Quando não percebemos nenhum sentido em nosso sofrimento – quando não vemos propósito – então somos tentados a desesperar. Uma mulher que suporta o trabalho de parto é capaz de fazê-lo porque sabe que o resultado será uma nova vida.
Aqueles que sofrem uma doença terminal não têm a mesma esperança de um bom resultado como no caso do parto. Para eles a dor parece ser a dor para a morte e não para a vida.
A mensagem de Cristo é que a morte não nos leva ao nada, mas à vida. Podemos usar a analogia do parto. Ela é usada para descrever o sofrimento de Cristo e de toda a criação: “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma, e ficará satisfeito” (Is 53.11).
Repetidamente as Escrituras nos revelam as lutas dos maiores santos com o problema do desespero. Moisés enfrentou a noite escura da alma quando clamou a Deus: “Se assim me tratas, mata-me de uma vez, eu te peço, se tenho achado favor aos teus olhos; e não me deixes ver a minha miséria.” (Nm 11.15)
Jó amaldiçoou o dia do seu nascimento dizendo: “Por que não morri eu na madre? Por que não expirei ao sair dela? Por que houve regaço que me acolhesse? E por que peitos, para que eu mamasse? Porque já agora repousaria tranqüilo; dormiria, e, então, haveria para mim descanso” (Jó 3.11-13)
Jeremias expressou o mesmo sentimento: “Maldito o dia em que nasci! Não seja bendito o dia em que me deu à luz minha mãe! Maldito o homem que deu as novas a meu pai, dizendo: Nasceu-te um filho!, alegrando-o com isso grandemente. Por que saí do ventre materno tão-somente para ver trabalho e tristeza e para que se consumam de vergonha os meus dias?” (Jr 20.14-15,18).
O filosofo dinamarquês Soren Kiergaard disse certa vez que uma das piores situações que um ser humano pode enfrentar é desejar morrer e não ter permissão para isto. O profundo desejo de ser libertado do sofrimento jaz no centro da questão da eutanásia. A injeção letal é vista como uma espécie de morte misericordiosa. Argumenta-se que somos mais humanos com os animais do que com as pessoas. Nós sacrificamos os cavalos. Matamos nossos cachorros.
A eutanásia envolve tomar providências diretas para matar uma pessoa que está sofrendo. Colocado de uma forma simples, eutanásia passiva envolve a suspensão do uso de métodos artificiais de suporte a vida.
O problema se complica com a pergunta de quem toma a decisão. O médico não desejar bancar Deus. A família pode se sentir esmaga pela culpa que a decisão envolve. Os pastores e religiosos não se sentem adequados para a tarefa, e é terrível deixar a questão nas mãos da justiça legal.
Eu não tenho todas as respostas para este dilema. Entretanto, estou certo de duas coisas. A primeira é de que tais perguntas devem ser decididas à luz do principio mais abrangente da santidade da vida humana. Devemos recuar submissos para garantir que vida humana seja mantida. Se vamos errar, é melhor errar em favor da vida do que barateá-la de qualquer forma. Segundo, a decisão deve envolver pelo menos três grupos de pessoas, talvez quatro. Ela deve envolver a consulta aos médicos, à família, aos pastores e líderes religiosos e, quando possível, ao paciente.
Esta pergunta faz parte da perplexidade do sofrimento. A todo custo, as decisões que fizermos não devem ser feitas do ponto de vista do desespero. Em todas as ocasiões devemos manter o objetivo da redenção em mente para que a esperança não seja engolida pelo desespero.
Davi resumiu a questão: “Eu creio que verei a bondade do SENHOR na terra dos viventes.” (Sl 27.13).Na mesma epístola em que Paulo disse: “Ficamos perplexos, mas não desesperados” ele expressou sua própria luta à beira do desespero: “Porque não queremos irmãos, que ignoreis a natureza da tribulação que nos sobreveio na Ásia, porquanto foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida. Contudo, já em nós mesmos, tivemos a sentença de morte, para que não confiemos em nós, e sim no Deus que ressuscita os mortos; o qual nos livrou e livrará de tão grande morte; em quem temos esperado que ainda continuará a livrar-nos” (2 Co 1.8-10)
Paulo entrou em desespero. Mas seu desespero foi limitado. Não era um desespero final. Ele desesperou de sua vida terrena. Estava certo de que ia morrer. Paulo não desesperou da libertação final da morte. Ele conhecia a promessa de Cristo de vitória sobre a morte.
SPROUL, R. C. Surpreendido pelo Sofrimento. Rio de Janeiro: Cultura Cristã, 1998, p. 80-84.
Nenhum comentário:
Postar um comentário