segunda-feira, 1 de julho de 2019

A ARTE EXPOSITIVA DE JOÃO CALVINO [Resenha]


LAWSON, Steven J. A Arte Expositiva de João Calvino – Um perfil de homens piedosos. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2008. 144p.


O AUTOR - Dr. Steven J. Lawson é o pastor da Christ Fellowship Baptist Church em Mobile, Alabama e serviu por vinte e cinco anos como pastor em Arkansas e Alabama. Ele formou-se Bacharel em Administração de Empresas na Universidade Tecnológica do Texas, em Mestre em Teologia no Seminário Teológico de Dallas, e em Doutor em Ministérios no Seminário Teológico Reformado. Dr. Lawson escreveu treze livros e muitos têm sido traduzidos em várias línguas, em várias partes do mundo, incluindo russo, italiano, português, espanhol e a língua Indonésia.


O LIVRO – No prefácio do livro, o autor já resume o propósito do livro. Este livro investigará a pregação do grande Reformador de Genebra, João Calvino. [...] Conforme consideramos a vida e o trabalho de Calvino, faremos um levantamento das marcas que distinguiam o seu ministério como pregador. Observaremos os pressupostos mais importantes que sustentaram a sua pregação, e examinaremos como ele se preparava para subir ao púlpito. Enquanto estudamos tudo isto, obteremos uma visão geral de sua pregação – a introdução de seu sermão, a interpretação, a aplicação, a conclusão, e a intercessão final. Resumindo, exploraremos as marcas peculiares da arte expositiva de Calvino. O objetivo aqui não é fazer uma abordagem emocional — as circunstâncias atuais são desesperadoras demais para tal trivialidade. Em vez disto, o alvo deste livro é contribuir para elevar o nível da nova geração de expositores. O método que utilizo é verificar o que significa ser comprometido com a pregação bíblica analisando o trabalho de um homem totalmente comprometido com esta obra sagrada. Que a leitura destes capítulos seja inspiradora e cause impacto; que motive e traga vigor a todos os seus leitores – enfim, que seja tudo que possa conduzir a uma nova reforma.

O livro possui além do prefácio, conclusão e dois apêndices, possui oito capítulos, sobre o qual apresentaremos pequenos tópicos e faremos comentários se assim for necessário.


CAPÍTULO 1: A VIDA E O LEGADO DE CALVINO. Neste capítulo o autor começa com uma pergunta: Se o verdadeiro Calvino era antes de tudo um pregador, quem era o Calvino homem? Qual caminho Deus escolheu para que ele caminhasse? Como era a época em que ele viveu? Quais foram suas conquistas? E o mais importante: o que contribuiu para sua grandeza? Neste capítulo, o autor trata dessas e outras questões acerca de Calvino.


Alguns pontos neste capítulo que julgo muito importantes são:

(1) A conversão de Calvino - Quando estudava em Bourges, Calvino teve contato direto com as verdades bíblicas da Reforma. Depois que o evangelho lhe foi apresentado, sobreveio-lhe uma inquietação crescente com o seu estilo de vida, e uma profunda convicção de seu pecado o impeliu a buscar alívio na graça e misericórdia de Deus.

(2) As Institutas - Após uma breve viagem a Paris e Orléans, Calvino foi a Basiléia, Suíça (1534-1536), e começou a escrever a sua maior obra, As Institutas da Religião Cristã. As institutas de Calvino se tornariam a obra-prima decisiva da teologia protestante, o livro mais importante escrito durante a Reforma. Nos vinte e três anos que se seguiram, As Institutas passariam por cinco ampliações principais até chegar, em 1559, ao seu formato atual. Esse livro é uma obra-prima teológica; apresenta uma instigante argumentação sobre as bases dos ensinamentos reformados, e a sua publicação conferiu a Calvino um papel de liderança reconhecido entre os reformadores.

(3) Seu providencial encontro com Farel em Genebra - Conforme Calvino relatou: Farel, que inflamava-se com um zelo extraordinário pelo avanço do evangelho, imediatamente empregou todas as suas forças para me convencer a ficar naquele lugar. E depois que descobriu que o desejo do meu coração era de dedicar-me aos estudos particulares, razão pela qual queria me manter livre de outras ocupações, e percebendo que nada conseguiria com súplicas, ele prosseguiu falando de uma maldição que Deus lançaria sobre o meu isolamento e a tranquilidade dos estudos que eu buscava, caso me recusasse a prestar auxílio quando a necessidade era tão urgente. Fiquei tão assustado com esta maldição que desisti da viagem que intencionava fazer.

Outros pontos marcantes deste capítulo é a presença de John Knox, o surgimento da Bíblia de Genebra, o enfretamento de Calvino aos Libertinos e a morte de João Calvino nos braços de Theodore Beza em 27 de maio de 1564.


CAPÍTULO 2: APROXIMANDO-SE DO PÚLPITO. Este capítulo é constituído de quatro pontos, que tem como propósito refletir sobre as características da pregação de Calvino. Este capítulo focaliza o modo como ele se aproximava do púlpito. Antes mesmo de o sermão começar, as crenças e o entendimento de Calvino determinavam a natureza de sua pregação. A elevada visão que Calvino possuía acerca da pregação era sustentada por uma visão elevada de Deus, uma visão elevada das Escrituras, e uma visão correta do homem. Para Calvino, as quatro características abordadas neste capítulo — autoridade bíblica, presença divina, prioridade do púlpito e exposição seqüencial — estavam inseparavelmente ligadas. Ou permaneciam de pé juntas, ou caíam juntas. Nas palavras de Calvino, a pregação é “a viva voz” de Deus “em sua igreja”. Seu raciocínio era o seguinte: “Deus cria e multiplica sua igreja somente por meio de sua Palavra... É só pela pregação da graça de Deus que a igreja escapa de perecer”. Este era o compromisso de Calvino com a pregação, e também deve ser o de todos os pregadores que se baseiam no mandato das Escrituras. [p.42-43]


CAPÍTULO 3: A PREPARAÇÃO DO PREGADOR. Neste Capítulo veremos o autor irá enfatizar a forma de preparação de Calvino para pregar a Palavra de Deus. Como ele alimentava sua mente nas Escrituras? Como ele cultivava seu coração diante de Deus? Quais compromissos fortaleceram seu implacável desejo de estar sempre no púlpito Enquanto homem, escritor e teólogo, Calvino era incansável em sua busca por Deus. Ele era um estudante zeloso da Bíblia e um fervoroso servo do Senhor. Semana após semana, mês após mês, ano após ano e década após década ele se dedicava a um determinado texto bíblico e depois o fazia conhecido ao seu povo. O estudo persistente, a piedade pessoal e o ministério inabalável eram mantidos por um intenso desejo de ver Deus glorificado. Para Calvino, “os pregadores não podem desempenhar com vigor a sua ocupação, a menos que tenham a majestade de Deus diante dos olhos”. Calvino defendeu até o fim que “a majestade de Deus está... inseparavelmente ligada à pregação pública de sua verdade... deixar de conferir a autoridade à Palavra dEle é o mesmo que tentar colocá-lo para fora do céu”. Esta ênfase em defender a glória de Deus deu sentido à sua vida, ao seu ministério e, especialmente, à sua pregação. [p.55]


CAPÍTULO 4: INICIANDO O SERMÃO - Este capítulo examina as introduções dos sermões expositivos de Calvino. Como ele iniciava suas mensagens? Quais eram os alvos de seus comentários iniciais? Que traços distinguiram as introduções de Calvino? A pregação de Calvino era plenamente concentrada no texto das Escrituras. Por esta razão, sua introdução servia de ponte para o texto — curta, sucinta e direta. O reformador escolheu não gastar muito tempo fora do texto, nem mesmo na introdução. Seu objetivo, declarado de maneira simples, era conduzir seus ouvintes ao tema central da passagem bíblica que estava diante dele. Esta abordagem direta lhe foi muito útil e refletiu seu compromisso de deixar que a Bíblia falasse por si mesma. [p.64-65]


CAPÍTULO 5: EXPLICANDO O TEXTO – Este capítulo analisa o método exegético de Calvino. Quantos versículos ele achava necessário comentar em um sermão? Como era sua prática exegética? Como era sua hermenêutica? De que maneira ele transmitia o significado da passagem bíblica que tinha diante de si? Como ele relacionava um determinado texto bíblico com o restante das Escrituras? As características seguintes revelam como Calvino lidava com o texto sagrado. Do começo ao fim de seu ministério, Calvino manteve sua pregação singularmente focalizada na explicação do significado planejado por Deus para o texto bíblico. Esta era a essência de seu trabalho no púlpito. Como Parker escreveu: “A pregação expositiva consiste na explanação e aplicação de uma passagem das Escrituras. Sem explanação ela não é expositiva; sem aplicação ela não é pregação”. Calvino dedicou-se com rigor a esta tarefa. Ele sempre explicava o texto, sempre fazia conhecido seu verdadeiro significado, e sempre fazia aplicações fundamentadas em interpretações precisas. Ele acreditava que somente quando a explanação era dada de forma apropriada, o sermão podia progredir com o efeito transformador de vidas. [p.79]


CAPÍTULO 6: FALANDO COM OUSADIA - Este capítulo considera alguns dos tons vibrantes que fluíam da boca de Calvino em sua pregação. Qual era o estilo de comunicação do reformador? Quais fatores influenciaram a escolha de suas palavras? Quais eram suas expressões favoritas? Como ele usava perguntas, reiterações, citações e transições? Longe de ser um professor de Bíblia apático, Calvino explicava as Escrituras de uma maneira viva e revigorante a ponto de estabelecer uma relação com seus ouvintes e causar grande impacto entre eles. Sua comunicação era vívida, memorável, clara, agradável e, às vezes, desafiadora ou até mesmo chocante. Sua pregação podia ter um tom pastoral ou profético. Além disso, a intensidade da concentração de Calvino atraía os ouvintes para suas palavras. Outros podem ter sido mais eloqüentes, entretanto, ninguém foi mais compenetrado e cativante do que ele. Quando Calvino falava, ele sempre estava atento para a “harmonia que deve existir entre a mensagem e o modo pelo qual ela é expressa”. Em outras palavras, ele acreditava que “o modo” — ou seja, a forma como ele falava — “não deveria corromper a mensagem” — ou seja, aquilo que ele dizia. Ao contrário, o método deveria confirmar a essência da mensagem. O estilo literário de Calvino, sua educação em ciências humanas, sua própria personalidade, sua inteligência, e seu momento único na história — estes e outros fatores transformaram seus sermões em belas obras de arte; em obras-primas da habilidade de interpretação. [p.95-96]


CAPÍTULO 7: APLICANDO A VERDADE - Este capítulo se concentra nos tipos de aplicação que Calvino usou em seus sermões. Como ele encorajou seu povo em sua vida cristã? Que hábitos ele ordenou? Quando a repreensão ou a confrontação era necessária, como ele as colocou em prática? Enquanto pregava, o desejo de Calvino era relacionar-se com seus ouvintes em muitos níveis, e ele foi bem-sucedido ao fazê-lo. Sempre havia um homem na congregação a quem Calvino primeiramente dirigia seus sermões. Sempre que subia ao púlpito, ele era mais rígido com este homem. Nunca deixava de punir este ouvinte; nunca permitia que ele escapasse à sua avaliação. Este homem fazia-se presente em todo o tempo em que o reformador pregava. Na verdade, ele nunca perdia uma mensagem. Não obstante, tal pessoa era a que menos se impressionava com a grande reputação e talento do teólogo. Quem era este homem, alvo dos ataques de Calvino? Era ninguém mais que o próprio Calvino. Durante a pregação ele não perdia a si mesmo de vista. Calvino confessou que o prega dor “precisava ser o primeiro a obedecer [a Palavra], e que desejava declarar que não estava impondo uma lei somente para os outros, e sim que a sujeição era comum a todos, e que cabia a ele dar o primeiro passo”. [p.107-108]


CAPÍTULO 8: CONCLUINDO A PREGAÇÃO - Na conclusão de cada sermão, primeiro Calvino fazia um resumo da verdade que explicara. Depois, instava vigorosamente seus ouvintes a terem submissão absoluta ao Senhor. Ele os intimava a terem uma fé resoluta em Deus, por meio da qual eles escolheriam obedecer a Deus de todo o coração. Da mesma forma como um advogado habilidoso faz as suas alegações finais diante do júri, o expositor de Genebra aplicava seu texto bíblico à alma da congregação, clamando por um veredicto — uma decisão que honrasse a Deus. Finalmente, ele concluía com uma oração pública, confiando seu rebanho às soberanas mãos do Senhor. Este capítulo concentra-se nestes elementos finais da pregação de Calvino. [p.110]


CONCLUSÃO: “QUEREMOS MAIS CALVINOS” - Estamos agora no século vinte e um, quase quinhentos anos distantes do tempo de João Calvino, mas nos encontramos num momento igualmente crítico na história da redenção. Da mesma maneira como a igreja organizada estava espiritualmente arruinada no início dos dias de Calvino, assim também acontece em nossa época. Certamente, a julgar pela aparência, a igreja evangélica neste momento parece estar florescendo. Igrejas enormes estão surgindo em todos os lugares. A música cristã e as editoras contemporâneas parecem aumentar com muita rapidez. Reuniões de homens lotam grandes estádios. Ouve-se que há grupos de políticos cristãos em todas as camadas governamentais. Contudo, a igreja evangélica é, em grande medida, um sepulcro caiado. Tragicamente, sua fachada disfarça sua verdadeira condição interna. O que devemos fazer? Devemos fazer o que Calvino e os reformadores fizeram há tanto tempo. Não existem remédios novos para problemas velhos. Devemos retornar aos caminhos antigos. Devemos, uma vez mais, recuperar a centralidade e a capacidade de penetração da pregação bíblica. É preciso um retorno decisivo à pregação direcionada pela Palavra, que exalta a Deus, que é centrada em Cristo e fortalecida pelo Espírito. Precisamos desesperadamente de uma nova geração de expositores, homens da mesma estirpe de Calvino. Pastores marcados pelo entusiasmo, pela humildade e bondade devem novamente “pregar a Palavra”. Em resumo, precisamos de outros Calvinos para subir aos púlpitos e proclamar, cheios de coragem, a Palavra de Deus.


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As Firmes Resoluções de Jonathan Edwards
O Foco Evangélico de Charles Spurgeon
O Zelo Evangelístico de George Whitefield

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