível e audível, física, triunfante, gloriosa e glorificante.

O décimo oitavo capítulo é sobre o juízo final. Costa afirma que o juízo final é o momento quando haverá a consumação da história, tendo os homens que prestar a Deus contas de seus atos, palavras e pensamentos. O entendimento é que o juízo final manifestará a glória de Deus tornado público seu eterno propósito e consumando a história salvífica.

“Creio no Espírito Santo”, este é o foco do décimo nono capítulo. Partindo do Antigo e Novo Testamentos, judaísmo posterior e história eclesiástica, Costa demonstra as perfeições do Espírito Santo (Unicidade, Personalidade e Divindade) e afirma que verdadeiramente procede de um (Pai) e outro (Filho), desde a eternidade e deve ser com ambos adorado.

A vigésima parte do livro é sobre a Igreja de Deus. Definindo palavras a partir de considerações gramaticais, informa as marcas da verdadeira Igreja (pregação fiel da Palavra, a correta administração dos sacramentos, o exercício fiel da Disciplina) e aborda a eclesiologia pela (a) Unicidade (união essencial produzida pelo Espírito cheia de propósito), (b) Santidade e (c) Catolicidade.

A vigésima primeira porção é sobre o significado da Palavra Amém (confiança, ter fé, assim seja, etc.). Vislumbrando o uso desta no Antigo e Novo Testamentos, aplica-lhe a quarenta e quatro proposições teológicas extraídas do Credo Apostólico.

Finalmente, deve-se dizer que Eu Creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo é uma obra com profundidade teológica, exegética e histórica. De fato, o livro pode ajudar o leitor no comprometimento com uma identidade de fé. Ele declarará: eu também creio. Costa, definitivamente, evidenciou o grande valor dos credos e confissões de fé para o homem regenerado e para o relativista. O leitor atento concluirá e corroborará com o autor que não se podem desvalorizar as contribuições dos servos de Deus no passado referentes á compreensão bíblica.

O livro pode ser mais bem organizado. A divisão de capítulos é superficial (ainda que o conteúdo não o seja). Sugeriria uma melhor divisão dos capítulos como descrito pelo próprio autor (p. 78), estabelecendo os capítulos desta obra como sub-tópicos. No vigésimo capítulo, a título de enriquecimento, talvez valesse a pena uma exposição sobre a Apostolicidade da Igreja como citado pelo credo Niceno-Constantinopolitano. Destarte, destaco na obra as comparações introdutórias entre os Credos Niceno, Niceno-Constantinopolitano, Calcedônia e Atanasiano, a profundidade e biblicidade do autor quanto às limitações do homem no quinto capítulo (resumidas em quatorze aspectos fundamentais) e o adendo com sínteses dos documentos de fé dos séculos XVI e XVII.

Costa demonstra claro intelectualismo e lógica, o que contribui para a compreensão do leitor, que se sentirá mais resoluto no que subscreve e declarará: eu também creio. Destaca-se, como sempre, o amplo conhecimento do autor das fontes que utiliza, principalmente, pelo enriquecimento das notas de rodapé, que são sua marca registrada (como visto em suas obras). [3]




[1] Ângelo Vieira da Silva possui o mestrado profissional em Ciências das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória, ES. Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, SP. Pesquisador na área de apocalíptica, pseudoepígrafos (Enoque etíope), escatologia (milenarismo) e angelologia. É pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, atualmente na Primeira Igreja Presbiteriana de Resplendor, MG. Publicou, entre outros estudos em Literatura Bíblica e Teologia, o opúsculo Angelologia Bíblica. (1. ed. Amazon, Kindle Edition, 2013. v. 1. 38p.). E-mail de contato: revavds@gmail.com Blog: http://revavds.blogspot.com.br Lattes: http://lattes.cnpq.br/8163422369950583
[2] O Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa possui graduação em Pedagogia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1993), graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1983), graduação em Teologia – Seminário Presbiteriano do Sul (1979), Mestrado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (1999) e Doutorado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (2003).
[3] Resenha publicada originalmente na Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano XI, n. 51, p. 120-124.


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