"É justamente
através do conhecimento que descobrimos os nossos limites; já que o
conhecimento aponta para o que está além de nós, vindo daí nossos desejos,
resultantes de outros que foram satisfeitos, mas, que trouxeram em seu ventre o
símbolo de novas carências... Temos que concordar com Sócrates (469-399 a.C.),
quando coloca nos lábios de Diotima, que "quem não se considera incompleto
e insuficiente, não deseja aquilo cuja falta não pode notar." O
conhecimento da nossa ignorância é o princípio do
conhecimento.
A Ciência é em grande parte filha da necessidade e do trabalho.
É a necessidade que se revela no trabalho, na pesquisa, na procura pelo saber.
Parece-nos ser fato que o desejo é fruto da carência ou da consciência da
carência de totalidade, da falta de onisciência, sendo portanto um atributo dos
mortais. Todavia, este desejo precisa ser conscientizado: a ignorância do
desejo é a acomodação na limitação. Assim sendo, a Ciência, é produto do homem
consciente da sua necessidade e ao mesmo tempo, disposto a suprimi-la. A
Ciência, como fruto do labor humano, começa pelo sonho dos inconformados que
não se contentam com os limites da ignorância. "O sonho é uma fresta do
espírito", como bem observou Machado de Assis (1838-1908) e a fé que
permeia a ciência, por ser "racional", deve ser essencialmente ativa.
Sem sonho não há possibilidade de Ciência e, sem trabalho, os
sonhos não se constroem, permanecem escondidos, só vindo à luz durante as
"trevas" do sono, onde não há perigo de serem concretamente
confrontados... "Aqueles de nós que não estão dispostos a expor suas
ideias ao risco da refutação não tomam parte no jogo da ciência", nos
adverte Popper (1902-1994).
Hermisten Maia
Pereira da Costa - ANTROPOLOGIA TEOLÓGICA: Uma visão bíblica do homem - p.31.
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